Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 1

Capítulo 30: Velho fofoqueiro

Moara e Kreik retornaram ao hospital, com rostos suados e apreensivos. Ao chegarem, encontraram toda a equipe já reunida na calçada do prédio.

— Vejo que voltaram! O que compraram para comer? Estou faminto! — perguntou Baan, enquanto eles se aproximavam.

Antes de responder, Moara gritou de susto ao ver a cara de Uji toda inchada. Ela perguntou o que tinha acontecido. O samurai olhou de relance para Rydia, que estava de braços cruzados e virou uma cabeça para o lado, visivelmente irritada.

— Eu... caí da escada do hospital. — respondeu Uji, sua voz levemente desconfigurada e com sentimento de vergonha, batendo os dedos indicadores entre si.

— Caiu ds escada, Uji? Tem certeza? — Moara, incrédula, questionou.

Rydia bufou, sem encará-los. — Sim, ele caiu da escada... Tem algum problema nisso? — disse ela, a voz carregada de sarcasmo.

Uji apenas abaixou a cabeça, envergonhado, e Baan tomou a frente, já impaciente.

 — Deixem de dispersar, afinal, cadê a comida que compraram?

— Quanto a isso, tenho uma história muito engraçada, hilária mesmo — começou Moara, tentando disfarçar sua preocupação com um sorriso forçado. — Vocês não vão acreditar...

— Não me diga, Moara. Conte essa história tão engraçada — retrucou Baan, já desconfiando que algo deu errado.

— O Bardo cagou no Kreik, que passarinho levado! Então, Kreik foi se limpar e demorou. Quando fui procurá-lo, um velho estava oferecendo várias quinquilharias e dizendo que ele as comprou. Tentamos negar, mas o velho foi tão astuto que convenceu todos, inclusive os guardas, de que estávamos mentindo. Acabamos tendo que pagar por tudo isso — Moara riu nervosamente.

— E quanto custaram essas quinquilharias? — indagou Baan, com um sorriso que desaparecia gradualmente.

— Eram 120 rilds, mas nós fomos astutos e conseguimos um belo desconto. Ficou tudo por apenas 100 rilds. Não precisa agradecer.

— Hahahaha. Realmente, muito engraçado. — Baan gargalhou sarcasticamente, antes de mudar de humor bruscamente. — Só que não! — Ele agarrou a cabeça de Moara com a mão esquerda e a de Kreik com a mão direita, e as colidiu.

— AAAii! — gritaram ambos, sentindo a dor.

— Vocês gastaram todo o dinheiro com essas bugigangas. O que vamos comer agora? Vou acabar com a raça desse garoto — exclamou Baan, furioso.

— Calma, Baan — disse Uji, segurando-o pelas costas.

Baan respirou fundo, tentando se acalmar. Uji o soltou, mas o líder da guilda, ainda irritado, deu um cascudo em Uji.

— Isso foi por ter convidado esse garoto burro para a nossa guilda. Agora temos que percorrer mais de 180 km sem nenhum rild no bolso!

A guilda deixou o local e partiu a pé em direção ao seu objetivo: a cidade de Passafora. Caminhavam em silêncio, sem trocar uma única palavra. Rydia e Joabe estavam cientes dos planos de seu líder para a noite, enquanto Moara e Kreik caminhavam cabisbaixos, envergonhados pelo erro que cometeram no mercado. Bardo estava descansando no interior da roupa da garota.

Continuaram a jornada até o anoitecer. Por volta das 20h, a fome começou a apertar, pois não haviam comido nada desde que saíram do hospital.

— Ei, Baan, o que vamos fazer? Estou com fome! — perguntou Moara, a maga lutadora, com um tom de frustração.

— Que tal comer a bússola que nunca se perde? — retrucou Baan, ainda irritado.

— Você ainda está com raiva? Isso já passou. Além disso, a culpa é do Kreiquinho, eu não pude fazer muita coisa — tentou justificar-se Moara, olhando de soslaio para Kreik.

— Senhor Baan, desculpe pelo ocorrido. Sou inexperiente, nunca tinha saído do meu vilarejo. Queria poder voltar no tempo e fazer diferente — Kreik falou, a voz embargada de arrependimento.

— Seu idiota, não fale comigo. Agradeça ao Uji, porque, se não fosse por ele, eu já teria te expulsado ou matado. Estamos sem nada para comer por sua culpa. Fique ciente disso! — respondeu Baan, com frieza.

— Realmente me desculpa Sr. Baan. Posso tentar corrigir meu erro de alguma forma. Me deixe tentar. Posso mostrar que não sou um inútil – suplicou o rapaz, sentindo-se desprezado.

— Ah é claro que você pode consertar a lambança que fez. Basta balançar os seus dedinhos cintilantes e falar as palavras mágicas, talvez apareça comida e dinheiro miraculosamente, vamos lá, todos juntos: abracadabra, hocus pocus, parangaricutirimirruaro. Ah, que pena, nada mudou! Então, vê se agora fica calado e anda, talvez assim pare de fazer besteiras – gitou Baan irado, apontando o dedo em riste no rosto do jovem mago.

Kreik, profundamente afetado pelas palavras de Baan, com os poderes da luva, voou para longe, tentando conter o sentimento de culpa que permeava o seu coração.

“Sou tão idiota, mãe. Quando jogo uma moeda certa, jogo outra errada. Desculpem, pessoal, não faço nada direito.”, pensava ele desesperadamente.

— Aonde ele está indo? Surtou de vez? — perguntou Baan, confuso, ao Uji.

— Acho que você pegou pesado. Ele ainda tá aprendendo sobre o mundo — comentou Uji.

— Pesado será o que vou fazer com ele mais tarde. Agora sigam ele. Não podemos perder as luvas — esbravejou Baan, sua voz firme e resoluta.

O restante do grupo começou a correr atrás de Kreik, gritando seu nome, mas o jovem, usando a propulsão de suas luvas, era mais rápido. Ele não estava tentando fugir, mas queria apenas um lugar para se acalmar e pensar numa forma de compensar seus amigos pelos problemas que causara.

Enquanto voava, Kreik avistou o brilho de uma fogueira à distância. Seu coração acelerou quando reconheceu a figura do velho que o enganara mais cedo, sentado em frente ao fogo, rindo da situação. A carroça, agora visivelmente cheia de comida, estava ao lado.

Com um impulso final, Kreik e pousou com um estrondo em cima da carroça e exclamou irado:

— Seu maldito! Foi você que me enganou mais cedo.

O velho deu um salto, quase caindo de costas. Seus olhos arregalados demonstravam surpresa.

— AAAh! Que susto, garoto! Não pode aparecer assim do nada. Deixe de ser chorão. Eu não enganei ninguém — respondeu o velho, tentando recuperar o fôlego e a compostura.

Logo, o resto da equipe chegou correndo, e Moara, ao ver o velho, apontou e gritou:

— Baan, este foi o velho que nos enganou na cidade.

Joabe, sempre frio e calculista, sugeriu com uma voz sombria:

— Se quiser, posso matá-lo rapidamente.

— Não, Joabe, não podemos matá-lo. — Baan levantou a mão, indicando para Joabe se conter. — Estamos perto da estrada principal. Se alguém descobrir, vamos virar uma guilda Red Skull (caveira vermelha) — alertou Baan com seriedade.

O velho, ouvindo a menção de guilda, ergueu uma sobrancelha, intrigado.

— Guilda? Vocês são magos? — perguntou ele, avaliando cada um dos jovens à sua frente.

Os membros da Crossed Bones se entreolharam e, em uma resposta quase ensaiada, manifestaram seus poderes. Kreik fez suas luvas entrarem em combustão, Moara formou uma bola de terra e a despedaçou com as mãos, Rydia criou um chicote de água, Joabe invocou seus braceletes, e Uji emanou uma aura elétrica de sua katana.

O velho comerciante observou, fascinado, mas manteve o semblante sereno.

— Não vamos te matar, mas há outras formas de resolver isso sem deixar vestígios — disse Baan, aproximando-se do velho e estalando os dedos como se estivesse prestes a golpeá-lo.

O velho levantou as mãos em um gesto de rendição, sua expressão mudando rapidamente para uma astuta e calculista.

— Senhores, por que não disseram isso antes? Tenho uma promoção especial apenas para magos. Se fizerem uma compra mínima de 100 rilds, têm direito a se alimentar gratuitamente na minha carroça pela noite toda. Aproveitem a promoção, é por tempo limitado — ofereceu ele, com um sorriso que parecia sincero.

Baan soltou uma gargalhada, relaxando a tensão que pairava no ar.

— Já que é assim, vamos aproveitar a promoção, meu nobre comerciante. Hahaha. Vamos comer! — gritou ele, aproveitando da astúcia do velho enquanto sentava-se junto à fogueira e pegava um pedaço de carne.

O grupo se acomodou ao redor do fogo, aliviados por finalmente poderem se alimentar. Kreik, especialmente, sentiu um peso sair de seus ombros. Parecia que a raiva de Baan havia passado, pelo menos por enquanto.

Enquanto comiam, Kreik cutucou Rydia com o cotovelo e perguntou baixinho:

— O que é uma guilda Red Skull?

Antes que Rydia pudesse responder, Baan, que escutara a pergunta, interveio:

— Todas as guildas são monitoradas e recebem diversas missões nas tavernas. Os contratantes só confiam em guildas registradas com bom histórico. Para se cadastrar no sistema de tavernas, é necessário seguir algumas regras.

Kreik, com curiosidade nos olhos, inclinou-se para frente.

— Que regras, senhor Baan?

— A guilda não pode violar nenhuma lei de nenhum dos Reinos Livres que visita e não pode matar ninguém, exceto em dois casos: legítima defesa ou um alvo claro em uma missão. Se um guarda identifica a violação dessas regras, a guilda se torna Red Skull e entra para uma lista especial — explicou Baan, seu tom grave.

Kreik franziu a testa, tentando entender a gravidade da situação.

— O que acontece com quem está nessa lista?

— Uma guilda Red Skull não segue regras e é capaz de tudo. Ninguém vai querer contratá-la porque, se ela mata alguém livremente, pode trair ou matar o próprio contratante, se isso for mais vantajoso.

Rydia, tomando um gole de água, complementou com um tom sério:

— Mas não se engane, ainda há pessoas que contratam essas guildas para realizar trabalhos sórdidos. O principal que se deve saber é que nunca se deve confiar em algum integrante de uma guilda Red Skull. Não esqueça isso.

— Então, nunca confiar em uma guilda Red Skull porque ela é imprevisível. Entendi. Obrigado pelas informações — Kreik assentiu, absorvendo cada palavra.

Baan olhou para o garoto com um leve sorriso.

— Você é bem perguntador, garoto. Agora que terminou suas perguntas, é a minha vez de perguntar.

— Como quiser. — Kreik engoliu em seco, sentindo uma onda de nervosismo.

Baan inclinou-se para frente, seu olhar se tornando sério.

— Uji me contou que você e seu avô viviam isolados e que todos no vilarejo os odiavam. Por quê?

— Meu pai... — Kreik desviou o olhar, hesitando. Após um momento de silêncio, respondeu: — Ele fez coisas que ninguém gostou. O vilarejo sofreu muito e todos passaram a nos odiar.

Baan, ao estreitar os olhos, perguntou o que o pai do garoto havia feito. Kreik suspirou, sentindo o peso das memórias e respondeu que ele havia destruído a biblioteca e o posto militar da GPA que ficava ao lado.

— Ei, garoto. — Baan largou seu prato de comida, nervoso. — Qual é seu sobrenome e o nome do seu pai?

A voz de Kreik tremeu enquanto respondia:

— Sou Vander, Vander Kreik. Meu pai é Vander Reich.

Baan tremeu de surpresa, antes de começar a rir alto, cobrindo o rosto com a mão.

— Que mundo pequeno! Eu conheço seu pai.

Kreik levantou-se abruptamente, os olhos arregalados.

— Sério, Sr. Baan? Você sabe onde ele está?

Todos no grupo ficaram boquiabertos, olhando fixamente para Baan, esperando por sua resposta. Moara, com um pedaço de pão na boca, não conseguiu se conter:

— Eita confusão grande. Essa história está melhor do que novela!

Joabe revirou os olhos e deu um leve tapa na cabeça dela.

— Para de atrapalhar, deixa eles continuarem.

— Desculpa, não sabia que o pessoal do reio de Suna, além de desalmado, era fofoqueiro — rebateu Moara, com um tom provocativo.

— Sua merdinha insolente, vou lavar sua boca com sabão — Joabe retrucou, também irritado:

Moara se preparava para responder, mas todos gritaram ao mesmo tempo:

— Cala a boca, Moara!

O velho, intrigado pelo desenrolar da conversa, inclinou-se para frente.

— Agora que a garotinha tagarela se calou, continue, Sr. Baan. Nos conte mais sobre o pai desse rapaz. Estou curioso. Essa história tá ficando boa.

Todos pensaram o mesmo, lançando um olhar de reprovação para o velho:

— QUE VELHO FOFOQUEIRO!.

Baan suspirou, parecendo perdido em pensamentos.

— Onde ele está agora, eu não sei. Mas posso te dizer que houve um momento em que eu pensei que ia morrer... e ele me ajudou. A partir disso, nos tornamos amigos. Porém, já faz um bom tempo que não o vejo. Adoraria encontrá-lo novamente.

Kreik cerrou os punhos, lutando contra a decepção. Mas havia um brilho de esperança em seus olhos.

— Sr. Baan, meu pai está desaparecido há 11 anos. Logo após o incidente em Lakala. Você o encontrou antes ou depois disso?

— Hum... — Baan franziu a testa, tentando lembrar. — Quando precisei de ajuda e nos tornamos amigos... Deixe-me calcular... Sim, foi antes. Se eu o vi depois disso, não me lembro. As memórias do meu passado são meio embaralhadas... é difícil de explicar...

Kreik abaixou a cabeça, sentindo o desânimo crescer. Após um momento de silêncio, ele respirou fundo e perguntou, com uma voz trêmula:

— Sr. Baan, uma última pergunta. Meu pai é uma boa pessoa?

Baan olhou diretamente nos olhos de Kreik, falando com firmeza:

— Não se preocupe, garoto. Posso garantir que ele é uma boa pessoa, talvez a melhor que já conheci. Embora minhas referências de boas pessoas não sejam as melhores, posso te dizer com certeza que seu pai deve ter tido um bom motivo para fazer o que fez. Eu te garanto!

Kreik sentiu um calor reconfortante encher seu peito com as palavras de Baan. Ele sorriu, sentindo uma esperança renovada. Baan, percebendo que a noite se aproximava, instruiu o grupo:

— Precisamos procurar um lugar mais seguro para passar a noite. Vamos nos apressar.

Uji, Rydia e Joabe imediatamente entenderam o plano de seu líder. O grupo voltou a caminhar, afastando-se da estrada principal. Após alguns minutos, encontraram uma gruta em uma planície coberta de grama. Cerca de dez metros à frente da gruta, havia uma pedra de aproximadamente dois metros de altura. Baan Maverick subiu sobre a pedra, observando os arredores, enquanto o resto do grupo se preparava para descansar dentro da gruta.

Todos se acomodaram na gruta e, exaustos, adormeceram rapidamente. Mas a paz não durou muito.

— AAAh! Assim ele vai morrer! — gritou Moara estridentemente.

Kreik, assustado, levantou-se rapidamente e correu para fora da gruta, preocupado com seus amigos. Ao sair, viu todos reunidos em pé, com Baan sentado no chão, escorado na grande pedra próxima da gruta, e uma fogueira iluminando seus rostos contra o céu estrelado.

— O que aconteceu, pessoal? Aquele grito... Estamos sendo atacados? — gritou Kreik preocupado.

O grupo se afastou de Baan, seus semblantes sérios e sombrios. Os quatro membros se recusavam a olhar diretamente para Kreik. Baan, ainda sentado, levantou-se, olhou para o céu e abaixou a aba de seu boné, escondendo os olhos.

— Quanto mistério... Está um clima assustador! — murmurou Kreik, nervoso.

— Ei, garoto! — Baan virou-se lentamente para ele, a voz calma, mas firm. — Eu ia te matar enquanto você dormia. Mas, ao saber que seu pai é Vander Reich, decidi fazer algo diferente. Você realmente quer entrar para a guilda Crossed Bones?

— Sim, é o que mais quero — respondeu o jovem, com uma determinação inabalável.

Baan sorriu, mas seus olhos brilharam com uma intensidade perigosa:

— Pois bem, você terá que passar em um teste com uma única condição. — Uma brisa suave passou por seu rosto enquanto ele falava. — Você terá que lutar comigo até me fazer sangrar. Se vencer, entra para a guilda. Mas se perder... eu te mato! O que me diz?

Kreik tirou o casaco e o jogou para Moara, que o segurou sem questionar. Ele olhou diretamente para Baan e disse, com um sorriso confiante:

— Sr. Baan, seria bom usar roupas mais frescas.

 

 

— Por quê? — Baan arqueou uma sobrancelha, intrigado.

— Porque o clima vai esquentar. — Kreik entrou em posição de combate, suas luvas se inflamando.

— Ooh. Assim que se fala. Tá ficando abusado, até usando frases de efeito. — Baan deu um sorriso audacioso, seus olhos brilhando de excitação. — Quero ver se a tua confiança vai se manter após eu te descer a porrada.



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