Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 1

Capítulo 3: Estouro da boiada

O sol começava a tingir o céu de tons alaranjados quando Joabe e Moara subiram os últimos degraus de um edifício no vilarejo de Lakala. Chegaram à cobertura, onde encontraram duas figuras distintas: um samurai afiando sua katana e uma mulher observando o horizonte com um binóculo, enquanto fazia anotações meticulosas em uma folha de papel.

— Rydia, faz uma pausa. Joabe e Moara chegaram — disse o samurai, sem tirar os olhos de sua espada.

Rydia se virou. Era uma mulher de 21 anos com cabelo curto verde escuro, decorado com mechas verde água. Seus olhos verdes brilhavam com uma intensidade fria. Vestia um macacão verde água com mangas e detalhes pretos, e botas pretas que se destacavam. Um cinto de utilidades preto, repleto de acessórios como binóculos, mapas e bússolas, envolvia sua cintura. Uma pistola preta estava à mão, pronta para qualquer eventualidade.

 

 

— Quais informações vocês conseguiram? — perguntou Rydia, com a voz afiada e direta.

Moara deu um passo à frente. Seu cabelo trançado balançava suavemente ao vento.

— Descobrimos que alguns anos atrás, um homem destruiu a grande biblioteca do vilarejo e a GPA impôs dura sanções ao local. No entanto, o período de sanções encerrou e, como sinal disso, a GPA reconstruiu a antiga biblioteca.

— Além disso, existe um posto militar avançado da GPA ao sul, comandado pelo Major Thorguen Brown. Com certeza um homem que devemos evitar complementou — Joabe, suas mãos cruzadas e tom de voz sério e frio.

— E quanto às redondezas da região? — continuou Rydia, com um brilho inquisitivo nos olhos.

Joabe pediu caneta e papel à Rydia, ela entregou os materiais e ele começou a explicar, desenhando na folha.

— A caravana que transporta as luvas de Ifrit passará pelo centro da cidade. Os principais pontos onde podemos planejar uma investida são: este prédio, a biblioteca e uma ponte sobre um rio que deságua em uma cachoeira, logo na entrada do vilarejo.

De repente, o samurai levantou o nariz, franzindo a testa em desagrado.

— Que cheiro estranho é esse?

Rydia concordou com o amigo e ambos olharam para Moara, já prevendo que isso viria da jovem. Esta, corou e olhou para os pés, constrangida.

— Ah, eu acabei pisando em cocô de vaca. Mas não foi minha culpa! — disse ela, tentando se justificar. — Como eu ia saber que neste fim de mundo alguém teria a ideia louca de criar um curral bem no centro da área urbana?

O samurai riu, seu cabelo loiro longo com franja e coque balançando ao vento. Seus olhos verde esmeralda brilharam com diversão.

— Você é muito desastrada. Hahaha.

— Já disse, Uji, não tive culpa — Moara resmungou, cruzando os braços e soprando a franja com raiva.

Uji, o samurai, tinha 22 anos e vestia roupas tradicionais nas cores verde com detalhes brancos e dourados. Uma faixa verde adornava sua testa, e uma katana descansava em sua cintura, sempre pronta para ação.

 

 

Rydia ignorou as justificativas de Moara e se concentrou em analisar o mapa da cidade em suas mãos. Ela olhou para Joabe, seus olhos agora focados e calculadores.

— Quantos bois, aproximadamente, você viu nos estábulos?

— Eu contei cerca de 300 a 400 bois — respondeu Joabe, sem hesitar.

Moara cutucou Joabe com o cotovelo, rindo:

— Eita, não sabia você tinha esse dom de fazendeiro, Joabinho. Hihihi.

— Sua idiota, meu pai criava gado. Além disso, foi fácil estimar. Os estábulos ficam bem de frente para a rua principal — Joabe respondeu, orgulhoso de suas habilidades.

— Seu Joabe tinha um sítio, ia, ia ô. E nesse sítio tinha uma vaquinha, ia, ia ô. Era... – cantava Moara, zombando do amigo.

— É bom parar com suas gracinhas, antes que eu arranque os seus dentes — interrompeu Joabe, irritado, estralando os dedos.

— Pois vem para cima, bonitão. É bom que a gente não perde a prática de como se luta — retrucou Moara, piscando para Joabe e montando guarda.

— Moara, deixa de ser irritante e cale a boca! Joabe, acalma os nervos! Não esqueçam que eu estou no comando dessa missão – esbravejou Uji, sua voz firme, demonstrando autoridade.

Rydia ignorou as discussões dos companheiros e pediu que todos se sentassem ao redor do mapa que ela desenrolou no chão da cobertura.

— Olhem aqui. No final da rua principal há uma fazenda com estábulos que ficam bem de frente para a rua. Para a caravana seguir sua rota, ela precisará contornar os estábulos, seja pela esquerda ou pela direita. — Rydia apontou para o mapa, delineando a rota com o dedo. — Na véspera do evento, durante a madrugada, Joabe entrará nos estábulos e destrancará as porteiras dos bois sem ser visto. Em seguida, colocará um saco de runas de estrondo.

Rydia levantou uma pequena pedra colorida com símbolos rúnicos brancos cravados, que brilhavam ao serem ativados. As runas são minérios conhecidos por armazenar pequenas quantidades de poder mágico, liberadas em momentos oportunos. Sua fabricação é feita a partir de minérios de ocicalco, sendo amplamente usadas em Etérea, com os preços variando de acordo com a quantidade e a peculiaridade do poder armazenado.

 

 

— Amanhã, durante o trajeto da caravana, eu darei um sinal. Joabe, você acionará as runas apenas quando eu der o sinal. Estas runas emitirão um som que simula fogos de artifício, provocando um estouro na boiada — explicou Rydia, enquanto todos ouviam atentamente.

Uji, animado, inclinou-se para frente.

— Oooh, estou gostando da ideia. Rydia, o que eu e Moara faremos?

— Vocês dois se posicionarão em lados opostos da rua. Quando os bois passarem, Moara atacará a carroça e pegará a caixa com as luvas. Os soldados atacarão e, Uji, você dará cobertura por terra enquanto eu dou cobertura de cima deste prédio. O caos dos bois dificultará que eles alcancem a Moara e identifiquem de onde vêm os ataques. Moara, você deve correr até a ponte e explodi-la com a runa explosiva que armaremos lá. Depois, fugiremos nos cavalos preparados na saída da cidade.

Uji acenou com a cabeça, entusiasmado.

— Certo. Quando a Moara fugir e os soldados me atacarem, eu aproveitarei a passagem dos bois para fugir também. Correto?

— Exatamente. Joabe já terá retornado do curral e ajudará na sua cobertura. Nos encontraremos no ponto de encontro depois.

— Ótimo, com isso as luvas serão nossas! — declarou Uji, fincando sua katana no centro do mapa em um gesto de confiança.

— Não saia rasgando o mapa levianamente — esbravejou Rydia, sem conter a raiva e dando um cascudo no companheiro, fazendo-o cambalear para trás — Ele estava cheio de infomrações importantes, agora trate de remendar ele logo, seu idiota! — complementou a jovem, enquanto Uji tentava colar o mapa aos risos contidos de Joabe e às gargalhadas de Moara.

Na madrugada da manhã seguinte, Mayumi passou em frente à sala onde estavam as carruagens para as caravanas. Os soldados de vigia, conforme prometido pelo Major Brihen, estavam dormindo profundamente.

Aproveitando a oportunidade, Mayumi entrou silenciosamente na sala. O ambiente estava escuro, iluminado apenas pela luz fraca da lua entrando pelas janelas. Com movimentos rápidos e precisos, ela pegou a caixa falsa da carruagem do Major e se preparava para colocá-la na carruagem da sua própria caravana.

De repente, a luz acendeu e o Capitão Zanzo e o Tenente Ryujiro entraram na sala. Mayumi, em um reflexo rápido, deu um leve chute na caixa falsa, escondendo-a debaixo da carruagem que continha a verdadeira caixa, especificamente atrás da roda dianteira.

— Yo, maninha, tudo certo? — falou Ryujiro, com um sorriso aberto.

Sundiata Ryujiro, um jovem Tenente da GPA de 17 anos, tinha cabelo curto rosa com um corte em degradê, bem jovial, pele branca e olhos azuis profundos. Irmão mais novo de Mayumi, usa um uniforme militar azul com detalhes brancos, complementado por um cinto marrom e botas pretas militares.

 

 

— O que tá fazendo aqui sozinha, Tenente? — complementou Zanzo, agora vestido com seu quimono.

Mayumi, tentando disfarçar com um sorriso forçado, respondeu:

— Eu estava andando pelos corredores quando vi os soldados dormindo. Decidi entrar para verificar se estava tudo em ordem com as caravanas.

Ryujiro, com um ar despreocupado, passou o braço pelo pescoço da irmã e disse animadamente:

— Relaxa, maninha. Você precisa ser mais confiante. A missão vai ser um sucesso, e nosso avô vai ficar orgulhoso de você. Ah, como eu queria estar nessa missão com você! Já imagino o que todos diriam nos corredores: “A nova geração da família Sundiata é imbatível! São prodígios. Especialmente o irmão gato e poderoso.”

— Verdade, irmãozinho. Hehehe — respondeu Mayumi, esboçando um leve sorriso forçado, enquanto tentava ver o que Zanzo estava fazendo.

Aproveitando a conversa dos irmãos, Zanzo se dirigiu silenciosamente até a carruagem da sua caravana para verificar a caixa.

— Já te disse, maninha. Relaxe, tire toda essa tensão. Só aproveite e curta — disse Ryujiro, tentando animá-la.

— Obrigada, mano, mas estou tranquila — respondeu Mayumi, retirando o braço do irmão, totalmente focada na movimentação de Zanzo com a caixa.

De repente, as luzes piscaram e se apagaram por poucos segundos, antes de voltarem rapidamente.

— O que foi isso? Estamos sendo atacados? — perguntou Ryujiro, alarmado.

— A caixa! Protejam a caixa! — gritou Mayumi, com o coração acelerado.

Quando a luz voltou, Mayumi se posicionou ao lado de Zanzo para verificar a caixa, mas ele a tranquilizou:

— Não se preocupe, Tenente. Está tudo bem com a caixa. De qualquer forma, acho que seria bom você passar a noite aqui vigiando. Pode ser que esse problema na luz não tenha sido obra do mero acaso.

— Sim, Capitão. Sábia decisão. Ficarei aqui vigiando com toda diligência possível — respondeu Mayumi, tentando esconder o alívio em sua voz.

Zanzo sorriu e chamou Ryujiro para investigarem a causa do problema elétrico.

Antes de sair, Ryujiro acenou para sua irmã:

— Bye-bye, maninha. Conto com você amanhã para mostrar toda a capacidade da família Sundiata. Sei que nem é tão forte quanto eu, mas vai com tudo. E já sabe, ficou com dúvida, só pense no que o seu irmão charmoso faria, então vai ser só sucesso.

“Esse meu irmão... Quanto mais o tempo passa, mais esnobe ele fica. Espero não ter que trabalhar com ele tão cedo. Se isso acontecer, vou pirar.”, pensou Mayumi, enquanto acenava de volta.

Assim que os dois saíram da sala, ela olhou para baixo e viu a caixa que havia chutado ainda no mesmo local. A Tenente deu um suspiro de alívio e rapidamente providenciou a troca, conforme as instruções do Major Brihen.

No dia seguinte, a caravana estava prestes a entrar na cidade de Lakala. Kreik, entusiasmado com o evento, decidiu se infiltrar, mesmo contra a vontade de seu avô. Vestiu um manto com capuz e colocou uma máscara de cachorro, escondendo sua identidade enquanto se dirigia ao centro urbano.

Ao chegar, Kreik se maravilhou com a festividade que tomava conta do vilarejo. Barracas vendiam alimentos variados e crianças corriam animadas entre brincadeiras e jogos. As pessoas dançavam e cantavam nas ruas, muitos usando fantasias e máscaras. O sentimento era de pura felicidade, um dia de libertação e renovação.

Kreik se entregou à alegria da multidão, pulando e rindo junto aos outros. Naquele momento, ele era apenas mais um na celebração, sua identidade oculta, permitindo-lhe vivenciar uma felicidade que há muito não sentia. Desejava que aquele momento durasse para sempre.

No entanto, a chegada dos membros da GPA a cavalo anunciou a aproximação da caravana. Os oficiais começaram a organizar e controlar a população, formando filas nas calçadas e, por segurança, exigiram que todos removessem suas fantasias, incluindo máscaras e capuzes.

Essa ordem complicou a situação de Uji e Moara, que estavam fantasiados e temiam ser reconhecidos ao retirarem seus disfarces. Para Kreik, o risco era ainda maior: sem sua fantasia, ele poderia ser expulso ou até mesmo linchado pelos habitantes de Lakala.

As pessoas ao redor insistiram que Kreik removesse sua máscara e capuz. Ele relutou, até que um cidadão, impaciente, deu-lhe um tapa na máscara, derrubando-a no chão.

— Não queremos problemas novamente com a GPA — disse o homem, irritado.

A máscara de Kreik caiu, revelando seu rosto. Murmúrios se espalharam rapidamente pela multidão.

— Olha o filho daquele maldito!

— Peguem o bandidinho!

— Batam nele e o entreguem à GPA antes que ele apronte!

Parte das pessoas começaram a avançar, prontas para atacá-lo. Kreik, com o coração acelerado, colocou o capuz sobre a cabeça e fugiu o mais rápido que pôde. Alguns o seguiram, enquanto outros hesitaram ao ouvir os oficiais da GPA tentando manter a ordem e pedindo calma.

Kreik, em sua fuga desesperada, escalou o muro de proteção e invadiu os estábulos no final da rua. Enquanto isso, a caravana entrava em Lakala em uma formação imponente: dez soldados a cavalo lideravam a marcha, seguidos pelo Capitão Zanzo e a Tenente Mayumi, também montados. A carruagem que continha a Invoker do Ifrit vinha em seguida, com mais dez soldados fechando a retaguarda.

Joabe estava sentado em um banquinho dentro dos estábulos, a cinco metros da boiada, aguardando o sinal de Rydia para ativar o saco de runas. Por sua vez, Rydia ainda esperava que Uji e Moara se posicionassem corretamente para emitir o sinal.

De repente, Joabe ouviu um barulho e, antes que pudesse reagir, Kreik, ainda encapuzado, saltou o muro, assustado, enquanto era perseguido por um grupo de pessoas do vilarejo. O jovem ruivo, domado pelo medo, corria entre os estábulos, em direção ao saco de runas.

— Não pise aí, seu idiota! – gritou Joabe.

Joabe até alertou, mas já era tarde. Kreik, focado apenas em fugir, não percebeu o saco e findou por tropeçar neste e, por consequência, caiu e rolou no chão junto com as runas. O impacto da colisão fez com que as runas fossem ativadas, liberando um som estridente.

Os bois enlouqueceram com o barulho das runas e, com os estábulos destrancados, partiram em fúria, gerando um estouro na boiada enquanto Kreik via os boi partindo em sua direção.



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