Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 1

Capítulo 26: Bate-estaca

O pátio de treinamento era uma vasta área aberta, coberta por uma mistura de terra e areia, ideal para absorver o impacto das quedas durante os exercícios rigorosos. Às margens, diversos equipamentos de combate estavam dispostos ordenadamente, prontos para o uso, tais como: bonecos de madeira, trincheiras, alvos e sacos de feno. Além disso, havia um prédio abandonado ladeando o terreno, suas fachadas marcadas pelo tempo. O som dos soldados em treinamento reverberava pelo ar, criando um ambiente de disciplina e vigor.

 

 

O Coronel gritou para os soldados rasos saírem do local, porque ele iria fazer um teste especial com os Tenentes, logo o campo de treinamento ficou vazio, criando-se um ambiente perfeito para o confronto prestes a iniciar.

Determinado, Ryujiro encarava o Coronel Malik, que mantinha suas mãos para trás.

— Ei, Coronel, não vai usar as mãos? Cuidado para não nos subestimar demais, senão pode ser que se arrependa depois que for derrotado — provocou o Tenente.

O Coronel Malik respondeu, sua voz cheia de calma e autoridade:

— Tenente Ryujiro, para fazer vocês voltarem para casa chorando, nem preciso usar as mãos. Menos conversa e venham logo. Tenho outros afazeres a tratar — falou, com um sorriso de canto de boca, mantendo as mãos firmemente cruzadas nas costas.

Ryujiro, sem perder tempo, gritou:

— Já disse para não nos subestimar! Forja Básica, Maça Aparadora de Magia!

Com essas palavras, uma maça medieval apareceu em sua mão esquerda. Era uma arma imponente, com uma alça de couro amarrada ao seu pulso, uma haste de metal robusta e uma esfera de espinhos na ponta, brilhando com uma aura elétrica azul.

Ryujiro avançou, sua maça emitindo faíscas, e desferiu um golpe da esquerda para a direita, mas o Coronel Malik desviou com um movimento suave, afastando a cabeça para o lado.

— Viu? Como eu disse, sem as mãos — zombou Malik, ainda com os braços relaxados nas costas.

— Estou apenas começando! — rosnou Ryujiro, tentando mais um golpe, agora de baixo para cima, mas o Coronel saltou para trás com a mesma leveza, sem usar as mãos.

Ryujiro frustrou-se e gritou para sua irmã:

— Ei, maninha, está gostando do show? Talvez você queira um saco de pipoca para acompanhar! – ironizou, sem desviar os olhos de Malik.

Mayumi, percebendo a deixa, concentrou-se e invocou seu próprio equipamento de forja:

— Desculpe, Ryujiro. Estava distraída. Forja Básica, Arco da Promessa.

Um arco branco com detalhes dourados materializou-se em suas mãos, o mesmo que ela utilizou na luta contra o Major Thorguen Brown. A Tenente preparou uma flecha dourada, apontando-a diretamente para o Coronel.

Ryujiro sorriu satisfeito:

— Agora sim, maninha. Vamos atacá-lo juntos!

O jovem continuou sua investida, tentando golpear Malik repetidas vezes. O Coronel, com movimentos ágeis e fluidos, desviava de todos os ataques, mantendo as mãos tranquilamente nas costas, conforme prometido.

Enquanto isso, Mayumi mantinha seu arco tensionado, observando e esperando o momento certo para atacar. Ryujiro e o Coronel se movimentavam rapidamente pelo campo, até que se aproximaram de um boneco de treinamento. Em dos golpes do Tenente, Malik deviou saltando em cima do boneco e, com um movimento gracioso, pulou para trás dele.

— Agora! Maninha, usa sua magia! — gritou Ryujiro.

Mayumi soltou a flecha dourada. Esta passou por dentro do irmão sem causar-lhe dano, dobrando de tamanho ao atravessá-lo. A flecha cresceu ainda mais ao atravessar o boneco de treinamento.

O Coronel, vendo o perigo, saltou para cima, mas Ryujiro aproveitou o momento para se impulsionar com um salto, usando a cabeça do boneco como apoio, e lançou-se no ar, ultrapassando a altura do Major, com sua maça pronta para um golpe devastador de cima para baixo.

Malik inclinou-se levemente para cima e bloqueou o ataque com o joelho direito, coberto por uma camada de pele mais espessa e acinzentada, indicando uma resistência especial. Antes que Ryujiro pudesse reagir, Malik, utilizando a perna esquerda, atingiu o jovem Tenente com um chute poderoso de baixo para cima no estômago. Enquanto perdiam altitude, o Coronel girou o quadril e, ainda no ar, desferiu outro chute com a mesma perna esquerda, dessa vez em diagonal, acertando o ombro do Tenente e enviando-o imediatamente para o chão.

Malik pousou suavemente no chão, e, antes que pudesse se estabilizar completamente, uma flecha dourada veio em sua direção. Ele sorriu, girou o corpo em 360º e dissipou a flecha com um chute perfeito.

“Ataques interessantes, mas a diferença de poder entre nós é clara. Será que eles vão me fazer suar?”, pensou Malik.

“Merda! Ele consegue dissipar facilmente as flechas douradas em seu estado original. Se eu quiser acertá-lo, preciso fazê-las dobrar de poder.", refletiu Mayumi, rangendo os dentes de nervosismo ao ver seu golpe ser facilmente rebatido pelo Coronel Malik.

Ryujiro se levantou, ofegante, e gritou para a irmã:

— Ele é bem mais forte do que eu pensava. Maninha, prepara outra flecha!

— Certo. Ele não vai escapar das minhas próximas flechas.

Malik observava com interesse crescente.

“A aura da maça daquele garoto... Está maior. Por quê?”, pensou, analisando a situação.

— Prepare-se, Coronel. Agora é o segundo round. — disse Ryujiro, com um brilho determinado nos olhos.

Os dois Tenentes avançaram juntos. Mayumi disparou outra flecha dourada, mas Malik desviou com facilidade. Ryujiro atacou em seguida, mas Malik saltou para trás, sempre mantendo a compostura.

s irmãos continuavam alternando os ataques, tentando cercar Malik, mantendo Ryujiro à frente enquanto Mayumi atirava flechas à distância. O Coronel, no entanto, desviava de todos os golpes com precisão e elegância, guiando-os lentamente para perto de um prédio abandonado. Quando estavam próximos da parede, em um salto ágil, Malik pisou na parede do prédio, impulsionando-se com um pé e pisando no rosto de Ryujiro com o outro. Em seguida, saltou para detrás do Tenente e avançou rapidamente em direção a Mayumi, que se mantinha mais atrás, cuidando da retaguarda.

— Já cansei de brincar com seu irmão, agora é sua vez, Tenente Mayumi — gritou o Malik, com absoluta confiança de sua vitória.

— Não vou deixar que ataque a minha irmã — esbravejou Ryujiro enquanto perseguia o Coronel.

Mayumi começou a recuar, lançando flechas que Malik desviava com facilidade. O objetivo da Tenente era claro: alcançar um boneco de treinamento escondido atrás de uma trincheira de sacos de areia, próximo à parede do prédio antigo.

A situação ficou tensa, com todos correndo em linha reta ao longo da parede do prédio. Mayumi liderava, tentando alcançar o boneco, Malik a perseguia, e Ryujiro tentava alcançar o Coronel.

Malik saltou para acertar um chute potente em Mayumi, mas ela desviou usando um dos sacos de areia como impulso para um salto lateral, colidindo suas costas contra a parede do prédio e escapando do golpe ainda de pé e oegante.

“Ela é bem rápida para uma Tenente, mas não vou deixar que escape tão facilmente.”, pensou Malik.

Ela voltou a correr, mas o Coronel não desistiu de acertá-la. Ele tentou outro chute, mas Mayumi mudou de direção com um movimento ágil, usando uma pequena saliência na parede para saltar toda desengonçada e cair por detrás do boneco. Malik, com o impulso do chute, colidiu seu pé com a parede, criando um buraco enorme na lateral do prédio.

Mayumi, agora protegida pelo boneco, lançou outra flecha dourada. Esta atravessou o boneco e, de bônus, um saco de areia, dobrando de tamanho a cada objeto atravessado, e seguindo sua direção até se aproximar de Malik. O Coronel desviou, virando-se de lado, fazendo a flecha ir diretamente para Ryujiro, que estava logo atrás dele.

Ryujiro sorriu e gritou:

— A sua estratégia foi boa, mas a nossa é melhor. Hora da minha magia brilhar. Repulsão Mágica!

Ryujiro usou sua maça como um taco de baseball, ampliando a aura elétrica ao redor do equipamento e imbuindo a flecha dourada com eletricidade. A flecha mudou de direção, voltando para Malik, mas o Coronel foi rápido e saltou para dentro do prédio pelo buraco que havia criado anteriormente.

A flecha destruiu o boneco e seguiu em direção a Mayumi. Ela agachou-se rapidamente no chão no último instante, escapando por centímetros.

— Ryujiro, quer me matar? Tome mais cuidado, seu idiota!

— Maninha, foi mal, mas esse cara... É impossível acertá-lo. Ele é rápido demais — retrucou o Tenente.

Malik se escondeu dentro do prédio abandonado, sentou-se em uma escada interna e começou a ponderar.

“A técnica da garota é interessante. Ela determina um alvo e nenhum obstáculo pode impedir sua trajetória inicialmente planejada. Além disso, suas flechas inicialmente são fracas, mas vão dobrando de poder e tamanho a cada obstáculo atravessado até atingir o alvo. Com base nisso... por que não atravessou a maça do garoto? Talvez haja uma condição que desconheço... ou seja uma habilidade própria do garoto. Vou testá-lo um pouco mais.”

“A aura da minha maça está maior, está quase chegando no nível que eu preciso para acabar com essa luta. Vou atacar o Coronel dentro desse prédio com a minha melhor técnica. Minha forja, não me decepcione. Vamos com tudo.” – Pensou Ryujiro, que, sem hesitar, adentrou o prédio, decidido a confrontar Malik.

— Ryujiro, não entre! Você será presa fácil! Que garoto inconsequente — gritou Mayumi, preocupada, olhando o buraco na parede de longe.

Dentro do prédio, Ryujiro se deparou com um grande salão, cercado por compartimentos e uma escada que levava ao andar superior. Mayumi observava de longe, tensa, tentando proteger a retaguarda do irmão.

— Coronel, onde você está? Vem me enfrentar como um homem. Ou está com medo? — desafiou Ryujiro, explorando cautelosamente o prédio.

De repente, um som semelhante a uma trombeta ecoou pelo salão. Ryujiro olhou para cima e viu uma bolha de ar sendo lançada em sua direção. O golpe atingiu-o em cheio, fazendo-o colidir com a parede.

—  Ryujiro! — girotu Mayumi adentrando o prédio ao ouvir o impacto. “Irmão, não se precipite. Estou chegando para ajudar.”, pensou ela em seguida.

A aura da maça de Ryujiro brilhou ainda mais forte enquanto ele se levantava. Ele avistou o Coronel Malik, no andar de cima, agora com uma tromba acinzentada no lugar do nariz. Malik aspirou ar com força pela tromba e lançou outra bolha de ar. Desta vez, Ryujiro desviou com uma cambalhota.

Sem descando, outra bolha de ar veio em sua direção. Ryujiro, preparado, gritou:

— Repulsão Mágica!

Ele usou sua maça para repelir o golpe, que retornou para Malik com uma aura elétrica. O impacto foi tão forte que Ryujiro foi empurrado para trás, colidindo novamente com a parede.

Malik, vendo o golpe retornar, bateu com força no chão com o pé, desviando da bolha de ar elétrica e caindo no mesmo andar de Ryujiro. A aura da maça de Ryujiro cresceu novamente.

A aura do equipamento de Ryujiro aumentou novamente de tamanho e ele inicia uma investida contra Coronel. Este faz o mesmo, contudo, antes que o Tenente o atinja com a maça, Malik, por ser bem mais ágil, acerta um chute na cabeça do garoto, que acaba colidindo com a parede lateral. Novamente, a aura elétrica da sua arma aumenta de tamanho e , desta vez mudando de cor para um roxo intenso.

“A aura mudou de cor. Por quê? ”, pensou Malik, intrigado.

Mayumi, que vinha correndo, lançou uma flecha branca, mas Malik se abaixou e a flecha passou direto.

— Não pense que esqueci de você, Tenente Mayumi. Suas flechas não vão me atingir.

— Tem certeza? Depende de quem você considera como alvo, Coronel – replicou Mayumi, com um sorriso confiante.

— O que está querendo dizer, Tenente? — perguntou Malik, confuso.

— O equipamento de forja do meu irmão chegou ao seu ápice. Entretanto, quis garantir um upgrade. Maninho, espero que goste da minha Flecha do Auxílio do Príncipe.

Mayumi correu para fora do prédio, deixando Malik intrigado.

— Ei, o que tem de especial nessa sua última flecha? — perguntou Malik, virando-se para Ryujiro e ficando perplexo ao ver o local onde estava a flecha da Tenente.

A flecha mágica atingiu o peito de Ryujiro, infundindo-o com um poder imenso. Uma aura elétrica roxa ao redor de sua maça brilhou intensamente, crescendo em energia. Com um sorriso determinado, ele levantou a arma pesada, seus músculos tremendo sob o esforço.

 

 

— Coronel, este golpe é para você nunca mais subestimar a família Sundiata. Tome isso! Bate-Estaca! — Ryujiro gritou com fervor.

A maça de Ryujiro expeliu uma esfera de energia elétrica roxa, a qual transformou-se em um globo pulsante. Usando seu equipamento, ele bateu no globo elétrico contra o chão com toda a sua força, e a esfera se expandiu violentamente. O impacto gerou uma onda elétrica que reverberou pelo prédio inteiro, atingindo o Coronel e fazendo a estrutura tremer. Os escombros caíam em cascata, enquanto o som do colapso preenchia o ar.

— Ryujiro, saia daí! — Mayumi gritou, a voz cheia de pânico, ao ver o prédio desmoronando.

A poeira dos escombros envolveu a cena. Por um momento, tudo estava quieto, exceto pelo som das pedras caindo. Então, Ryujiro emergiu da nuvem de poeira, sua silhueta recortada contra o fundo desmoronado, levantando o braço esquerdo em sinal de vitória. Mayumi correu até ele, abraçando-o com força, lágrimas querendo escorrer pelo seu rosto.

— Maninha, eu te falei. Depois dessa luta, já garantimos o posto de Capitão, ou até algo maior. Só um Sundiata para derrotar um Coronel, mesmo sendo ainda Tenente — Ryujiro riu, sua voz triunfante.

— Ryujiro, é bom lembrar que ele não estava lutando a sério conosco. Ele nem usou as mãos — advertiu Mayumi, sua voz séria e preocupada.

— Não importa, não usou os braços porque não quis. Eu até avisei. Ele apenas perdeu e pronto! — Ryujiro respondeu com um sorriso largo.

De repente, um poder mágico colossal emanou dos escombros. Malik, agora transformado em uma figura imponente com traços de elefante acinzentado e uma tromba poderosa, emergiu dos destroços em um borrão de velocidade. Ele aterrissou com um estrondo próximo aos dois Tenentes, a terra tremendo sob seus pés, e sussurrou, sua voz profunda e retumbante como um trovão:

— Tem certeza que eu perdi?



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