Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 1

Capítulo 25: Provação

Enquanto o grupo de Kreik ia até a cidade Madrad, Mayumi caminhava pelo centro movimentado da cidade de Lajeas, Capital do Reino de Ekala.

As ruas estavam abarrotadas de pessoas e comerciantes, transformando a cidade em um turbilhão de atividade. Ela avançava sem entusiasmo, suas bochechas infladas de ar e o rosto formando um biquinho, claramente desconfortável e chateada com a situação.

A Capital do Reino de Ekala fervilhava de vida. As ruas estreitas estavam repletas de barracas de comerciantes, onde os vendedores gritavam ofertas e os aromas de especiarias e alimentos recém-cozidos enchiam o ar. As construções altas, com seus telhados ornamentados e fachadas coloridas, formavam um cenário vibrante que refletia a prosperidade do reino.

Durante a caminhada pelo centro movimentado da capital, Mayumi não conseguia afastar a sensação de peso que lhe oprimia o peito. A lembrança da última missão falhada ainda era uma ferida aberta.

“Será que um dia vou chegar ao patamar que se espera de um Sundiata?”, refletia, seu coração acelerando com a dúvida. “Mamãe e papai, sobre as luvas... deixar aquele garoto fugir com elas... espero que eu tenha agido corretamente, da forma que vocês agiriram.”, pensava a jovem, olhando para o céu, com um sentimento de saudade dentro do peito.

Mayumi seguia imersa em seus pensamentos, quando, de repente, ouviu uma voz estridente gritando de longe, chamando-a de “maninha”. Era um jovem com fardamento militar correndo em sua direção e acenando vigorosamente. A Tenente sentiu um frio na espinha, franziu o cenho e apertou o passo, falando consigo mesma:

“Tenho uma nova oportunidade para fazer diferente e não posso deixar que ele estrague tudo com seus comentários. Vou aproveirar que hoje a cidade está lotada e apressar o passo, assim ele não me encontra... Já basta ter que trabalhar agora com esse chato todos os dias.”

Mesmo tentando se esgueirar entre as pessoas, o jovem militar corria, gritando cada vez mais alto. As pessoas ao redor começaram a olhar curiosas para a cena, e Mayumi, corada, tentou fugir por um beco, mas não havia saída. Ao retornar para a rua principal, o jovem a alcançou, pegando em sua mão e gritando com um sorriso no rosto:

— Eu te peguei maninha. Foi bom brincar de pega-pega com você. Igual quando éramos crianças. Hahaha.

Todos olhavam a cena e a jovem, com vergonha, sussurrou ao irmão:

— Ei, Ryujiro. Fala mais baixo. Estão todos olhando.

Ryujiro a abraçou calorosamente e respondeu com entusiasmo:

— Deixa de besteira, maninha. Faz tempo que não nos vemos — disse ele, sua voz carregando uma mistura de alegria e preocupação. — Ainda está chateada por ter falhado miseravelmente na última missão? Eu queria ter participado para te ajudar. Com certeza já teríamos as luvas de Ifrit de volta.

Mayumi desviou o olhar, seus lábios tremendo levemente. — Se é o que você acha... — ela murmurou, sentindo o desconforto crescer dentro dela. “Não é algo tão simples assim.”, pensou a Tenente, lembrando de Kreik.

— Não precisa se martirizar por ter falhado — Ryujiro continuou, tentando amenizar a tensão. — Agora que estamos na mesma divisão e nosso avô será nosso General, é questão de tempo até recuperarmos as luvas de Ifrit e a sua dignidade.

Mayumi fechou os olhos por um momento, respirando fundo para se acalmar. Quando abriu os olhos, falou de uma vez, com voz calma, mas firme:

— Maninho, por que acha que estou me martirizando ou perdi minha dignidade? Saiba que sou sua irmã mais velha e exijo que me trate com respeito.

Ao terminar de falar, ela percebeu que não estava mais diante de seu irmão. As pessoas ao redor a observavam com estranheza, pois ela parecia estar falando sozinha. Um rubor intenso cobriu seu rosto. Virando a cabeça, viu Ryujiro negociando algumas maçãs com um comerciante próximo.

Ele se aproximou dela, sorrindo inocentemente, e perguntou:

— Falou alguma coisa, maninha? Eu fui comprar essas maçãs suculentas e acabei não ouvindo o que você disse. Era importante?

— Ryujiro... — Mayumi tremia de raiva, mas tentou manter a compostura, sua voz era uma mistura de exasperação e frustração.

Ryujiro, percebendo a irritação da irmã, estendeu uma maçã em sua direção:

— Maninha, você parece muito estressada. Toma uma maçã.

Irada, Mayumi deu um cascudo no irmão e esbravejou:

— Pare de me fazer parecer idiota, seu insolente!

— Ai! — Ryujiro coçou a cabeça. — Desde que aqueles arruaceiros levaram a invoker do Ifrit você anda muito estressada, maninha. Acho melhor irmos logo ao acampamento militar. Talvez seu humor melhore quando encontrarmos o vovô.

Mayumi soltou um suspiro exasperado e murmurou com sarcasmo:

— Desde cedo eu sabia que meu humor iria melhorar com essa reunião em família. Mal posso esperar.

— E a melhor parte é que essa reunião será permanente, todos os dias da semana. Hahaha — Ryujiro, sempre otimista, respondeu com um sorriso inocente.

Mayumi revirou os olhos e ironizou:

— Uhul! Que bom que lembrou desse detalhe.

Os irmãos continuaram seu caminho pelo centro da cidade até chegarem ao local pretendido. Alguns soldados rasos os avistaram e se aproximaram. Eles bateram continência e informaram que o Coronel Noah Malik queria vê-los no pátio de treinamento de soldados.

Ambos se dirigiram ao encontro do Coronel. Enquanto caminhavam, Mayumi sentiu um nó se formar em seu estômago, ao passo que Ryujiro exibia olhos brilhantes de empolgação.

— Que cara é essa, Ryujiro? Você parece muito feliz — observou Mayumi.

— Ei, maninha, acho que o Coronel vai nos promover a Capitão — Ryujiro respondeu com entusiasmo, seus olhos brilhando de felicidade.

— De onde você tirou essa ideia? — Mayumi franziu a testa, incrédula. — Não há a mínima possibilidade dessa promoção ocorrer. Acredite em mim... quando alguém de patente alta chama para falar em particular, não é algo bom. Falo por experiência própria.

— Maninha, você é muito pessimista. Estou achando que você tem medo de ele me promover a Capitão e te deixar como minha subordinada. Hehehe — provocou Ryujiro, seguido de uma risadinha.

— Que? Enlouqueceu de vez? Aff, como você é prepotente. Pode ter certeza de que NINGUÉM será promovido aqui — Mayumi arfou, indignada.

Ryujiro gargalhou, claramente se divertindo com a irritação da irmã:

— Hahaha. Pelo visto você ainda não superou o fato de que, mesmo sendo mais novo, fui promovido a Tenente antes de você. Não se preocupe, maninha, mesmo sendo Capitão, ainda serei seu querido irmão e não deixarei que zombem da sua cara.

Mayumi estreitou os olhos para ele, pensando: “Você é o único que zomba de mim. Como ele pode ser meu irmão sendo tão mala? Só pode ser adotado. Não vejo outra explicação.”, ela pensou indignada com os comentários do irmão.

No pátio de treinamento, eles avistaram o Coronel Noah Malik. Ele sorriu levemente ao vê-los.

Noah Malik, 31 anos, Coronel da 10ª Divisão da GPA, usava o uniforme militar da corporação. Um pano de seda saia de seu ombro e se amarrava na cintura, descendo até perto das botas. Sua pele morena contrastava com seus olhos ametista, da mesma cor de seus cabelos longos, trançados com duas tranças assimétricas na frente e uma única trança longa nas costas. Ele usava um turbante branco, uma tiara e brincos metálicos.

 

 

Os irmãos bateram continência ao Coronel, que falou:

— Bom dia, Tenentes. Não vou mentir, estou bastante empolgado em conhecer os netos do meu novo General. O legado da família Sundiata.

— Obrigado, senhor! Nós é que estávamos empolgados em conhecê-lo e fazer parte da 10ª Divisão — respondeu Mayumi, mantendo a postura firme.

— Coronel Malik, estamos prontos para nossa promoção como Capitães. Será uma honra servir a GPA nessa nova posição — Ryujiro, com um sorriso relaxado, adicionou.

O Coronel franziu a testa, surpreso:

— Promoção? De onde tiraram essa ideia?

Mayumi, apreensiva, agarrou o irmão pelo pescoço e tapou sua boca:

— Desculpa, Coronel, é que meu irmão não bate bem das ideias, às vezes a doença mental dele se manifesta — disse ela, tentando conter um sorriso nervoso.

Malik olhou curioso para Ryujiro e depois de volta para Mayumi.

— Estranho, não consta nenhuma doença mental no assentamento funcional do Tenente Ryujiro — comentou ele confuso, com a mão no queixo.

— É coisa nova, Coronel. Hehehe. — Mayumi, suando frio, querendo remediar a situação. — O senhor poderia nos dar só uma licencinha? Preciso dar o remédio dele.

Ela arrastou o irmão para longe, afastando-se do Coronel a uma distância segura, e sussurrou furiosamente:

— Você endoidou de vez, Ryujiro. Não existe nenhuma promoção. Tira isso da cabeça. O Coronel vai ficar de marcação com a gente se você não controlar sua língua.

— Ei, maninha, quem endoidou foi você. Que história era aquela de doença mental? Quis me fazer parecer idiota apenas para ganhar a promoção de forma exclusiva? Onde está a nossa irmandade, querendo passar a perna em mim? — Ryujiro se defendeu, indignado.

— Já te disse, seu doente, que não existe nenhuma promoção. — Mayumi suspirou, exasperada. — Apenas fique calado e deixe o Coronel Malik falar o que ele quer. Não nos coloque em nenhuma enrascada — disse ela, dando um leve tapa na cabeça do irmão.

— Ai, ai, tá maninha. — Ryujiro levantou as mãos em rendição. — Vou deixar você conduzir.

O Coronel Malik, observando-os de longe, parecia intrigado, mas manteve um leve sorriso. A dupla se aproximou novamente e Mayumi, tentando recuperar a compostura, falou:

— Desculpe-nos, Coronel. Tudo está sob controle agora. Podemos retomar a nossa conversa.

— Inclusive, senhor, só para constar, não tenho nenhuma doença mental. Era só uma brincadeira entre irmãos — Ryujiro adicionou, tentando parecer sério.

Malik suspirou e prosseguiu, ignorando o incidente anterior:

— Vou fingir que não presenciei essa situação e irei direto ao ponto que desejo tratar com vocês.

— Pode falar, senhor. Estamos prontos para ouvir — disse Mayumi mantendo a postura.

— É, Coronel, estamos atentos.

— Estava lendo o histórico de vocês e acredito que talvez não sejam aptos para ingressar na 10ª Divisão — continuou o Coronel, sua voz fria e séria.

— O QUÊ? — os irmãos exclamaram simultaneamente surpresos.

— Seu avô pode até ter pedido por vocês dois para a 10ª Divisão. Contudo, mesmo sendo um pedido do meu superior, não vou acatar a ordem pautado apenas por uma questão hierárquica.

Mayumi sentiu a esperança desaparecer e lutou contra as lágrimas que ameaçavam cair. Antes que ela pudesse se desesperar, Ryujiro interveio:

— Coronel, com a devida vênia, sei que minha irmã é fraca e falhou miseravelmente em sua última missão. No entanto, isso não significa que ela esteja nesta posição por influência da nossa família. Na verdade, ela fracassou por conta do Major Thorguen Brown, que era um bandido disfarçado.

— Ei, Ryujiro — Mayumi lançou um olhar irritado para o irmão — se for para me defender assim, fique apenas calado.

Malik, no entanto, foi firme:

— Tenente Ryujiro, eu não disse que sua irmã era inapta. Eu disse que vocês dois são inaptos. Portanto, não admitirei os dois na 10ª Divisão.

— Se o senhor acha que não somos capazes, podemos provar nossa habilidade através dos nossos punhos — retrucou o Tenente, batendo os punhos entre si, sem se deixar ser convencido.

Mayumi olhou para o irmão, dividida entre apreensão e gratidão. O Coronel começou a rir em voz alta:

— Muito bem, era isso que eu queria ouvir. Nada melhor do que um bom treino matinal para aquecer os músculos. Quero que mostrem sua força.

Os irmãos trocaram olhares confusos. As palavras impulsivas de Ryujiro pareciam ter surtido efeito, mas agora eles enfrentariam um teste inesperado.

“Ele realmente quer lutar com a gente? As palavras idiotas do meu irmão fizeram efeito? Acho que o mundo vai ser destruído em breve. Está tudo de cabeça para baixo.”, pensou Mayumi perplexa com a situação.

“Eu mesmo não sabia que eu era tão bom com as palavras. Talvez eu seja um futuro General da Divisão de Diplomacia da GPA. Hehehe. Vamos pensar nisso depois. Agora é hora de acabar com a marra do Coronel e garantir uma promoção.”, refletia Ryujiro determinado.

Malik, foi andando com os dois Tenentes até o centro do pátio de treinamento e, com um sorriso desafiador, finalizou:

— Vamos começar, Tenentes. Façam as honras e provem que são merecedores de ingressarem na 10ª Divisão — disse ele, colocando as mãos para trás, em posição de espera.



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