Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 1

Capítulo 21: Convite

Moara e Kreik fugiam rumo ao penhasco onde Uji havia enfrentado a Capitã Tylla. Durante o percurso eles encontraram o samurai e Joabe, que carregava Rydia nas costas.

— Pessoal, pessoal, nós vencemos o Major! Ele virou picadinho, não é, Kreik? — exclamou Moara, empolgada.

— Sim... — respondeu Kreik, sem entusiasmo, seus olhos voltados para o corpo inerte de seu avô.

— Como vocês conseguiram isso? Estou impressionado! — Uji falava, dando tapinhas nas costas de Moara.

— Acho que o Major não é tão forte quanto dizem — exclamou Joabe, com um sorriso satisfeito.

— Não é tão forte? Ele quase me matou! Se não fosse pela namorada dele, eu estaria morta — retrucou Moara, gargalhando.

— Eu já disse que a Mayumi não é minha namorada — Kreik insistiu, com um tom de exasperação.

— Como vocês o derrotaram? — perguntou o samurai, intrigado.

— Primeiro, amassamos ele, mas ele voltou mais forte e quase nos destruiu. Só que aí o Kreik virou uma espécie de carneiro psicopata de fogo e transformou o mequetrefe em churrasquinho — respondeu Moara, gesticulando energicamente, cada palavra carregada de entusiasmo.

— Carneiro psicopata de fogo? Já tá inventando coisa — retrucou Joabe, cético. Apesar do clima de descontração pela vitória, Kreik começou a lacrimejar, o peso do corpo de seu avô em suas costas lembrando-o da perda.

Rydia, percebendo a mudança de humor, deu um leve tapa na nuca de Joabe e falou:

— Calem a boca. Vamos enterrar o avô dele, depois cantamos vitória e decidimos os próximos passos.

Uji e Joabe perceberam então a seriedade da situação, calando-se. Moara também ficou em silêncio, uma lágrima discreta escorrendo pelo rosto. O grupo caminhou até a cabana de Kreik e, próximo ao local, enterraram Gurren ao lado do túmulo da mãe do rapaz.

Eles fizeram orações e deixaram ramalhetes de flores belladinas sobre as lápides. Kreik, desolado, foi consolado pelo grupo, com exceção de Joabe, que permaneceu afastado, em silêncio.

Após o funeral, Joabe comentou:

— E agora, Uji? Vamos cortar logo a cabeça dele e levar as luvas?

— Não fale besteira, Joabe. Depois de tudo isso, não podemos fazer isso com o Kreiquinho — disse Moara, tentando conter a frustração.

— O pior é que ele tem razão, Moara. Nossa missão é trazer as luvas. Baan está esperando. Precisamos levá-las — comentou Rydia, fria e calculista.

— Calma, pessoal, não briguem. Vocês me ajudaram com meu avô, estou em débito. Podem cortar minha cabeça, nada mais me restou mesmo. Estarão me fazendo um favor — Kreik interveio, sua voz carregada de resignação.

— Ei, isso não é justo. Ele já sofreu demais. Me recuso a ver isso — disse Moara, virando-se de costas e começando a chorar.

— A decisão é sua, Uji. Baan te colocou como líder desta missão — murmurou Joabe, com os braços cruzados, fixando seu olhar no samurai.

Uji sacou sua espada e começou a caminhar na direção do jovem mago ruivo. Ao passar por Rydia, ela segurou sua mão e argumentou:

— Sei que também não está se sentindo à vontade nesta situação. Eu te conheço. Saiba que eu confio na sua decisão, sei que saberá o que é melhor. Faça rápido, Baan nos aguarda — sussurrou a maga atiradora, triste com a responsabilidade que recaía sobre seu amigo.

O samurai ficou de frente para Kreik, que estava de joelhos, e apontou sua katana para o queixo dele.

— Olhe nos meus olhos e diga suas últimas palavras.

— No começo, quando peguei essas luvas, vi como uma maldição, com vocês e a GPA me atacando. Mas agora penso diferente. Mesmo que por pouco tempo, foi bom ter amigos. Estou pronto para o meu destino. Só me prometam que não vão esquecer de mim — falou Kreik, com um sorriso sereno no rosto, apesar da situação.

Moara e Rydia desabaram em lágrimas, virando-se para não assistir. Até Joabe, frio por natureza, desviou o olhar. Uji começou a tremer sua katana perto do pescoço do rapaz, até que respirou fundo, levantou a espada e falou:

— Precisamos da luva e vamos tê-la. Kreik, quer entrar para nossa guilda? Quer ser um membro da Crossed Bones?

— Sim, quero! — respondeu Kreik prontamente, quase automaticamente.

— QUÊ? — gritaram os demais, em uníssono, surpresos.

— Pessoal, estou indo, por favor, esperem só um minuto, preciso fazer uma coisa antes — manifestou-se Kreik, entusiasmado, enquanto corria para o túmulo de sua mãe.

Joabe e Rydia questionavam o samurai sobre sua decisão sem consultar previamente o líder da guilda, enquanto Moara pulava e gargalhava de felicidade pela reviravolta.

Kreik se aproximou do túmulo de sua mãe, a brisa suave do entardecer acariciando seu rosto, tão gentil quanto os sussurros de Bella em suas memórias. De dentro do bolso, ele retirou uma moeda que cintilava com o último raio de sol, tão brilhante quanto a esperança que sua mãe havia depositado em seu coração.

Ele se ajoelhou, o silêncio do ambiente envolvendo-o como um manto. Com dedos trêmulos, começou a cavar a terra macia ao lado da lápide, cada movimento um eco das palavras de Bella.

— Mãe, você me disse uma vez que o coração humano é como uma moeda com duas faces — Sua voz era firme, mas carregada de emoção. — Você me ensinou que, mesmo quando a moeda cai no ódio, ainda podemos lançá-la novamente, buscando o amor.

Com reverência, ele depositou a moeda no pequeno buraco. A terra fria contrastava com o calor de suas lágrimas. Ele cobriu a moeda com a terra, selando ali não apenas um objeto, mas uma promessa.

— Eu fiz amigos, mãe. E vamos começar uma nova jornada — Kreik sorriu, um reflexo do pequeno sorriso que havia dado a Bella anos atrás. — Eu consegui jogar a moeda, mãe. E desta vez, ela caiu no amor. Eu te amo!

O jovem mago ruivo correu para dentro da cabana e passou alguns minutos lá dentro. O resto da equipe, sentados no chão, já estava impaciente com a demora.

— Ei, Kreik, acelera, não temos o dia todo! — gritou o samurai, com uma impaciência que não conseguia disfarçar.

Rajadas de fogo saíram de dentro da cabana, incendiando toda a estrutura. Perplexos com a cena, a equipe se levantou rapidamente, em guarda, esperando um possível ataque inimigo. Contudo, uma silhueta recortada contra o fogo emergiu de dentro da cabana em chamas. Era Kreik, com uma postura confiante, novo visual e uma mochila nas costas.

Ele vestia uma jaqueta cinza com detalhes vermelhos, camisa vermelha, calça preta, sapatos e cinto vermelhos. Nas suas calças, alças vermelhas adicionavam um toque moderno ao seu estilo.

 

 

— Devo admitir, o rapaz tem estilo — comentou Rydia, admirada, enquanto sua mão acariciava o queixo em um gesto de aprovação.

— Exibido! Esse aí gosta de chamar mais atenção que um pavão — resmungou Joabe, ranzinza como sempre.

— Isso sim é uma entrada triunfal! Kreiquinho, você está mais do que pronto para se juntar à nossa guilda. Hahaha! — exclamou Moara, com um sorriso contagiante, celebrando o momento com um toque de mãos com o novo membro da guilda.

— Não vai se arrepender de queimar sua cabana? Acredito que era um local repleto de memórias do seu avô e mãe? — questionou o samurai, sua voz carregada de preocupação.

— Não! Ifrit usou minhas piores memórias para me atormentar. — respondeu Kreik com a voz firme, confiante e empolgado com o que o futuro lhe reservava. — Portanto, eu decidi. Esta cabana condensava e trazia todas as minhas memórias ruins. Decidi queimá-la como um grito de libertação, afirmando que não vou mais me apegar ao meu doloroso passado.

“As boas lembranças que ainda tenho da minha mãe e do meu avô, sempre vou levá-las comigo no meu coração, não preciso de um local ou objetos específicos.

“Estou pronto para seguir em frente, para partir e conhecer novos lugares e pessoas.”

— Sábias palavras, garoto. Vamos indo! — falou Uji, passando a mão na cabeça de Kreik.

— Tudo certo. Crossed Bones, hora de partir! — gritou Moara, entusiasmada, com os braços erguidos.

— Uji, qual o nosso próximo destino? — perguntou o novo integrante, sua voz cheia de expectativa.

— Vamos para a cidade de Madrad, pertencente ao reino livre de Byron. Esteja preparado, lá você vai conhecer o nosso líder, Baan Maverick — respondeu Uji, com um leve sorriso, enquanto o grupo se preparava para a próxima jornada.

No centro das ruas de Madrad, uma cidade comercial cheia de luzes vibrantes e pessoas animadas, durante a noite, um homem elegante com um longo casaco adornado com pele de lobo passeava tranquilamente em uma carruagem. O casaco, preto com detalhes em vermelho na parte interior, refletia a opulência de seu dono, que aparentava ser uma pessoa rica. O rosto da figura misteriosa permanecia obscurecido pela penumbra do interior da carruagem.

Enquanto a carruagem se movia pelas ruas iluminadas, o homem lia um livro intitulado “O Conto do Fogo Livre”. O livro era antigo, com uma capa de couro marrom escuro e bordas douradas, e em seu centro havia um símbolo de uma chama em relevo.

O cocheiro, um homem robusto e de semblante sério, parou a carruagem em frente a uma taverna movimentada. Abrindo a porta da carruagem, ele anunciou:

— Senhor, já chegamos na taverna. Ficarei aqui aguardando as próximas instruções.

O homem fechou o livro com cuidado e o guardou no interior do casaco. Desceu da carruagem, revelando seus cabelos brancos curtos, que brilhavam à luz das lanternas da rua. Ele entrou na taverna, onde magos bebiam e dançavam alegremente. Sua entrada fez com que todos se calassem, observando-o com curiosidade e respeito.

Ele caminhou diretamente até o balcão, onde a atendente que era responsável pela distribuição das missões entre as guildas e se chamava Keya, o aguardava atrás de um balção.

Keya Vaanmirt, 25 anos, era uma mulher de cabelos loiros curtos presos em um coque, com algumas mechas soltas emoldurando seu rosto. Seus olhos eram pretos, ela vestia uma blusa de cor creme com mangas bufantes e gola franzida, combinada com calças justas em um tom marrom, além de usar um cinto estilo corsete, também marrom, e uma pequena bolsa presa ao cinto.

 

 

— Bom dia, Gerente Geral — disse Keya, fazendo uma reverência.

O homem assentiu com a cabeça e subiu as escadas ao lado do balcão, dirigindo-se ao seu gabinete. Assim que ele desapareceu no andar superior, Keya incentivou os músicos a retomarem a música. Aos poucos, a animação voltou a tomar conta da taverna.

Keya pegou várias pastas, subindo em seguida para o gabinete do Gerente Geral. Ao chegar, ela entregou as pastas.

— Aqui estão as pastas das últimas missões das guildas, senhor — disse Keya.

O gerente analisou e assinou as pastas, comentando:

— Os resultados da guilda de Madrad estão excelentes.

— Apenas a Crossed Bones não conseguiu subir no rank — observou Keya. — Eles ainda não entregaram o relatório da última missão em Lakala... mas gostaria de saber desde logo o que as pessoas andam comentando?

— Não precisa — respondeu ele, com um ar de desdém. — A GPA nos enganou. Já estou sabendo que as luvas em Lakala eram falsas. As verdadeiras estavam com o Major Condor Brihen, indo para a capital do reino.

— Não foi isso que eu ouvi, senhor! — retrucou Keya, entregando uma pasta ao Gerente. — Eu escrevi neste documento tudo o que descobri sobre a última missão deles, conforme os relatos dos meus passarinhos.

O gerente, agora visivelmente espantado, leu o relatório de Keya e levantou-se com urgência, dizendo:

— Terei que viajar com urgência. Voltarei em alguns dias para terminar o trabalho e conversar pessoalmente com ele, Baan Maverick.

— Para onde vai? — perguntou Keya, preocupada.

— Não importa. Apenas mande um de seus passarinhos ao meu cocheiro assim que a Crossed Bones entregar o seu relatório — respondeu ele, antes de sair do gabinete com pressa.

Keya assentiu com a cabeça e ficou observando enquanto o Gerente partia, refletindo sobre as implicações daquela viagem repentina.

Uma semana após o incidente contra o Major Thorguen Brown, a Tenente Sundiata Mayumi ainda estava no posto militar avançado de Lakala. Ela caminhava pelo local, seus passos ecoando pelos corredores de concreto. A cada passo, ela sentia o peso do olhar invisível da autoridade. Respirando fundo, Mayumi abriu a porta de uma sala de interrogatório austera.

Dentro, apenas uma mesa pequena, duas cadeiras metálicas, uma de frente para a outra, e duas bandejas sobre a mesa. Uma bandeja continha um jarro de água, uma jarra de suco de morango e copos de vidro; a outra, uma garrafa de café e xícaras.

Mayumi se sentou na cadeira mais próxima da porta, sua ansiedade visível nos dedos que tamborilavam incessantemente no tampo da mesa.

Minutos pareceram horas até que a porta se abriu com um rangido leve. Um militar imponente entrou, sua presença preenchendo o pequeno espaço. Ele se aproximou de Mayumi e pousou a mão esquerda em seu ombro, falando com uma voz firme, mas amistosa:

— Já faz quantos anos desde a última vez que lhe vi, Tenente?

— Já faz mais de dez anos, Senhor. — A voz de Mayumi era um sussurro nervoso, quase como se estivesse falando consigo mesma.

— Se minha memória não falha, você deveria ter aproximadamente sete anos de idade, certo? — O militar, de olhos castanhos penetrantes e cabelos brancos cortados de forma impecável, examinou-a com um olhar afiado.

— Sim, exatamente isso, Senhor General Levi Burgess — Mayumi respondeu com uma reverência, suando frio enquanto batia continência com as mãos trêmulas.



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