Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 1

Capítulo 20: Você é a minha Luz

Kreik rugiu como uma fera, levantando a palma da mão esquerda e disparando uma rajada de fogo em direção às garotas. Moara, rapidamente, bloqueou o ataque com um Gaia Wall. A muralha se despedaçou, mas Moara atravessou os escombros da muralha e correu em direção ao companheiro, preparando um Gaia Punch com seu braço direito. Kreik também correu em sua direção, preparado para um golpe.

Mayumi, em um rápido momento, lançou uma Flecha do Rei Ezequias. A flecha dourada atravessou o corpo de Moara, dobrando de tamanho e força, e atingiu Kreik no peito, rompendo sua guarda.

Moara conseguiu acertar seu Gaia Punch no rosto de Kreik, mas o impacto foi mínimo. Kreik revidou com um soco flamejante no queixo de Moara, lançando-a alguns metros para trás.

Moara levantou cambaleando, pegando em seu queixo dolorido.

— Seu desgraçado, essa doeu. Eu te pego quando você voltar ao normal.

Kreik avançou em direção a Mayumi. Antes que ele pudesse atacá-la, um pilar de terra emergiu do solo, lançado por Moara em seu Gaia Awakening, arremessando-o para cima. Ainda no ar, Kreik inspirou profundamente, inchando sua barriga, e depois soltou o ar, lançando uma poderosa bola de fogo em direção a Moara. Com sua agilidade, ela conseguiu desviar, criando dois Gaia Wall que, apesar de serem destruídos, amorteceram o impacto da técnica.

— Moranguinho, você pode até ter curado parte das minhas feridas, mas as que restaram estão abrindo de novo. Além disso, meu poder mágico não foi restaurado completamente. Já não consigo mais lutar. Agora é com você, preciso descansar um pouco — gritou Moara, ofegante.

— Eu? Sozinha? Como vou fazer isso? — respondeu Mayumi, alarmada.

Kreik aterrissou do salto e avançou em alta velocidade na direção da Tenente. Ela, em resposta, disparou várias flechas douradas que atingiram Kreik, mas ele não parou; continuou avançando como uma fera enlouquecida.

Ao se aproximar de Mayumi, Kreik hesitou por um momento antes de desferir um soco circular com o braço direito. Mayumi aproveitou a brecha para se agachar e desviar do golpe, mas foi atingida no estômago por uma joelhada que a fez cuspir sangue e cair de joelhos.

Kreik a agarrou pelo colarinho com o braço esquerdo e, com a mão direita, preparou-se para dar um soco direto, sua mão emitindo uma aura de chamas.

— Kreik, eu sei que você está aí. As pessoas te chamaram de demônio a vida toda, e isso dói muito, eu sei... Mas destruir tudo não vai mudar o passado. Mostre a elas que você não é um demônio. Eu acredito em você. Prove ao mundo que estou certa. — gritou Mayumi, desesperada.

— M-A-Y-U-M-I! — pronunciou Kreik, pausadamente, como se um lampejo de consciência retornasse por alguns segundos.

— Isso, sou eu, Mayumi, sua amiga.

— A-M-I-G-A...

Nesse instante, Kreik soltou Mayumi abruptamente. Ele levou as mãos à cabeça, soltando um grito agudo de dor, como se fosse atormentado por uma enxaqueca insuportável. Continuou a gritar, sua voz ecoando pelo campo de batalha, enquanto cambaleava, afastando-se de Mayumi. Tropeçou e caiu de joelhos no chão áspero.

De repente, várias espirais de fogo emergiram ao seu redor, dançando como chicotes flamejantes e formando uma redoma incandescente. A carbonização de seu corpo acelerou, sua pele assumindo uma aparência de carvão queimado, enquanto ele continuava a gritar em agonia.

Ao ver a cena, Moara correu até Mayumi, ajudando a levantar sua aliada temporária e perguntou:

— O que você fez?

— Nada. Apenas falei com ele e, do nada, ele entrou neste estado.

— O que você acha que vai acontecer agora? — perguntou Moara preocupada.

— Parece que a consciência dele está lutando contra essa coisa, mas não sei se o corpo dele vai aguentar. Veja, o corpo dele está se carbonizando rapidamente — explicou a Tenente.

— Droga, Kreiquinho. Não vai perder para esse bicho. Dessa vez, você vai lutar sozinho, não tem como eu te auxiliar.

— Auxílio... É isso! — exclamou Mayumi. — A Flecha do Auxílio do Príncipe! — Mayumi, com seu arco, atirou uma pequena flecha branca em direção a Kreik. No entanto, a flecha foi facilmente dissipada pelas espirais de fogo que rodeavam o garoto.

— O que foi isso? — Moara perguntou confusa.

— Um auxílio. Mas atirar de longe não vai funcionar. Quero te pedir um favor — respondeu Mayumi, sua voz carregada de urgência.

— O que quiser, se eu puder ajudar o Kreiquinho.

— Em vez de lançar uma flecha como essa última, vou segurá-la na mão e acertar diretamente o coração de Kreik.

Moara arregalou os olhos, impressionada com a coragem de Mayumi.

— Espera, Moranguinho? Você vai morrer antes mesmo de chegar perto dele por causa dessas espirais de fogo. Você vai acabar assim, — Moara pegou uma pedra e esmigalhou em sua mão — BLUFT.

Mayumi olhou nos olhos de Moara e, com o tom sério, perguntou:

— Bom... Aí entra o seu favor. Enquanto eu avanço, você vai criar barreiras de terra para me proteger. Acha que consegue?

— Com o pouco poder mágico que me resta, duvido muito. Estou exausta. Mas, se der errado, é você quem vai morrer, então... Vamos nessa! — disse Moara, tentando animar-se, com um sorriso meio cômico e fazendo um sinal de joinha.

— Muito encorajador da sua parte... — retrucou Mayumi receosa.

Na consciência de Kreik, ele acordou do transe devido às palavras de sua amiga. Ao ver seu corpo sendo consumido pelo miasma, tentou se soltar, mas as correntes não o deixavam resistir. Mesmo se debatendo, as correntes não se quebravam, e o miasma já consumia a maior parte do seu corpo, restando apenas sua cabeça.

Mayumi estava com medo e nervosa com o que estava prestes a fazer e travou, sem conseguir avançar. Ela fechou os olhos, procurando se acalmar e criar coragem para avançar, até que relembrou o momento em que o conheceu e como ele salvou sua vida.

 

 

Essas memórias lhe deram coragem de avançar e o desejo ardente em fazer o seu amigo retornar ao estado original foi mais forte que qualquer medo ou receio. A tenente concentrou todo o seu poder e invocou uma nova flecha branca, maior e mais forte. Em vez de lançá-la com o arco, ela a pegou com a mão e caminhou em direção a Kreik.

Durante seu percurso, enquanto as espirais de fogo a atacavam, Moara criou barreiras de terra, protegendo-a. Mayumi avançou cada vez mais, mas antes de chegar próximo de Kreik, Moara desmaiou devido à exaustão mágica. As espirais de fogo começaram a atingir Mayumi, que começou a sangrar e sentir muita dor.

No entanto, ela sabia que a dor que sentia era ínfima quando comparada com aquela que seu amigo já havia sofrido em razãp das atitudes do Major Thorguen Brown e das pessoas do vilarejo, portanto, continuou avançando. Quando estava próxima de Kreik, uma espiral atingiu suas costas, fazendo-a cair e derrubar a flecha.

Dentro da jaula mental, o miasma já avançava sobre o rosto de Kreik quase por completo, restando apenas seu olho esquerdo e a boca. Quando o olho foi consumido, em um último ato desesperado, Kreik gritou, clamando por socorro.

Voltando à cena de Mayumi, ela, deitada no chão, murmurou:

— Kreik, eu não sou forte como você imagina... — lágrimas brotavam nos olhos da jovem militar. — Desculpa, já não aguento mais! Eu desis...

— S-O-C-O-R-R-O! — interrompeu Kreik, gritando de dor, com lágrimas evaporando ao cair do rosto.

Ao ouvir o grito de Kreik, Mayumi foi tomada pelas lembranças dele lhe falando como ela era destemida e forte. A Tenente se encheu de motivcação, ela sabia que esse era o momento de provar o seu valor, então pegou a flecha com a mão direita e se levantou. Mesmo com várias espirais de fogo atingindo seu corpo, ela não caiu. De joelhos, em frente a Kreik, fincou a flecha branca em seu coração, declarando:

— Hora de acordar, Kreik! Flecha do Auxílio do Príncipe!

Na jaula mental, o miasma estava prestes a consumir completamente a boca de Kreik. Mas, quando tudo parecia perdido, uma flecha branca cortou o topo da sala, atravessou a jaula e atingiu o coração do garoto. Graças à flecha branca, o miasma começou a retroceder rapidamente, e o poder mágico de Kreik aumentou exponencialmente, dando-lhe força para romper as correntes.

Com as correntes rompidas, a jaula de fogo começou a se estilhaçar. Kreik caiu no chão, de frente para o cristal que aprisionava Ifrit, e viu que o buraco deixado pela flecha no topo da sala estava aumentando, emitindo uma luz intensa.

No meio dessa luz, Mayumi estendia a mão como um sinal de ajuda. Kreik ergueu a mão e segurou a dela. Nesse momento, ambos desapareceram do local e a sala começou a desmoronar.

— Muahaha! Excelente. Pacto firmado — disse Ifrit, com uma risada macabra, enquanto parte de seu cristal se quebrava, revelando parte de seu rosto.

Kreik, com os joelhos trêmulos, ergueu os olhos e encontrou Mayumi, sua luz em meio à escuridão, também ajoelhada. Seus olhares se entrelaçaram em um silêncio eloquente. Ele examinou suas mãos, agora livres do controle de Ifrit, e tocou seu rosto, lágrimas de alívio brotando de seus olhos.

— Ainda bem que você voltou ao normal... — comentou a Tenente, derriando a cabeça levemente para o lado, com um sorriso singelo no rosto.

— Obrigado, Mayumi. Se não fosse por você... — Kreik interrompeu, abraçando-a fortemente, suas palavras sendo mais claras em seu gesto do que poderiam ser.

Mayumi, com as bochechas tingidas de um rubor delicado, retribuiu o abraço, encaixando seu rosto perfeitamente no ombro dele.

— Tá tudo bem, Kreik. Afinal, somos amigos. Agora está 1x1. Na próxima vez, é você quem tem que me salvar — disse ela, com a voz doce e serena.

Eles compartilharam um riso abafado, desfazendo o abraço, mas ainda ajoelhados, seus olhares se perdiam um no outro. Kreik, com uma ternura quase palpável, acariciou a bochecha de Mayumi e uniu sua testa à dela.

— Mayumi, quando eu estava prestes a ser consumido pelo Ifrit, descobri que você é minha luz! — confessou Kreik, sua voz um murmúrio carregado de significado.

O coração de Mayumi disparou ao ouvir essas palavras, um calor avassalador a invadiu, fazendo-a ofegar. Ela espelhou o gesto de Kreik, tocando sua bochecha, enquanto um silêncio repleto de promessas se estabelecia entre eles. Ambos começaram a se inclinar, seus rostos a um sopro de distância.

— Atchim! — alguém espirrou.

Eles olharam para o lado e viram Moara deitada no chão, balançando os pés e com os cotovelos apoiados, as palmas das mãos segurando o rosto, assistindo toda a cena inocentemente, como se fosse um filme.

— Ah, desculpe, não queria atrapalhar o casalzinho. Estava tão romântico, por favor, continuem, quero ver o final feliz — disse Moara, piscando maliciosamente.

Mayumi ficou vermelha de vergonha e, instintivamente, deu um tapa no rosto de Kreik.

— Uma hora a Moranguinho está quase beijando o Kreiquinho, agora dá um tapa na cara dele. Esses romances modernos são tão confusos — comentou Moara, rindo travessamente.

— Desculpa, Kreik, não quis fazer isso. Mas essa garota debochada... — Mayumi gaguejou, claramente envergonhada e frustrada. Depois virou-se indignada, na direção de Moara. — Ei, sua arruaceira desajustada, nós não íamos nos beijar, de onde você tirou essa ideia maluca? — ela em seguida olhou para Kreik, implorando por aprovação: — Kreik, diga a ela que somos apenas amigos!.

— Moara, somos apenas amigos. Acho que houve um mal-entendido. — assegurou Kreik, embora seu olhar para Mayumi dissesse o contrário.

— Ah, sei. Vou fingir que acredito. Mas se quiserem, posso fechar os olhos e virar de costas para vocês continuarem. Não quero atrapalhar nada. É só uma dica — sugeriu Moara, claramente maliciosa.

— Ei, está ficando doida, menina. Não tem na... — começou Mayumi, mas sua voz falhou enquanto ela cambaleava, a exaustão tomando conta dela.

Antes que ela caísse, Kreik a segurou em seus braços, a preocupação marcando seu rosto. Moara também mostrou preocupação.

— Não se preocupem, são os efeitos colaterais daquela flecha — murmurou Mayumi, exausta.

— Aliás, Moranguinho, o que foi aquela flecha?

— A minha forja tem dois tipos de flechas: a dourada, para ataque, e a branca, para suporte. Aquela flecha drena meu poder mágico, transferindo-o para o alvo — explicou Mayumi, a voz fraca.

Kreik impressionado com a atitude da amiga questionou:

— Mayumi, você me deu todo o seu poder mágico para que eu recobrasse a consciência?

— Exatamente. Por isso você teve força suficiente para superar o Arcano Ifrit. Mas, em troca, estou exausta. Não consigo nem levantar, preciso descansar. Acho que vou desmaiar... — confessou Mayumi, seus olhos se fechando enquanto ela ficava desacordada.

— Mayumi, Mayumi, acorde! — chamou Kreik, o pânico evidente em sua voz.

— Calma, rapaz. Sua namorada está bem, só está esgotada. Logo ela acorda e você dá um beijinho nela. Hehehe. Safadinho — provocou Moara, rindo.

— Para, Moara. Ela não é minha namorada, somos só amigos. — insistiu Kreik, embora seu abraço em Mayumi dissesse outra coisa.

Ambos ouviram vozes de soldados se aproximando rapidamente, tentando entender o que havia acontecido enquanto estavam sob os efeitos das belladinas.

— Parece que temos companhia. Vamos pegar o corpo do seu avô e fugir — sugeriu Moara.

— Não podemos deixar Mayumi aqui desacordada — Kreik falou ainda preocupado com a amiga.

— Fique tranquilo, ela é militar. Os soldados vão cuidar dela. Já nós, se nos pegarem... Acredite, você não vai querer saber o restante.

Kreik consentiu e pegou o corpo de seu avô, colocando-o em suas costas. Ele e Moara partiram do local, deixando a Tenente desacordada no chão. Rapidamente os soldados chegaram ao local e prestaram os devidos socorros para Mayumi. Já a dupla fugiu sem deixar vestígios, procurando reencontrar com os demais companheiros na floresta.



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