Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 1

Capítulo 18: Presente

O campo de batalha estava caótico, com a poeira e o cheiro de sangue no ar. Gurren estava acordado, preso ao mastro da bandeira, enquanto Moara permanecia inconsciente, com um dos machados fincados em suas costas. Kreik, com o coração batendo descontroladamente, encarava a cena.

O jovem ruivo olhava para o Major Thorguen, que se aproximava com um olhar de puro ódio. O desespero que Kreik sentia era palpável; cada passo do Major ressoava em seu coração como um ceifeiro da morte vindo reclamar sua alma.

“Como vou lutar contra esse monstro sozinho? Será que Moara ainda está viva? Como eu consigo salvar ela e o meu avô? Maldição! Vamos todos morrer em vão.”, pensou Kreik, desesperado.

Thorguen avançava em direção a Kreik, que, tomado pelo desespero, lançou um Flaming Darts. O Major bloqueou o ataque com seu machado e continuou sua marcha implacável.

— Não banque o herói, meu neto. Fuja enquanto pode! — gritou Gurren.

Mas Kreik não cedia e continuava seus ataques desordenados. Quando Thorguen estava a uns seis metros de distância, ele desferiu um golpe no ar com um movimento vertical de seu machado, que rasgou o abdômen do garoto com quinze cortes profundos.

— Não se preocupe, filho de Reich, você não morrerá com este golpe. Seu sofrimento tá apenas começando.

Enquanto Gurren clamava por ajuda, o Major, aproveitando-se da vulnerabilidade de Kreik, começou a chutar seu estômago, culminando com um pisão brutal em seu tórax.

— Isso é só o começo, seu verme. Você sofrerá muito mais! – exclamou o Major, demonstrando toda sua ira e rancor.

Kreik agarrou o pé do Major, tentando impedir mais golpes, mas Thorguen continuava a pressionar com força.

— Pare com isso, Thorguen! Mate-me, mas deixe meu neto livre. Eu suportarei tudo em seu lugar – suplicou Gurren, desesperado.

Thorguen direcionou seu olhar ao velho, um sorriso sádico dominou sua face.

— Interessante... Acho que sei como acabar com sua insolência, filho do Reich. Já que seu avô tá tão ansioso para morrer, começarei por ele.

O Major lançou um de seus machados, cortando a corda que suspendia Gurren, fazendo-o cair em direção ao chão.

— Não, vovô! – gritou Kreik, sua voz carregada de medo.

— Será que ele vai morrer com o impacto ou irá apenas quebrar a coluna? Ah, pode ser que ele tenha sorte e talvez só quebre alguns ossos. – zombava Thorguen, rindo alto, demonstrando toda a sua perversidade.

Quando faltava menos de um metro para Gurren atingir o solo, três flechas douradas atravessaram suas roupas e o prenderam ao mastro, suspendendo-o no ar.

—De onde vieram essas flechas? Mais vermes estão vindo lutar? – disse o Major, irritado com a situação.

Mayumi surgiu, cavalgando em direção a Gurren, resgatando-o.

— Mayumi! Fuja com o vovô. Não há como enfrentar esse homem. Ele é muito forte — exclamou Kreik, preocupado com a segurança da jovem Tenente.

— Acho que o último verme apareceu. Mas não viverá por muito tempo – murmurou o Major, girando o tomahawk em sua mão.

Thorguen lançou seu machado, mas Mayumi já fazia uma manobra para fugir, contudo, mesmo distante do machado, o cavalo da Tenente foi atingido com sucessivos golpes, caindo morto em seguida. Ela e o velho Gurren também caíram no chão, embora ilesos.

— Seu maldito! — gritou Kreik, lutando para se libertar.

— Silêncio, verme — retrucou Thorguen, ainda pisando em Kreik.

— Major Thorguen Brown, pare imediatamente! Você já infringiu muitas leis. Deixe esse homem sair ileso e levaremos os demais para julgamento – falou Mayumi, sua voz firme e cheia de autoridade.

— Estou farto de suas tolices, Tenente. Acha mesmo que este mundo se importa com honra e leis? Não seja ingênua – vociferou Thorguen, sua voz estridente como um trovão.

— Se todos pensarem que a lei é irrelevante, o que nos resta além da barbárie? — Mayumi cerrou os punhos, tomando coragem, depois ergueu um olhar feroz e corajoso. — Se for para seguir seus ideais, a GPA não tem mais razão de existir. Você e a corporação podem ser melhores que isso — retrucou a Tenente, sem se intimidar pelas palavras de Thorguen.

— Seu problema, Tenente — o Major ficou ainda mais irritado, apontando seu tomahawk para Mayumi — é pensar que um sobrenome forte resolve tudo. Que utilizar a influência da sua família lhe permite deixar os outros fazerem o trabalho duro e, depois, com seu discurso moralista, reivindicar todo o crédito.

— Sempre falando da minha família… — Mayumi, notadamente irritada, mordeu os lábios e olhou rapidamente para o céu, querendo se acalmar. — Não é pelo meu sobrenome que faço isso. É porque é o certo. Isso é ter honra, isso é ter caráter – respondeu ela, sua voz firme, porém, sem exaltação.

— Honra? Caráter? São apenas conceitos que enfraquecem, justificativas utilizadas pelos fracos porque não conseguem admitir suas falhas. Tenente, a força e a coragem de fazer o necessário, isso sim leva ao topo. Seus ideais são apenas enfeites para túmulos — Thorguen provocou, arqueando a sombrancelha, com um leve sorriso.

Os olhos de Mayumi se enchem de raiva e dor, ela perdeu a compostura e vociferou, enquanto materializava o mesmo arco que usara outrora para libertar Moara:

— Como ousa desonrar minha família. Força básica, Arco da Promessa! Major, este é seu ultimato: siga as regras ou enfrentará meu ataque.

— Não desonrei sua família, vocês próprios da família Sundiata fizeram isso, especialmente você, Tenente. Mas não se preocupe, garantirei que participe de um jantar de família no outro mundo — zombou Thorguen, gargalhando descontroladamente.

A Tenente posicionou suas mãos no arco como se fosse disparar uma flecha, então materializou uma flecha dourada.

— Foi você quem pediu, Major. Flecha do Rei Ezequias! – disse Mayumi, disparando a flecha sem vacilar.

flecha foi em direção ao Major. Este, confiante, manejou seu tomahawk para atacar a flecha, na intenção de dissipá-la. Contudo, ao fazer isso, a flecha atravessou o machado. Em seguida, a flecha dobrou de tamanho e poder, atingindo o peito de Thorguen, fazendo-o gritar de dor e arrastando-o para trás, inclusive retirando seu pé de cima do corpo de Kreik.

— Cansei disso. Faça um favor a si e à sua família: morra de uma vez — vociferou Thorguen, sacando outro tomahawk e lançando-o em direção a Mayumi. Entretanto, Kreik, desesperado, gritou:

— Fuja, Mayumi! Esse machado vai te cortar a mais de cinco metros de distância. Desvie logo!

Embora sua perna estivesse curada após usar runas de cura na hospedaria, Mayumi sabia que não conseguiria escapar do machado mortal que voava em sua direção sem que o idoso fosse atingido. Então, ela se pôs à frente de Gurren para sofrer o ataque. Todavia, num ato de puro instinto, o velho empurrou a jovem e lançou-se à frente, absorvendo o impacto brutal destinado a ela.

Os vários cortes no peito do ancião faziam seu sangue jorrar um vermelho vivo que pintava o chão de uma tristeza profunda. Kreik, embora gravemente ferido, arrastou-se em desespero até seu avô, gritando seu nome com uma voz rouca pela dor.

Gurren caiu nos braços de Mayumi, que se ajoelhou, tremendo, e retirou uma runa de cura de seu bolso.

— Sr. Gurren, estava guardando isso para o momento necessário. Tome esta runa de cura que peguei na enfermaria, rápido, antes que o ferimento piore! — disse Mayumi, com lágrimas escorrendo pelo rosto.

— Não, minha querida. Guarde-a para quem ainda tem um futuro. Este velho já teve sua cota de dias sob o sol — recusou o velho, tossindo sangue, quase sem forças.

— Não seja duro consigo mesmo. Não vou deixá-lo morrer — disse Mayumi aos prantos, tentando colocar a runa de cura sobre a ferida do velho.

— Por favor, não. Mesmo com a runa, não sobreviverei. O ferimento é grave demais — retrucou Gurren, ofegante e rejeitando a runa com as mãos.

— Por que fez isso? Por que não luta pela sua vida? Por que se colocou na frente daquele golpe? Eu teria mais chances de sobreviver! – gritava a Tenente, desesperada, lágrimas caindo do seu rosto descontroladamente.

O velho olhou para a garota e sorriu.

— Porque o mundo precisa de mais pessoas como você.

Os olhos de Mayumi brilharam com uma nova determinação ao lembrar as palavras de Kreik quando se conheceram. Ela enxugou as lágrimas e aproximou Gurren de Kreik, que se arrastava como uma minhoca para aproximar-se do avô. A Tenente uniu avô e neto em um último afeto.

— Vovô, não morra. Você é tudo o que me resta neste mundo. Não posso perdê-lo. — Kreik sussurrou, a voz embargada pela iminência da perda.

— Meu neto... Só te peço uma coisa: cumpra aquela promessa. E você, garota valente... prometa que sempre colocará juízo na cabeça do meu neto quando ele perder a cabeça – falou o velho com um olhar esperançoso.

— Sim, Sr. Gurren, tem a minha palavra — prometeu Mayumi, a voz firme apesar do coração partido.

Gurren olhou para o neto, seus olhos esbanjavam apenas ternura e orgulho.

— Kreik, você pode ser inconsequente, mas herdou a ingenuidade e o bom coração de sua mãe. Viva plenamente, meu garoto. Faça amigos, ame, ria, tenha uma família, e, principalmente, nunca se esqueça de ser feliz!

Com essas palavras, Gurren fechou os olhos pela última vez. Kreik o chamava, sacudindo o corpo do avô, negando-se a aceitar o silêncio que se seguia. Mayumi, com lágrimas nos olhos, estendeu as mãos para confortar Kreik, mas foi interrompida pelo som cruel de uma gargalhada e palmas sarcásticas.

— Mais um verme exterminado. Apenas o início do seu tormento, filho do Reich. Antes de acabar com você, farei questão de exibir a cabeça desse velho numa estaca, para que todos vejam o quão patético ele era — zombou Thorguen, com um sorriso sádico.

Ao ouvir essas palavras, algo dentro de Kreik estalou. Ele se levantou, seus olhos, antes cheios de dor, agora estavam vazios, como se uma chama interna os tivesse consumido. Uma aura incandescente emanava de seu ser, e as feridas começaram a se fechar, a pele se regenerando a cada passo que dava em direção ao Major.

— O que está acontecendo? Que calor é esse? Essa aura não parece ser boa coisa. — pensou Mayumi, confusa e assustada.

“As feridas dele... tão se curando? Seu poder mágico tá crescendo exponencialmente. Isso é impossível, nunca ouvi falar de um portador que curasse as feridas tão rápido. Tem algo de errado com esse garoto.”, refletiu Thorguen, a preocupação crescendo enquanto sacava dois machados, preparando-se para o confronto.

Kreik dava pequenos passos em direção ao vilão, mas de repente, ele parou. Em seguida, caiu de joelhos, suas mãos pressionando as têmporas enquanto um grito agudo de dor rasgava o ar.

A realidade de Kreik se dissolveu, dando lugar a uma ponte suspensa que se estendia até um imponente castelo de cristais ígneos, erguido sobre um vulcão fervilhante. O céu acima era um abismo de escuridão, cortado apenas pelo estalar dos trovões que iluminavam a paisagem com relâmpagos.

 

 

O medo percorria o jovem, mas uma força inexplicável o impelia adiante, em direção ao castelo. A cada passo, uma sensação de erro invadia sua mente, mas seu corpo parecia ansiar por adentrar aquele domínio desconhecido.

Os portões do castelo estavam escancarados, revelando um interior pulsante de cristais alaranjados que exalavam calor e lava. A temperatura era sufocante, mas, paradoxalmente, aquele calor infernal fortalecia Kreik, instigando-o a prosseguir.

Reflexos de memórias dançavam nas superfícies dos cristais flamejantes, mas um em particular capturou sua atenção. Maior, mais luminoso, parecia chamá-lo, hipnotizando-o com seu brilho sedutor.

Aproximando-se, Kreik viu o cristal refletir momentos ternos com seu pai: risadas, afeto, dias felizes. Mas a imagem logo se corrompeu, o cristal apodreceu, e as memórias se transformaram na lembrança do ataque violento de seu pai, culminando na quebra do cristal após o fim da memória.

Kreik continuou sua jornada pelo interior do castelo. Outro cristal surgiu, espelhando as alegrias compartilhadas com sua mãe. No entanto, como o anterior, ele também se deteriorou, projetando a doença, o choro, os últimos suspiros da mãe, e finalmente, a cena dele e de seu avô olhando o túmulo dela. No fim, o cristal se estilhaçou.

Um terceiro cristal emergiu, seguindo o mesmo padrão, mas desta vez refletindo as memórias de Kreik com seu avô. Ele também se desfez após mostrar o golpe fatal do machado de Thorguen.

— Todos que me amavam se foram. Restou-me apenas o vazio... — lamentou Kreik, enquanto as lágrimas brotavam livremente de seus olhos.

— Ainda resta algo, garoto... — uma voz grave e rouca reverberou pelo ambiente.

— O quê? — respondeu o garoto em alto tom, apesar do medo que sentia.

— Poder — a voz ressoou novamente.

A origem da voz era uma porta alaranjada adornada com runas brancas, no topo de uma escadaria íngreme de dez degraus. Kreik enxugou as lágrimas e começou a subir os degraus, cada um mais pesado e quente que o anterior.

No cume, ele abriu a porta para a escuridão. Seu coração tremia, mas a sede de atravessar era maior. E ele deu o passo.

Ao cruzar o limiar da porta, Kreik caiu em um abismo, aterrissando suavemente em um solo coberto pela escuridão. Levantando-se, ele viu a porta ser consumida pelas sombras.

Ao redor do ambiente, cristais alaranjados presos às paredes começaram a iluminar o salão oval. No centro do salão, havia um enorme cristal alaranjado, encarcerado por correntes que emanavam das paredes. Dentro do cristal, ele viu uma sombra com a silhueta similar a uma pessoa com chifres.

 

 

Kreik via aquela cena extasiado e paralisado pelo medo. O Jovem engoliu a seco, fechou os olhos e falou com a voz baixa, quase como se não quisesse ser ouvido:

— Quem é você?

O ser de dentro do cristal, que parecia dormir, abriu os olhos e olhou fixamente para Kreik, brotando um leve sorriso em seu rosto.

— Neste momento, sou você.

— O que tá querendo dizer? Eu não entendo — gritou Kreik, apavorado. Até que seus olhos arregalaram e ele lembrou do que Mayumi lhe disse na cachoeira sobre a alma do arcano e do portador estarem fundidas. — Acho que acabei de entender... presumo que você seja o Ifrit, o arcano selado nas luvas, estou certo?

— Sim, garoto, sou Ifrit e tenho um presente para você — respondeu o arcano, com uma risada maliciosa.



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