Volume 1
Capítulo X: “Amizade inesperada”
Alguém acordava de um longo sono. Um macaquinho o acordara, tinha roupinha de pirata juntamente de um tapa-olho, por vez uma voz disse para ele:
— O que foi Book…? Porque me acordou?
O macaquinho apontou com o dedo na direção de um castelo no horizonte. Um lindo castelo de cristais, em meio a aquela imensidão quase infinita de areia negra.
— Hm… Quer dizer que já chegamos?
***
Alguns homens tubarão descarregavam algumas caixas do imponente navio de velas vermelhas, enquanto alguns homens com roupas de couro e armados com lanças os observavam de longe.
Um deles por vez se aproximou:
— Fiquei sabendo que essa encomenda era para chegar a duas luas atrás!
— Porque da demora? — disse outro se intrometendo.
— Tivemos um problema no porto! — Falou a voz de trás de um barril. — Ai contornamos Trindade pelo vale… Mas o que importa é que estamos aqui, né? E sobre o pagamento?
Disse saindo de trás do barril, e antes que pudesse perceber, foi atingido por um dos guardas no estômago. Um soco pesado que o fez babar enquanto caiu de joelhos, caiu já perdendo a consciência.
***
— AAAAAHHHHH!!!
Caíam eles a rolar pelo chão, por sorte a areia era macia. Se levantam sem demora, se recuperando do baque já corriam novamente. O verme ainda estava em sua cola já os alcançando.
O sol começava a sumir no horizonte.
— Ele está chegando mais perto!! — disse Torne.
— Porque voltou pra me ajudar naquela hora?! Foi burrice a sua. Você já estaria a salvo a essas horas!
— Nem eu sei por que fiz isso. Acho que prefiro morrer com companhia!
— Hahaha. Boa escolha!
Foi quando Aku avistou uma árvore morta mais a frente. A qual possuía alguns galhos que estavam quebrados, mais parecendo estacas. Nisso, uma ideia veio a sua mente, algo que poderia tirá-los daquela situação.
— Acho que tive uma ideia!!
— Teve?! Qual?!
— Só faça o que eu fizer!
Torne não entendeu, mas ainda sim o seguiu. Eles corriam em direção a árvore morta agora, correndo com tudo de si, enquanto o verme mantinha o ritmo logo atrás.
Aku parou bruscamente já próximo ao tronco, segurando o braço de Torne que também parou:
— O que foi? Algum problema?!
Os dois permaneciam parados, encarando o monte de areia que se aproximava deles com uma força absurda. Torne ainda hesitante, enquanto sua mente gritava para ele correr, mas ao encarar o olhar sério de Aku decidiu confiar nele.
O monstro já saia de em meio a areia, sua boca se abrindo para eles. Deslizando sobre a areia, já engolindo tudo em sua frente.
— Ele tá vindo!! — Gritou Torne.
Aku por vez mesmo com suas pernas tremendo, não ousou se mover. A criatura por vez saltou, esticando seus dentes para frente, como estacas.
— Nós vamos morrerrr!! — Gritou o sátiro.
— Agora!!
Aku empurra Torne para o lado, pulando na direção contrária. Já era tarde para a criatura, que abocanhou o chão, e com o grande impacto virou, fazendo suas costas atingirem o tronco que o empalou ali mesmo.
— Ooohhhh!!
O verme começou a se debater, o que fazia rasgar ainda mais seu corpo. Algumas de suas vísceras rolaram para fora, e seu sangue criou uma poça verde e gosmenta ao seu redor.
Aku se levantava, encarando ao redor enquanto a poeira baixava. Então viu a criatura que já não se mexia mais, o verme estava morto.
— Ele morreu!! — Gritou Torne. — Isso!! Humano você é mesmo louco! Hahaha... Gostei de você! — disse dando um tapinha em suas costas.
E antes que Aku pudesse comemorar, sua capa de lobos começou a emanar uma energia estranha, a qual fez Torne recuar.
— O que está acontecendo?
Os olhos dos lobos brilhavam, o sangue da criatura por vez começou a se mover na direção de Aku. Que por vez recuou, estava apavorado, e sem entender o que estava acontecendo:
— O que é isso?! Não! Não se aproxime!! Fique longe de mim…
Aku por vez cai, não sentia bem o seu corpo. Embora pudesse sentir o sangue ainda quente da criatura, o qual subia em seu corpo, adentrando os olhos dos lobos em sua capa. Ele olhou para Torne que vinha em sua direção, então desmaia…
***
Era noite, acordou ele com uma leve dor de cabeça. Estava deitado próximo a alguns ossos grandes, e havia uma fogueira em sua frente que iluminava um pouco o ambiente completamente escuro ao redor.
Essa era uma noite sem lua, estava na escuridão total. Tudo além da fogueira, estava coberto pelas trevas, Aku pode sentir os olhares em meio a escuridão o vigiando.
— Não encare…
A fogueira soltava pequenas faíscas, não demorou muito para ele notar a carne assando, junto com ela o cheiro ótimo que o fez despertar. O sátiro por vez o encarava do outro lado da fogueira, seu olhar era sério e cheio de perguntas:
— O que é você? Não acho que seja um humano, mesmo tendo aparência de um.
— Por que acha isso?
— Um humano comum não estaria por essas bandas. E você é estranho forasteiro!
— É… talvez eu seja mesmo. E se… E se eu fosse um herói invocado?
— Não brinca comigo forasteiro! Heróis são amados pelo povo, andam com legiões de seguidores, e vivem suas vidas de forma nobre. Não vejo uma legião de seguidores, nem sequer roupas nobres e muito menos o rosto de um aventureiro poderoso! E se fosse mesmo um herói, iria invocar sua arma divina e matar aquela criatura. E não ficar fugindo dela com o rabinho entre as pernas!
— É mais complicado do que parece!
— Bem. Eu não tenho o direito de fazer tantas perguntas… Todos temos segredos, certo?
— É, pode ser…
— Você não me parece muito animado. Sorria, você ainda respira!
— Eu quase fui morto… Me pergunto como teria sido mais fácil se eu não estivesse sozinho.
— Andar sozinho pode ser difícil. Pois realmente é! Porém, é mais prático… Está procurando algo no deserto?
— Estou procurando uma guilda. Ela fica no reino de Astrid, eu acho…
— Olha, desculpe decepcioná-lo… Mas o reino de Astrid não fica nesta direção! Embora eu acredite que tenha uma guilda mais adiante.
— Então você está me dizendo que andei tudo isso e quase morri por nada?!
— Sim, isso mesmo. Mas se considere com sorte, tá?
— Como assim?
— Não recomendaria ir ao reino de Astrid! Lá foi dominado por demônios há alguns milênios.
— Milênios? Mas me disseram que era um bom lugar para subir de nível!
— Ou alguém queria se livrar de você… ou querem desesperadamente que fique mais forte. Ir lá e suicidio!
Aku estava pensativo, ainda não conseguia encontrar uma resposta, embora soubesse que algo parecia errado. Torne por vez continuou:
— Uma gilda, é? Você não me parece um aventureiro. É muito novo, e… fraco!
— Você também não é lá essas coisas! Tem minha idade, né?
— Hahahaha! Certo, certo. Mas o que vai fazer na guilda? Quer ser um aventureiro, ou fazer outra coisa?
— Desejo ficar mais forte, apenas isso. Forte o suficiente para derrotar o mal deste mundo! Forte o suficiente para ajudar meus amigos e as pessoas importantes para mim.
— Motivos nobres. Com mal do mundo… você se refere ao que exatamente?
— O lorde demônio, claro! Eu irei derrotá-lo, custe o que custar.
Torne encarou ele com um olhar de surpresa. “Derrotar o lorde, é? Como um moleque fracote como esse faria isso?” pensou consigo.
— Hmp, boa sorte! Já escutei histórias terríveis sobre ele. Dizem boatos por aí que ele tem cabeça de bode, corpo de urso e braços de serpentes douradas… Sem contar seus os olhos de corações pulsantes, e suas as asas prateadas de urubu.
Aquilo deixou Aku pensativo, imaginava em sua cabeça cada detalhe dessa descrição bizarra, tentando formar a imagem conturbada deste monstro. O ser medonho ganhava vida em sua mente, o que o enchia de pavor.
— Hahaha. Está com medo agora? Deveria estar mesmo. Ele é um monstro sem coração, viciado em poder e morte! Bem… No fim nem sei se ele existe mesmo, talvez seja só lenda, minha mãe me contava para que eu não saísse de casa a noite.
— Sei… Talvez…
— Mas e porque você quer enfrentar o lorde demônio?
— Ele é o mal deste mundo, né?
— É o que dizem!
— Sendo ele real ou não. Vou me garantir de manter ele como lenda apenas! E… Vou te falar em! Você faz muitas perguntas, não?
— E você continua respondendo elas. Isso por si só é estranho… É seu costume acreditar tão cegamente em um estranho?
— Acredito que se quisesse fazer algo comigo, já teria feito. — Encarou ele, se aproximando mais da fogueira. — Agora é minha vez de fazer as perguntas! A propósito me chamo Aku… Sou novo por aqui, mas que mal a pergunta, você seria um sátiro, né?
— Sim, isso mesmo. Sou um sátiro: metade bode e metade humano, um verdadeiro e legítimo sátiro!
— Eu sabia!! E pensar que de histórias, um dia eu veria um de verdade bem na minha frente. Nossa, isso é tão legal!!
— Como?
— Você também tem ótimos movimentos. Poderia ter me deixado para trás se quisesse!
— Você não está com medo de mim?
— Não. Por que estaria?
— Os humanos tem algumas lendas com meu povo… E você é muito novo!
— Lendas? Bem, digamos que sou novo por aqui, ainda não sei de muita coisa! E tenho que te agradecer, você é o primeiro meio humano com quem converso. A maioria que vi no castelo não falava nada, seriam eles tímidos ou cultura?
— Não os culpe… Não se sinta ofendido também. Eles apenas não podem falar! Segundo a tradição, os escravos diretos da corte tem suas línguas cortadas para não repassar informações a inimigos.
Naquele momento Aku se espantou com o comentário de Torne. Seu mundo fantasioso começava a ruir, enfim o lado podre desse mundo começava a dar as caras.
— Como assim?! Línguas cortadas?!
— Você não sabia? É algo comum, sabe… Não é atoa que eles são escravos e as pessoas que fizeram isso seus donos! Os humanos odeiam os meio-humanos, e qualquer coisa diferente deles. Se acham superiores aos outros, e esse jogo de poder serve apenas para alimentar o ego inflado deles! Ter escravos para os humanos é considerado um bem necessário... Bem, fazer o que né?
— Como assim bem necessário?! Isso é cruel! Eu realmente não sabia disso.
— Calma, eles são apenas escravos. Os humanos podem fazer o que quiserem com eles! São só pessoas que foram capturadas, só isso.
— Só isso?! E daí que eles são escravos?! Eles continuam sendo seres vivos!! Seres com vida e sentimentos!! Pessoas. Isso não é justo, isso é desumano e muito cruel!
— Hum? Você é um humano estranho, sabia? De onde você vem não tem escravos?
— Claro que não!! Bem… No começo, há muito tempo atrás tinha isso em vários lugares! Mas eram pessoas humanas escravizando outros humanos.
— O que? Humanos escravos de humanos? Que intrigante… E como era isso?
— De um lado o povo branco, e do outro o povo africano. Os brancos se achavam superiores por algum motivo! E achavam que era uma boa escravizar aqueles que consideravam diferentes deles. Era uma merda aquele tempo, foram períodos tristes da humanidade, porém as coisas mudaram. Todos são iguais perante a lei agora! Embora, ainda haja descriminação e pessoas racistas, mas... Você pode ser preso por causa de preconceito.
— Parece um bom lugar. Já que a lei proibe escravidão!
— É um bom lugar, mas também muito chato! Para mim, o que mais sinto falta é das bebidas de lá. Nossa, como eu amo beber um refresco nos dias quentes. Sem contar os mangás e animes, vivia no meu quarto maratonando “One Piece”, merda… Não vou terminar de ver.
— One o quê? P-Piece?
— “One Piece”! Anime de piratas… Se bem que é muito mais que isso. Diria que é uma família vivendo uma aventura.
— Parece maravilhoso! Piratas e família, é? Hahaha...
— Obrigado, Torne. Você me deu várias informações para pensar agora!
Torne ao escutar isso, sorriu. Os olhos de Aku brilhavam com sinceridade, ele parecia aos poucos se decidir sobre algo.
— Então quer derrotar o lorde demônio, né? Aceita um conselho?
— Conselho?
— Não vá para o norte onde fica esse reino! Além do reino estar dominado por demônios, naquela direção também fica o Abismo do Traidor... Um abismo imenso onde contam as lendas, que se você cruzar os limites uma vez, uma doce voz vai te chamar e te levar até a beira do abismo. Assim você pula para a morte! A lenda diz que o lugar foi amaldiçoado por um homem o qual traiu alguém importante. Ele então tentou se matar enforcado em uma corda no velho carvalho, mas a corda quebrou e ele caiu para sua morte e as aves do céu, bem… Devoraram seu corpo enquanto ele gritava amaldiçoando o lugar.
— E por que ele se matou?
— Se arrependeu de ter traído essa pessoa.
— O arrependimento sempre dói… Tenho pena dele! Talvez ele tenha sido apenas um inútil como eu… Um mero figurante na história de um salvador.
— Ninguém é inútil! Só existem pessoas que não sabem como ajudar. Mas também não é como se elas fossem inúteis de fato! Inúteis são pessoas que desistem de seus sonhos e desejos, e não sabem o que estão perdendo ao desistir da vida. Você parece ser muito bonzinho! Isso vai ser a causa da sua morte um dia, melhor mudar isso, antes que seja tarde demais.
— Hahaha. Obrigado pelo conselho “amigável”!
— Quer me acompanhar neste banquete?
Disse pegando um dos espetos na fogueira e jogando para ele. Que ao segurar, percebeu que ainda estava quente, e o cheiro o dava água na boca.
— Quente, quente, quente!!
Ele jogava o pedaço de um lado para o outro em suas mãos enquanto Torne ria, finalmente soprou para esfriar a carne.
— É carne de quê? — Perguntou dando a primeira mordida.
— Carne de Mongo.
— Hmmm… Mongo é gostoso! Hahaha, nome engraçado... O que é um Mongo? — Encarou Torne.
— Se lembra do verme de mais cedo?
Aku se engasgou, começando a tossir. Torne o entregou às pressas uma garrafa de água, bebendo com vontade, já se recuperava:
— P-Por que comeria essa coisa?!
— Carne é carne! Além disso, é muito gostosa. — disse enquanto comia seu pedaço.
Aku estava com nojo, mas sua barriga roncava. Novamente mordeu a carne, mastigou com um pouco de receio, mas logo começou a comer com pressa.
Parecia realmente gostoso, ele só parou de comer quando chegou no quinto pedaço. Torne por vez sorria dele:
— Ei, ei. Mais calma ai rapaz! Vai mais devagar, caso contrário não vai sobrar pra mim.
— Hm? Desculpe, é que já faz uns dias que não como nada.
— Sinceramente tivemos sorte. Era apenas um Mongo filhote, se fosse um adulto, aquele seu plano não teria funcionado!
— O que?! Um filhote?!
— Sim, e o mais assustador nem são os mais velhos! Tem lendas antigas que dizem que nessas planícies esquecidas pelos deuses, se encontra o rei Mongo. O deus dos Mongos… Chamamos ele de “Grande Mangras”… O verme que é tão grande que seu corpo poderia dar seis voltas no mundo.
— Isso me parece só uma lenda! Como um monstro desse tamanho se esconderia debaixo da terra?
— Dizem, que ele é o próprio mundo! E essa camada de terra, seria os destroços de estrelas que se chocaram contra ele. E os oceanos seriam sua saliva, porque ele saliva muito enquanto está dormindo. Dizem, que ele dorme desde de o início dos tempos! E que um dia ele irá despertar e trazer calamidade ao mundo e aos deuses.
— Hum, até parece.
— Sim, também não acredito que seja verdade. E espero que realmente não seja! Pois também dizem que um dia ele irá despertar, trazendo calamidade ao mundo e aos deuses. Dizem também os anões, que dentro dele está o inferno, se você é engolido por ele, você cai no tormento eterno. Os demônios não podem fugir de dentro dele porque ele é muito poderoso, e enquanto dorme sua boca permanece fechada!
— Está vendo, só uma história. Acho que é algo impossível até pra esse mundo!
— É, pode até ser. Mas vai que é verdade!
— Hmp. Você sabe muitas histórias, né? Tem alguma sobre os deuses?
— Não sei muitas sobre eles... Eles não são do tipo que aparecem muito, sabe? Nem sei se eles existem mesmo. Pergunto-me se são reais, porque se forem, eles nos odeiam! Tanta violência, morte, fome, sofrimento... Tanta gente boa que não merece o tipo de coisa que passa. Pessoas boas que nascem com problemas, pessoas boas que nascem em um lugares errados. A vida é difícil, por isso acredito que eles não existam!
— Nessa eu vou ter que concordar… Também não sou muito de ter fé!
— Esqueça os deuses… Eles já nos esqueceram!
Aku ficou pensativo, encarou o céu por um momento, embora o que aconteceu com ele era uma boa prova da existência de tais, ele ainda não tinha fé o bastante.
— O que você faz por aqui? — Perguntou ele. — Ainda não perguntei muito sobre você… Torne, o que faz em um lugar como esse?
— Me perdi… Estava em um reino próximo, e as coisas sairão do controle! Fui capturado, minha tripulação fugiu.
— Tripulação?
— Sim, eles tiveram que me deixar. Aí eu dei um jeito de fugir… Pra ser mais preciso, o verme me ajudou!
Continua…