Volume 1
Capítulo IX: “Em apuros"
A noite era sorrateira, surgiu repentinamente sem aviso prévio, como uma vela que foi apagada abruptamente.
No imenso céu estrelado, três grandes luas dominavam a imensidão. O deserto de terra escura, emitia uma fumaça branca, e em meio a areia Aku se encontrava. Boa parte de seu corpo soterrado, seus olhos se mantiveram fechados e sua respiração era irregular.
Em sua mente, ele cai em meio ao vazio. Podendo apenas escutar os sussurros na escuridão, sussurros que se tornaram gritos de clamor.
Abrindo seus olhos na escuridão, os quais pareciam confusos, e aparentavam cansaço, observou os seis olhos se abriram diante dele.
— Você…
A voz era grave e incômoda, o som parecia um eco que sempre se repetia três vezes enquanto as três vozes falavam ao mesmo tempo:
— Não tem como fugir do que você é! Monstros possuem olhos cheios de esperança... Não fuja portador da chave do submundo, pois é seu dever causar destruição e desgraça nos mundos mortais.
Disse enquanto uma boca monstruosa se abriu, dentes pontudos que brilhavam em um branco quase prateado.
— Não há felicidade para você. E não há um final feliz na sua história, muito menos salvação! Apenas dor, sofrimento e tristeza te aguardando nessa jornada… Pecadores não merecem felicidade… Acorde seu lixoo!!
Com um grito ele despertou, surgindo de em meio a areia que tentava o enterrar ainda vivo, cuspia a areia que havia entrado em sua boca. Respirou fundo, notando que já era noite, seus olhos brilharam ao contemplar aquela vista tão surreal, seu coração já se acalmava.
Foi quando por um momento sentiu uma sensação ruim tomar conta de seu corpo, um sussurro falou em seu ouvido “Corra” seguido de um grito horripilante não muito longe dali onde estava.
“O que foi isso?!”
Embora não soubesse o que ou quem era, ele não tinha interesse em descobrir. Se levantou às pressas e correu como nunca, correu e correu sem olhar para trás. Correu ele, com um sentimento de que um dia, um dia seus destinos iriam se encontrar.
Em meio a tropeços na areia e deslizes, ele seguiu rumo ao horizonte, iluminado pelas luas e as estrelas. Ele parecia enérgico, continuou aumentando o ritmo à medida que seu corpo despertava.
“O que é isso?! Me sinto tão animado… Mas como não estaria?!”
— Eu estou em uma aventura de verdadeeee!!!
***
Sua jornada se manteve com sua fuga, diminuindo o ritmo enquanto o dia chegava. O céu brilhava incessantemente com os três sóis imponentes agora. Por vez, Aku definhava com o clima árido e o calor infernal, sentia ele como se fosse um peixe na frigideira.
Ele já andava a um bom tempo caminhando, os gritos que o perseguia já não o perseguiam mais. Embora ele agora tivesse outro problema, sua pele fervia, seus lábios rachavam e sua respiração ficava cada vez mais complicada.
Ele poderia se enterrar para se esconder do sol, mas teve medo de cozinhar na areia que fervia.
— Água… Água…
Ele queria mais que tudo encontrar água, foi então que avistou de longe um lindo oásis, parecia o paraíso em meio ao inferno. Aquilo o trouxe esperança, com o anúncio de sua salvação.
Não pensou duas vezes e correu rumo à sua única esperança. Já se aproximava quando se jogou naquele lago de água cristalina:
— Obrigado deuses!!
Agradeceu ele cedo demais. Ao colocar a água na boca percebeu que algo não parecia certo, a água tinha um gosto ruim e esfarelava na boca. Foi então que abrindo seus olhos avistou apenas areia e nada mais.
Começou a cuspir a areia de sua boca, limpando sua língua em sua camisa:
— Merda. Merda! Mas que merda!!
Ele estava frustrado, começou a chutar o chão e encarou os céus. Parecia irritado, dando o dedo do meio pra quem quer que estivesse o vendo, então disse:
— É o melhor que podem fazer?! Hum?! É o melhor?! Hahaha. Pois fique sabendo que essa piadinha não teve graça.
Embora ele achasse que falava sozinho, os deuses pareciam ter escutado suas palavras. E em resposta, o chão começou a vibrar, tremia cada vez mais, como se algo se aproximasse. Aku com o terremoto repentino caiu, ficando sentado no chão tentando se segurar.
— Um terremoto?!
O terremoto então cessou, Aku mais uma vez se levantava enquanto encarou os céus e começou a rir:
— Hahaha. Vão ter que fazer melhor se quiserem se livrar de mim!!!
Foi então que a areia em sua frente começou a se levantar, ele encarou o monte de areia crescendo bem diante de seus olhos. A areia começou a se espalhar, assim dando passagem a criatura medonha que o encarava com aquela boca redonda cheia de dentes.
“Que porra é essa?!” pensou ele ao ver o verme gigantesco que surgiu. A criatura possuía uma boca circular cheia de dentes pontudos que seguiam fileiras que aparentavam não ter fim.
Aku estava paralisado, encarando a criatura surgindo cada vez mais de em meio a areia. Embora seus sentidos o mandassem correr, suas pernas já não o respondiam. O verme por vez rugiu lançando baba verde nele, fazendo-o vomitar de nojo.
E antes que pudesse se recuperar, a criatura se lançou contra ele. O que o jogou morro abaixo, o qual saiu a rolar.
Se levantando as peças, não demorou para sua energia voltar com seu medo.
— Merda. Merda. Merda!
Correu ele o mais rápido que podia enquanto seu corpo foi tomado por um pico de adrenalina repentino. O verme por vez não ficou parado observando sua presa fugir, e começando a girar seu corpo, entrou novamente na areia.
Aku por vez escorregava uma vez ou outra em morrinhos de areia. Mesmo com dificuldade se levantava novamente o mais rápido possível, ele gritava e corria com mais e mais tropeços na areia fofa, enquanto o verme sumiu em meio a imensidão.
“Hm? Eu despistei ele?”
Foi quando o verme se lançou de em meio a areia para abocanhá-lo. Aku por vez saltou para evitar ser engolido, mas com o impacto da criatura na areia, que foi o suficiente para dissipar uma onda que lançou Aku para longe.
“Merda… Meu estômago.”
Segurou onde sentia muita dor, se levantava com um pouco de dificuldade. Vendo a criatura que mais uma vez adentrava o chão, correu, recuperando a velocidade aos poucos.
Correu e correu, não deixando seus tropeções e quedas o impedirem. Caia, se levantava e voltava a correr, repetindo esse ciclo várias e várias vezes, a dor não era nada comparada a seu medo naquele momento.
***
Minutos depois lá se encontrava ele deitado ao chão, com a mão direita protegendo os olhos do brilho do sol. Ele estava ofegante ao ponto de ter dificuldades para respirar, e sua roupa estava coberta de suor, isso por um lado era bom, pois agora ele não sentia tanto calor.
— Eu estou com tanta sede e fome agora… Que poderia comer até aquele bicho estranho! Hmm… A carne dele no óleo de coco deve ser uma delícia, né?
Ele começava a fantasiar a estranha iguaria que agora desejava experimentar. Mas isso era apenas sua fome falando mais alto que sua razão.
— Minha mãe sempre repetia… “Tudo fica bom com óleo de coco”. Nessa, os brasileiros vão ter que concordar comigo! Minha mãe estava mesmo certa.
Ele então fechou os olhos. Passou algum tempo ali, já conseguia pegar no sono enquanto os sóis seguiam em direção ao horizonte. Foi então que ele despertou com os gritos que vinham em sua direção.
— AAAHHH!!
“Hum. O que foi isso?” se perguntou ele ao se levantar, logo avistando no horizonte alguém que corria em sua direção. Correndo como o vento, foi quando Aku também pode ver do que ele corria.
— Merda. Merda. Merda. Merda. Merda! — disse ele escorregando no barranco.
Ele novamente correu, seguindo em frente e aumentando os passos que por sua fadiga se tornaram mais lentos. Não demorando para a outra pessoa o alcançar:
— Corre!! Corre!! Ele está vindo.
Aku correu com a velocidade que podia, enquanto foi ultrapassado. E antes que pudesse ver de quem se tratava, olhou para trás avistando o verme que vinha aumentando cada vez mais a velocidade.
— Merda. Merda. Merda. Merda. Mas que merda!! — disse ele, aumentando o ritmo.
Aku olhando para e frente gritou ao rapaz que corria ainda mais depressa que ele:
— Por quê você trouxe ele para minha direção?! Sabia do trabalhão que deu pra mim despistar ele mais cedo?!
Aku então percebeu que se tratava de um sátiro. Um garoto baixinho, cabelo cacheado e castanho, olhos dourados e que possuía pequenos chifres de bode, além de pernas de tal animal. Eles agora corriam lado a lado, foi então que o sátiro disse:
— Olá, me chamo Torne!
— Pare de gritar!! Assim nunca vamos despistar esse monstro.
— Foi você que começou gritando.
— E foi você que condenou a gente!
— Hahaha. Nós vamos morrer!! — disse ele rindo muito.
O garoto então com saltos repentinos, saltou pelos galhos espalhados no chão, e antes que Aku pudesse entender o porquê dele ter feito isso, sentiu seus pés afundando. Foi então que caiu de vez em meio a areia movediça.
— Droga. Droga. Droga!!
O meio humano ainda olhou para trás, vendo nosso pobre herói que afundava em meio a areia. E o verme já se aproximava logo atrás, Aku pediu ajuda enquanto afundava cada vez mais. Mas para Torne, aquele era o momento perfeito de fugir, caso ele voltasse para salvá-lo estaria condenado assim mesmo.
“Ele é só um humano! Não é problema meu se ele vive ou morre aqui nesse lugar.”
Pensou ele consigo, enquanto continuou a correr. Aku por vez continuou a gritar por sua ajuda, enfim aceitando que Torne não iria ajudar. Começou a se debater, o que o fez afundar ainda mais em meio a areia.
Torno olha novamente para trás, vendo o garoto que estava condenado à morte. Viu que ele ainda lutava com tudo de si:
— Pelos deuses!! Vou com certeza me arrepender disso. Bulhufas. Bulhufas e Drigds!
Aku já desaparecia na areia quando teve sua mão segurada, logo era puxado mais uma vez a superfície por Torne que se apoiava em cima de um tronco morto, o qual já afundava também.
— Obrigado. — disse Aku se segurando no tronco.
— Não agradeça ainda. Não estamos completamente a salvo… Vê se me segue!
Disse ele pulando de galho em galho, os usava para não afundar na areia. Torne fazia aqueles movimentos parecerem fáceis, embora não fosse nenhum pouco.
“Pera. Ele está querendo que eu faça isso como ele? Tá brincando, né?”
Não tendo muito tempo para pensar nisso. Subiu ele para cima do tronco, tentando se equilibrar, assim pulou em um galho perto dele.
— Calma, calma.
Quase caindo, mas por sorte se equilibrou a tempo. Tomando coragem saltou no próximo, se agarrando ao tronco como se sua vida dependesse disso. Os galhos pareciam flutuar em meio a areia movediça, isso deixava eles imprevisíveis, podendo afundar a qualquer momento com um peso a mais. Assim ele deveria ser rápido em seus saltos, sabia ele que qualquer erro seria seu fim.
Continuou tomando o máximo de cuidado, mas, ele ainda estava indo muito devagar e a criatura logo o alcançou. A onda de lama vinha logo atrás dele, que por vez se segurou em um tronco enquanto era carregado pela onda.
— Merdaaaa!!
Não demorando para a onda alcançar Torne o qual foi pego de surpresa. Embora rapidamente conseguiu se equilibrar, assim parecendo surfar em meio a onda de lama. Ele começou a rir, enquanto Aku agarrava forte o tronco implorando a qualquer deus bondoso por misericórdia.
— Desculpa. Desculpa. Desculpa! Eu não vou desafiar mais vocês!! Desculpaaa!!! Sou novo demais para morrerrr!!!
Continua...