Lorde Sem Olhos Brasileira

Autor(a): Sr. V


Volume 1

Capítulo VIII: “Iniciando a jornada”

Os meios humanos e ele, se serviam entre si. Sorrindo enquanto Aku comia tão depressa que sujava toda sua roupa.

— É mesmo. — Encara Mimi. — Mimi. Eu consegui um título, sabia?! Não é legal?!

Mimi parecia feliz por ele, o homem lagarto por vez bagunçou seu cabelo rindo muito, então disse com sua mão ainda em sua cabeça:

— Você é um ótimo garoto. Continue assim!

— Hehe, obrigado.

— Então, ganhou um título?  Bem, isso é motivo de comemoração então. 

Andou até a dispensa e pegou algumas bebidas e um pouco de folhas de hortelã. Logo misturou tudo em uma garrafa, e lá estava a bebida.

— O quê é isso?

— É uma bebida do meu povo. Ela é feita com suco de uva, pó de gafanhoto, vinagre, suco de limão e folha de hortelã. Se você beber conosco, significa que vai fazer parte dessa família, nós homens lagartos temos essa tradição.

Aku ficou com um pé atrás, mas logo aceitou. Todos brindaram, Aku bebeu tudo em um só gole e depois mais outros copos. Aquele sim parecia um banquete de verdade, todos eram tão receptivos com ele.

— Sério, essa comida está ótima! Sinceramente, aquele banquete nem se compara com esse. Pessoas de verdade, uma comida maravilhosa, sou grato a todos por me receberem e deixarem um estranho comer com vocês... — Ele se levantou, se curvando e agradeceu. — Obrigado a todos vocês!!

Eles se espantaram com aquilo, porém, pareciam pela primeira vez em tempos, animados e contentes com uma boa companhia. Aku havia conquistado o direito de estar ali com eles, e o melhor, conquistou com apenas algumas palavras e um profundo respeito. 

— Herói da capa… Prometa que vai ficar bem, e nunca mudar. Você promete?

— Sim senhor. Continuarei como sou, ajudarei a todos e farei se arrepender meus inimigos. — Deu um sorriso sincero.

— Ninguém tem inimigos, herói. Assim como ninguém tem amigos também.

— Vou manter isso em mente.

Aku percebeu que em suas palavras ele parecia ressentido com algo, mas Aku não ousou perguntar, apenas continuou o observando.

O tempo passou rápido para quem ficou falando enquanto comia, dizendo coisas de seu mundo para os curiosos de plantão. Todos ali pareciam introvertidos em suas falas, até um simples papel higiênico era divertido escutar sobre.

Enfim chegou a hora da despedida, abraçaram Aku, e até lhe entregaram uma marmita para viagem. 

— Muito obrigado. Gostei muito de conhecer vocês. Prometo trazer presentes quando voltar!

Se dirigiu a frente do castelo, onde estava tendo a festa de despedida para todos os heróis. 

“Os meios humanos são tão legais. Diferentes desses lixos!”

O povo todo estava reunido ali e gritavam ansiosos. Era uma grande comemoração, se escutava música boa, e se via a alegria da multidão. Pessoas de todas as classes económicas e lugares próximos.

O rei passou cumprimentando os heróis, apertando a mão de um por um, menos a de Aku que ficou no vaco. Logo o líder da igreja dirigiu a palavra ao povo:

— Estamos aqui, para nos despedirmos de nossos bravos heróis! Os quais iniciaram sua jornada!! Os quais saíram para obter poder e glória!!

— EEEEHHHHH!!! — O povo gritava em comemoração.

Muitos aplausos, todos encaravam os heróis, alguns já escolhiam os que iriam seguir por toda a eternidade.

— Que suas aventuras sejam muitas. Cheias de alegria, prosperidade e recompensas por seus atos e façanhas. Que os deuses os acompanhem!! Agora irei apresentar nossos bravos heróis ao seu povo, e para aqueles que irão os seguir.

O primeiro foi o herói do caos, que andou até o centro do palco e invocou sua espada a qual se fincou quebrando o chão, dissipando uma enorme onda de vento com seu impacto. Aquilo foi um baita espetáculo de poder, todos aplaudiram.

— Esse é nosso bravo herói do caos! Ele com sua arma que alcançará os céus, o qual obteve o título “Herói da Espada do Caos". Ele, o herói das espadas!!!

O povo gritava em animação, parecia o amar, pareciam querer entregar o futuro em suas mãos. Algumas moças gritavam seus nomes em suspiros apaixonados, isso o fazia sorrir, aumentando ainda mais seu ego.

— Quem irá acompanhá-lo em sua jornada?

Várias mãos levantaram, de mulheres, jovens, homens. Em seguida, se ajoelharam diante dele e juraram ali servidão. Eram guerreiros e guerreiras, todos fortes, não tinha por que o herói recusar.

— Estamos prontos para segui-lo, nobre herói!!

— E eu, ansioso por nossas batalhas!

Ele sorriu, em um passe de mágica ganhou 25 seguidores. Depois os outros heróis foram apresentados também, todos receberam entre 20 a 35 seguidores. E todos pareciam fortes ou muito ricos. 

Eles eram elogiados pelos seus nomes de herói e títulos, não demorou muito para chegar à vez de Aku:

— Agora temos o herói da capa! Cujo título é… — Não podia acreditar no que estava lendo no pergaminho. — Brincadeira, né…? — Sussurrou consigo.

Ele por um momento encarou o rei, ele por vez apenas concorda com a cabeça. Sem escolha ele disse:

— O qual recebeu o título de “Pústula de Formamos”!! O herói da Capa.

Aku andou até a frente invocando sua capa o que gerou risos e humilhação do povo. Agora todos entendiam o porquê do título, o herói amaldiçoado pelo olimpo.

— Quem irá acompanhá-lo em sua jornada? Quem irá segui-lo?!

Houve um grande silêncio, parecia que ninguém queria o seguir. Pensavam que uma capa como arma não era grande coisa, e que ele parecia fraco demais. Ninguém queria arriscar a vida por um inútil como ele. 

Então uma esperança surgiu, alguém disse na multidão levantando o braço.

— Eu… Eu aceito!

Disse um homem em meio a multidão, Aku se alegrou de ao menos ter alguém disposto a acompanhá-lo, embora sua alegria não tenha durado muito. 

— Mas isso terá um preço! Quanto o herói está disposto a pagar?

— O-Oi? — disse surpreso.

— Sim, isso mesmo. Não sou louco de seguir alguém que nem pode se proteger por conta própria! Mas… se me pagar algumas moedas de ouro, talvez, talvez eu possa te proteger. O que acha?

— Mas eu não tenho dinheiro.

—  E que classe você possui? Sua arma não é lá grande coisa, isso se podemos considerar uma arma.

— Espião... Sou classe espião.

— Um espião?! Mas que palhaçada. Quem é que iria seguir alguém com uma classe inútil e arma inútil?! Como pretende proteger os seus seguidores caso precise?! E ainda mais sem dinheiro pra nos pagar. Herói da capa… Está mais para herói sem arma ou herói sem sorte!

— AHAHA!! — Todos riam.

— E que tal dar seu corpo?! — disse um homem gordo.

— Desse jeito ninguém vai querer seguir você. — disse um dos heróis.

O povo ria e ria dele, e faziam mais piadas, alguns até mesmo já seguravam alguns tomates podres, pareciam se preparar para algo.

“Droga. Agora eu sou uma piada, é isso? Sério que ninguém quer me seguir? Eu sou tão patético assim?”

“É esse povo pelo qual vou me sacrificar e proteger?” Esses pensamentos de dúvida tomavam sua mente. E as risadas não o deixava pensar direito, de repente Helena disse:

— Senhor herói! Infelizmente, por não conseguir seguidores, acredito que terá que passar pelo rito de passagem.

— Rito de passagem? — Perguntou ele voltando a si.

— É tradição se despedir de um guerreiro solitário com uma chuva de “Angres”! Para que os deuses o acompanhe em sua jornada, e o traga sorte.

— Bem, já que é tradição eu aceito.

Helena e alguns se afastaram dele, não demorou muito para Aku ser surpreendido pelo primeiro arremesso, um tomate acertou em cheio um de seus olhos.

— M-Mas que porr–

Então uma chuva de tomates e outras frutas estragadas o pegou desprevenido. Enquanto ele tentava se proteger, o povo caia ainda mais em gargalhadas. Aku infelizmente não pôde ver os sorrisos de prazer, estava ocupado se protegendo dos arremessos.

Aquilo tudo teve seu fim quando o último morador acertou ele. Aku agora estava todo sujo, lágrimas fugiram de seus olhos assustados e humilhados. O povo ria ainda mais dele.

“Merda. Merda. Eu–”

Ele por vez tentou se acalmar, respirou fundo. Limpou seu rosto com as mãos “Eu não vou ser humilhado. Não vou deixar eles pisarem em mim. Não aceito isso!” Seu olhar ficou sério.

— Que seja! — sussurrou.

Todos ficaram em silêncio, não mais com sorrisos, mas sim olhares de deboche.  Parecia que ninguém estava levando a sério o denominado “Herói da capa” ou “Pústula de Formamos”. Aku por vez virou suas costas encarou o castelo e se direcionou as escadas:

— Estou indo! — Parou por um momento. — E quando eu voltar. Pois irei voltar! Lembrem-se bem disso. — Abriu um leve sorriso. — Eu retornarei por aqueles portões, rindo feito louco. Irei rir da cara de todos!! 

Ele viu os sorrisos de todos desaparecendo. Por vez o dele aumentava aos poucos, juntamente de seu olhar irritado.

— O último sempre ri melhor! Tenham uma boa noite e, espero mesmo. De coração, que ninguém ataque o reino enquanto estão dormindo e os heróis estão fora. Pois seria uma pena, né? — Abriu um sorriso assustador para intimidá-los.

Todos ficaram apavorados e alguns irritados com aquilo. Agora ninguém mais ria ou encaravam ele com cara de deboche, todos apenas o encaravam com olhares sérios.

“Agora estão irritados? Que pessoal sem graça, não sabe o que é piada?”

— O que foi?! Não vão rir da minha piada?!

— Herói não guarde rancor! Esse é seu povo no fim das contas. — disse Helena.

— Meu povo? Não coloque palavras na minha boca. Eu escolho meu povo. Eu escolho quem vou salvar… No fim, como disseram. Estou sozinho, mas até quando Helena?

Ele por vez se virou e sem mais nem menos, saiu dali. Helena ainda chamou seu nome, mas já era tarde, ele agora partiu com a promessa de um dia voltar rindo deles. 

Em seguida todos os heróis saíram também, passavam por ele em carruagens nobres, alguns riam dele. 

“Seus merdas. Vão ver só quando eu voltar!”

Então começou a chover, o que o deixou ainda mais irritado. Saiu ele sem rumo, sozinho em meio aquela chuva fria e desolada que por sorte serviu para limpá-lo, embora ele estivesse congelado.

“Droga. Para onde eu vou agora? Sei que eu disse um monte de coisa. Mas uma ajuda não ia ser ruim!”

Nesse novo mundo, há vários lugares inóspitos. Lugares que variam desde uma beleza sedutora a lugares com morte e destruição. Lugares belos e magníficos de lindas paisagens como: Vales Estonteantes, Floresta Nevada, Bosque do Entrelaço, Ruínas Amontoadas, Montanhas da Aurora, Vilas Polares, Floresta Colossal, Floresta dos Magnatas, Cemitério dos Heróis e Campos Windoanos.

E lugares horríveis e malditos como: Trincheiras da Morte, Vale dos Sussurros, Bosques do Desespero, Floresta do Vai e Não Volta, Cemitério dos Dragões, Oceano do Fim, Lago Congelado, Deserto dos Desejos, Vales Turbulentos, Vale dos Ossos, Reino de Trindade, Castelo do Cocheiro e Abismo do Traidor. 

Mas um dos lugares mais perigoso de se estar é o Deserto das Almas: um deserto de cinzas pretas onde não nasce e nem prospera plantas, berço de monstros insanos e sanguinolentos, estar nesse lugar é o mesmo que desistir da vida.

Aku continuou seu caminho, seguindo em direção ao horizonte.

***

Tempo depois, alguém a caminhar naquela imensidão de areia escura. A tempestade de areia estava ficando cada vez mais forte, Aku caminhava com dificuldade:

“Droga. Essa tempestade de areia não acaba? Já faz dois dias ou três? Esse deserto não tem fim?!”

“A água acabou, estou morrendo de sede e fome. Tenho certeza que os outros heróis estão em uma viagem ótima! Água... Água… Eu quero água.” 

Ele cambaleava quase não sentindo suas pernas, já havia perdido a noção do tempo e não sabia que uma longa semana havia passado.

Enfim ele sucumbe a fadiga e cai perdendo a consciência em meio ao deserto e aquela terrível tempestade que ficava mais forte. Aku desmaiou sem saber que acabara de cruzar a fronteira entre o “Deserto das Cinzas” e o “Deserto das Almas”, ele agora havia chegado ao seu pior pesadelo.



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