Volume 1
Capítulo VII: “Porcos e humanos”
”Há muito tempo. Nos primórdios da criação do mundo… Os deuses criaram o cosmos como quiseram, não só o cosmos infinito, mas todas as realidades e mundos que a compõem. Porém, não sabiam eles que na escuridão absoluta do vazio, já existia um ser, o qual veio antes deles.
Vivia em um sono profundo... Quando surgiu a luz que acabou com as trevas! Atóm então despertou em ira, pois seu único desejo era permanecer em paz. E como uma divindade poderosa e assustadora que é. Ele tentou subjugar os deuses, em uma batalha de vida e morte…
Foi uma guerra sangrenta, todo o olimpo contra um único ser feito de trevas e ressentimentos. Zeus não conseguia ferir o deus das sombras, por vez as irmãs do destino pela primeira e última vez, interviram com ajuda de Nostradamus.
Com o poder de todos os deuses e de Nostra, elas baniram o deus maligno para as profundezas mais obscuras e inóspitas do cosmos infinito. Esse lugar, se chama vazio! Até hoje Atóm na imensidão do vazio, está planejando sua vingança contra todos.”
***
— Desculpe Helena… Mas o que essa historinha tem a ver com o lorde? — Perguntou o herói das adagas.
— Graças ao fato de uma divindade ser poderosa demais… Elas seguem um princípio de não afetarem diretamente na vida humana. Assim, precisam de um receptáculo para poder vir ao mundo mortal. Sem um receptáculo ele não pode concluir seus planos diabólicos! Ele quer um corpo perfeito e poderoso, para que ele possa descer da imensidão do vazio e destruir tudo. Por isso, deve-se destruir o receptáculo, devemos destruir o Lorde Demônio o quanto antes.
— Entendo…
Todos prestavam bastante atenção em suas palavras, ela contou em seguida algumas coisas sobre o reino. Como as moedas correntes desse lugar, que são: Presas de dragão, presas de demônio, moedas de ouro, prata, cobre, bronze e níquel de madeira.
— Vocês irão precisar de dinheiro para sua jornada! Pois todos devem ficar fortes para enfrentar essa ameaça. Claro que o reino não irá ofertar riquezas a vós, temos nossos próprios problemas para resolver… Por isso terão que ir até as guildas, lá poderão ganhar fundos, concluindo missões e trabalhos.
Aku encarava a todos percebendo que os heróis já sabiam de muita mais coisa que ele, ele parecia ser o único surpreso com aquilo. Helena falou mais sobre os costumes e modos de vida do reino.
Nesse mundo temos uma hierarquia a ser respeitada: Deuses soberanos a tudo e a todos, divindades cósmicas soberanas aos mortais, reis e igrejas comandantes do povo, nobres superiores aos plebeus e, por fim, plebeus, camponeses e escravos.
— Vocês heróis estão no nível social de um nobre! Então podem esbanjar uma boa vida ao fim de sua jornada.
Contando com Aku, eram 16 invocados, todos entre 15 e 12 anos, sendo Aku o mais novo. Assim sendo visto como um pirralho pelos demais, que não queriam sua companhia.
A heroína aprendiz por vez perguntou:
— Esse tal lorde demônio que falam. Como ele é?
— Em uma só palavra? Perverso. Maligno até os ossos! Um ser asqueroso, um verme diabólico e imundo. Ele está juntando forças e poder, quando o dia da grande guerra chegar… Devemos pará-lo antes que alcance seu propósito.
— Entendi que seu objetivo é destruir o mundo. Mas como ele pretende fazer isso? — Perguntou Aku.
— Para que um receptáculo seja perfeito. Precisa oferecer um sacrifício de sangue, no caso sangue da linhagem real!
Aku a encarou pensativo, direcionando seus olhos para a princesa, percebeu que ela parecia apreensiva, foi então que entendeu:
— Está dizendo que ele pretende matar a princesa?!
— Não só ela, mas os primogênitos dos anões, dos elfos e da primeira família imperial. Os reis de Camelot! O primeiro primogênito, o príncipe Arthur Pendragon.
— Ar… thur? — Sussurrou consigo.
— Em resumo. Esse lorde demônio não passa do monstrinho em cima da cama! O verdadeiro monstro debaixo da cama, seria Atóm, certo? — disse o herói do caos.
— Correto.
Todos riram do comentário, o rei deu até mesmo uns tapinhas em suas costas. Aku por vez estava neutro, se segurando para não coçar a cintura, aquilo o estava incomodando cada vez mais.
— A propósito, Helena… Quem é Nostradamus…?
Por um momento, todos sentiram algo ruim, uma dor repentina em suas cabeças.
— Oi? O que perguntou cara heroína?
— Eu perguntei quem é… É… O que eu perguntei?
Todos a encararam confusos, por vez o rei encarando Aku disse:
— Uma capa, em? — disse com desdém — Então você é o herói que foi abençoado por Hades? Ele não é um dos melhores deuses, na verdade ele nem é mais visto como um deus, sabe! Ele foi poderoso, mas já não tem tantos seguidores… Hum, enfim, que azar o seu!
— Bem, os humilhados serão exaltados! Já escutou essa frase antes?
— Não mesmo, nunquinha. Aqui temos outro ditado que diz: “Os porcos tem mais honra do que inúteis, pois até eles servem para algo”. Então, com uma classe antes nunca vista... Com uma arma que nem sei se pode ser considerada arma. Qual o seu plano para ajudar na guerra?
— Bem... — Foi interrompido pelo Herói do Caos.
— Rarara!! Rei, sem querer ofender, mas o senhor acha que ele pode ser útil? Um covarde é sempre um covarde. E quem precisa de plano? E só eu meter a porrada nesse lorde de meia tigela! E depois disso, virar lenda.
— Sim… Hahaha. Não esperaria nada menos do que possui a classe Monarca e uma espada tão poderosa. Você, Herói do Caos, tem meu respeito! Me parece alguém bem forte mesmo, e confiável. Vamos expulsar ele na base do chute? Hahaha!!
O herói gostou do que ouviu, o rei parecia gostar dele e o respeitar. A rainha por vez pela primeira vez dirigiu sua palavra a todos ali:
— Querido… Nem tudo se resolve com força bruta! Tenho certeza que nosso herói da capa saberá na hora certa em como nos ajudar. Além do mais, toda ajuda é bem vinda, pois são tempos difíceis. E ele não é um espião afinal? Então, não preciso dizer mais nada em como ele vai nos ser útil! E como os outros, ele foi escolhido pelos deuses por algum motivo. — Sorriu para Aku.
— Stinff, querida... Tudo tem haver com força e poder! Os fortes têm tudo, e os fracos não tem nada. Os fracos são esmagados no caminho dos poderosos, poder significa autoridade.
— Mas…
— Autoridade! — Encarou ela com um olhar assustador. — Gente fraca sempre será insignificante... Mesmo fraco e com coragem, continua sendo nada! Não é mesmo “Herói da Capa”? Ser bonzinho demais... Não leva ninguém a lugar nenhum, aprenda isso desde já!
— Tudo bem, levarei suas palavras comigo. — Respondeu Aku de forma calma. — E sim, o senhor pode estar certo... Ou não? Quem sabe, né?
Todos direcionaram seus olhos a ele, que por vez foi servido com uma sopa de abóbora. Ele parecia ter gostado quando deu suas primeiras colheradas, embora a sopa estivesse só aguá.
— Nossa, delicia! Bem majestade, a verdade é que mesmo tendo poder… Se não tiver vontade, será em vão, o mesmo que nada. Mas, se você tiver apenas a vontade, tenho certeza que o poder virar poder em alguma hora. E eu, posso ser fraco, mas… não duvide da minha vontade. Quando eu quero algo, eu consigo! Não importa o que eu tenha que fazer. — De algum modo sua fala foi decidida, e pesou o clima.
— Será mesmo…? E o que você quer, herói?
— No momento? Termina essa sopa maravilhosa! Hahaha…
Alguns nobres e heróis sorriam, o clima antes humilhante, parecia ter melhorado mais um pouco. Embora o rei o olhasse com um olhar frio, estava na cara que ele o desprezava.
Aku sentia que não era bem vindo ali, sentia que ninguém tinha fé nele, sentia que era uma piada. O rei por vez mordeu uma coxa de frango, mastigou um pouco e disse cuspindo alguns farelos na cara de Aku:
— Coma bem essa sopa… Pode ser sua última refeição! Já pensou?
Aku, que estava um pouco mais relaxado, sentiu de repente o clima mudar subitamente. Ele encarou a todos, percebendo suas expressões sérias. O rei por vez continuou:
— Você tem um tempo de sete anos. Acho que é tempo o suficiente para se tornar forte, né? Você tem quantos anos?
— Ha… Doze senhor!
— Daqui sete anos… Vai estar com dezenove! Um adulto. Mas… Sem armas, sem classe, como pretende sobreviver?
— S-Sete anos?
— Achei que Helena tinha dito? Vocês terão sete anos para treinar e ficar mais fortes subindo de nível. Então após esses anos, o lorde retornará com os sete cavaleiros do apocalipse e trará caos ao mundo! E assim os heróis escolhidos pelos deuses devem estar preparados para a grande batalha final. Essa é a profecia, o motivo de estarem aqui!
— Oi…?
— Bem, mas voltando a pergunta. O que deseja, herói? O que você deseja?
Por um momento Aku encarou de relance a princesa que ficou corada. A rainha sorriu ao notar isso, embora fosse a única a notar. Aku então encarou o rei e disse:
— Eu quero tudo!
— Hm?
— Tudo. Quero tudo que eu possa ter! Quando a hora chegar, vou saber do que sou merecedor. Até lá, vou dar tudo de mim para que quando a hora chegar… Eu possa olhar bem fundo em seus olhos, majestade. E então serei eu a perguntar… O que eu mereço?
O rei estava ficando vermelho, como alguém pode o humilhar dessa forma. Ele então encarou os demais, tentou se acalmar mais um pouco.
— Então veremos o que você será merecedor herói. Isso se nesse dia, você ainda tiver esses olhinhos e essa boquinha pra pedir algo! Você tem uma expressão fofa, o lorde demônio ama crianças fofinhas como você. E sabe o que ele faz quando vê garotinhos com olhos bonitos?
— Não... o que ele faz?
— Vai descobrir, cedo ou tarde. Lembrem-se disso: “Tem certas pessoas que não merecem salvação”, um dia vocês irão concordar comigo!
Todos ficaram em silêncio e o banquete prosseguiu daquela forma por alguns instantes, logo voltaram a fazer piadas de Aku e comentários maldosos. Ele por vez ficou calado apenas escutando, já não mais se incomodando.
A princesa era seu único conforto, ela o encarava com belos sorrisos, assim ele se desligou do resto, agora só prestava atenção nela e em mais nada, foi então que ele se lembrou.
— Eu acabo de me tocar de algo! — disse ele repentinamente — Sou o único herói sem um título.
— Herói da Capa não é o bastante? — disse Helena.
— Achei que iria ganhar algo mais. Como os outros que têm o título por suas armas e um título mais específico.
— Que tal “Herói Azarão”? — disse o Herói do Caos.
— Maldade sua! Hahaha. — disse o rei rindo. — Bem Helena, talvez eu poderia dar uma sugestão para o título de nosso herói, o que acha?
— Seria honra de mais para ele, receber um título por vossa magestade.
— Não, imagina. O garoto merece… Que tal… “Pústula de Formamus”! O que acha?
Ao escutar isso, a rainha se engasgou com o chá que tomava. Todos encaravam a vossa majestade, mas ninguém ousou falar nada, esperavam a resposta de Aku que nesse momento, poderia ter encarado a princesa, talvez ela o ajudasse a evitar uma humilhação que ele carregaria para todo sempre em suas costas.
Mas ele nem sequer olhou para o lado, apenas concordou.
— Parece bacana! Um nome imponente eu acho? Mas qual o significado?
— “Bondoso e inesquecível”... Sim, bem inesquecível! — Parecia segurar o riso.
— Gostei… Esse será meu título então!
A rainha não pode aguentar mais daquilo, rapidamente se levantou saindo dali. Aku não entendia, o rei mudando sua atenção fez um brinde com todos em prol do título do herói. Aku parecia animado com esse título, mal sabendo ele qual o significado que esse nome carregava.
“Acho que no fim ainda tirei a sorte grande. O próprio rei me deu um título!” pensou consigo empolgado.
De repente algumas freiras adentraram o salão do banquete, estavam acompanhadas de guardas e de um homem bem velho e corcunda. O qual usava roupas de líder religioso, possuía olhos cansados azuis.
Todos se levantaram de seus assentos se curvando em reverência, até mesmo o rei baixou sua cabeça. Aku, mesmo sem entender, fez o mesmo, se levantou com pressa o reverenciando.
O homem pediu para que se sentassem com um movimento de mão, por vez disse:
— Olá meus caros heróis e vossa majestade! — Reverenciou em respeito. — Chamo-me Bolívar Ingrus Kurke-III. Sou o líder da Igreja, como Helena já deve ter os contado… Estou aqui para abençoá-los e desejar sorte, pois suas jornadas terão início hoje ao pôr do sol.
Aku foi pego de surpresa “Como assim hoje?!” pensou ele. Encarou os demais heróis, todos que aparentavam já saber desse fato. A ficha então caiu de vez para ele:
“O que mais esses merdas sabem? O que não foi contado para mim? Estão escondendo mais alguma coisa?” Essas eram suas perguntas naquele momento, mas não ousou as fazer.
— Sei que é muito repentino…
“Sim, muito!! Nem me preparei! Pera. Vão nos mandar sem mais nem menos? Para onde?” Sua expressão era de indignação e confusão.
— Mas quanto antes conseguirem ficar mais fortes, melhor será. Então se divirtam nesse maravilhoso banquete, pois logo mais devem sair em suas aventuras por poder! Vocês terão sete anos para aproveitarem o mundo, ao passar desses sete anos, deverão retornar para se juntar ao exército. Pois iremos enfrentar de vez o mal absoluto!
Mais bebidas e bandejas com comida eram conduzidas até a mesa. Logo todos se serviam novamente, comiam com vontade, apenas Aku tinha dificuldade em aproveitar da refeição.
Ele por vez se levantou e saiu, não podia ficar mais tempo ali, caso ficasse iria estar aceitando mais humilhação.
***
Horas depois estava andando pelos corredores do palácio, parecia um pouco perdido. Passava em frente à cozinha, quando um cheiro agradável passou por ele o convidando, não pensou duas vezes e entrou.
Surpreendendo Mimi e alguns outros empregados meio humanos que ali estavam, ela por vez descascava algumas batatas.
— Oi, lindinha! — disse entrando. — Humm… O cheiro está tão bom!
Havia 10 meios humanos e homens lagartos, os quais trabalhavam às pressas, por vez algumas moças humanas cozinhavam. Elas faziam tudo às pressas, e com rapidez, eram ágeis cortando os legumes e ainda mais ágeis descascando os alhos.
Mimi então puxou uma cadeira velha, oferecendo para Aku poder se sentar. Ele encarou a mesa antiga de madeira, algumas panelas oleadas e sobras que alguns deles comiam com vontade.
— Obrigado. E com licença pessoal! — disse se sentando.
— O que o herói faz neste humilde lugar? Está perdido? — disse um homem lagarto o qual comia uma sopa.
— Esse cheiro agradável me fez entrar. Se não for muito incomodo, poderia comer aqui com vocês?
Todos se espantaram. Mas lá se vem Mimi com um tigela de sopa de carne e rabanetes bem quentinha, e um pouco de pão mofado. Aku agradeceu e começou a comer às pressas, o sabor era simples, mas saciava sua fome., com uma faca retirou o mofo do pão e comeu as partes boas.
— Nossa, que gostoso!! Eu estava morrendo de fome, não comi nada ontem. Pensei até que iria ficar sem comer hoje também! Valeu Mimi, tá muito bom. — Sorriu para ela.
— Mimi?
— É que ela não fala. Então, pra não ficar difícil de falar com ela, dei esse nome!
— Você deu um nome para uma simples escrava?
— Uhum.
— Você é diferente mesmo, garoto da capa! Se sinta à vontade, não é muito, mas não seremos ruins com você! Está mesmo tudo bem em comer sobras?
— Tá brincando?! A comida está ótima! Sem contar que essa deveria ser a sala do banquete!!
— Hahaha. E por que acha isso?
— Aqui é o único lugar com pessoas de verdade.
Essas palavras pegaram todos de surpresa, alguns sentiram seus olhos lacrimejar por um momento. Enquanto os mais velhos, que antes achavam que suas lágrimas já haviam secado, se retiraram para chorar um pouco.
Aku não percebeu, era muito novo e sabia muito pouco, mas tais palavras vindas de um herói, eram algo muito, muito importante. Os empregados estavam apreensivos com a presença dele de início, mas logo o acomodaram muito bem.
Continua...