Volume 1
Capítulo XI: “Irmãos”
Abria seus olhos, o lugar mal iluminado em que estava lhe era desconhecido. Se levantou encostando-se na parede, assim dando seus primeiros passos...
“Onde estou?”
Enfim a luz adentrou a janela de grades de ferro. Era uma pequena cela, paredes de blocos de concreto com algumas rachaduras, porta de madeira e grades de ferro. No chão estavam algumas pilhas de feno e tinha um senhor que o encarava do outro lado.
— Ham… Onde estou?
— Não fale comigo pirata!
— Hum, ok. Não vou te tirar daqui então!
— Até parece que vai conseguir sair desse buraco. Seus amigos, devem ter fugido a essas horas! Está sozinho moleque, esse lugar vai ser sua cova… Piratas não são bem vindos em Cripta, sabe disso né?
— Me contaram. Então eles me apagaram, e me colocaram numa cela? Eu realmente não esperava por isso.
— He. Parece que já chegou sua hora novato!
— Como?
A porta da cela se abriu, dando passagem a três homens armados com espadas. Andaram em sua direção o agarrando pelos braços, ele ainda lutou, mas os homens eram mais fortes que ele.
Logo cobriram sua cabeça com um saco, o qual não gostou nenhum pouco:
— Me soltem seus estrumes de Drigds! Sabem quem eu sou?! — Tentou se soltar. — Eu sou Torne o Indomável!! Me largue!!
Minutos depois, lá se encontrava um pouco distante do reino. Era conduzido pelos soldados, e com ele mais duas pessoas que se encontravam na mesma situação.
Subindo um morro de areia, logo chegaram ao seu destino. Os soldados os fizeram ajoelhar, os colocando em uma fila, Torne por vez observava tudo por um pequeno rasgo no pano que cobria seu rosto.
“O que vai acontecer?! O que vai acontecer?!”
Um dos soldados sacou sua espada, andou até um homem ao qual estava apavorado, tremendo e sussurrando em uma oração. Outro soldado andou até sua frente, o encarou de cima, parecia gostar daquilo, disse:
— Senhor Unfra! O senhor é acusado de roubar e assassinar um comerciante de escravos. Está correto?
— Eu–! Eu apenas estava resgatando minha filha!! Apenas isso… Piedade! Piedade de mim!!
— Mas… O comerciante ganhou ela, depois de você perdê-la em uma dívida de jogo. Estou certo?
— Bem! Eu… Eu–
Com um simples movimento do soldado, sua cabeça caiu a rolar morro abaixo. Torne vendo isso entrou em pânico, pois logo mais seria o próximo.
“Drigds e Fanitas! Como vou sair dessa?!”
O homem se dirigiu agora até uma moça, a qual parecia chorar por baixo do pano que cobria sua cabeça.
— Clarinda… A senhorita é acusada de roubo e de ter envolvimento com um homem casado! Estou certo?
— Eu sei que foi a Melinda que mandou vocês! Aquela vaca maldita!! Eu aceito as acusações, mas que meus filhos não sejam envolvidos!! Eu imploro!!!
— Lamento, mas quando terminarmos com você. Iremos ter que resolver esse problema também!
— Fique longe deles!! Seus malditos. Fiquem longe dos meus filhos!! Eu mato vocês!! Mato vocês!!!
E com um simples movimento, mais uma cabeça rolou morro abaixo. Torne por vez respira fundo, tentava se acalmar, pensando em alguma forma de se salvar. Tentava romper as cordas que prendiam suas mãos, mas elas eram resistentes, e prendiam firmemente seus pulsos.
“Droga, o que eu faço?!”
O homem se dirigiu até ele e disse abrindo um sorriso:
— Torne o Indomável… Hump, que piada! Você é acusado de pirataria, roubo, assassinatos e desordem… Estou certo?
— Esqueceu a parte do sequestro, rebelião e da traição contra a família real!
— Hump. Seu bastardo maldito! Continua fazendo piadas até mesmo na hora de morrer?! Corte a cabeça dele, quero ver ser engraçado depois de engolir areia.
O soldado já levantava a espada para o alto, quando de repente, tomando impulso, Torne lança-se contra o homem à sua frente. O soldado por sua vez golpeia o chão, errando seu alvo.
Ambos rolaram morro abaixo. Torne rapidamente se levantou pegando a espada da cintura do homem, assim cortando as cordas que o prendia, e retirando o pano de sua cabeça, foi surpreendido por um soco no queixo que o lançou no chão.
— Seu bastardo! Achou que ia fugir?!
Torne tentava se recuperar do golpe, quando foi atingido por um chute no estômago que o jogou para frente o fazendo soltar a espada.
O soldado pega a espada no chão, indo na direção de Torne agora. Seu olhar era de raiva e encarava Torne caído de costas, se aproximando dele foi surpreendido pelo mesmo que jogou areia em seus olhos.
— Bastardo maldito!! Cadê sua honra?!
— Honra?! Falou quem está com a vantagem!
Dito isso, agarrou uma pedra no chão e a lançou contra o homem, que se recuperando a quebrou com a espada. Se protegendo dos destroços, foi acertado no estômago por Torne que se lançou contra ele em uma cabeçada.
O homem foi jogado ao chão, Torne pegando a espada pulou para cima dele, e sem hesitar cravou a lâmina em seu peito.
O homem o encarou surpreso enquanto seus olhos perdiam o brilho da vida. Os outros soldados já chegavam até eles, quando a terra estremeceu, e sem chances de revidar foram engolidos pela criatura que surgiu de em meio a areia.
Torne se levanta às pressas, correndo sem rumo.
***
— Espera… Você é um pirata?! Você é um pirata de verdade?! — Gritou Aku surpreso.
— Calma, calma. Eu não me orgulho disso, mas... Todos têm o direito de viver! E já que não vi nenhum deus dando comida a um faminto ou ajudando um pobre coitado. O jeito foi eu mesmo fazer isso! Eu roubo dos ricos e alimento os pobres, simples não?
— Acho que entendo.
— Não vai me acusar de roubo?
— Quem sou eu para simplesmente te acusar? Não sei nada sobre sua vida.
— Aku… Tem uma vila além do oceano dos sonhos! Uma ilha com monstros e meio-humanos como eu. Isso é um segredo, ninguém sabe sobre a existência de uma ilha assim! Então não conte a mais nenhum humano, ok? Eu estou confiando em você, além do mais, se contar para alguém o Robin Hood vai ficar sabendo!
— Quem?
— O líder da guilda do submundo! Ele controla os reinos, das sombras, e também é o líder dessa ilha a qual mencionei. Então se você contar para alguém, com certeza ele vai atrás de você!
— Ok, mas porque está me contando tudo isso? Parece ser importante.
— Quero que você venha me visitar um dia! Será bem vindo por lá. Talvez, se ainda estiver sozinho, posso até o apresentar a minha irmã!
— Hahaha. Sua irmã? Certo, então está combinado meu amigo! Quando minha jornada chegar ao fim... Irei te visitar, custe o que custar!
— Certo é uma promessa. Rogo a divindade dos Contos, para que seja nossa testemunha!
— Divindade dos Contos?
— É uma superstição do meu povo, dizem que tem alguém observando tudo, ele fica encarregado de ver você cumprir suas promessas!
— Espero que ele esteja me vendo, mesmo estando tudo escuro, né?
— Tenho certeza que ele está vendo. Sim, ele deve estar! Então… Que ele testemunhe o começo de nossa amizade. E que os olhos curiosos que nos observam sejam testemunhas também!
— Pode apostar que vão!
Aku se levantou estendendo a mão, Torne fez o mesmo o cumprimentando. Assim, selando a nova amizade em um aperto forte de mão, ambos sorriam.
Foi assim que Aku conheceu Torne. E foi assim que Torne conheceu seu melhor amigo, ou melhor, seu irmão.
— Está combinado então, meu único amigo.
— Corta essa! Promete que depois que a gente se separar você vai virar amigo de todos nessa tripulação a qual faz parte. Até mesmo do capitão que deve ser alguém incrível! Caso contrário, não vou te visitar.
— Ok, então está combinado meu amigo! Porém, acho improvável virar amigo do capitão... Ei! Só estamos falando de mim agora. Mas e você? Por que estava com um papo de ser um herói invocado? Nos “monstros” não conhecemos muito sobre eles. Até mesmo eu, apenas escutei histórias e rumores!
— Nem eu sabia que heróis eram tão famosos assim.
— Você não sabe? Há muito tempo atrás, alguns heróis foram invocados no tempo que ficou chamado como “Clamus”! O tempo em que os demônios e o maligno dragão de chorume dominavam os reinos.
— Dragão de chorume?
— Nem mesmo eu sei sobre esse dragão. Mas, antes havia inúmeros heróis... Guerreiros poderosos e respeitados! Eles eram gentis e bondosos, me disseram que eles ajudavam todos sem distinção de classe ou raça. Eles realmente eram incríveis, pelo menos foi isso que meus ancestrais me disseram... Eles eram insanos também, mataram muitos dragões e monstros que com apenas um bater de asas poderiam arrasar com todo um reinado!
— Nossa, parecem mesmo incríveis! O que aconteceu com eles?
— Bem... Pelo que as histórias contam, todos estão mortos. O lorde demônio os matou no dia da grande “Guerra de Midas”!
— Que?! Mesmo você dizendo que eles eram tão poderosos, eles ainda perderam?
— Por isso estou dizendo para tomar cuidado. O lorde demônio não é brincadeira! A guerra de Midas foi o berço dele, foi na guerra que aquela besta nasceu. — Encarou a fogueira. — Foi nessa guerra que ele despertou com toda sua fúria, subindo aos céus! E em um grito horrendo, baixou a lâmina de sua espada, cortando o céu, inimigos, aliados e tudo que estava em seu caminho. Hoje o lugar onde ocorreu essa guerra, se chama “Vale dos Condenados”… Aquele vale, se abriu com o poder aterrorizante desse demônio!
Torne bocejou, e cansado já se deitava no chão.
— Que sono... Bem, boa sangria Aku!
— Hmm… Boa sangria pra você também, Torne!
Torne apenas se deitou e rapidamente pegou no sono. Aku por vez se deitou também, mas ficou olhando a completa escuridão, e bem lá no alto, pode notar duas estrelas que lutavam com as sombras.
Ele se perguntava várias coisas nesse momento, a conversa com Torne se mostrou bem produtiva, em muitos aspectos, conseguia ele agora saber um pouco mais sobre esse mundo.
“Onde estão os deuses? Parecem não ajudar ninguém. Nesses momentos de crise que precisamos deles, né? Qualquer um serve!”
“Escravos e monstros querendo destruir o mundo. Deuses nos ajudem!! Isso se realmente se importam, isso se realmente tem alguém aí em cima… Então… tem alguém aí?”
— Vuuussshhhh!
Uma forte ventania passou por ele, quase apagando as chamas da fogueira. Aku encarou novamente a escuridão, quase podendo sentir algo ali.
“O que foi isso?!”
“Tem alguém aí?”
Continuou a encarar a escuridão, o breu que escondia quem quer que estivesse lá. Apenas o encarando, esperando, tramando um plano doentio… Ou, apenas observando o desenrolar da trama.
Continua…