Lorde sem Olhos Brasileira

Autor(a): Sr. V


Volume 1

Capítulo IV: “Fardo”

Aku suava frio, parecia agitado enquanto batia seu pé no chão. Procurava uma maneira de se safar, mas os olhos atentos o atrapalham, todos encaravam ele, esperando sua resposta.

“Stalking?! Como vou falar isso pra eles?! Vão dizer que eu sou um esquisitão ou um pervertido. Droga, eles estão esperando uma resposta… E agora? E agora?!”

— Então garoto, qual sua classe? 

— Calma, eu só… 

Ele agora tremia de nervosismo, “E agora?!” ele precisava de uma resposta o quanto antes. Então uma luz passou diante de seus olhos, talvez a ajuda perfeita para essa situação.

— E-Espião… — disse hesitante.

Ele evitava olhar os demais nos olhos, seu coração acelerava com o silêncio que se formou. O que o fez ficar ainda mais nervoso:

“E se alguém descobrir?! Droga. Eles sabem da verdade?! Eles sabem?!”

Tomando enfim coragem, encarou Helena, percebendo sua expressão nada contente. Por vez ela diz: 

— Poderia repetir…?

— E-Espião… Aqui está dizendo que minha classe é espião!

— Espião…? Hm… Espião?! Como assim?! Não está vendo errado?! — Ela parecia inquieta.

“Droga. Eu não posso simplesmente dizer Stalking, né? E não é como se eu estivesse mentindo. Espião também está como minha classe! Pera. Eu tenho duas classes?” 

— Então garoto? — disse Helena, se aproximando dele.

“Melhor não arriscar!” Pensou ele por fim, voltando a repetir para os demais, desta vez com uma expressão forçada de confiança:

— Acredito que seja isso mesmo… Hã. Minha classe é espião! Tenho certeza disso.

Ele tentava evitar o contato visual, tremia com medo que descobrissem de alguma forma a verdade. Helena por vez surtou:

— Mas que raios de classe inútil é essa?! — Gritou ela sem perceber. — Espião? Nunca ouviu falar nessa classe. Nunca teve alguém com uma classe como essa antes!! Uma classe tão ridícula assim existe?! Espião…? Raios! Raios!

Ela então percebeu que todos a encaravam, nosso pobre herói ficou cabisbaixo. Helena suspirou fundo tentando se acalmar, pois percebeu que estava um pouco exaltada.

— Enfim. Acho que isso é melhor que nada! Vamos precisar de um infiltrado juntando informações do inimigo, mas… É triste saber que teremos um a menos no campo de batalha.

— Por que diz isso? — disse a garota de cabelo roxo.

— Está na cara que essa se trata de uma classe fora de combate. Espião, você só irá servir para juntar informação do inimigo, como um infiltrado! Sua classe também não é como a de um alquimista, que embora não ajude em habilidades de luta, ainda sim, ajuda em questões de criação de artefatos e poções. Sua classe é as que chamamos de “Inds” ou fora de campo! — disse ela de modo frio. 

— Mas eu posso ajudar!! Mesmo minha classe sendo essa, não sabemos se o que está dizendo é verdade. Você mesma disse que nunca ouviu falar desta classe antes, né?!

— Está duvidando de meus conhecimentos moleque? Espião, o nome já sugere. Uma classe de furtividade e recolhimento de informações inimigas! Mas ainda não é certo se até nisso você pode me ajudar... Bem, logo iremos descobrir se você será inútil ou não. Até lá, você não é nada mais que um estorvo para os outros!

O encarou com um olhar de desaprovação. Alguns por vez riram dele enquanto Helena se retirou, já outros o olharam com pena e compaixão, ele por vez estava nitidamente frustrado. 

O garoto com cabelo branco por vez o olhando com deboche disse o segurando no ombro:

— Haha… Essa classe realmente combina com um verdadeiro covarde. Não me admira que você tenha sido um grande fofoqueiro x9 na sua vida passada. Vai uma dica seu merda, “todo mundo odeia x9”... Eles sempre morrem cedo demais! — disse o empurrando para passar.

“Merda. Fiz mesmo bem em mentir sobre minha classe? Embora não seja completamente mentira. E errada ela não estava! Um espião seria mesmo só isso? Mas e quanto a essa classe estranha? Stalking… Droga. Não sei o que tá rolando aqui, mas… ainda não e hora de dizer que sou inútil seus merdas!”

Ele apertou os punhos, encarava o delinquente rindo com outros garotos. Ele não queria aceitar as palavras dela, não queria aceitar sua classe. Ele estava nitidamente chateado com todos por rirem dele, embora não os culpava, sua raiva na verdade se direcionava a ele mesmo. 

Helena por vez retornou com uma notícia que trazia consigo esperança:

— Para aqueles que suas classes não foram muito boas. Lhes trago uma luz! Agora é chegada a hora da verdade... Iremos separar os heróis da escória. Iremos ver se realmente você será digno de um título honrado ou não.

Helena os organizou em fila novamente, cada um deles deveria aguardar sua vez e assim se direcionar ao meio do salão.

— Andem um de cada vez até o centro do grande salão. Supliquem aos céus, pois o olimpo irá escutar suas preces… Façam isso de todo seu coração! Implorem se for preciso, por uma arma divina. Sua arma então se tornará você, se tornará o que você representa e o que você poderá conquistar. Um título e uma arma que o seguirá para todo sempre, toda eternidade!

Muitos ali pareciam não sentir o peso de tais palavras. O primeiro andou até o meio do salão, esse era o delinquente que respirando fundo, gritou:

— Invocar arma divinaaa!!  

Um vento forte adentrou o lugar, um portal verde se abriu bem acima dele, com isso uma enorme espada surgiu. Caindo do alto, se fincado ao chão, o que abriu uma enorme rachadura, todo o lugar tremeu com o seu poder.

Ela era 10 vezes o tamanho do garoto, e também era diferente das demais, pois não era uma espada afiada, mas sim uma espada sem fio de corte. Ficou lá, parada, intocável, pois o garoto ainda não tinha poder suficiente para a empunhá-la.

— Realmente uma arma digna de um herói da classe monarca! — disse Helena, sorrindo.

— Quando serei capaz de usá-la?

— Depois do seu treinamento acredito que será capaz de usá-la, não só ela, mas as outras que irá receber. Por agora, contente-se apenas com seu título; herói das espadas ou melhor, “Grande Herói da Espada do Caos”... Que tal?

— Gostei… — Abriu um sorriso insano.

Esse foi o primeiro herói a receber um título, o primeiro a invocar sua arma divina. O “Herói do Caos” assim como foi chamado a partir desse dia. O primeiro a receber seu fardo, embora não tenha sido o último…

Em seguida vieram os demais: “O Imponente Herói da Adaga visceral” ou “Herói das vísceras” que invocou uma adaga tripla a qual tinha lâminas brilhantes e molas. Uma linda e funcional arma, leve e ágil, excelente para aquele que tinha a classe de Assassino.

Em seguida: “O Poderoso Herói das Estrelas" ou “Herói do Amanhã” o qual invocou uma estrela do amanhã. Um bastão metálico que se ligava por uma corrente em uma bola maciça com espinhos. Realmente uma arma brutal para aquele que tinha classe paladino.

Em seguida: “A Corajosa Heroína do Escudo Inabalável” ou “Heroína Inabalável" a qual invocou um escudo grande, feito de ouro. E possuindo um símbolo de sol, ela ao segurá-lo fez emitir uma forte luz que cegou momentaneamente todos ali.

— Apaga issoo!! 

— D-Desculpa! Desculpa, desculpa… Desculpa.

A garota desfez sua invocação e continuou a pedir desculpas. Aquela era uma boa arma para quem possuía classe Tank. Aku encarava ela, parecia com inveja, observava seus movimentos e a cara de frustração da garota por receber um escudo.

“E pensar que essa garota ficou com um escudo. Se bem que esse não me lembra nada o dele… Mas sem dúvidas eu gostaria de ter sido o escolhido do escudo. Droga, perdi a chance de ser como meu herói!” Ele encarava a garota com um olhar ainda mais irritado, ele por vez o percebe e se esconde atrás de um rapaz.

***

— Ahem. Acredito que seja minha vez… Invocar arma divina!!

“Sagaz Herói das Arbalests Excepcionais” ou “Herói Excepcional” que invocou duas Mini-bestas pequenas. Por serem armas pequenas, seu uso e seu manuseio eram rápidos e fáceis para aquele com classe druida.

Em seguida: “A Majestosa Heroína que Quebra Espadas” ou “Heroína Aprendiz” era a garota com farda escolar, a qual ainda estava chateada. Invocou então, por ironia do destino, uma espada diferente das demais, pois possuía "Dentes" na região mais próxima de sua guarda, tais dentes que poderiam quebrar espadas, por isso de seu título. Uma arma que combinava com a sua classe aprendiz.

“É impressão minha, ou a lâmina parece mais um chifre de unicórnio? Hahaha. Parece sim! E o pior, eu fui o único que notei isso? Hahaha!!” Nosso herói tentava segurar o riso.

Em seguida: “O Excepcional Herói da Carruagem Imponente” ou “Herói Imponente” todos ficaram surpresos quando ele invocou uma carruagem de guerra. Ele também possuía em sua carruagem todo um arsenal. Uma carruagem de madeira e metal, com estilo medieval, que continha quatro cavalos brancos enormes que a puxavam. Uma arma que combinava e muito com a classe gladiador.

“Nossa que foda, foda pra caralho! Agora estou morrendo de inveja.” Pensou Aku encarando o garoto que acariciava os cavalos.

Em seguida: “A Fofa Heroína do Martelo de Guerra Poderoso” ou “Heroína Poderosa” invocou um martelo enorme, que aparentava ser pesado e resistente. Martelo que possuía cinco vezes o seu tamanho, uma arma que combinava nenhum pouco com sua classe de ninja.

Em seguida: “A Ágil Heroína do Culverin de Guerra” ou “Heroína da Guerra” que invocou dois canhões pequenos que se acoplam às suas mãos. O qual, um possuía  o rosto de leão feito de ouro e, outro de um Corvo feito de prata. Uma arma que combinava com sua classe soldado. 

“A Dominante Heroína do Chicote Tempestuoso” ou “Heroína Tempestuosa” a garota de cabelo roxo parecia animada ao ter invocado um chicote feito de tiras de couro encantado, com encantamento de raio. Uma arma digna da classe Semideus, ela era forte, foi isso que Aku pensou quando a viu segurar sua arma.

“O Sábio Herói da Alquimia Sagaz” ou “Herói Sagaz” o garoto coberto com um manto foi até o meio do salão com alguns rindo dele. Ele por vez invocou uma bolsa portal que o dava acesso à várias porções e misturas. Uma boa arma para aquele com a classe alquimista, ele parecia contente de certo modo.

“A Encantadora Heroína do Cajado da Ilusão” ou “Heroína Ilusionista”. Ela havia invocado um cajado que a permitia criar ilusões, ela se divertia assustando alguns de seus companheiros, enquanto já aparentava saber usar sua arma. Era uma boa arma para a sua classe mago.

“O Glamouroso Herói do Machado Virtuoso” ou “Herói Virtuoso” que invocou um grande machado de guerra com runas entalhadas em sua lâmina. Uma boa arma para aquele de classe bárbaro.

“O Sombrio Herói das Correntes Tortuosas” ou “Herói da Tortura” que invocou várias correntes as quais possuíam agulhas e lâminas. Uma arma que não combinava em nada com sua classe de templário.

“Droga… detesto agulhas!” Aku virou o rosto tentando não encarar o garoto e sua arma que o dava calafrios.

“A Divina Heroína do Cetro do Luto” ou “Heroína do Luto” invocou um cetro vermelho que possuía algumas rosas pretas crescendo nele. Uma arma que combinava com sua classe de líder nato.

Aku não podia mais se conter, era sua vez enfim. Mesmo com os acontecimentos de mais cedo, ainda estava animado. E como não estaria, imagine uma criança após contemplar toda essa magia. 

Deu o seu melhor sorriso e andou até o meio do salão, todos observavam ele, aquele era o momento que Aku poderia provar que era digno de ser um herói ou virar de vez uma lenda. 

Encarou os olhos curiosos de todos e até mesmo as risadas de alguns. Respirou fundo se preparando, pensando consigo:

“Eu imploro, deuses, se estão me escutando agora… me concedam uma boa arma. Uma arma que vai fazer esses merdas me respeitarem, implorar por meu perdão! Eu nunca fui de ter fé, mas… Se me concederem isso, prometo servi-los para todo sempre!”

— Invocar… Invocar arma divinaaa!!!

Ele deu o seu grito mais memorável, todos direcionaram seus olhos para ele, mas… Nada aconteceu, ele então repetiu, mas nada aconteceu novamente. Ele então gritou mais alto, por um momento um vento forte entrou no lugar trazendo esperança, mas rapidamente cessou, e mais uma vez nada havia acontecido.

Ele tentou novamente gritando com ainda mais força:

— Invocar arma divinaaa!!!

Nada, tentou novamente, nada, de novo, mas nada aconteceu. Ele já se frustrava, mas tentou de novo, de novo, de novo, de novo. Helena já estava cansada de esperar, todos achavam que ele não iria conseguir, alguns até mesmo já riam dele. 

Foi quando na décima tentativa, Helena se irritando disse:

— Vamos garoto! Não tenho o dia todo. Se não consegue é só desistir! Talvez você não seja digno da ajuda dos céus, ou suas preces não estão sendo boas o suficiente.

— Calma, vou conseguir dessa vez! Invocar arma divina!!!

“Mas que droga. O que está acontecendo? Porque não consigo?”

— Invocar arma divina!!

Ele percebeu no olhar de todos, o mesmo olhar que ele estava cansado de ver, um olhar que julga e humilha. Aquilo o deixava irritado, muito irritado:

“Parem de rir de mim… Parem de rir de mim!!”

— Invocar arma divina!! Invocar arma divina!! — As primeiras gotas de lágrimas escapavam de seus olhos enquanto caía de joelhos.

“Por favor… Eu só quero uma arma!”

Alguns o encaravam com pena, e outros riam ainda mais dele. Até mesmo Helena começou a rir de maneira histérica. Ele estava tão frustrado que só podia pensar em brigar com os deuses agora:

“Droga. Não importa se não forem vocês que vão me dar uma arma! Já tenho uma classe estranha… Não vou tolerar ficar sem um meio de defesa. Não importa quem me dê essa arma, eu só quero algo para lutar! Tem alguém escutando?!”

“Não importa se é um deus ou demônio. Só me entregue uma arma!! Só quero algo para calar a boca desses merdas!!!” 

— Eiii!! — Gritou ele com tudo de si. — Tem alguém me escutandooo?! Me entregue algo para calar a boca deles! Algo que os façam pensar duas vezes antes de rirem de mim novamentee!!!

— O que pensa que está fazendo?! Isso lá é jeito de falar com os deuses?!

— Eu ordeno que me entreguem uma arma!! É o mínimo depois de terem me trago a esse mundo!! Me deem minha armaaa!!!

— Como ousa falar tais coisas aos deuses?! Saia daí agora!! — disse Helena, indo até ele.

Helena o agarrou pelo braço, mas ele não notou. Algo não estava certo, Aku parecia ser consumido por seu ódio, ao abrir seus olhos todos estremeceram. 

Seus olhos brilhavam em vermelho sangue, uma onda de vento foi dispersada de seu corpo, lançando Helena ao chão.

— In… Invocar.

Aku não percebeu que acabara de implorar por ajuda de alguém que não devia. Raios negros começaram a emanar para todos os lados, um vento forte empurrava os demais para trás.

— O que está acontecendo, irmã?! — Gritou um dos garotos.

— Eu não sei–

As palavras foram tomadas de suas bocas, todos se ajoelharam diante da esmagadora presença. Um arrepio na espinha os fez fraquejar, encaravam aterrorizados o monstro que nascia diante de seus olhos.

Se escutou gritos, começou a chover gotas de sangue do lado de fora. Uma risada ecoou pelo salão, fazendo o desespero reinar, enquanto todos sucumbiam ao vomito. Então o chão se abriu, um cheiro de enxofre tomou o lugar.

— Hades…? — Sussurrou Helena.

Do chão saiu fogo, um olho se abriu, observando o herói. Aquilo o fez recuar para trás, o mais profundo desespero tomava seu corpo enquanto ele voltava a si. Uma voz estridente ressoou nos ouvidos de todos:

— Hehehe… Té darei um presente herói! Você aceita?

—... — Aku não conseguia falar, suas palavras apenas não saiam de sua boca.

— Vou considerar seu silêncio como um sim. Aceite seu fardo! Aceite sua maldição. 

Uma capa surgiu em meio às chamas, indo em sua direção. Possuía uma cor escura tão forte que sugava a luz do ambiente ao seu redor. A capa era tenebrosa, feita de pele de lobos e nesta, havia três cabeças de tais criaturas. 

Duas que ficavam em cada ombro e uma no centro. A cabeça do meio tinha os olhos de rubi vermelho sangue, a da direita possuía olhos de esmeralda verdes luminescentes e a da esquerda possuía olhos de diamantes azuis.

Aku sentiu um cheiro forte de enxofre vindo dela, ela por vez se abriu e o agarrou. Ele caiu com ela no chão, tentando se soltar.

— Ahhh. Socorro! Socorrooo!

Ela enfim o vestiu, ele ainda tentava tirar ela enquanto tudo voltava ao normal. O chão se fechou, o sol deu as caras, a chuva cessou. Todos já não sentiam o terror, tudo se acalmava, a não ser Aku que tentava retirar a capa.

— Saí, me larga. Me larga!!

Ele então foi surpreendido por um tapa.

— Como ousa?! — disse Helena.

Aku percebeu que ela estava furiosa. De repente, soldados adentraram o salão cercando Aku e sacando suas espadas.

— Como ousa humilhar os deuses e esse lugar sagrado?! Executem esse verme!

E foi assim, que surgiu a lenda do “Senhor das Capas”, o herói de capa. Um ser tão vil, que nem mesmo os vermes ousariam consumir sua carne podrida. Condenado a vagar eternamente, com um fardo que poucos conseguiriam suportar. 

O fardo de um coração partido, o fardo do tormento eterno, o fardo de ser odiado por todos. O fardo de ser um cão imundo que não merece segunda chance, o fardo de Hades…

Continua...

 



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