Lorde Sem Olhos Brasileira

Autor(a): Sr. V


Volume 1

Capítulo V: “Tempos difíceis"

“Dias normais, mesmos olhares, mesmas piadas, mesmas coisas. Uma monotonia que me afogava, então tudo mudou.

“Estava neste lugar, não entendi nada, vivi tão privado e sem animação. Assistir, ler mangá, estudar, compras, dormir… Nada além de coisas banais, ninguém deve estar sentindo minha falta, não tenho nada, não deixei nada para trás.

“Mas, por um momento passou pela minha cabeça. Talvez, essa fosse minha oportunidade de virar a página da minha vida. Como meus heróis, como meu personagem favorito. E a partir do momento que cheguei, tudo começou a dar errado.

“Onde eu errei? Deuses? Eles não gostam de mim, né? Segunda chance disseram… Então por que? Porque?! Porque isso está acontecendo comigo?!”

Os soldados marchavam em sua direção, com armas sacadas, prontos para executá-lo ali mesmo. Aku encarava tudo aquilo, não podendo pensar em sua falta de sorte. Todos então levantaram suas espadas para o alto.

“Esse é o fim? Segunda chance meu ovo.”

Ele fechou os olhos aceitando o fim. Esperava a dor que seria repentina, mas o traria o conforto eterno. 

— O que está acontecendo aqui?!

Ao abrir seus olhos, percebeu que todos estavam de joelhos. Apenas ele e os demais heróis permaneciam de pé. 

Um homem alto, cabelo vermelho, olhos vermelhos, pele escura. Usava vestes religiosas e seu olhar era severo.

— Explique-se Helena.

— E-Esse herege. Cometeu o maior dos pecados, trouxe humilhação a esse templo santo.

— Helena, Helena. Você sabe por que eu fui nomeado Arcebispo?

— Porque o mestre tem qualificações… Certo?

— Errado. Isso foi porque eu sei o que fazer. Você ousa levantar armas contra um herói invocado? Sabes muito bem que esses pirralhos não têm conhecimento deste mundo. É seu dever orientá-los devidamente. 

— Entendo meu mestre, perdoe meu comportamento. Agi seguindo meu coração, não pensei em tais coisas.

— Calada. Odeio pedidos de desculpas! Se vai se desculpar, antes não o fizesse. — disse ele a encarando.

Aku percebeu que Helena abaixou a cabeça para ele. Todos pareciam apreensivos com a chegada desta figura, ele emitia uma energia calma demais.

— Saiam da minha frente, vamos.

Os soldados retiraram as pressas. O homem por vez caminhou observando os heróis, por fim ficando frente a frente com Aku.

— Hm… Helena qual a desse garoto?

— Ele invocou uma capa, senhor. Não só isso, mas sua classe é espião.

— Intrigante. Então ele seria o “Herói da Capa”?

— Eu acredito que houve um engano. Uma capa não pode ser uma arma, né? — disse Aku, levantando.

Ele por vez recebeu um chute em seu joelho o fazendo se ajoelhar. O homem agarrou seu cabelo, e o levantou, encarava ele nos olhos.

— Eu não me lembro de ter deixado um verme como você se dirigir a mim.

Aku ficou em choque, o homem por vez o jogou no chão. Ele encarou os demais heróis que recuava, alguns pareciam chateados com ele.

— Olha, não me leve a mal. É só que… o mundo será destruído. Não podemos perder tempo com a escória. Os fracos não têm privilégios, este mundo é para os fortes. Aqueles que não tiverem utilidade, serão descartados como o lixo humano que são.

— Almos o que está falando pra eles? Não deve dizer tais palavras. — disse Helena.

— Estou apenas dizendo a eles a verdade. Quanto antes entenderem que são descartáveis, melhor. Só queremos os fortes, aqueles que são abençoados pelos deuses... E que esse moleque sirva de exemplo para todos vocês. — Apontou para Aku. — Ele cometeu um ato imundo contra esse local sagrado. Isso é condenado com a morte, porém, lhe daremos clemência… Está sua capa, sinto energia do submundo.

— Isso mesmo meu mestre. Hades o concedeu essa capa… Eu-

— Se me interromper novamente… Eu a colocarei em seu lugar.

Helena estremeceu, estava nítido que esse homem era muito perigoso. Ele andou até Aku se abaixando ao seu lado.

— Escute garoto. Não me importo que tenha recebido uma arma de Hades, o deus do submundo. Porém… A Partir de hoje se ponha em seu lugar, acha mesmo que uma capa pode te ajudar? Hades, cometeu mais uma de suas piadas. E você, você se tornou parte dela. Lamentável…

Aku encarava o chão, seus olhos expressavam raiva, mesmo ele irritado as lágrimas continuavam a cair. Alguns juntamente de Helena o encararam com olhares de nojo, o garoto delinquente por vez disse:

— Mas que patético cara! Ele está chorando? Haha. Acho que um inútil como você deveria desistir de ser herói. Desista antes que se machuque de verdade pirralho. Herói da capa? Que piada… Suma de uma vez seu inútil lixo. — Cuspiu no chão virando as costas.

Todos saíram dali, nosso herói por vez ficou. Sozinho, desolado, em choque com o que acabara de acontecer com ele. Chorava de frustração com um olhar de raiva, começou a bater no chão enquanto brigava consigo:

— Droga… Droga. Droga. Droga!! O que eu fiz de errado?! Eu sou descartável? Um inútil? É isso que estão me dizendo?! — Batia com mais força o chão. — Mas que merda. Estou começando a odiar esse mundo! Será que devo salvar essas pessoas?! Essa é mesmo a forma de tratar um herói?!

Ele por vez continuou batendo no chão de forma frustrada. Ele estava se afundando em sua raiva e tristeza, a princípio alguém adentrou o salão. Andava sem fazer som, sua presença não era sentida ou percebida. Foi quando uma brisa suave passou por eles, levando seu cheiro consigo.

— Hum…? — O aroma doce adentrava seu nariz. — Veio rir de mim também princesa?

Houve um espanto por parte dela. “Como?! Como ele sabia que era eu? Ele conseguiu detectar minha presença? Não, não tem como. Ele já tinha me visto antes, certo? Ou ele está escondendo alguma coisa? Esse garoto é perigoso, devo me manter cautelosa.” 

Ela por vez prosseguiu até ele, o surpreendendo com um sorriso gentil. Ele por vez tentava desviar o olhar, não querendo que ela notasse seu rosto de choro. Ela então disse:

— E quem seria você herói?

— Acho que a piada sem graça de Hades. — Respondeu ele, enquanto se levantava limpando suas lágrimas.

— Você é um herói agora. Não devia deixar os outros rirem de você daquela forma! Você também é importante, todos tem seu valor... Você deve ter o seu.

— Acho que não sou digno de tais palavras princesa.

— Não precisa ser tão formal herói. Pode me chamar de Seraphina! E como eu devo chamá-lo, bravo herói? — disse ela, estendendo a mão.

“Nossa que linda. Ela é tão fofinha! Sério que ela quer saber meu nome? Bem. Que seja, né?” 

— Me chamo Aku. Aku Jima, mas pode me chamar como preferir.

Aku não podia desviar o seu olhar dela, estava encantado com sua beleza. Ele então segurou sua mão, se curvando e a beijando. O que surpreendeu Seraphina ao vê-lo beijar sua mão. Ele recuou e abriu um sorriso para ela, a qual ficou com as bochechas coradas.

— É-É, b-bem. A-Aku, né? Que nome diferente. Então, Aku Jima, meu nobre herói. Você irá lutar pelo reino? Irá lutar por mim?

Ela o observava com uma expressão pura e quase inalcançável. Um sorriso foi o suficiente para prender Aku, o fazendo dizer sem exitar:

— Sim. Tudo que a princesa desejar eu farei. — Se curvou perante ela.

Ela sorriu, e saiu o deixando para trás. Ele observava cada passo dela, seu corpo e seu vestido pareciam flutuar, seus movimentos suaves encantavam o ambiente. Ela já sumia no corredor quando disse:

— Uma das servas do castelo o levará aos seus aposentos. Até breve Sr.Jima, ou devo dizer… Senhor Herói.

A sua voz sumia no corredor. Aku já não mais parecia triste ou irritado, ele na verdade queria muito gritar de alegria.

“De repente meu corpo ficou mais leve!!” 

E para sua surpresa uma linda meia-humana com orelhas de raposa e cauda felpuda adentrou o lugar. 

Ela parecia jovem e possuía lindos olhos jabuticaba, estava vestida com um vestidinho de empregada. Ela fez sinal para Aku a seguir, logo  o conduzindo aos seus aposentos.

Eles andavam pelos corredores do castelo que parecia mais um labirinto. Um ambiente silencioso, mobiliado organizadamente, arquitetura chique. Embora Aku nem sequer prestasse atenção, seus olhos encaravam diretamente as orelhas da moça, as quais balançavam de um lado para o outro com seus movimentos, até mesmo sua cauda balançava.

“Uma Meia-Humana de verdade?! Eles existem neste mundo?! Existem mesmo?! Não é só um sonho?!”

“Ela parece aquela personagem. Nossa, quero tanto fazer carinho nessas orelhas fofinhas! Ela deixaria eu tocar em suas orelhas? Bem. Nos animes não é tão estranho pedir, né? Mas… Aqui é a vida real, ela pode achar que eu sou um pervertido.” 

Ele mesmo mudando de ideia, continuou a encarar, parecia realmente tentando se segurar. Embora não demorando para as palavras fugirem dele:

— Ahem. Bem… Qual o seu nome lindinha?

—... — Nem sequer olhou para ele.

— Seu nome… Poderia me dizer?

Ela virou para trás o encarando com olhos cansados e tristes. Ele não teve respostas, apenas o leve sorriso sem jeito que ela deu, aquela sua expressão deixou Aku mau. Os olhos dela pareciam tão cansados, e porque ela estava se obrigando a sorrir? Isso o fez falar:

— Bem. Já que não vai me contar... Vou te chamar de Mimi! Que tal?

Ela concordou com a cabeça. 

— Minhas costas estão me matando, Mimi. No fim das contas tenho 70 anos, o tempo passa depressa quando se é jovem. Lembro dos tempos em que eu corria para todo lado.

Ela por vez sorriu com a piada, um sorriso sincero desta vez. Ela mostrou com o sorriso algumas de suas presas pequenas, Aku sorriu também.

— Mimi. Sabia que você fica linda sorrindo?

Ela virou o rosto rapidamente, havia sido pega de surpresa. Por vez continuou a evitá-lo por um tempo.

— Sério mesmo. Deveria sorrir mais… sempre pode fazer os outros felizes com um bom sorriso.

—...

— Não vai falar nada mesmo? Certo então. 

Ele mais uma vez direcionou seus olhos àquelas orelhas fofas que balançavam de um lado para o outro. Seus olhos pareciam hipnotizados, ele acompanhava elas, de um lado para o outro.

— Ei. Vai parecer um pouco estranho. E entendo se não quiser, mas… eu sempre quis conhecer um meio-humano um dia, sabe? Antes eu só via vocês em mangás e animes. Mas ver um na minha frente… Nossa!! Eu não posso me controlar. Eu posso tocar nas suas orelhas?

Ela parou bruscamente, o fazendo esbarrar nela. Ele então percebeu que ela parecia um pouco inquieta, ficou com medo de tela chateado. Também não demorou para ficar envergonhado do que disse.

— De-Deixa quieto!! N-Não precisa. Só foi besteira minha... Ha-Ha-Ha. Desculpe…

Ele estava sem jeito, ela por vez se virou para sorrindo. Então segurou sua mão a levando até uma de suas orelhas.

“Hm? Então essa é a sensação?” 

Aku agora tocava suas orelhas, sentindo a pelagem macia. Começou com um toque nervoso, mas logo a agarrou por completo, acariciava aquele pelo macio.

— Hm-. — Mimi segurou sua boca tapando um gemido momentâneo.

Ela ficava corada de vergonha, ele por vez nem percebeu, apenas continuou. E com sua outra mão, segurou a outra orelha dela. 

“Tão macia… Tão macia.”

Ele aparentava estar gostando, sorria enquanto curtia cada segundo. Ela por vez também aparentava estar gostando, gostando até de mais. Ela suava, suas pernas tremiam, ela também parecia se segurar. Tudo corria bem até o momento que se escutou um breve gemido que escapou de sua boca. 

Aku a soltou rapidamente, um clima estranho ficou pairando no ar, pois ambos agora estavam envergonhados.

— Desculpe. E-Eu… É… D-Desculpe… — Ele estava nervoso, não sabia o que dizer.

Ela apenas apontou com o dedo para uma porta ao lado. Aku voltou a si, olhando os arredores, percebeu que apenas os dois estavam ali.

— Meu aposento? — Perguntou ele.

Ela por vez balançou a cabeça confirmando. Aku caminhou até a porta, agarrando a maçaneta e a girando.

— Que estranho. Esse lugar está bem acabado, né? Me pergunto se isso é um aposento digno de um herói. Embora, acho que entendo o porquê.

Quando ele olhou para o lado Mimi já sumia no fim do corredor. “Ela nem se despediu!” Pensou consigo quando adentrou o quarto. Minutos depois, lá estava ele, relaxando na banheira de madeira, totalmente perdido em seus pensamentos.

“A princesa é tão gentil! Além de muito bonita. Me pergunto se um herói tem chances com uma princesa?”

“Bem. Acho que me decidi. Assim como meu herói favorito, não irei desistir.”

“Não importa como ou o que seja preciso fazer... Irei ficar mais forte. Forte o suficiente para protegê-la e a todos do que quer que seja! Quem sabe eu possa até pedir sua mão quando concluir meu propósito?” Ele sorria consigo, imaginando um futuro para os dois.

“Amanhã vai começar um novo dia. Mesmo que minha classe e arma sejam ruins. Vai ser amanhã que minha história vai começar de fato.”

Ele olhou pela janela percebendo uma nuvem tempestuosa se aproximando.

“Eu vou dar o meu melhor nesse mundo! É como nos animes, só preciso dar tudo de mim. Eu vou sobreviver… E vou fazer eles me respeitarem, vão se arrepender.”

“Serei agora como meu herói favorito. Vou atrás de poder, mesmo que isso acabe comigo. Vou me redimir com os deuses, vou fazê-los me perdoarem pelo o que quer que eu tenha feito!  Não importa se fui castigado. Eu vou ganhar de todos. Vou salvar esse mundo, mesmo que seja sozinho.” 

Seu olhar era determinado, começando a se comparar a personagens de animes que gostava, acreditava que com o esforço e sua força de vontade iria longe. Talvez até virar Hokage?

***

Já com roupas novas e limpas, se dirigia à sua cama. Estava com uma camisa simples e calça desbotada e velha. Mesmo assim, não se viu no direito de reclamar, apenas as vestiu com pressa e foi deitar. 

“Bem. Até agora não fui acusado de assédio ou algo assim. Sendo assim, ainda está tudo bem. Toda essa merda rolando, nem se compara com as coisas que “ele” teve que passar.”

Sua mente ainda pensava em um personagem, isso talvez o traria mais esperança e mais confiança. Ao se deitar, percebeu que sua cama era desconfortável, ele não conseguia achar uma boa posição para dormir, sem contar o som dos cachorros latindo do lado de fora. 

Chovia muito naquela noite, depois de algumas horas uma goteira começou a pingar em seu rosto o acordando. Mas o pior com certeza eram os mosquitos que brigavam por uma gota de seu sangue, mesmo se cobrindo com aquele trapo velho, ainda assim, não estava protegido deles.

— Merda. Mas que diabos de lugar é esse?! Esses merdas não sabem tratar bem um herói? Droga. Não tenho escolha, tenho? — Respirou fundo. — Ah. Mas olhando pelo lado bom... Isso poderia ser pior.

A janela se abriu caindo ao chão, uma enorme onda de vento adentrou o quarto. Ele agora congelava de frio, seu lençol de trapos não o ajudava a se aquecer, Aku congelava aos poucos com as correntes de ar, tremendo com cada músculo de seu corpo. Se contorcendo aos poucos.

— Eu e minha boca grande.

Ele por vez invocou sua capa, assim a usando para se cobrir. Se abraçando com ela, a apertava com força.

“Até que não é tão ruim.”

Ele então encarando a janela, começou a chorar em silêncio. Aquela seria uma noite longa e desumana para ele…

 

Continua...



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