Last Downfall Brasileira

Autor(a): VALHALLA


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 48.7: A Investigação Do Aventureiro - parte 3

Liel olhou para o Peregrino Dourado e suspirou. Depois, pisou na sua tocha, apagando-a por completo e desta forma a escuridão voltou a reinar na viela. Ele arrastou o corpo desfalecido para dentro do beco, colocando-o perto da figura coberta pela manta negra.

— Precisava usar tanta força? — Ao tirar a manta, revelou-se Ramsdale, que muito rápido, enfiou dois dedos na garganta do desfalecido, removendo o sangue e desobstruindo a passagem do ar, e depois virando o corpo de cabeça para baixo.

O peregrino respirou.

— Se ele morrer, sem a gente descobrir nada, vamos ter enormes problemas. — O arqueiro completou.

— Se eu quisesse ele morto, você só estaria segurando a cabeça. Ele está aí, não está? Está inteiro, não está? Você queria um medalhão, não queria? Tem tudo aí, agora faça sua parte, beata velha.

O loiro riu baixo. 

— Canalha!

Mas até Ramsdale começar a revistar a túnica negra, Liel não havia feito nenhum movimento para ajudar o companheiro. Ele continuava parado, de pé ao lado do corpo estendido. Mas ao ver o cabo de uma arma por baixo do tecido preto, ficou curioso e disse: 

— Eu sempre quis saber o que esses malditos escondiam por baixo das túnicas.

Ele se abaixou, e depois de olhar, viu que era uma crava, então suspirou profundamente.

— Desapontado? — perguntou o arqueiro.

A base da arma era de madeira, com o gomo revestido de metal. Pelo olhar venenoso que o amigo lhe lançou, Liel pôde perceber que o mau humor, por ter feito o papel de beata, era enorme. Mas não iria dar-lhe o gostinho da alforria que desejava.

— De forma alguma. Na verdade, é até mais violento do que eu pensei, sempre apostei que fosse uma espécie de cetro dourado.

A mente dele pôs-se a dar voltas, pesando as possibilidades, tentando esconder a frustração de não encontrar uma boa espada, será que isso é tudo que esses malditos que oprimem o mundo possuem? perguntou-se, o Regente, sua arma também é um pedaço de madeira? 

Tentando descobrir se essa possibilidade seria uma vantagem ou uma desmotivação para a missão, lembrou da principal força de combate do Círculo Dourado, dizem que as Pilastras são tão poderosas quanto os aventureiros de classe S, ele passou a mão pelo cabelo loiro e se levantou, qual será as armas que usam? Depois dessa crava, não espero mais nada. 

— Diga-me — perguntou Ramsdale, pegando o medalhão que achou enfiado por dentro na túnica do peregrino. — Você está pensando que esse pessoal não é tão forte quanto fazem parecer?

— Acho que é isso.

— Hum... não deixe isso abaixar sua guarda. Em qualquer jogo de tabuleiro, há as peças descartáveis e as peças principais. Você terá a luta que tanto quer.

Ele levou o medalhão próximo da vista para ver os detalhes, já que na escuridão era difícil averiguar as principais características para uma possível conclusão. Logo percebeu que tinha uma fina película feita de pele curtida no sangue de gremlins, que envolvia todo cristal, e que lhe dava a tonalidade azul, que era comum nos itens de proteção.

Ao remover um pedaço de pele, e por baixo revelar um cristal de cor verde-vibrante, somando a isso os detalhes do formato e o contexto daquela missão, tudo fez sentido para a mente vertiginosa do arqueiro.

— Então era por isso a cor azul pálida. Veja, meu amigo, essa gente é mais sorrateira que a aranha bolha-amarela.

— Ah, que isso? Todos sabem que esses malditos não valem nada.

Liel encolheu-se, dando um sorriso de quem não estava entendendo aquela descoberta. Ramsdale o encarou, enquanto ele disfarçava correndo a mão pelo cabelo loiro.

— Ah, certo, veja aqui, estou falando do cristal do medalhão! — Ele explicou, enquanto tentava recolocar da melhor forma possível o pedaço de pele que havia arrancado. — Isso não é um cristal de proteção, ele é do tipo repelente-equivalente.

Houve um momento de silêncio para Liel digerir aquela informação, só que não adiantou nada, porque perguntou ainda mais confuso:

— Por que eles usariam uma coisa dessa? Isso só é vantajoso para os domadores de feras, é inútil se não tiverem o cristal transmissor.

Ramsdale iria arriscar uma piada baseada na confusão do amigo, só que se deteve ao perceber que ele estava confuso de verdade.

— Você já tem a resposta. Já falei outras vezes: tudo que precisa para enxergar com clareza é ligar os pontos das informações. O chefe ancião não falou que os ataques e mortes cessaram quando o círculo chegou na vila.

Liel soluçou de raiva e chutou com violência o peregrino desacordado.

— Esses covardes chegaram a esse ponto?

— Os indícios são fortes. Pensando bem, não sei…

— Vamos expô-los, e que a justiça da Guilda dos Heróis caia sobre suas ações covardes.

— Não. Este arranjo nesse cristal foi de primeira classe. É certo que tenha o envolvimento da cúpula do Círculo Dourado, até mesmo os dedos do Grande Pai podem estar nessa sujeira. — O arqueiro apressou-se em explicar.

— Se você ficar com medo, acho que seu cérebro vai parar de funcionar — O loiro explodiu. — Você disse que os indícios são fortes.

— Ferradura de unicórnio, Liel, acalme seu fervor, ou vai atrair problemas. Além do mais, indícios não são provas, e a Guilda nunca irá fazer justiça contra o Círculo Dourado apenas com base na palavra de meros aventureiros de classe D. Para piorar, não temos a justificativa do porquê o círculo depositária tanto esforço numa vila sem importância.

Então o corpo do arqueiro teve uma súbita elevação de temperatura, daqueles tipos que ocorrem quando uma pessoa encontra a resposta para todos os problemas num tiro só. Ele segurou a respiração por um segundo, e depois soltou o ar com um suspiro prolongado. — Ah... acho que sou tão tapado quanto você, meu amigo, é isso, agora tudo faz sentido — comentou tão baixo, que mesmo o companheiro na sua beira, não ouviu de forma nítida.

Ele colocou com cuidado o medalhão no lugar, por dentro da túnica do homem desacordado.

— Eu não entendo. — Liel ficou ainda mais confuso, assistindo à reação inusitada do arqueiro, e sabia que aquilo era sinal que ele havia chegado a uma conclusão. — Você diz que precisa de provas, mas está deixando o medalhão de lado.

— O que faço, então? Ah... eu não quero que o Regente saiba que descobrimos seu segredo, senão as coisas vão ficar muito mais difíceis. E não quero que os aldeões sofram mais.

— Estou pensando. Não quero deixar essa descoberta para trás. — Liel franziu a testa e coçou o queixo. — Mas também não posso carregar esse cara para cima e para baixo. Seria complicado demais.

Ramsdale levantou e colocou a mão sobre o ombro do companheiro, até que olhou para ele com ar vitorioso.

— Eu sei que a sede de cravar a espada no coração do Círculo Dourado é forte. Mas acredite em mim, amigo, terá essa chance. A nossa missão mudou, não é mais de extermínio de monstro; agora é um resgate!

— Como assim? — Liel piscou várias vezes, tentando acompanhar o raciocínio do arqueiro.

— Para esse tipo de cristal funcionar, além do transmissor, é necessário algo de grande valor para a fera subjugada. Se a gente encontrar, seja o que for, vamos ter todas as provas necessárias para uma grande festa, e o prato principal será o Círculo Dourado.

— Certo, eu vou fazer esse miserável falar nem que tenha que dar um nó em sua língua. — Empolgado, Liel ia agarrar o peregrino desacordado pelo pescoço.

— Esqueça esse maldito, você enfiou a cara dele na viga de madeira com tanta força que é bem provável que nunca mais volte a falar. Vamos nos encontrar com Clint e bolar uma estratégia de ação. A vila não é grande, será fácil encontrar o esconderijo.

— Muito bem!

Liel deu outro chute violento nas costelas do homem desacordado. Desta vez ele usou tanta força que foi capaz de ouvir o som de ossos se partindo.

Ramsdale olhou-o com repreensão.

— Ora, o que foi? Só quero ter a certeza que não está fingindo.

◈◈◈◈◈◈

Pela manhã, Liel engoliu os protestos e enfiou sua espada na guarda em sua cintura. Mostrou para Ramsdale que não concordava com a passividade dele, olhando-o de cara fechada, para que não tivesse dúvida.

Com tudo que viu e ouviu na noite passada, era difícil controlar os seus extintos.

Por fim, aceitou as sugestões do arqueiro e o grupo de aventureiros deixou a choupana que o chefe ancião lhes arrumou para que passasse a noite, pegando o caminho para o centro da vila, onde havia um grande alvoroço.

— Segure esse mau humor para si. — Ramsdale avisou para o amigo. — E mantenha a espada na sua cintura. Agora é a oportunidade perfeita para testar minha teoria.

Quando chegaram no centro da vila e se misturaram com os camponeses, Liel olhou em volta. Havia grupos de pessoas aqui e ali, encolhidas e cochichando, ou tentando entender o motivo pelo qual foram tiradas de suas casas tão cedo pelos Peregrinos dourados.

Ele não tinha a menor ideia do que os malditos planejavam, mas por causa do que seu grupo fez durante a madrugada, não seria de estranhar que fosse alguma forma de retaliação. Aliás, as caras de poucos amigos dos peregrinos indicavam que não estavam felizes.

Liel franziu a testa ao ver Sebastião, o Regente, sobrecarregado de ódio abrindo passagem através das pessoas, andando de um modo estranho, firmando os passos com força sobre o solo, duro, como se estivesse carregando uma tonelada de peso sobre os ombros. Ele subiu no palanque, tomando a frente, pronto para discursar.

— Que cara é essa? — perguntou Clint para Ramsdale. — Está muito animado.

— Ah... isso é empolgante, não vê? Quero muito ouvir a desculpa que ele vai inventar.

Ao ouvir isso, Liel percebeu que o arqueiro havia colocado algum de seus planos em execução e com nenhuma preocupação se alguém pudesse perceber, o que deu nele? perguntou-se.

— Desembucha, maldito, o que está acontecendo? — Ele perguntou, indignado pela sensação de perigo no ar.

— Ora, meu amigo, só vou conturbar um pouco as coisas! — Ramsdale sorriu.

...



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