Last Downfall Brasileira

Autor(a): VALHALLA


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 7: O Protagonista e a Guilda dos Heróis

Pouco menos de um dia e meio de viagem, através de uma densa floresta, Guilherme chegou na cidade de Carrasco Bonito. Durante o caminho, ele ouviu do carroceiro um comentário que todo o império brotava como erva daninha em meio às árvores.

Não sabia dizer se foi só exagero de alguém ressentido ou tinha fundos de verdade, mas ao conhecer a primeira cidade daquele reino, sentiu seu corpo estremecer.

O sol tinha acabado de despontar no horizonte.

O lugar era todo cercado por densa floresta, como uma cidade engolida pela vegetação.

Ainda assim, poderia chamar esse agrupamento de construções de cidade, só nisto, a diferença com o vilarejo Folha Seca era visível e também, o tamanho e estrutura era de admirar, não tinha nem comparação.

Tinha os pontos negativos, como muita sujeira e os córregos de esgoto ao céu livre. Mas existiam casas e outras construções elevadas, todas feitas numa mistura de madeira e alvenaria, que já traziam certa dose de contentamento ao coração do rapaz.

Havia também as choupanas, mas apenas em volta da área central, um pouco afastadas, onde camponeses cuidavam dos rebanhos de criaturas parecidas com ovelhas, só que a pelagem era de cor amarela.

Havia vielas sombrias, ruas movimentadas e estradas que se perdiam floresta adentro.

Uma dessas estradas era especial, muito mais larga e bem cuidada. Ela se conectava numa estrada principal que se dividia em outras duas estradas, uma seguia por dentro da floresta fechada na direção do Leste, a outra seguia para o sul, e que ainda que fosse cercada pela vegetação, o terreno era mais descampado.

É bom ver um pouco de civilização, ainda que seja um vestígio da era do bronze.

Me sinto o Tarzan! Cadê minha Jane?

OOOHHHH!

rsrs.

A segurança era forte. Agrupamentos de dois a cinco guardas patrulhavam as ruas.

Suas armas eram machados duplos com as pontas dos cabos pintados de vermelho. A roupa era uma túnica vermelha e curta, com mangas longas, calças cinzas e botinas de couro. Uma malha de aço cobria a cabeça até a cintura, só ficavam destampados os braços e os olhos.

Um elmo almofar liso protegia a cabeça. Era impossível identificar o rosto por baixo de tanto metal.

Vou passar longe.

Eles são mais preparados, também assustadores, que os guardas do vilarejo Folha Seca.

Mas não há dúvidas, são do mesmo regimento: pontas vermelhas.

Esses não devem pendurar, eles devem arrancar as bolas dos inimigos.

É melhor ficar fora do caminho deles…

Sim senhor!

Um sutil incômodo pinicava a mente de Guilherme, um clima de secura e fome. Havia muitas pessoas miseráveis se arrastando pelos cantos.

Embora as pessoas de melhores condições daquele lugar continuassem com suas vidas, independente das tantas outras magras e imundas, a atenção geral voltava-se para o rapaz sem jeito e curioso.

— Pedra, têm miseráveis demais nesse mundo. Eu voltei para a Terra?

— Isso ter incomoda, herói? Vida irá consumir vida. Independente da realidade, isso não vai mudar.

Bem…

Não é diferente de tantas cidades na Terra.

Aff!

Não quero ficar olhando para tanta gente feia.

Eu queria um ISEKAI de fantasia encantador.

Droga!

Então, uma aura ameaçadora, envolta numa atmosfera de suspeita formada pelos olhos fundos e corpos magros das pessoas, quase destruiu a empolgação de encontrar uma cidade humana civilizada — parcialmente civilizada.

Criou uma sensação ruim, de perigo, como se a qualquer momento alguém fosse arrancar um pedaço seu.

A sensação piorou ainda mais ao encontrar escravos sendo açoitados com crueldade, eram demi-humanos, uma variação puxada de porcos. Eles eram obrigados a arrastar toras de madeira.

Guilherme observou, aterrorizado, enquanto os homens-porcos imploravam por água e um momento de descanso, enquanto o chicote estalava cada vez mais forte.

Ele se esforçou para ignorar, precisava continuar para poder ajeitar sua vida, para depois poder pensar nos erros dessa cidade. Meio estabanado, meio atordoado, trombou em um homem velho e corcunda.

— Peço desculpas, bom senhor, sou um camponês que não sabe andar numa cidade tão bela — o rapaz aliviou temendo criar confusão. — O dia está quente, é um Bom dia! Não vamos incomodar os pontas vermelhas.

Guilherme havia lido muitos livros sobre cavalaria na Terra, por isso sabia como lidar com essas pessoas de cérebros atrofiados.

— É um idiota! Tenho pressa, e não me agrada a palavra com um moleque de barba rala.

O velho torceu o nariz, num gesto instintivo. Ele era o que se podia chamar de um perfeito rabugento. Custava-lhe muito responder a educação e os bons modos das pessoas em sua volta.

— Madrugou na vadiagem? Isso é hora de interromper o trajeto de um homem que vai passar o dia limpando um estábulo. Maldição, rapazes de crista baixa deveriam estar nas minas de Allahu nesse pino de sol.

Uma arrogância infinita que provocou calafrios em Guilherme.

— Sinto muito, não sou da cidade. Vou aproveitar da sua boa vontade, bom senhor. Onde fica a guilda dos heróis?

— Bahhh… logo se vê que é de fora, tão jovem. Aventureiro, hein? Família de posses? Você não é muito forte. Hum… é só curvar na próxima entrada, vai dar na Rua das Baratas, é só seguir nela, vai acabar com a cara no lugar, é o único prédio construído com pedras brancas, é bonito.

Ao ouvir a palavra aventureiro o velho mudou a expressão.

Os aventureiros nesse mundo são considerados heróis.

Hum…

Ele parece mais disposto.

As novels não tavam erradas.

Os aventureiros também devem ser uma casta super foda desse mundo.

Não errei buscar esse caminho.

Posso me aproveitar disso.

— Eu vou ser um grande aventureiro! Agradeço sua boa vontade, mas tenho outra pergunta, se não importar, bom senhor. Que estrada é essa?

Guilherme estava curioso sobre a estrada principal, mais preocupado em partir do que ficar.

— É a estrada da União-De-Ferro, orgulho do nosso glorioso império. Ela cruza todas as terras do país, e ao leste leva para a nossa magnífica capital: Vale De Aço.

— Sim, mas… e a estrada sul?

A expressão do velho mudou outra vez, agora, para traços de raiva.

— bahhh… lugar de má sorte. Vai acabar nas terras dos traidores. Me escute, jovem aventureiro, não vá explorar aquele inferno, lá, homens imundos fornicam com elfas perversas e criam pequenos demônios.

O velho desceu a rua bufando: — Elfas e pequenos demônios!

Guilherme coçou a cabeça. Na mente dele uma descrição tão negativa sobre a raça símbolo da fantasia, os elfos, não fazia sentido.

— Pedra, conhece essa estrada ou o lugar que alertou aquele rabugento?

— Não reconheço esse Império, não é da minha época, logo não conheço suas estradas, menos ainda esse tal lugar infernal. Toupeira cavando para baixo em busca da saída. É estranho?

— O que?

— A forma como o senhor falou das elfas, raivoso, lembro delas como criaturas da natureza, bondosas e puras.

— Hum… — Guilherme coçou outra vez a cabeça, com as duas mãos, na região da nuca.

O que está acontecendo nesse mundo?

Onde fui me enfiar?

Mas que nunca preciso encontrar a guilda de heróis para resolver a vida.

Minha segurança em primeiro lugar!

A tal Rua das Baratas, que apesar do nome sugestivo, era apenas uma grande avenida de comércio. Ela era curva de uma forma que tornava difícil ver mais à frente.

O comércio de rua fervia em negociatas e acertos. Barracas de frutas e verduras. Lojas de armamento e restaurantes.

Os escravos estavam por toda a parte, só que desta vez não reparou em nenhum humano ou outra raça, eram demi-humanos. Todos acorrentados e beirando a desnutrição.

Guilherme passou por uma barraca de carnes. Aos gritos, o açougueiro arrastava seu escravo, um homem com focinho e orelhas de cachorro.

A discussão era porque o infeliz havia comido um pedaço de linguiça sem permissão. O homem-cão olhou para Guilherme num desesperado pedido de ajuda.

O açougueiro apavorante não permitia o escravo reagir contra a situação, tal a submissão do infeliz.

O homem-cão parecia um brinquedo sem vontade, arrastado de um lado para outro, esmurrado, e atendia a ira do seu senhor, prestativo, sem reagir de forma alguma, além de implorar por perdão e chorar.

Foi um sofrimento tão grande para Guilherme ouvir os apelos desesperados, que os pedidos de ajuda haviam soado como gritos incoerentes.

O açougueiro colocou a mão esquerda do escravo num tronco e com seu cutelo, a decepou num golpe só. O escravo gritou e se contorceu tentando se livrar de suas correntes.

Depois do choque inicial, o açougueiro conseguiu fazer com que o escravo ficasse imóvel, olhou para Guilherme e sorriu, e então enfiou o cotoco do braço no fogo para cauterizar a ferida, em seguida chutou o infeliz para que voltasse ao trabalho, e depois pegou a mão decepada e disse:

— Espere, não sou um mau senhor, sei que está com fome. — Ele jogou a mão para o escravo. — Tome, pode comer isso.

Não, não, não… nem pensar!

Não vou me meter nisso.

Não!

Eu sou o herói.

Não, não, não, não, não.

Agora não posso fazer nada.

Desculpa!

Quando eu for um grande herói, vou acabar com a escravidão.

Vou trazer a justiça para esse mundo!

Guilherme apertou o passo, quase correu, e sentiu raiva misturado com nojo, mas, além disso, sentiu muito medo.

Não dá, não tem como eles descobrirem.

Essas roupas são apenas as de um camponês comum.

Não são as mesmas que os escravos usam… não tem como alguém descobrir que esse corpo foi de um escravo.

Estou seguro.

Mas se alguém reconhecer o corpo?

Droga, esse lugar é um inferno!

Guilherme passou a olhar duas vezes para todo o brasão que cruzava, figura ou rabiscos pintados nas paredes, porque tinha a certeza que se reconhecesse a figura daquelas roupas surradas, poderia se adiantar numa estratégia de fuga.

Mas por onde andou, para seu alívio, não encontrou nada parecido com o desenho do brasão. E então, relaxou o coração e por fim, encontrou a guilda dos aventureiros.

Era um prédio alto e construído com tijolos. Adornado com mármores branco e outros tipos de pedras. A porta era de madeira, sólida e pesada, mas não tinha nenhuma decoração extravagante, apenas um símbolo feito de aço.

◈◈◈

Guilda dos heróis é um nome melhor que de aventureiros.

Combina mais comigo.

Ao entrar, o interior lembrava uma alegre choperia, com muitas mesas grandes e retangulares, comida e bebida, muita fartura. Homens dançavam, outros disputavam queda de braço, alguns apenas observavam silenciosos. O clima daquele lugar era bem diferente do clima de escassez das ruas.

Havia mulheres, mas poucas, e na mesma situação dos homens, todas alegres. Tinha também algumas garçonetes incumbidas de fornecerem tudo que os ditos heróis gritavam.

Guilherme sentiu um cheiro gostoso. Seu estômago reclamou, queria sentar e aproveitar alguma delícia.

Parece porco.

Não!

É alguma carne com mel, mas o aroma está misturado com o fedor das ruas.

Será que é assim?

Esse é o aroma clássico que as novels de aventura medieval tentavam passar.

O bom é que posso me acabar na cevada.

Mas esse corpo é jovem demais.

Será que um adolescente pode beber nesse mundo?

Claro que pode, é um ISEKAI!

Eu posso tudo!

— Fecha a porta, ei, fecha de uma vez, está estragando o ar. — Um grito se dispersou no grande salão.

Guilherme fechou a porta, de fato o ar ficou muito mais agradável, e nada lembrou os horrores do lado de fora: a sujeira, a violência, os perigos e a escravidão.

Ele sentiu alegria porque era um lugar ao qual poderia se acostumar com facilidade.

Avançou devagar pelo salão e entre as mesas evitando esbarrar em qualquer coisa. Suas sapatilhas de couro deslizavam no liso e bem cuidado assoalho de pedra.

Os olhares dos outros heróis faziam estremecer seu coração dentro do peito.

Um homem grosseiro estava deitado sobre uma mesa do lado de um jarro vazio, parecia desmaiado de bêbado. Ele deixou escorregar uma das pernas que parou na frente do rapaz.

Guilherme deu uma rápida olhadela no sujeito: ele tinha cabelo azul e barba mal feita; usava boas roupas e luvas de couro preto, e nada era ligado a combate, mas flexíveis e ideias para movimentos ágeis; havia uma espada tombada numa cadeira.

Silencioso, Guilherme contornou a perna, vistoriando rapidamente o sujeito com o canto da vista. Como não viu nada de mais, e não tinha nenhuma agitação, ignorou e continuou na direção do balcão.

Após o rapaz passar, o homem abriu um dos olhos e começou a observar todos os movimentos dele.

Quando Guilherme chegou no balcão da guilda, sentiu que todos seus esforços valeram a pena.

— Sou a atendente da guilda dos heróis — disse uma garota linda. — É um prazer poder ajudar!

A ATENDENTE DE GUILDA

A atendente é responsável pelo bom funcionamento da guilda. A garota, que apesar do decote curto do vestido azul e os seios fartos que saltavam alegres, tinha uma aparência bem séria. O cabelo loiro e liso, que lhe caía sobre os ombros e os olhos azuis, que combinavam com o vestido, dava a seu rosto um aspecto feliz. O nariz era pequeno, a boca com lábios carnudos e as bochechas levemente coradas. Mãos pequenas protegidas por brancas luvas emborrachadas. Os atributos esperados para uma boa atendente da guilda dos heróis.

◈◈◈

Nossa, que gracinha.

Agora sim, porra.

Tá ficando com cara de um ISEKAI, sim senhor, ohh… se está.

O que vou falar?

Como era que os garotos populares da Terra faziam?

E ae gatinha, filezinho hein, a fim de uma baré e coxinha?

Não posso falar isso.

Já sei!

— Olá, doçura!

A saudação daquele rapaz trêmulo foi mal recebida pela atendente. Ele nunca entendeu que não era questão do que falava, mas como falava.

— Fedelho?!

Guilherme não sabia como lidar com as mulheres, nunca namorou, mal conhecia o cheiro delas. Mas ao chegar no seu mundo de isekai, tudo era possível, só precisaria ser confiante, afinal, tinha a certeza de ser o protagonista predestinado.

— Esse não é o jeito de falar com o herói desse mundo, minha pequena Azulzinha. — Ele se debruçou sobre o balcão e sorriu.

Não percebeu, mas parecia um grande idiota desajeitado.

— É mesmo, não me diga, e o que o herói deseja? — A Atendente elevou o ar da ironia.

Guilherme não estava arrependido. Foi correto tentar se aproximar da garota. Até porque, não conseguiria enfrentar a atração poderosa daqueles olhos azuis.

— Bem, Azulzinha, quero me inscrever na guilda.

Enquanto dava um sorriso malandro, Guilherme ouviu passos pesados se aproximarem dele por trás.

— Ela não é Azulzinha, respeito, ela é a atendente da guilda dos heróis da cidade de Carrasco Bonito. Eu não já lhe ensinei bons modos, hein, escravo?

Guilherme reconheceu a voz e estremeceu do topo da cabeça até as pontas dos pés.

— Calma, Liel. O garoto é um novato, só quer se inscrever na guilda — disse a Atendente.

— Liel? Escravo? O que é isso? É o camponês que você derrotou no vilarejo Folha Seca? — perguntou a pedra. — Veio em busca de vingança?

— Vou resolver — sussurrou Guilherme.

— Será que eu ouvi direito, tem certeza, Atendente? — Liel esboçou um sorriso raivoso, esperando esclarecer palavras erradas.

— E então, não é isso, garoto? — a Atendente perguntou encarando o rapaz pálido.

Guilherme nervoso, piscando incontrolável o olho esquerdo, respirava ofegante, suando por todos os poros.

— S-sim!

— Maldito, a guilda não é estabulo, onde se aceita escravos imundos!

— Escravos na guilda? — A Atendente se surpreendeu. — É inaceitável! No Império Tusso do Norte é proibido, esse país não admite escravos como heróis.

— Isso mesmo, este miserável é um maldito escravo que não conhece seu luagr.

— O que… — perguntou, ajeitando o cabelo loiro, a Atendente. — Como assim, Liel, explica direito?

— Ele é um escravo. Não faz três dias que dei uma lição nele e parece que não foi o suficiente. Eu cuido disso, dessa vez vou levar um braço como castigo.

Os aventureiros no salão se olhavam surpresos. O que Liel gritou, foi suficiente para fazer todo o lugar ficar em silêncio.

A imagem do homem-cão com a mão decepada por causa de uma linguiça invadiu a mente de Guilherme.

Droga, droga, droga, droga.

Esse furúnculo veio para essa cidade.

O que vou fazer?

Respira, respira.

Se acalme.

Não posso parecer um escravo encurralado.

Eu já cuidei dele uma vez, posso fazer de novo.

Ainda estou na vantagem.

— Não sou escravo! — afirmou Guilherme, se esforçando para não estremecer a voz.

— Sou um mentiroso, é isso, miserável? — Liel fechou o punho e avançou contra Guilherme. — Não quero o seu braço, vou levar sua cabeça.

— Alguém que acusa uma pessoa sem provas, o que é?

— Não preciso de provas. — Liel brecou surpreso e preparou um murro. — Eu vi você no vilarejo.

Faltando centímetros para Liel esmurrar Guilherme, surgiu um garoto e agarrou o braço dele.

— Desculpa, mas provas são importantes — disse o garoto, inseguro.

— Há? E quem é você?

— Desculpa agarrar o seu braço. Amassou sua camisa? Meu nome é Cristã, sou o escudeiro dos Gaviões Prateados. — O garoto soltou o braço de Liel.

De corpo prostrado, o escudeiro Cristã, não transmitia segurança, e parecia que iria fugir a qualquer momento, mas pertencia a um grande grupo: só isso era digno de respeito.

Classe A

Gaviões Prateados: Grupo de aventureiros da classe A.

Glória: Os membros são conhecidos por serem um grupo justo, honrado e sem esquecer, pela sensibilidade do líder.

◈◈◈

Cristã

Grupo: Gaviões Prateados.

Posição no grupo: Escudeiro.

Função: Combatente.

Glória: O chorão.

O rapaz parecia ter a idade de Guilherme, 15 anos, só que era mais baixo, tinha 1,65 de altura. Pele branca. Seu cabelo era castanho e liso, cortado curto e de forma oval, que dava a engraçada impressão de uma tigela virada com a boca para baixo. Usava camisa preta com mangas longas por baixo de uma malha de couro, luvas de couro leve, calças azuis e botas acinzentadas, feitas de pano grosso com solado emborrachado. A vestimenta terminava com ombreiras e avambraço de metal leve, apenas no lado esquerdo do corpo. Sua arma era uma espada curta e um escudo de madeira com base em metal.

◈◈◈

Guilherme assistia o embate entre Liel e Cristã, enquanto buscava uma forma de escapar dessa enrascada, sempre atento à menor possibilidade.

Mantinha as cortinas de sua mentira fechadas, temendo que algum imprevisto pudesse arruinar tudo, e não podia se esquecer da Atendente, embora ela estivesse ocupada com o tumulto na frente do seu balcão.

— Não faça nada com o garoto, Liel — ela avisou. — O grupo Gaviões Prateados não vão ti perdoar.

— Tudo bem. Pode chamar todos eles, enquanto eu e meu amiguinho resolvemos esse assunto.

Quando ia aproveitar para escapulir, Guilherme lembrou que precisava se inscrever naquela guilda, e temeroso de deixá-la sem saber sobre outra, mesmo podendo obter informações em outro lugar, permaneceu parado. 

Estava num clima de medo e tensão.

— Desculpa, não tenho medo. — Cristã agarrou o braço de Guilherme, que rompeu em um tremelique. — Vamos fazer o certo, não é, meu amigo? Um homem não pode ser acusado sem provas. Se quiser, pode ficar ao meu lado. A justiça está ao nosso favor.

— Herói, você precisa derrotar os injustos, senão, eles vão te perseguir por toda sua vida — disse a pedra. — A honra clama por uma resposta. Derrote esse inimigo junto desse bravo escudeiro.

Liel encarou Guilherme com ódio, parecia uma terrível fera.

No primeiro dia, Guilherme levou uma esfregada desse cara e disse para si mesmo que iria superar, lutando bastante e tentando adaptar-se.

Dali para frente, ele continuou a sofrer todos os dias e quase sempre se conformava, porque isso fazia parte da evolução, procurando se manter forte e superior, mas era difícil demais.

Não conseguiu ser melhor que o covarde que era na Terra. E não se atrevia a aceitar qualquer realidade oposta aos conhecimentos de suas novels, esperando sempre que uma solução caísse do céu.

Por fim, ele encontrou a guilda para guinar sua aventura e acreditou que tudo seria diferente, até que o brocuru do Liel apareceu para estragar tudo.

Nesse momento, pela primeira vez, ele só queria estar na sua casa, com seu computador e uma lata de refrigerante.

— Está do meu lado, amigo? — Cristã também tremia, não passava segurança nenhuma.

— Éeeeeeeeeeeee… 

A voz de Guilherme saiu sem força.

Que mundo de Isekai fudido…

Vou ser um saco de pancada?

Droga!

...



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