Volume 1 – Arco 1
Capítulo 30.4: A Preparação Para o Espetáculo dos Artistas Principais
Os gritos de agonia dos soldados e aventureiros cessaram tão rápido como se jamais tivessem existido.
— Humanos são frágeis demais — disse Zunnichi, o Sapo, despejando na terra uma parte da bebida do seu cantil, como forma de respeito.
— Ah, não acredito que você fez isso. Eles já estão mortos. — Wilgner, o Leão Branco, apanhou o cantil da mão do companheiro. — Passa isso pra cá, dá de beber para defuntos é tolice.
Ele bebeu o restante do líquido, e depois suspirou deixando os ombros caírem num intenso alongamento.
— Poxa, não sobrou nada deles. — Paulinha, Tubarão Cabeça Chata, colocou as duas mãos sobre a cabeça e fez uma cara de decepção. — Eu queria um osso do fêmur, até mesmo um cotovelo eu ia gostar.
— Hora, você pode ir lá cavar, deve achar alguma coisa — disse Edu Goétia, o Careca, saindo do sol para não queimar o desprotegido couro cabeludo.
— Eu não, careca desgraçado, as plantas da Menma vão me pegar. Odeio salada!
O chão se abriu do lado da garota e uma haste espinhosa surgiu trazendo um antebraço. O Tubarão Cabeça Chata olhou para a Tulipa e sorriu, pegou seu lanche e correu para a sombra da velha macieira.
— Tudo muito bom, mas não posso me demorar aqui — avisou Pedro, o Corvo Broxa. — Tenho hora marcada com uma Herbalista poderosa. Encomendei uma poção afrodisíaca para mim. Dessa vez vai, vai sim!
— Vai ser enganado outra vez, pateta. — O Careca disse baixo.
— Maldito… — O Corvo grasnou ainda mais baixo. Ele ouviu o comentário do Edu, mas fingiu que não escutou nada.
— Você merece um destino pior, velho! Ser enterrado vivo por falhar na missão é um castigo gentil para os fracassados. — Menma, a Tulipa Sangrenta, ficou ao lado de Zunnichi, sorrindo para a balança que não demonstrava preocupação. — Eu e o Sapo realizamos nossa missão nesse país.
— É verdade — explicou o Sapo. — Rastreamos o monge da Ordem Sacra até a região das minas ferro de Allahu.
— Fizemos nossa parte, enquanto o velho foi tapeado por uma ladra de nível bronze. — A Tulipa Sangrenta exalava um perfume azedo. — Quero ver o que Rose irá fazer com você.
Kamo Kroner, a Balança, enxugou as gotas de suor que teimava em fluir de sua pele enrugada, mas se manteve firme e disse devolvendo o sorriso:
— Suas ameaaaças, bruxa, não me assuuustam. Eu conheço sua fraqueza.
Uma veia na testa da Tulipa pulsou mais que o normal, quase rompendo a sua pele branca.
— Menma e Kamo vão rolar no mato. — Edu começou a rir, enquanto enxugava o suor que transbordava da sua careca lustrosa.
— Deixem o Kamo em paz. Todos sabem a forma que ele gosta de agir. Vocês se sentiriam melhores se eu dissesse que faz muito tempo que não rolo com alguém na grama. — Pedro lamentou, quase chorando.
Paulinha e Wilgner começaram a rir da forma que o Corvo contorceu a cara.
— Vocês estão brincando, mas ele deixou escapar o ORBE DAS TREVAS. Ele tinha nas mãos um dos tesouros de Synder og dyder, mas fracassou. Eu aposto que foi por causa da depravação dele; ele se deixou cair nos encantos da ladra.
— Kamo não é desse tipo de homem — disse Zunnichi. — Se acalme Menma, Rose ainda não tomou sua decisão.
Devagar e em termos que pudesse acalentar o mau-humor da Tulipa Sangrenta, A Balança explicou a situação e o porquê de não ter motivos para tanto escarcéu:
— Menma, veeeja bem: a ladra está sobre o efeeeito da minha magia; aquela pobre criaaança não podeeerá fugir de mim. É lamentável que tudo que ela possa faaazer é levar a morte para todos que ama.
— Isso não justifica sua falha. Vocês vão mesmo aceitar essas desculpas. A ladra pode morrer, pode ser roubada, há tantas variantes possíveis.
— A variante que mais me impressionou, foi a bela tulipa não perceber uma de suas pétalas murchas, enquanto se incomodava com os espinhos das rosas. — Uma voz ecoou da copa da macieira.
A enorme ira que Menma havia direcionado para Kamo durante os últimos minutos desapareceu no mesmo instante e a expressão de dúvida tomou seu lugar.
— Ele falhou e nada vai mudar isso — disse ela, olhando para a copa da árvore. — Então, porque questiona-me dessa forma?
Menma sentia-se um tanto confusa, que história é essa que Rose se referiu, isso de pétala murcha? Pensou, será que eu cometi um erro? Não pode ser verdade!
Então ela percebeu que Zunnichi a olhava, em seus olhos não tinham o habitual brilho de confiança, e sim preocupação. O coração da Tulipa disparou.
— Kamo, para onde a ladra vai fugir? — a distinta voz perguntou de forma calma.
— Para o Impéeerio Tusso do Sul. Seus passos estão sobre minha visão — afirmou Kronner, com convicção. — Eu vou cuidar daqueeela criança!
— Eu sei como é difícil para você ver jovens morrerem. Aquela ladra deve fazer você lembrar da sua filha. As memórias do incêndio retornam todas de uma vez. O fogo é capaz de devorar tudo.
Kamo enfiou a mão por dentro do seu albornoz e começou a esfregar com as pontas dos dedos uma velha carta.
— Eu vi com meeeus olhos a fome ensaaandecida do fogo.
— Você tem um bom coração, velhote, merece uma maçã. — Da copa da macieira veio uma fruta, madura e suculenta.
Kamo Kronner agarrou-a e agradeceu: — Sou graaato por sua compreeensão, Rose.
— Não gosto de maçã — Comentou o Corvo Broxa, vendo o companheiro animado. — Frutas me deixam com o estômago arriado.
— A senhorita? — perguntou a imponente voz, dessa vez para a Tulipa.
Menma ainda não conseguia compreender a repreensão que levou, e isso estava acabando com ela.
— Sim — respondeu. — Faz de conta que sou uma linda flor do seu jardim. Estarei ao seu lado, quando um problema enfrentar e esperarei até a situação terminar e você sorrir. Por isso, qual foi meu erro?
— É mesmo? Em questão de deixar escapar os tesouros, sua soberba, minha flor, é muito maior, porque deixou escorregar entre seus dedos duas relíquias preciosas.
A ansiedade da companhia deixou Zunnichi comovido, então olhando-a, lembrou a amiga sobre acontecimentos de dias atrás:
— O carma te alcançou. Você não foi poderosa o suficiente para evitar Valhalla. O garoto e a sua pedra.
Menma estremeceu, e um remorso intenso a invadiu após lembrar da face destruída daquele miserável dentro da Guilda da Caveira.
— Eu não entendo. Analisei a capacidade mágica daquela pedra e não encontrei nenhum resquício de vida. E o garoto só era um lixo mentiroso. — A Tulipa olhava para os outros artistas do circo, e sua expressão de inquisidora mudou para a de uma garota injustiçada.
— É o jogo dos Deuses: uma gigantesca barreira nada mais é que um graveto e uma simples poça pode ser a entrada para o infinito. — A voz que vinha do alto da macieira transmitiu paz. — O rapaz, num momento de desespero, contou sua verdade, não foi? Você, cega pela soberba, ignorou, não foi?
A imagem daquele miserável veio toda na sua mente, cada uma das desesperadas afirmações, como pude ignorar isso? O remorso dançava em sua mente, quem na verdade era o miserável?
— O garoto é um dos heróis e a fonte mágica são as trevas — continuou a voz do alto da macieira —, e a pedra é a besta lendária da sabedoria!
— Como você pode ter certeza, Rose? — O Leão Branco perguntou.
— Ah… porque eu dei uma boa olhada naquele coelho assustado!
Menma se prostrou de joelhos, e disse com os olhos cheios de lágrimas: — Eu fui uma grande tola. — Olhou para a Balança. — Peço o seu perdão, pois diferente do seu, o meu erro é digno de severo castigo.
Por um momento, Kamo Kronner ficou pensativo, mas acabou sorrindo. A dor daquela pobre Tulipa era demais para seu coração cansado. A menina já não se preocupava mais com seu orgulho e sim com o fato de mostrar-se arrependida.
— Você é uma criaaança ainda. Tem o meeeu perdão. Aprenda que os eeerros são uma curva na estrada, e o que impooorta é como será a sua quinada.
Menma cumprimentou o companheiro e sorriu.
— Eu estava junto dela na Guilda da Caveira. Poderia ter feito algo, mas não o fiz. Seu erro também é o meu. — Zunnichi tomou a frente. — Peço que divida o castigo comigo.
Um curto silêncio, seguido por uma movimentação nos galhos do alto da macieira, e então a misteriosa voz falou:
— Até onde eu saiba, não foi isso que aconteceu, não é, sapinho? Sei que está preocupadíssimo e quer ajudar a amiga. Parece que conseguiu comover meu coração. Você é um guerreiro de valor, por isso merece duas maçãs.
Duas frutas foram jogadas do alto da macieira para Zunnichi, e ele as agarrou. Logo depois veio outra maçã, que parou na mão da Menma.
— Essa maçã está doce, vai lhe trazer boas sensações. Você errou, mas não foi de todo ruim. O garoto ainda precisa sofrer mais para aumentar as trevas em seu coração. A besta da sabedoria, nessa altura do jogo, não serve de nada.
— Rose — disse Wilgner. — Se a tal pedra é a lendária besta, quer dizer que os heróis vão se mover, e o banho de sangue vai começar. É sensato deixá-la livre?
Wilgner também ganhou uma maçã.
— Rose, Rose! — Paulinha apontou para uma maçã da casca bem vermelha na ponta de um galho. — Eu quero aquela vermelhinha ali, que parece um pedaço sangrento de carne, no galho de cima. Vai ser uma boa sobremesa.
A garota tubarão ganhou sua fruta e ficou muito contente.
— Não me agrada isso, mas as regras do jogo são as dos deuses — continuou a voz. — Mesmo assim, o nosso bando está na dianteira porque conhecemos o paradeiro de duas partes do corpo, o coração e a cabeça. Independente dos corredores, iremos vencer a corrida, e Last Downfall será o grande prêmio.
— Não sei, tudo parece tão complicado. — A careca do Edu, quando voltou a tomar sol, ficou parecida com uma frigideira de ferro brilhante. — Seria muito mais simples matar o garoto e arrancar a pedra dele.
— Não funcionou com o Rei Sábio, e não funcionará agora. — A voz da macieira não alterou o tom, mesmo contrariada. — Aquele infeliz é o oposto da Rocha, talvez tenha sucesso onde o Grande Rei falhou.
— Esse rei foi nobre e corajoso, mas o garoto… — Tulipa não conseguiu terminar a frase porque lembrou da figura patética que viu na Guilda da Caveira.
— O garoto é um miserável! — Wilgner completou a afirmativa da companheira. — Em vez do sucesso, talvez ele vá ser um mal muito maior que o próprio Rei Sábio, a Rocha.
— Meus queridos artistas, acima de tudo, isso é um jogo. — A voz do alto da macieira foi suave no tom, porém, incisivo na intenção. — Quem faz as maiores apostas leva os maiores prêmios. Temos a vantagem e não importa o que aconteça, vamos conquistar Last Downfall, e recuperar tudo que foi arrancado de nós!
Todos os artistas comemoraram, menos o Wilgner, que ficou sério e pensativo.
— Eu entendo a empolgação de vocês, mas não é prudente, os outros bandos não vão ficar parados. Eu tenho novidades — insistiu o Leão Branco.
— O que suas borboletas contaram? — A voz mostrou interesse.
— Relataram que Os Olhos da Noite vão se mover, em especial, com um grande interesse em Anvilar.
— O reino dos ferreiros de pedra — perguntou o Careca, surpreso —, por que o bando dos morcegos estaria interessado nas cavernas dos anões?
— Ora, que pergunta besta — brincou Paulinha. — Os sugadores de sangue gostam de buracos escuros e úmidos, no mau sentido.
— Deixando de lado esse comentário, eu não tenho a informação do porquê. Mas não é só isso; os meus informantes me garantiram que o Conde Vlad Dracul tem o rastro de uma Varcolac.
— Impossível! — afirmou incrédula, a Tulipa Sangrenta. — Desde as guerras noturnas, essa maldita raça de vampiro foi extinta.
— Se é verdade ou não, também não tenho essa informação. No entanto, sei que o bando Cajado do Mago recebeu morada do Reino do Trovão, e o Círculo Dourado está com conluio com o bando Lâminas do Crepúsculo, e sobre os outros bandos, nenhuns dos meus espiões retornaram para dizer alguma coisa.
— Isso nãooo é bom! — Kamo olhou para a copa da macieira, como se esperasse palavras de alívio.
— Quais são os movimentos do Conselho das Guildas?
— Desculpe, Rose, não sei! Eu mandei um dos meus melhores bichinhos para vigiar o conselho, mas ele foi um dos que não voltaram para casa.
— Para o encarregado das informações, você não sabe de nada, branquelo leitoso. — Edu Goétia não ficou satisfeito. — Espião de buraco de goblin.
— Seu careca maldito, pode ficar com esse trabalho, quer?
Edu esfregou o topo lustroso da cabeça e chutou o chão, disfarçando a saia justa.
— Wilgner, ouvi uma conversa sobre um ser poderoso no continente além do grande lago salgado, é verdade isso? — Zunnichi perguntou empolgado.
— É bem sua cara… você quer tomar um navio e atravessar tanta água só para enfrentar alguém poderoso, não é? Bem, eu ouvi os boatos, e parece que é um feiticeiro morto-vivo.
— Um feiticeiro morto-vivo, nossa. — O Corvo Broxa parecia desolado. — Para um necromancer invocar uma dessas criaturas, seu poder tem que ser grande. Será um dos heróis?
— Ora, você melhor que ninguém sabe como são boatos, Broxa. Bem… não posso provar e nem afirmar nada, porém, pelo o que ouvi, a criatura não é a invocação de um necromancer, e sim, um Lich Ancião.
Houve uma longa pausa silenciosa.
Todos ficaram preocupados porque o espetáculo estava sendo montado num palco horrível. Então veio a voz do alto da macieira para tranquilizar os artistas:
— Quanta notícia ruim de uma vez, mas não é surpresa. Isso só é a prova que os jogos começaram, meus queridos. É verdade que não podemos vencer esses bandos poderosos na força, e os outros problemas são ainda piores, só que o nosso bando tem uma poderosa arma capaz de mudar o curso de qualquer desventura: a discrição.
— Você ouviu o que o espião de goblin falou. — O corvo continuava desolado. — Será impossível!
— Nós temos informações importantes, não esqueça disso, ainda estamos na frente nessa corrida. O bando Circo Horror irá vencer os jogos.
— Ah, não sei, dessa forma nunca vou quebrar essa maldição — disse o Corvo Broxa, dessa vez, chorando de verdade.
— Quer uma maçã para se alegrar?
— Não, Rose, sabe que detesto frutas.
— Que pena… dizem que no vale das fadas há uma poção feita da casca da maçã que é um excelente fortificante capaz de levantar até defunto. Ela é mais potente que os feitiços dos necromantes.
— Quero dez, por favor. — Pedro apenas estendeu os braços.
— O seu estômago vai aguentar? — perguntou Edu, se segurando para não romper as gargalhadas. Logo depois, ele também ganhou uma maçã.
— Que se foda meu estômago!
Depois que o Corvo broxa recebeu as frutas, se sentou próximo do tronco da macieira, na sombra, e começou a devorar uma após a outra. Durante o restante da reunião não se ouviu mais nenhuma palavra dele.
Uma pessoa pulou da copa da macieira e estava muito contente enquanto comia uma maçã. Sua camisa estava cheia de frutas maduras e suculentas.
✫ ROSE ✫
Bando: Circo Horror.
Artista: Mestre de picadeiro.
Função: Senhor da discrição.
Infâmia: A piada.
Recompensa: 5 moedas de ouro.
◈◈◈◈◈◈
Todos os artistas do bando do circo ficaram felizes.
— Já tomei minha decisão — Rose afirmou, sorrindo. — Kamo e Paulinha vão para o Império Tusso do Sul, vão coagir a ladra e fazer da vida dela um inferno. Mas lembrem-se de não exagerar, pois o orbe só será útil se for desperto.
— Muiiito bem!
— Huááá — Paulinha comemorou. — Viva!
— Eu sabia que ia gostar. É sua terra natal. Aquelas águas são bem claras e boas para um mergulho. — A Piada olhou para Zunnichi. — Você e Pedro vão ficar encarregados de caçar e eliminar os Heróis que se revelarem. Nada de cidades destruídas, por favor, sejam sutis para não chamar a atenção dos outros bandos.
— Maravilha! — Zunnichi estalou os dedos das mãos. — Finalmente uma missão em que posso me divertir um pouco.
— Hunhum! — Pedro estava com a boca cheia e não conseguiu falar.
— Menma e Edu vão rastrear as partes que faltam para completar o corpo. Wilgner, use o que for preciso, gaste o quanto precisar, mas quero seus olhos sobre todos os cantos do mundo.
— Quem vai cuidar do garoto e da pedra? — perguntou o Leão Branco.
— Como já disse, dei uma boa olhada nele, é o tipo de pessoa que gosto. Por isso vou cuidar do Sábio Miserável pessoalmente!
Menma sentia-se frustrada. O líder do bando não somente não a puniu por sua falha, como nem se incomodou em lhe mandar para uma missão distante daquele miserável e sua pedra. Não lhe deu a oportunidade da vingança. Lembrou-se então do comentário do sapo, a lei do retorno, o carma.
— Rose, eu imploro, me permita ir com você, me deixe acertar meu erro e fazer aquele garoto pagar por me ludibriar. — Os olhos dela estavam brilhando por causa das lágrimas. — Prometa que vai me deixar lavar a minha honra?
— Prometo, sim, mas você também terá que me fazer uma promessa.
— Qualquer coisa.
— Não poderá matá-lo. Sem lágrimas, está bem? Quero que você faça o possível para se mostrar uma menina corajosa. Sei que é pedir muito, mas pelo menos você tentará?
— Sim, não vou falhar!
Rose inclinou-se e beijou a testa da Tulipa Sangrenta, enquanto a garota enxugava as lágrimas dos olhos, o Sapo sorriu e a cumprimentou rapidamente.
— Muito bem, minha flor, você virá comigo. Tenho certeza que o Sábio Miserável lhe odeia muito, por isso será mais fácil brincar com a mente dele.
A Menma terminou de enxugar as lágrimas dos olhos e sorriu aliviada.
— Edu, conto com você, amigo, irá cuidar das outras partes do corpo sozinho, e se precisar de ajuda, peça ao Wilgner.
— Certo! — O careca não se mostrou incomodado, pelo contrário, tinha uma aura de confiança em volta dele.
— Os demais, sigam as minhas ordens. Vocês poderão usar os artistas de segundo escalão e quantos ajudantes de picadeiros acharem melhor.
Rose parou e mordeu uma maçã, então olhou para o horizonte. A lua vermelha já começava a despontar no céu.
— Queridos, quando o nosso espetáculo estiver encerrado, e as cortinas se fecharem, o mundo nunca mais será o mesmo.
Ele abaixou a cabeça e fez uma pausa, preocupado. — Tomem cuidado, não quero que nenhum de vocês morra.
Voltou a encarar o horizonte e sorriu. — É maravilhoso ver todos aqui, é muito bom olhar a cara feia de vocês outra vez. Hoje foi um bom dia, estou feliz.
Para comemorar, a Piada enfiou a mão dentro da cesta que virou a sua camisa, que estava cheia de maçãs. Ele distribuiu mais frutas para todos os artistas.
O bando ficou junto por mais um pouco de tempo, rindo e comendo. Eles falaram de todo o tipo de caso, fizeram com que o momento durasse o máximo possível.
Quem visse de longe, se não fosse a maligna aura e os albornozes neglos, iria pensar que aquela reunião se tratava de uma confraternização de bons amigos.
Então, antes do cair completo da noite, todos eles desapareceram.
◈◈◈◈◈◈
Algum tempo depois, a terra devolveu as armas e equipamentos dos soldados e do grupo de aventureiros da classe C, que haviam desaparecido buscando a velha lenda da macieira.
Aqueles homens nunca mais foram vistos e nenhum corpo foi encontrado. Então, na cidade de Boca dos Famintos, uma nova lenda nasceu:
“Quando as figuras sombrias estiverem reunidas, quem zela por sua vida, se manterá longe, porque as raízes da velha macieira têm fome por carne humana.”
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