Last Downfall Brasileira

Autor(a): VALHALLA


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 23.5: O Retorno do Aventureiro Humilhado - Parte 1

Liel parou na frente do belo prédio da Guilda dos Heróis, e naquele momento vários pensamentos passavam em sua mente.

Só que a lembrança que mais fazia seu sangue ferver era a do escravo mentiroso, o qual, dias antes, lhe deu algum prazer espancar e depois esfregar a cara dele na merda como o cão que era, só… como aquele cão fez isso comigo? Perguntou-se, seus dentes dentro da boca estavam a ponto de quebrarem por causa do atrito da fricção.

Na vila Folha Seca, aquele cão miserável implorou pela vida, chorou, e de certo lamberia a sola das suas botinas se assim o tivesse mandado. Por isso, o resultado da luta na guilda não descia por sua garganta, ainda mais, que a verdade estava do seu lado.

O pior foi que nem teve a oportunidade de sacar sua espada.

Todos os escravos são dessa forma, navegando no mar dos pensamentos, por um momento hesitou em continuar, quando eles sentem a corda envolta do pescoço e enxergam o brilho da lâmina do carrasco, é quando a verdadeira natureza veem a torna, agraciados com a miséria, e agindo sem honra.

O jovem aventureiro havia assumido que aquele rapaz era um escravo, porque ele usava vestes da escravidão e suas atitudes ardilosas deixaram claro sua naturesa porca, ainda mais, quando as pessoas estão em situações de superioridade nunca ocorria em suas mentes avaliar melhor a situação, nunca era considerado a visão dos humildes. 

Eu tinha meu direito, ele insistia nesse mantra, ainda assim, diante da grande porta da guilda, tinha dúvidas das origens daquele miserável, mas por que foi acabar daquela forma humilhante? Essa pergunta se repetia várias vezes na mente do jovem aventureiro, quem era aquele cão?

Ele não podia negar, não podia ignorar, não podia duvidar, a única certeza era que por causa daquele miserável a sua honra foi manchada.

É inaceitável! 

Não conseguia digerir que algo assim pudesse acontecer, e independente de quem aquele mentiroso pudesse ser, ele era um criminoso que anda disfarçado por aí, vivendo nas cidades de homens honestos, escondendo a verdadeira identidade.

Além disso, tinha a certeza de que o escravo estava buscando alguma coisa, talvez um tesouro, não tinha certeza, mas isso explicaria o desejo, desesperado, de entrar para a Guilda dos Heróis.

Ele não vai conseguir realizar a sua miserável ambição, vou arrancar sua cabeça e trazê-la para essa guilda, e todos verão que não sou um mentiroso, finalizou sua reflexão com um sorriso sem vida, seu sangue irá escorrer por esses degraus de pedra!

Liel correu seus olhos pelo belo prédio, passando pelas escadarias, janelas e as grandes colunas de mármore, até que parou no imponente símbolo feito de aço pregado na porta de madeira.

◈◈◈

— Você precisa acertar sua dívida com esse lugar. Eu entendo — disse Ramsdale, vendo a indecisão do amigo. — Mas ainda podemos ir para outra cidade, começar por outra guilda. Não há vergonha em buscar outro caminho. 

— Você também duvida da minha honra? — Liel ficou ofendido. — Neste lugar foi a nossa primeira derrota, neste lugar será a nossa primeira vitória!

— Honra, meu amigo, tem o valor de bronze na balança dos caixeiros. Certo, então vamos entrar de uma vez.

— Ramsdale, o que você acha que aconteceu com aquele maldito escravo mentiroso?

— Como vou saber sobre a estrada daquele escravo?  — O arqueiro pensou um pouco, então passou a mão pelo cabelo verde. — Eu ouvi boatos de um mercenário miserável, que é a chacota nas casas de comércio, tinha haver com uma criação de coelho.

— Uma criação de coelhos? — Liel, confuso, bateu no cabo da sua espada.

— Ora, são os boatos que ouvi — continuou o arqueiro —, também ouvi duas senhoritas, comentando, assustadas, que tinha um mendigo vagando pela cidade, as coitadinhas disseram que o infeliz estava muito machucado, tinha um profundo corte que riscava todo o rosto, tanto que parecia um morto que come-carne.

— Cabeça de couve, maldito, não quero saber de boatos!

— Boatos são informações, apenas, precisa ligar os pontos. Os únicos pontos comuns em ambos relatos, eram que o miserável carregava uma velha bolsa e um pingente de pedra no pescoço.

Liel arregalou os olhos e passou a mão pelo queixo, mas o foco do seu olhar estava distante. O astuto arqueiro não soube o que interpretar na feição do amigo, não sabia dizer se ele ficou decepcionado ou contente.  

— Bem… — Ramsdale passou a mão pelo cabelo verde, encostando o ombro na porta da guilda, e a madeira gelada causou nele um leve arrepio — teria sido mais rápido matá-lo quando o encontramos na vila Folha Seca.

— Eu posso fazer isso quando eu quiser, não é trabalho nenhum.

Liel tinha dito enquanto abria a pesada porta de madeira, e quando Ramsdale ameaçou protestar, ele levantou uma mão e bateu contra a porta.

— Chega! Não me importa o que aquele miserável faça. Eu vou arrancar a cabeça dele depois que resolver a nossa situação. — O rapaz loiro entrou determinado no salão da guilda.

Ramsdale não disse mais nada e acompanhou o companheiro.

◈◈◈◈◈◈

No salão da guilda, Ramsdale sorriu e bateu nas costas do amigo.

— Apenas pense, Liel, será mais divertido para nós quando dermos o fora daqui. O calor da estrada, viajar por todo o império, e ninguém se lembrará o que aconteceu. É uma boa estratégia.

Por parte dos outros aventureiros, naquele lugar, quando viram o grupo Manoplas da Força, houve um segundo de precipitação, então o salão irrompeu em risadas, mas Liel não tinha nem mesmo no seu rosto um sorriso torto.

Ele não suportaria essa humilhação calado, não se não tivesse que fazê-lo, que fosse o preço a pagar por sua estupidez.

A coragem de um aventureiro não podia ser questionada, e aquele jovem tinha sido corajoso a vida inteira, mesmo diantes as mais terríveis tragédias, Nat… pensou e respirou fundo, segure forte na minha mão e não solte por nada!

A maioria daqueles homens no salão balbuciavam a mesma coisa: — Lá vai o grande tolo que não sabe diferenciar liberdade de escravidão.

— Senhor aventureiro, eu juro, não sou escravo, sou um homem livre. — Um homem mais exaltado, gritou. — Você tem provas?

Naquele salão com os contornos de uma caverna, as risadas e provocações eram fortes e reverberantes demais.

Liel achou tudo aquilo inútil. Quando um bando de baderneiros se reúnem para tirar sarro da cara de alguém, não havia muito o que fazer, além de sacar a espada. Essa reação sempre foi muito mais efetiva. Mas ele já havia tentado usar a espada de forma desrespeitosa nesse mesmo salão, e foi o início do incidente que causou sua vergonha. Até mesmo um cabeça dura era capaz de aprender com os erros.

Sendo assim, independente de qualquer coisa, ele só tinha um objetivo no seu campo de visão.

Na extremidade do salão, era onde ele encontraria o quadro de missões, tão velho quanto as pedras escurecidas nas paredes daquele prédio.

No painel havia apenas um cartaz de pedido de missão:

Um tremor involuntário sacudiu a mão do aventureiro loiro que descansava sobre o cabo de sua espada.

— Só restou essa — disse Ramsdale.

— É, eu tinha imaginado que seria por volta disso.

Ramsdale olhou para o salão e viu que os outros aventureiros tinham parado de rir, e foi estranho, porque agora estavam todos ansiosos olhando para eles, como se estivessem apostando se pegariam ou não aquela missão.

— Talvez... — considerou o astuto arqueiro.

— Hum… o que quer dizer com isso?

Liel olhava o amigo enquanto ele refletia aquela situação, percorrendo os dedos pelo cabelo verde, e sabia que algo o estava incomodando.

 — São 40 moedas de bronze. É um bom prêmio para as classes G, D e C. Essas moedas resolveriam o nosso problema financeiro por um tempo, claro, se você controlar a fome do Clint.

— Não é hora de fazer piadas, maldita cabeça de couve.

Ramsdale olhou para o cartaz e disse:  — A missão é boa, no entanto, se é bom para nós, também é bom para os outros. Por que só sobrou ela?

— Isso importa? Ninguém precisa pegar bosta nenhuma. Uma é tudo o que a gente precisa.

— Os aventureiros não são obrigados a aceitar as missões, é verdade, ainda assim, é enervante não saber qual é o trabalho... quero dizer, qual é o tipo de criatura que vamos enfrentar? O valor é bom, mas como dão valor a algo que não tem nome?

— Cabeça de couve, não sei. Já ando com as ideias cheias, e você coloca mais abobrinhas. Só quero pegar a missão e dá o fora daqui.

Parecia que tudo ia dar errado, mas foi quando uma nova possibilidade resolveu o impasse. Uma das assistentes da guilda colou um novo cartaz no quadro de missões.

O novo cartaz:

Ramsdale suspirou.

— Só uma flor pra florir o meu jardim. — O arqueiro sorriu para a garota, que ficou corada e saiu correndo. — Bem.. — ele continuou, com prontidão — o problema foi resolvido. São menos moedas, mas matar goblins é um bom começo.

Liel suspirou de satisfação, feliz por chegar ao fim do impasse, no entanto, um comentário chegou aos seus ouvidos, tão fraco quanto uma brisa de outono, mas tão poderosa quanto uma tempestade capaz de abalar todas as suas estruturas emocionais.

— Não falei... são tão covardes como são mentirosos… — tinha dito a falácia.

Independente da boca de onde veio, o fato era que toda a situação, toda a razão, todo o bom senso do companheiro, tudo foi abafado, até que só sobrou um ruído, que se misturou com o cheiro de vinho e comida abundante do lugar.

Liel permitiu que o chiado invadisse sua alma e mudasse completamente seus pensamentos.

Era nesses momentos que o grande tolo vinha à tona das profundezas, o mesmo tolo que dias atrás foi responsável por criar a confusão que deu origem a fama negativa de seu grupo de aventureiros, o mesmo tolo que permitiu que ela morresse, não serei fraco, pensou, nunca mais! 

— Não seja idiota — disse ele, de uma forma bem expositiva, e arrancou o cartaz da missão sem nome. — Não vamos pegar uma missão que paga pouco se tem outra que paga muito mais. É tão inteligente, meu amigo, mas não é bom em matemática simples.

— Mas… — Ramsdale tentou contradizer.

— Já me decidi!

Se forçando a dar altas risadas, Liel foi na direção do balcão da guilda levando junto, e apertando com raiva entre os dedos, o infame cartaz.

...

 



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