Last Downfall Brasileira

Autor(a): VALHALLA


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 23: O Protagonista Solitário

Para não cair, Guilherme encostou-se no balcão, na Guilda da Caveira, mantendo a sua pedra apertada na sua mão. Por que aquela situação, de repente, tinha o ar de uma tragédia do que de salvação?

Ele se esforçava para conseguir ver algum rosto dentro daquele capuz, e só via escuridão.

A situação só piorava.

Talvez fosse o cansaço e a solidão que o deixou tão preocupado.

Não era isso!

Eu sou um cabaço miserável!

A pedra avisou para eu nunca contar sobre ela, quem eu era e Last Downfall.

Sim, ela avisou.

E você ignorou.

Todavia, sua vida não pertencia mais a ele, pois havia feito uma aposta e teria que arcar com o resultado. Só poderia jogar da melhor forma possível.

— Acredite em mim, sou especial! — disse ele, ainda com uma esperança que pudesse provar seu valor.

— O que adianta só palavras? Ah, criança, claro que é especial, então me diga tudo sobre a sua pedra.

Tulipa de Sangue largou a coxa do rapaz e encostou-se melhor na cadeia, de uma forma que pudesse contemplar por completo aquele corpo em decadência na sua frente.

— Sim, claro, vai ficar surpresa. Essa pedra é uma besta lendária, é a verdade, um deus deformado, metade gente e metade cabra, Skog, me tirou da minha casa e garantiu que seria eu a conquistar LAST DOWNFALL!

— Deuses? Hum… ele afirmou, ou fez uma oferta? Criança tola. Quero tocar na pedra!

— Claro, tudo que falei é verdade. Vai ver!

Guilherme estendeu a pedra para a misteriosa figura, que não demonstrou nenhum sinal de hesitação.

A mulher pegou a pedra entre os dedos, moveu de um lado para outro, olhou cada detalhe do material oval e rochoso. Com isso a mão dela ficou à mostra.

Guilherme conseguiu distinguir bem a tatuagem, acima do polegar da mão esquerda: O PIERROT.

A mulher fez alguns movimentos com as pontas dos dedos e proferiu algumas palavras que o rapaz não conseguiu ouvir.


Guilherme viu um quadro mágico pairar no ar, semelhante ao dele, quando usou suas habilidades. Ficou confuso. Porém, o que foi estranho era que ninguém naquele salão reagiu surpreso, era como se ninguém estivesse vendo aquele letreiro luminoso, além dele.

O que?

Ninguém acha isso estranho?

Não… eles não tão vendo.

Mas por quê?

Finos talos verdes, semelhantes a cipós saíram da manga do albornoz e envolveram por completo a pedra, então pequenas folhas verdes brotaram, para em seguida amarelar, para murchar e cair ao chão, secas.

Os talos verdes libertaram a besta da sabedoria e voltaram para dentro da manga.

Por fim, a mulher perdeu o interesse, soltando a pedra que foi parar de volta sobre o peito do rapaz estonteado.

Ela se levantou da cadeira e, usando o próprio corpo, o espremeu ainda mais contra o balcão.

Pela proximidade, Guilherme sentiu o cheiro exalado da mulher, não lembrava mais flores de um funeral, agora tinha o aroma gostoso de flores silvestres, tulipas, como o de um florido jardim.

A pressão que sentiu comprimir o ar e esmagar o seu corpo momentos antes, aumentou de forma considerável, e não conseguiu respirar mais.

— Não encontrei poder mágico nesta pedra… não encontrei nada.

A mulher segurou o rosto dele, e enfiou fundo o dedo dentro da ferida inflamada, até onde dava para se aprofundar. Chegou a encostar no osso da face.

Guilherme sentiu uma dor lacerante. Parecia que tinha a face rachada pelo machado do Cão Molestador. Pus fétido manou da ferida, escorrendo pela bochecha e descendo através do pescoço.

— Se não tratar esse ferimento, vai gangrenar. Irá perder esse olho esquerdo… mentiroso miserável.

O rapaz se sentiu preso numa gaiola, mantendo o seu grande acervo de mentiras apertado dentro do peito, mas, dessa vez, não mentiu. Isso foi o maior golpe de todos.

A Tulipa chegou com os lábios bem perto da orelha esquerda dele e disse suave, ainda assim, ameaçador:

— Você me deve um morango!

Depois tirou o dedo de uma vez só de dentro da ferida. A dor que infligiu no rapaz foi ainda pior, parecia que uma parte dele estava sendo arrancada.

Depois ela se afastou rápido, se misturando entre os mercenários no salão que até então, apenas observaram toda a situação, encolhidos e calados.

— Façam o que quiserem com ele, cães malditos. Não tenho interesse em mentirosos — ela disse para os homens.

Nervoso, Guilherme pôs-se a sacudir e bater a pedra contra o balcão, tentando fazer sua besta dar algum sinal de existência.

— Não é mentira, ei, não é. Eu lembro de você, é a mulher daquela vez, agora eu sei. Ei! Pedra, pedra, fala alguma coisa, maldita, dê algum sinal, eu imploro. Droga, fala alguma coisa, fala…

Não houve nenhuma reação da sua besta lendária.

Você não aceita que essa é a minha grande oportunidade?

Não é?

Será que você me despreza tanto assim, pedra?

Eu fui tão miserável assim?

Sem pensar, movido pelo instinto e desespero, Guilherme apanhou a cadeira e, parecendo um louco, foi atrás da misteriosa figura, e arremessou-lhe o móvel com toda força que conseguiu reunir, só que não voou meio metro e caiu no chão frente ao pé de Pem.

Todos ss mercenário e bandidos cercaram o rapaz e começaram um brutal linchamento.

Débil, Guilherme viu a si mesmo girar sobre violentos socos, chutes e desejou que toda essa dor acabasse, porque não aguentava mais ter que continuar, não queria mais sentir dor.

Após a série de golpes, como um saco vazio, ele desabou sobre os braços de Pem, ficando ali, olhando-o como um maldito miserável, rodeado por vários homens sedentos por sangue.

— Você era tão lindo, coelhinho. Um belo rosto e um corpo gostoso. Se tivesse entrado para meu bando, teria sido bem divertido. — Pem levantou o machado. — Vou arrancar sua cabeça e pregar ao lado da caveira vendada na porta da guilda.

— Faça, faça… droga, parem de ameaçar — disse Guilherme, completamente entregue ao desespero. — Por favor, me matem!

Pem forçou os olhos, sem conseguir se livrar da sensação ruim que o consumiu. Não que ele tivesse se arrependido, ou tivesse notado algo diferente, até mesmo pena; não foi nada disso.

O Cão Molestador sentiu repulsa daquela figura tão deprimente diante dele, tão descartável, tão nojenta que lhe embrulhou o estômago.

— Você não merece ser morto por uma lâmina. — Pem deu um soco no rosto de Guilherme que o lançou ao chão. — Vá morrer numa vala junto dos ratos!

Ele chutou o corpo do rapaz, depois outro e outro, parecia brincar com uma bola levando-a para a saída da guilda.

Guilherme sem forças e parcialmente nocauteado, apenas rolou, de fato, como uma bola murcha.

Por fim, o rapaz foi jogado para fora do lugar, com a mente destruída, o corpo doente e o coração sozinho.

Ele caiu na rua, e por um tempo não quis se levantar, e quando tentou, não conseguiu. O sol queimava a sua pele, a ferida do rosto ardia.

— Pedra, por que não falou nada? Você me abandonou mesmo? É isso, diga alguma coisa, por favor.

Guilherme esfregou a cara no chão quente enquanto era sugado para a toca do coelho.

Só eu posso te ouvir, afinal.

Não adiantaria nada você falar, não é mesmo.

Até nisso, se preocupou comigo.

No momento que aqueles animais percebessem seu valor, eles iriam me matar.

Iriam jogar meu corpo num buraco qualquer.

Eu nunca tive valor.

Nunca fui especial.

De qualquer jeito, não havia esperanças para mim.

Pedra, sinto sua falta. Estou tão sozinho.

Não me deixe sozinho!

Não, não, não…

Eu sou o mesmo fracassado da Terra.

Mudar é difícil, não é mesmo, meu amigo?

Pedra!

Sem perspectiva, tentando se levantar do chão, ele começou a se rastejar pela rua e a fazer o máximo de esforço que podia, até que, conseguiu ficar de pé, parecendo um espantalho.

Andou devagar, descendo a rua, enquanto limpava o sangue que escorria das feridas abertas em sua cabeça, apoiando as mãos nas paredes das casas pelo caminho. Então, sem perceber, as paredes acabaram e caiu dentro de uma viela, e lá desmaiou, perdido numa fria e solitária escuridão.

— Você não é mais aquela criança feliz. Eu sinto tanto que tenha que passar por isso. Oh, meu garoto, a dor só está começando.

Era a voz da pedra, era uma lamúria, era uma cantiga baixa, e então, uma lágrima surgiu na face rochosa.

— Eu tentei fazer o melhor, mas quebrei minha promessa. A minha vergonha é grande demais. Esse tinha que ser seu paraíso dos sonhos, Guilherme, a sua ilha do tesouro, a terra do nunca… esse mundo era tão lindo.

— Pedra, é você? Não me abandone também, por favor, não quero ficar sozinho — o rapaz resmungou inconsciente, e depois caiu de vez na profunda escuridão.

Não!

A pedra também me abandonou. Todos me abandonaram…

Até você, meu velho amigo.

coelho.

◈◈◈◈◈◈

As Duas Figuras Sinistras

Algum tempo antes.

Dentro da guilda da caveira, enquanto Guilherme era escorraçado, outra figura sinistra assistia o espetáculo.

A mulher misteriosa se aproximou do sujeito, que também vestia um albornoz com capuz negro semelhante ao dela.

Aquele ser tinha o corpo mais robusto, e maior do que a mulher, pelo menos um metro de diferença.

Guilherme foi arremessado para fora da guilda.

— Bhahhh… infeliz rapaz — lamentou o misterioso ser, ele tinha uma voz áspera.

— Aquele miserável não é uma bela flor. É Lixo, e deve ser tratado como lixo, nada mais justo, nada menos certo — disse a mulher, sem vacilar a voz. — Não suporto mentirosos.

— Você fica nessa de comparar as pessoas com flores. Existe muita coisa sobre a natureza humana que deve permanecer obscurecida sob forma de ética.

— As flores não traem, e só diz isso porque não é humano.

— Não sou, mas vivo entre vocês. Bhahhh, esquece… diga-me — rosnou a criatura, brincando de modo ameaçador com o imenso braço alisando o ar. — Fez certo dispensá-lo assim, aquela pedra não é um dos tesouros de Synder og dyder?

— Não há dúvidas — ela afirmou. — Usei o meu feitiço de percepção mais poderoso. Não senti resquício de vida ou poder mágico naquela pedra.

— Se algum feitiço mais poderoso reprimiu sua magia, bruxa?

Para aquela mulher, ser enganada naquela situação era inconcebível, e a insinuação lhe causou uma reação incontrolável. Sentiu a ira dominando seu corpo, mas não era por causa das palavras do companheiro, e sim porque sua mente acabou imaginando a possibilidade de ser tapeada por aquele miserável garoto.

Ela contraiu-se em espasmos, emitindo sons que pareciam contidas risadas.

A outra figura misteriosa a encarou, enquanto a companheira se contorcia de emoção dentro do Albornoz negro.

— Aquela pedra, ou aquela criança, ou alguma outra coisa nesse chiqueiro imundo capaz de me ludibriar? Impossível! — ela disse entre risos. — Aqui só têm porcos! E aquilo era apenas uma pedra sem valor.

A mulher olhou para o salão da guilda e completou:

— Até porque, mesmo se algo nesse lugar fosse habilidoso o suficiente para usar um feitiço de bloqueio capaz de suprimir minha magia sem eu perceber. Zunnichi, meu querido, nós não poderíamos vencê-lo. Para derrotar um monstro desse nível, só com a ajuda do líder.

Houve um momento de silêncio, enquanto a imensa criatura digeria a possibilidade da empolgante batalha. Uma cauda começou a crescer e sair por baixo do albornoz, a pele era repleta de escamas esverdeadas. As escamas estavam todas eriçadas. Os músculos da criatura aumentaram pressionando o tecido da vestimenta, quase rasgando-o.

— E agora? Podemos esquecê-lo? já estou cansada. E é melhor controlar o seu frenesi, querido, já que está revelando sua aparência grotesca, e não há motivos para tanta animação. Temos um trabalho diferente.

— O que? Não viemos para essa cidade para dar apoio ao Kâmo? — A fera controlou seus instintos, voltando ao normal.

— O líder repassou outra missão. Ele já conseguiu rastrear a ladra que está com um dos tesouros de Synder og dyder. Por causa das restrições, a magia daquele velho é mais poderosa quando ele age sozinho.

— Não consigo compreender, como uma mera ladra de nível bronze conseguiu o Orbe das Trevas? Ela nem deve saber a arma que têm nas mãos.

— Sua mente musculosa não entende o fundamental. Arma? Hunf, rsrsrs… essa ladra deve desconhecer o real valor do orbe. Tudo é obra da Valhalla, meu querido… ela é caprichosa.

— Eu não dependo da Valhalla, faço minha estrada, travo minhas lutas. No entanto, se você acredita nisso, bruxa, não deveria temer o que fez com aquele rapaz? A lei do retorno.

— Karma? Oh, não… sou mais poderosa!

— Está certo. Vou esquecer tudo isso. Agora temos tempo livre. Vou voltar para o Coliseu, preciso quebrar alguns crânios de adversários fortes.

— O sapinho quer voltar para a lagoa? Rsrsrs… não vai acontecer, querido! Já não disse? O líder passou uma nova missão.

— Maldição, eu preciso de um gole — desejou a criatura, aflita.

— Não tem vinho nessa guilda?

— A bebida desse país não tem álcool suficiente, não dá para sentir nada. Só que não era isso que me referi. O líder está nessa cidade?

— Estou surpresa por você sentir qualquer coisa. — Ela foi áspera. — Sim! É uma linda rosa nessa terra de podridão. O líder precisa manter as aparências. Ele convocou todos os artistas principais do circo para esse país.

— Não acredito, pensei que seria um trabalho tranquilo. Nossa, eu disse para ele que não tinha perigo.

— Disse para quem?

— Nada, não é nada. Mas desembucha, Menma, o que ele quer? Quer começar uma guerra, destruir este país?

— Não sei, querido, sabe que o líder nunca compartilha seus planos. A gente apenas realiza sua vontade. Depois da nossa missão, iremos para uma cidade ao oeste, boca dos famintos.

— Um nome sugestivo. — A figura robusta não suportou mais a ansiedade e deu um passo, e pegou uma caneca cheia de vinho numa mesa.

A mulher ajeitou a manga do seu albornoz e o tecido escuro se ajeitou sobre suas mãos. Ao beber todo o vinho, o companheiro lhe perguntou:

— Qual é a missão?

— Rastrear o monge chefe da Ordem Sacra nesse país.

— Qual a pista?

— Um nome: Cristóvão.

Depois de alguns segundos, as duas figuras sinistras saíram por uma porta nos fundos da guilda da caveira e desapareceram.

...



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