Last Downfall Brasileira

Autor(a): VALHALLA


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 21: A Vida de Um Protagonista

— Você vive arrependido por machucar os outros — insistiu a pedra —, mas nunca se arrepende por machucar a si mesmo.

— Eu não quero saber de nada disso, que bosta. Não aguento mais você. Não faz sentido ficar guardando esse segredo enquanto só me lasco nesse mundo desgraçado. Vou fazer o que eu quiser!

Guilherme foi intransigente.

— Dessa forma vai arruinar a aventura — lamentou a pedra. — Não entende o sentido da emoção? Não precisa de nada, além da estrada e coragem.

— Vá se fuder. Essa baboseira nunca funcionou para mim. A minha única chance de uma aventura de verdade acabou no dia que encontrei você. Tudo isso é culpa sua, é culpa sua, é um pedregulho inútil.

— Só está frustrado. Essas palavras não são o que você sente no seu coração, Guilherme, eu sei!

— Besteira e besteira! Você quer saber o que eu sinto de verdade?

— Não faça isso, por favor…

— É a verdade! Só a maldita verdade: foi um erro fechar o acordo! Eu queria nunca mais ouvir sua voz irritante!

— Não!

— Eu quero que você desapareça. Vou fazer de tudo para arranjar algum mago para arrancar você de mim e te jogar no rio mais fundo que houver nessa merda de mundo!

(...)

Os dias para o rapaz eram uma tortura e nas noites, esse sonho não parava de se repetir. Um tormento constante para aquele miserável.

Guilherme acordou em sobressalto. O coração batia descompassado e a respiração era curta e fraca. Seu corpo estava destruído e sua mente no escuro do desespero.

Abandonado e sozinho.

Por um momento pensou que a sua realidade nesse mundo só era um pesadelo. Ainda sentia o horror daquele dia humilhante, quando apanhou da cigana, e não conseguiu reagir.

A ferida no rosto não parava de arder.

Por alguns segundos, ficou confuso, desorientado, mas logo o ruído de rodas de madeira no chão de pedra e os gritos dos guardas da ponta vermelha trouxeram-no de volta à realidade.

Havia um regimento de quatro soldados encarando o rapaz.

— Mendigo miserável — disse, entre cutucadas com o cabo do machado, um guarda de expressão carrancuda.

Outro guarda, também com cutucadas da ponta do machado, completou:

— Tivemos muitas reclamações sobre um morto que come carne vagando na região. Os necromantes são perigosos. Mas é só você? A porra de um mendigo. O seu fedor está atraindo as varejeiras e incomodando os comerciantes, suma ou calabouço.

Houve um momento de silêncio, enquanto Guilherme digeria a informação.

— E agora? — perguntou outro guarda, um loiro e jovem. — A mente desse aí está podre. Podemos levá-lo?

O rapaz arriscou falar alguma coisa, mas não conseguiu, e depois de uma espiada de canto de olho, percebeu que o comandante do regimento parecia indeciso.

— Cale a boca, soldado. Os calabouços já estão cheios. São miseráveis demais para o império sustentar. Os impostos são poucos. Será mais gasto com comida.

O comandante encarou Guilherme.

— Consegue me entender? Ainda resta alguma noção em você?

— S-s-sim…

— Que hálito podre. — O guarda loiro tampou o nariz. — A latrina do regimento é mais agradável. O que você comeu, lixo?

— Bom saber que gosta do aroma de bosta, soldado, agora é o responsável por esvaziar as latrinas de todo o batalhão, até o fim do solstício da lua azul.

— Fezes, eu e o luar azul, maravilha.

— A cidade está entupida de miseráveis. — O comandante dirigiu a palavra para Guilherme. — Não importa para o Império sua situação, mas se está com dificuldades de sobreviver, uma caravana parte toda semana levando miseráveis como você para as minas de ferro. Não precisa pagar nada.

— Bem lembrado senhor — disse conivente outro soldado. — Aquele buraco está a todo vapor, agora que o grande Czar, Guaçu Odorico Terceiro, intensificou suas campanhas nas terras das feras.

— As minas de Allahu conseguem dar bom uso a um mendigo. Aposto que irá morrer, ainda sim, é mais digno que morrer de fome na sarjeta ou devorado por ratos. Agora, suma da minha frente, ou os nossos machados vão encerrar o problema — ameaçou o comandante.

— É surdo, vagabundo. — O soldado loiro chutou o rapaz, e aproveitou para descontar a frustração nas costelas dele. — Vá para a floresta, ou morra numa fossa, só não volte mais para esse lugar!

O chute com as galochas de ponta de metal foi forte suficiente para quebrar duas costelas do rapaz.

Guilherme sentiu uma dor que o rasgou por dentro, mas era apenas mais uma das diversas dores e hematomas que esmigalhavam sua alma.

Tropeçando porque não tinha forças para ficar em pé, conseguiu caminhar e sair daquele lugar, e assim, se afastar das ameaças e agressões da guarda ponta vermelha.

A ferida no seu rosto ardia demais.

Nos últimos dias sobreviveu a vários espancamentos gratuitos, e alimentou-se dos restos e podridão das lixeiras, nem se lembrava da última vez que comeu algo saboroso. Ou se existia algo com bom sabor nesse mundo.

Uma vez ou outra vinha na sua mente a imagem de um morango com pintas azuis. Só que para ele essa imagem só passava de outro sonho cruel.

Tudo estava mal ou, perto do fim, quase tudo. Seria bom comer comida boa de novo, encher a barriga, e assim aplacar a fome aguda que devorava as suas entranhas.

Ele apertou os passos da melhor forma que conseguiu, ainda que soubesse que a pressa não serviria para tirá-lo desse tormento.

— Pedra, pedra… o que vou fazer? Pedra, ah é… sou um miserável. Pedra, acredita que sinto falta da sua voz.

A sua besta lendária não respondeu o chamado. Já fazia vários dias que ela não falava nada, desde que Guilherme havia a acusado de ser o responsável por toda a merda que estava acontecendo com ele.

Eu disse para ele calar a boca.

Eu disse para a pedra sumir.

Sim, eu disse.

Essa é minha grande habilidade: machucar meus amigos… os únicos amigos.

Não é?

Será que você ainda está correndo pelos pés de café, coelho?

Estraguei tudo outra vez.

Viu o que me tornei?

Um miserável!

Que grande herói eu fui, o herói do nada!

O protagonista miserável.

Guilherme não conseguia esquecer e continuava remoendo as palavras cruéis que havia dito para sua besta lendária.

Os dois começaram a discutir depois que o rapaz decidiu tomar uma atitude que achou ser capaz de resolver todos os problemas.

Nessa época, resolveu arriscar e fazer o que a pedra avisou para não fazer, e como a guilda dos heróis continuava sendo o seu grande desejo, foi o seu primeiro pensamento.

Mas encontrou as portas fechadas para ele, pois o Conselho das Guildas não permitia a entrada de mercenários inscritos na Guilda da Caveira.

Sou um quebrador de promessas.

Vou fazer o que prometi não fazer…

Droga!

Por que isso agora me incomoda tanto?

É verdade…

— Agora é você que não se importa mais, né, pedra?

Guilherme estava tentando andar, se manter em pé, erguido por um suspiro de esperança, dado o quão crítica era a sua situação.

Tentou várias vezes deixar a cidade de Carrasco Bonito, acreditando que era uma terra de ódio e azar, e que se permanecesse nela, iria morrer.

Tentou atravessar a Floresta dos Sussurros, mas a matilha dos lobos não lhe permitiu partir e caçar, já que o líder diabólico, o cão de cara deformada, continuou apreciando vê-lo definhar aos poucos.

Pensou em usar as estradas oficiais através das grandes e seguras caravanas, mas o alto preço do pedágio o trancou de vez naquela cidade infernal.

Havia as opções sinistras do quadro de trabalho da Guilda da Caveira, como assassinatos e roubos, mas não teve coragem de arriscar; bem era verdade, o que ele poderia fazer depois da surra que levou de um rato e uma garota?

Seu espírito acabou por se transformar no sapo, que dentro de uma panela de água fria sobre o fogo, se contentou e quando percebeu, já era tarde demais.

Guilherme passava pelas pessoas, e elas se afastaram dele. Era evidente que era uma vida que precisava de ajuda, mas ninguém dava a mínima.

Ele começou a cruzar uma avenida, não era muito movimentada, mas um tumulto chamou-lhe a atenção.

Nele, um eremita louco, barbudo, vestido com túnicas brancas surradas, e numa situação pior que a do Guilherme, estava descontrolado e gritando intempéries absurdas:

— Filhos e filhas de corações quebrados, o mundo é cruel e a fome dos poderosos é insaciável. Não se sintam culpados, ou se entreguem ao desalento, pois a Ordem Sacra irá amar todas as ovelhas carentes. Essa mãe é generosa e não rejeita nenhum doente, de corpo e espírito.

A Ordem Sacra é um grupo religioso que se esconde na margem de reinos e impérios. É uma seita, a qual prega a liberdade espiritual, e a benevolência dos deuses antigos. Buscam estabelecer a fé e a glória do passado, e reatar o amor das divindades.

◈◈◈

Guilherme não se importou e cruzou o tumulto em silêncio, seguindo na direção leste.

Ele não se incomodou com o fato das pessoas provocarem o homem louco com insultos, e jogando fezes de animais no infeliz sujeito. Engraçado, que ele mesmo já havia passado por tratamentos semelhantes.

Mas o rapaz tinha sua razão, claro que tinha. Ou só era egoísmo? Não dava para saber.

Na sua mente, o sistema desse mundo foi injusto com ele mais que qualquer outro, acreditava nisso, e se acusava disso, neste ponto não tinha o porquê ligar para injustiças contra terceiros.

Só não queria sofrer mais.

Numa situação como essa, as vítimas acabaram passíveis para a maldade e acreditaram que seu problema é maior que qualquer coisa, sendo assim, se tornaram piores que os próprios agressores.

E assim, as boas pessoas daquela cidade continuaram insultando, jogando fezes como micos loucos e chamando pela guarda ponta vermelha.

— O mundo não é mais o mesmo. Reis e Imperadores gananciosos sugam à terra e querem proibir os homens livres de adorar seus deuses ancestrais — discursou o atarracado, ignorando a reação negativa das pessoas em sua volta. — Os humanos são a raça superior, os herdeiros e soberanos legítimos do mundo? Blasfêmia! Os deuses não existem? Blasfêmia! O Círculo Dourado é a heresia que irá condenar as suas almas!

É uma ordem que está se expandindo no mundo, ganhando poder e prestígio, tendo como adeptos muitos reis e imperadores. Prega a supremacia da raça humana sobre todas as outras raças e o humanismo como a única e verdadeira religião. Também é o responsável por caçar e julgar quem difunde a crença extinta aos deuses, como idólatras pagãos, e tem a autoridade para condená-los à morte na pilha de fogo ou sentenças ainda piores, só dependendo do exemplo a difundir.

◈◈◈

As pessoas em volta do velho eremita inflamaram ainda mais o ódio, intensificando as ofensas. Só faltava a primeira paulada para virar um linchamento.

Guilherme rejeitou o discurso, resmungando um palavrão, e continuou a descer a rua na direção leste. Ele ignorou tudo o que estava acontecendo. Quis entrar na toca do coelho, que nos últimos dias, era o único lugar confortável.

— Eu sinto sua dor, pobre rapaz. Vagar sem rumo é uma condenação pesada demais. O destino não pertence a você. Seja só a ferramenta deles.

O eremita apontou para Guilherme, e depois indicou uma pilha de pedras sem importância, mas que se olhasse melhor, formaria uma tortuosa trilha que levava para o sul.

— O caminho é cruel — o louco continuou. — Mas não se preocupe e descanse. Haverá punição para todos os crimes. Os homens irão prostrar diante a glória dos deuses. Sangue irá regar o solo mais uma vez; Suas colheitas irão queimar, suas muralhas irão desabar, seus castelos irão ruir, suas almas serão devoradas!

— Foda-se! — Guilherme não se importava com nada, só queria continuar e arranjar um pouco de comida.

Uma guarnição dos Pontas Vermelhas subiu a rua correndo.

— Lá está ele — disse um dos guardas. — O agitador da Ordem Sacra!

O velho eremita não correu, apenas ficou parado e abriu os braços, e rindo descontrolado, esperou o ataque da guarnição dos Pontas Vermelhas. Entre um violento lixamento, o homem reuniu forças para dizer: — Eu vi… eu vi vagar entre vocês, grandes tolos. — Por fim, gritou: — A BESTA DESPERTOU!

Vá se danar, infeliz…

Já tenho os meus problemas.

Droga!

Guilherme continuou o seu caminho, dentro do seu peito, uma dor rivalizava com a fome.

O tempo todo, ele sabia que somente a pedra acreditou nas suas mentiras, incentivando-o com palavras de confiança, mas ele ignorou para apostar nas suas tolices.

Porque ela insistia em me chamar de herói?

Eu?

Será que nunca percebeu que eu era um covarde, que minha vida toda, só fui chamado de preguiçoso e miserável?

Acreditar…

Ela acreditou em você!

O rapaz nunca havia sido sincero nas coisas que disse e fez. Ele não podia se perdoar por ter sido tão parvo e cego, ignorando os sinais de perigo, confiando num estúpido conhecimento mundano.

O fado era pesado demais para ele carregar.

Não havia percebido nada, nem mesmo quando sua besta, seu companheiro, demonstrou possuir um grande conhecimento sobre o mundo e a vida.

Insistiu nas histórias de ISEKAI e toda a ladainha preguiçosa, sobre predestinação e poderes sem limites, não percebendo o quanto foi evasivo ao explicar que tipos de segredos guardava no coração.

Se realmente fosse inteligente e tivesse reparado nos fatos, por menos importantes que tivessem parecido, teria percebido o engano em que estava caindo.

Agora não importa mais!

Sou um quebrador de promessas.

Não me resta mais nada, vou até o final!

Guilherme estava parado na frente da guilda da caveira, suspirou e encarou o terrível crânio vendado pendurado na porta. Por um momento comparou aquele símbolo nefasto com sua própria cabeça.

◈◈◈

Então entrou no prédio

Dentro da Guilda da Caveira, Guilherme não se sentiu bem, não tinha boas recordações daquele lugar, e não voltava desde a inscrição. Aliás, havia prometido nunca mais voltar.

Eu jurei para mim mesmo.

Droga, acho que não vão se lembrar de mim.

Até parece, idiota.

Sua ferida no rosto estava infeccionada, por isso ardia e exalava um cheiro de podridão.

— Alguém não lavou a porra da bunda hoje — um homem gritou de um canto. — É um fedor de carne estragada.

A lareira queimava toras de lenha, junto de um tom sombrio e homens terríveis, nisso, o clima era exatamente como Guilherme se lembrava.

Uma figura na escuridão, com o corpo oculto por um albornoz negro com um grande capuz acoplado, sentada numa mesa e tomando vinho, o mais forte do lugar, estava afastada do tumulto daquela casa de cães, e então começou a analisar e acompanhar os passos do acabado rapaz.

Guilherme contorceu o rosto, abraçou a sua velha bolsa de aventureiro e se encolheu dentro das roupas, tentando encontrar a motivação no fundo do seu coração.

Queria que você estivesse aqui comigo, pedra.

Ah, você está, só não se importa mais…

Tinha esquecido.

— É aquele mendigo que entrou na guilda que está podre. — Outro homem jogou vinho nele. — Já estragou a minha bebida. Volte para a rua, saco de fezes.

O vinho caiu sobre a ferida e por causa do álcool causou uma dor intensa.

Guilherme reagiu, amedrontado, pondo-se a chorar, mas o homem, num gesto brusco, chutou com violência o traseiro do rapaz, fazendo-o se mover para longe de sua mesa.

Dessa forma, ele avançou todo o salão e parou na frente do balcão. Uma dor aguda percorreu seu corpo, dando-lhe a sensação de que ia enlouquecer.

— Vamos, senhor coelho — o Gerente consolou. — Eu avisei que você ia sofrer de verdade, não avisei? Vão te fazer sangrar, arrancar sua pele, vão tirar tudo que há de valor em você e vomitar em cima. Você vai deixar?

— E-e-e-eu não a-ague-n-nto mais. — Não saiam as palavras da sua boca, e sim, lamentações. — Eu q-q-quero voltar p-a-r-a minha ca-sa… por favor!

O pranto do rapaz se transformou em gritos assustadores que cresceram em intensidade a ponto de deixar todos os mercenários atordoados e perplexos no salão.

— O que é isso, coelho, você quebrou desta forma em menos de um mês? O Sábio Miserável retornou para a guilda que desprezou para gritar por ajuda?

— Ora, o que teremos aqui? — Pem, o líder do bando Cervo sem Chifre se aproximou. — É o sábio miserável ou um coelhinho assustado. Como posso ajudar? Estava com vontade de comer guisado de coelho. Você nunca mais voltou, pensei que tivesse se esquecido da gente.

Nível bronze

Cervo Sem Chifres: Bando de mercenários nível bronze.

Infâmia: O bando é conhecido por seus membros serem homens suados. Mulheres também não são admitidas.

◈◈◈

— O rapaz não serve mais, Pem, não é do seu gosto. Deixe ele em paz. Não quero tumultos.

O Gerente não foi gentil, muito menos estava preocupado com Guilherme, só não queria confusão dentro da guilda, e para deixar claro, colocou as grandes mãos usando as luvas encardidas e negras sobre o balcão para demonstrar a sua seriedade.

— Calma, Gerente. Só quero matar a saudade desse coelhinho. E não preciso lembrar, que quem decide os meus gostos, sou eu.

— Vá, mas nada de confusões, ouviu bem?

O Cão Molestador se aproximou rindo e zombando. O canalha ainda usava o mesmo chapéu sem abas que dava contornos sombrios a seu rosto. Ele colocou o braço esquerdo sobre o ombro de Guilherme e, com ele trêmulo, cheirou o seu pescoço. Olhou para o Gerente, que limpava o balcão com um pano e disse:

— Esse está podre por dentro. Não presta mais. Nem o bando dos Abutres iam ter a coragem de aproveitar essa carcaça.

Guilherme, que até então, apenas observou tudo alheado, como se aquilo não estivesse acontecendo com ele, não aguentou mais e explodiu. Era muita raiva reprimida.

— Chega, chega, chega, seus malditos, não sou como vocês, eu não mereço esse sofrimento. Não sou uma pilha de lixo!

— Na merda, ainda se acha melhor que a gente, Sábio Miserável?

Pem empurrou o rapaz e levantou seu machado.

— Eu deveria arrancar sua cabeça imunda.

As mãos de Guilherme ficaram geladas quando as palavras do Cão Molestador o lembraram que sua vida nunca valeu nada, não importava o quanto gritasse.

— Eu posso encontrar LAST DOWNFALL! — enfim, gritou a sua última cartada.

Foi por isso que brigou com sua besta, foi por isso que se arrastou até essa guilda, foi por isso que ainda tinha esperança. Tudo podia ser uma merda, mas ele ainda era o protagonista desse mundo.

— Claro, e junto do celestial dragão azul de três cabeças e os tesouros de Synder og dyder, sem esquecer a sagrada espada divisora de continentes. — Pem começou a fazer chacota. — O coelhinho enlouqueceu. LAST DOWNFALL não existe!

— Mas é a verdade. Vocês me ignoraram, da mesma forma que esse maldito mundo me ignorou. Eu não sou um miserável! É um erro, sou valioso, sou da classe sábia. Entendem isso, malditos, sou melhor que todos vocês!

Guilherme tirou a pedra de dentro da camisa e mostrou para todos.

O gerente ao ouvir aquelas afirmações, se afastou em silêncio para um canto reservado, escondido pelas sombras, e começou a anotar tudo que era dito num pergaminho.

— Vejam, essa pedra é a besta lendária da sabedoria. Eu sou destinado a conquistar LAST DOWNFALL! Todo esse mundo é meu!

— Não, você é destinado a morrer na lâmina do meu machado. — Pem avançou com sede de sangue.

— Não ouse mover um músculo a mais, Pem, o Cão Molestador. — Uma voz feminina alardeou naquele cenário de homens terríveis. — Se você matar essa criança, sem minha permissão, garanto que nunca mais vai usar o brinquedo que tanto tem orgulho.

Pem encerrou o ataque no mesmo instante e sentiu um ódio imensurável. Ignorou Guilherme e focou na figura vestida com o albornoz negro.

À medida que a misteriosa mulher se aproximava sem temor, Guilherme olhou de relance para o rosto de Pem, ainda fervendo por baixo do semblante abismado. O ódio daquele homem lhe pareceu exagerado, embora jamais se importasse se alguém levasse a bronca em seu lugar, por isso, não deixou de ficar surpreso pela coragem da encapuzada.

Não se enganem, era exatamente tirar o corpo fora.

É uma mulher?

O que, essa voz… é familiar.

Vai me ajudar?

Quem será ela?

Guilherme encolheu e observou o desenrolar daquela situação inesperada.

Que se matem os dois, nada vai mudar para mim!

...



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