Last Downfall Brasileira

Autor(a): VALHALLA


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 2: O Protagonista e as Furries

Guilherme precisou piscar três vezes para ter a certeza que a pedra falante não era uma alucinação. Se abaixou para poder olhar melhor a estranha criatura.

Aqueles olhinhos eram frenéticos demais.

Que coisa é essa?

Não preciso de um peso para papel

Estou num ISEKAI e minha situação entrou em modo ladeira abaixo, sinto cheiro de tragédia.

Droga!

Bem, ISEKAI era verdade, mas tragédia já era um pouco de exagero.

O rapaz estava numa situação inesperada e, deixando de lado o fato que sua besta lendária poderia ser uma pequena pedra falante e através da positividade, pelo menos não era uma criatura ameaçadora.

Não correria o risco de ser abocanhado e perder uma perna ou um braço, nacos de sua carne, caso a criatura sentisse fome.

Era uma situação que poderia lidar.

— Dia após dia, sol após chuva, nunca duvidei da chegada do grande aventureiro, meu herói. Vamos fechar o contrato?

— Quero entender minha situação. Espera um pouco.

Mal tinha acabado de dizer para esperar, quando a pedra piscou descontrolada e uma voz histérica emergiu dos lábios rochosos:

— Esperar? Já faz mil anos que espero, é descumunal a dor em esperar um minuto a mais, é uma tortura infinita. Vamos fechar o contrato!

— Não!

Guilherme poderia parecer intransigente, mas ele era um estudioso dos mais variados roteiros de novels, e não iria se comprometer com um contrato mágico sem saber todos os pontos envolvidos.

Além do mais, só um idiota aceitaria um pacto com a primeira criatura que aparecesse na sua frente, ainda mais se fosse uma pedra.

— Não? Água mole, pedra dura, tanto bate até que fura. Esses modos, essa arrogância, você não entende sua situação. Outra vez castigado, meu parceiro é da Terra.

— Terra… o pedaço de rocha espacial, o terceiro planeta do sistema solar, o grande ponto azul, você conhece, pedra?

— Sim! Na verdade, planeta é um conceito errado. É uma realidade paralela, a realidade da Terra…

A pedra pausou a fala de repente, parecia um daqueles comilões engasgados com uma coxinha de frango.

— QUUUE!!! — ela gritou. — Não pode ser. Você consegue se lembrar da sua vida antes morte, seu passado, de onde veio?

— Sim! Sou da Terra, meu nome é Guilherme, tinha 25 anos, algumas namoradas, e eu era foda pra caramba.

— E o pós morte? Lembra de Skog?

— O querubim defor… digo, o deus magnífico, claro. Lembro dos jogos dos deuses, das promessas, de tudo.

— É impossível, você não deveria se lembrar de nada depois que reencarnou. Como? Nesse caso, apenas… qual foi o seu primeiro presente, o que você trouxe da Terra?

— Memórias!

— Fabuloso! À noite todos os dragões são pardos. Não percamos mais tempo, vamos fechar o contrato, em mil anos, LAST DOWNFALL é possível!

— Não!

— N-não, não? O que é isso? Jogo ou brincadeira. Você é algum tipo de idiota?

— Não sou nenhum idiota, tá. Você falou algumas coisas interessantes. Não vou firmar contrato com você, não antes de estar satisfeito. Quero respostas!

— Julgo que é brasileiro. Arrogante como o último, não tinha as memórias, mas a natureza egoísta estava intacta. Não vou dizer nada antes da gente formar o contrato, a última vez que confiei em alguém da realidade da Terra, não acabou bem.

Interessante!

Então essa pedra tem experiência com os brasucas.

oh dó!

Bem, não posso culpá-la pelas péssimas impressões.

brasileiro é um osso duro de roer!

Somos fodas.

— Se não quiser falar, tudo bem. Você conhece sobre o egoísmo dos brasileiros, mas será que tem ideia da razão. Tem ideia da nossa realidade.

— O que está falando? Não faz sentido. Não entendeu sua situação.

— Não sou eu aqui que ainda não entendeu a própria situação. Por que alguém perderia tempo com algo inútil como uma pedra? Vou encontrar outra besta lendária. Diferente de você, pedregulho, tenho pernas.

— Não seja idiotia, irá morrer. Foi você que escolheu a besta da sabedoria, apenas eu sou capaz de liberar suas habilidades.

— Tanto faz, só vou saber se tentar. Tenho minhas memórias, sei o que posso fazer.

Guilherme se levantou e começou a se afastar.

— Boa sorte nos próximos quinhentos, quem sabe mil ou dez mil anos, não dá para saber… adeus, pedra!

— Herói, herói… não faça isso!

— Vá se danar!

— Não seja estúpido, brasileiro, Guilherme, você vai morrer, não vai durar uma semana sem mim, ei, maldição, maldição… o rei quando não vê o trono, espeta o traseiro na própria coroa!

Guilherme se afastou rápido. Mas antes pegou uma vareta e conforme se adentrava no bosque, deixava uma trilha de marcas nas árvores.

Contrato? Habilidades?

Aquela pedra não vai sair daquele lugar, tenho tempo.

Puta merda, o que uma pedra tem a ver com sabedoria?

O que vou fazer?

O comum entre mestre e criatura nos enredos de novels é um contexto de perigo/confiança.

Mas com a porra de uma pedra.

Preciso pensar em outra forma.

Em todo caso, preciso encontrar uma cidade, só depois terei alguma ideia do que fazer.

Que furada fui me enfiar?

Mais do que o suficiente para um idiota fazer algumas perguntas e até se satisfazer com respostas vagas, naquele momento era tudo que a pedra estava disposta a oferecer, ainda que fosse uma aposta arricada deixar a pedra para trás.

Com isso, Guilherme pretendia descobrir os alcances da sua besta lendária, qual seria a reação dela nesse drama.

Mesmo assim, não poderia dar um pulo no escuro, sempre foi precavido nas suas jogadas, bem como ganhou um pouco mais de tempo para criar outra estratégia para a futura relação de confiança.

Marcando os troncos das árvores pelo caminho, o rapaz suspirou, curioso, ao encontrar uma lagarta numa folha, que parecia com as inofensivas que se encontrava aos montes na terra.

Derrubou a lagarta de cor verde com duas listras brancas, e com a ponta da vara espremeu o corpo molenga, que ao explodir liberou uma gosma esverdeada que cobriu toda a ponta da vareta.

A ponta da vareta começou a ser corrida, e depois de observar espantado, percebeu que a gosma era muito mais fácil marcar os troncos das árvores.

Fazendo uso da ponta da vareta coberta com a meleca corrosiva, conseguiu avançar bem mais rápido — morte com finalidade, é uma boa morte.

— Cérebro… cér… arrr… cérebro…

Seus ouvidos afiados eram uma característica digna de nota, eles distinguiram de imediato o horripilante gemido, da coisa vagando entre as sombras do bosque.

Guilherme se escondeu num arbusto alto.

A banalidade da criatura era capaz de fazer qualquer um otaku se emocionar, era como encontrar uma estrela do rock.

Porém, os riscos eram grandes, e a incompreensão do perigo poderia ser fatal, mesmo que estivessem olhando para uma cena clássica dos filmes de George A. Romero. Não podia correr atrás para pedir uma leve dentada como autógrafo.

Um zumbi vagava sem rumo buscando alguma vítima.

Quando teve a certeza que não tinha mais perigo, Guilherme continuou seguindo pelo bosque, só que agora, prestando muito mais atenção em tudo na sua volta.

Mais duas horas de caminhada, foi esse cálculo que ele fez na mente, poderia ser menos ou mais, no entanto, valeu a penas, porque encontrou um vilarejo. Não era um vilarejo grande, mas não importava, porque já seria o suficiente para uma pesquisa.

Viu uma carroça passando por uma estrada, conduzida por um velho e puxada por uma criatura robusta parecida com uma vaca, só que era peluda como um puldo.

Guilherme ficou admirado. Havia cavalos, viu também galinhas e porcos, mas comparado com as vacas peludas, era sem graça. O bom era que poderia comer um vatapá e uma boa feijoada sem dificuldades.

Mah rapaz, bom demais!

Pera, neste mundo há milho e feijão?

Vou pesquisar.

Não posso viver sem meu baião de dois

De jeito nenhum!

Ele coçou a cabeça intrigado.

As choupanas do vilarejo eram rudimentares e dividiam espaços com as poucas construções de pedra.

Homens vestidos com roupas simples e malha de ferro, portavam machados duplos com as pontas dos cabos pintados de uma forte cor vermelha, e pela forma das rondas, só poderiam ser guardas.

Os humanos eram predominantes, mas havia demi-humanos.

Não acredito.

não é sonho, não mesmo.

São furries.

Guilherme ficou excitado ao ver as orelhas de gato e as de cachorro, ele até pensou ter visto uma garota com o rabinho encaracolado de uma porquinha, mas foi muito rápido.

Só que uma visão lhe perturbou e quebrou todo o encanto da visão dos sonhos.

Todos os demi-humanos, como também muitos humanos, estavam acorrentados, forçados a trabalhar pesado sob os chicotes de implacáveis feitores.

Eram escravos.

Acima de tudo, o que preocupou Guilherme, foi que as roupas dos escravos homens eram semelhantes às dele, do mesmo modelo, calças marrom e camisa de flanela branca. Às escravas mulheres usavam vestidos curtos e brancos. 

A diferença gritante era que estavam acorrentados em grupo de indivíduos, ou sozinhos, presos em pesadas bolas de ferro. A liberdade de todos era limitada pelo alcance do chicote.

O presunto.

É isso.

O corpo que reencarnei, era o corpo de um escravo.

Talvez um fugitivo, ou um que o mestre se cansou, ou mesmo usou para alguma perversidade.

Isso até justificaria o estado dessas roupas.

O cenário para mim não pode ser, se não, o pior, claro que não!

Droga!

Era fato, não havia outra reação para aquela descoberta, a não ser recuar e avaliar as possibilidades.

Na verdade, com tudo que descobriu, ele corria muito perigo. Além disso, ainda tinha a pedra, já havia dado tempo suficiente para seus planos. Ela já deveria ter aceitado que o herói não voltaria mais.

No entanto, Guilherme não estava satisfeito, queria fazer mais testes. Enquanto observava tudo escondido atrás de uma árvore, uma situação inusitada e cômoda se apresentou para o teste final.

Sabia…

Os clichês nunca falham.

Dois rapazes estavam se aproveitando de uma escrava, era uma demi-humana gata, jovem e bonita, a furry não passaria dos 13 anos. Ela protegia um jarro de barro, mesmo muito assustada.

Os rapazes puxavam e levantavam o vestido dela. Faziam o que queriam e ninguém naquele vilarejo se importava. Em um momento, o maior deles enfiou a mão por baixo do vestido e apalpou o lugar sagrado das garotas.

— Ãhhhhhhh — a gata gemeu.

Guilherme sentiu o coração disparar. Algo nele, um rubor diferente em sua alma não aceitava aquilo. Tinha que fazer algo.

É isso!

Despertar meus poderes.

Que se dane aquela pedra.

É o meu momento de herói.

Hein?

Subaru.

...



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