Volume 1 – Arco 1
Capítulo 15: O Protagonista Precisa de Um Trabalho
Guilherme nunca se esforçou durante toda a vida na Terra e só descobriu o terror de trabalhar para pagar as contas quando saiu da casa dos pais.
É uma piada de mau gosto ter que passar por isso aqui, trabalhar para conseguir sobreviver…
OI!
Aqui é um ISEKAI de fantasia.
Trabalhar?
Só pode ser sacanagem.
Parece até que uma encalhada, mal-amada, criou uma história só para descontar suas frustrações em mim.
Alguém me odeia pra valer.
— Eu tentei ajudar, auxiliar na procura de emprego ou de lugar para morar. Vi potencial em você. Tentamos fazer o melhor possível, tudo que pedimos em troca foi uma parte de seus ganhos futuros.
O rapaz estava diante de um homem, dentro de uma taverna, o sujeito era uma espécie de agenciador para trabalhos criminosos.
O sujeito de cara fechada e bufando, não queria saber de papo furado.
Guilherme pareceu relaxar e concordou com um gesto de cabeça, mas com o olhar perdido, como que contemplando uma lembrança distante.
A encantadora mulher que encontrou uns dias atrás não lhe saía da cabeça.
— Não foi minha culpa — disse o rapaz.
— Não foi? Você teve as pernas arrancadas ou foi amordaçado, por acaso?
O agente esfregou as mãos no rosto para enxugar o suor, estava um dia muito quente, e junto da raiva, ele transpirava mais que o normal.
— É disso que as rodas de mercenários estão falando: cuidado com o Sábio Miserável que não sabe fazer nada — ele continuou. — Onde eu estava com a cabeça para fechar negócio com um bando de nome: COELHO. Esse meu coração mole.
— Quero mais um trabalho, acredite em mim, não vou errar outra vez. Preciso de moedas
— Não! Você só tinha que vigiar a senhora de um peixeiro. Conseguiu ser despistado por uma mulher gorda como uma porca. Que prejuízo. Vá embora! Dê por satisfeito por não arrancar seu olho esquerdo para recuperar minhas perdas.
Guilherme saiu da taverna.
O rapaz não teve culpa ao perder a esposa do peixeiro de vista, verdade… bem, ele parou para ver uns morangos com pintas azuis numa barraca de venda de frutas.
No entanto, não foram os morangos que fizeram o estrago na sua missão.
Uma linda mulher parou para cheirar os suculentos frutos.
Ela não tinha mais que 30 anos, com um longo vestido azul que espremia os seios fartos e ressalta as curvas salientes.
Todos os movimentos dela eram uma dança de sedução.
O cabelo escuro e cacheado que se confundia com um cacho de limão caía sobre seus ombros delicados. Pele branca e lisa, e olhos castanhos que criaram um contraste com o azul do vestido. Ela também usava luvas carmesins.
Guilherme se sentiu inebriado com o aroma de flores que a garota exalava.
Com seus inseguros olhos negros, o rapaz a encarou, primeiro com respeito e, em seguida, sem disfarçar um incontrolável impulso sexual, devorando-lhe o corpo exuberante e sensual, as formas perfeitas, a pele de porcelana… os seios fartos.
A mulher sorriu e parou do lado do apequenado rapaz, comprou dois morangos. Um jogou para Guilherme e comeu o outro.
— Morangos tem o sabor de beijo com amor — ela disse sorrindo, e com um balanço de quadril que deixou Guilherme maravilhado.
Depois, a mulher foi embora sem dizer mais nada.
UHHH!
Quem era aquela maravilha?
Nunca uma garota foi gentil comigo antes.
O que foi aquilo?
Ela tinha um cheiro tão gostoso, lembrava flores silvestres.
Nunca vou esquecer o sabor desse morango com pintinhas azuis.
Nossa!
A mulher misteriosa que lhe despertou a atenção já desapareceu e ele nunca saberia quem era ou onde estava.
Poderia estar numa carruagem a caminho da capital desse império ou dentro de alguma taverna fazendo a alegria de terceiros, como tinha feito a sua com aquele simples morango.
Obcecado, entretanto, pelo desejo de vê-la, percorreu e procurou-a pela cidade. Não viu nem sombra dela.
Resolveu esquecer tudo e encaminhar-se para arranjar outro trabalho, ganhar moedas, expulsando de sua mente a imagem daquela maravilhosa mulher.
Esses momentos são daqueles que acontecem uma vez na vida e outra na morte.
Quem não aproveitar, já era!
Era pra ter largado tudo e corrido atrás dela.
Não posso me culpar… logo eu.
Não vou me enganar, ela iria me jogar numa cama macia, arrancar minhas roupas e sugar até a última gota do tutano dos meus ossos.
NOSSA!
Quuue maravilha!
Para, indiota, seja honesto…
Nunca saberia o que fazer com uma criatura como aquela.
Bosta!
Ainda mais com esse pinto meia-xícara que tenho entre as pernas.
Carregar toda aquela areia?
Morte justa e feliz!
Seria tão bom, poderia dar várias viagens com meu caminhãozinho.
Franguinho!
Droga!
◈◈◈◈◈◈
Já havia se passado alguns dias.
Na décima tentativa de arrumar um trabalho como mercenário, Guilherme sentiu o sentimento de frustração corroer seu orgulho.
Já havia percorrido toda a cidade em busca de uma missão, mas ninguém dava crédito para as suas capacidades.
A imagem patética dele se esvaindo pelas ruas de Carrasco Bonito, sobrevivendo de migalhas e restos, já era conhecida. Uma comédia para os desalmados.
Os olhares vidrados dos moradores, julgando o pobre rapaz, silenciosos, e as chacotas maldosas não tinham fim.
Com a humilhação na guilda da caveira, a inabilidade para realizar missões simples e o desespero nos olhos perdidos, sua fama se tornou notória.
Como uma praga daquele maldito gerente, Guilherme ficou conhecido como: O Sábio Miserável.
Numa casa de curtição e venda de partes de criaturas mágicas, o rapaz tinha esperança de conseguir um trabalho e acabar com a maré de azar.
Era a última indicação que anotou do quadro de trabalhos na odiosa guilda da caveira.
— Não posso contratar um rapaz lânguido para fazer a segurança de meus bens… — O proprietário era um homem grande, gordo e carrancudo: — Não!
— Por favor, senhor, eu tenho habilidades.
Com as mãos trêmulas e a garganta seca, Guilherme encontrou uma garrafa de água, e sem cerimônias bebeu um avantajado gole.
Já fazia três dias que ele não comia nada, a última vez foi aquele maravilhoso morango oferecido pela também, maravilhosa mulher.
Por isso sabia que não podia perder a oportunidade de encher a barriga com alguma coisa, mesmo sendo apenas água.
Ainda mais, que sua habilidade de avaliar inorgânica, demonstrou que todas as fontes acessíveis de água naquela cidade eram perigosas demais.
— Quantos membros há no seu bando? — perguntou o homem.
— É só eu! Sou suficiente para enfrentar qualquer situação, pode apostar.
— Que tipo de comerciante eu seria se apostasse contra mim mesmo, ainda mais com meus bens?
— Uma oportunidade, é tudo que peço.
— Contratar o Sábio Miserável. Um bando chamado: Coelho. O bando de um homem só, para fazer a segurança de mercadorias é a mesma coisa que convidar bandidos para um ganho fácil.
Idiota maldito…
Sou o herói desse mundo!
— Quando acabar com minha água — continuou o homem —, vá embora!
O comerciante era gordo, bem nutrido, por isso nunca entenderia o apelo das pessoas desesperadas.
Ele foi se sentar, com o pesado corpo, atrás da mesa repleta de ossos e partes de animais, quase todos de criaturas estranhas que o rapaz não conhecia.
Depois de tantas tentativas inúteis, Guilherme tinha certeza de que jamais arranjaria um trabalho.
Julgando pelo olhar frio daquele sujeito pançudo, ficou claro que morreria de fome se não arranjasse outra forma de ganhar moedas, ainda mais que as opções suaves do quadro de trabalho da guilda da caveira haviam se esgotado.
Só restaram as perigosas: assassinato, roubo, sequestro e outras ainda piores.
Essas, em especial, ele se recusava a considerar como opções válidas, porque sabia que era um caminho sem volta para o caixão.
Só de imaginar matando uma pessoa, uma faca ensanguentada, suas pernas bambearam e o coração acelerou.
Eu não quero ver a morte outra vez.
Que ranço de mim mesmo… nos jogos e novels parecia tão fácil.
O que estava pensando?
Magia das trevas, berserk, trevoso.
O que fui fazer?
Droga!
Arrasado, Guilherme foi para a saída.
Ao chegar na saída e abrir a porta com movimentos vagarosos e de cabeça baixa, quase com timidez, criou um péssimo gosto para o paladar do dono da loja. Até os brutos têm sangue correndo no coração.
O rapaz era um indivíduo acabado e quase sem esperança. Ele resmungou algumas palavras baixas demais para serem ouvidas.
— Oportunidade, não é verdade, jovem? — perguntou o comerciante para Guilherme antes dele sair completamente.
O homem pegou uma caixa e colocou sobre sua mesa.
— No Bosque dos Sussurros que cerca essa cidade, habitam vários animais, e um deles é o rato cauda-de-navalha, é quase uma infestação.
— Acho que já vi uma dessas coisas revirando os lixos. O que esses bichos têm a ver comigo?
— A cauda desse rato dá um bom utensílio para higiene para as pessoas que não podem pagar por lâminas de metal. Vou pagar uma moeda de bronze a cada cinco. Está interessado?
— Uma moeda de bronze por cinco desses ratos, é uma miséria.
— Não quero ouvir reclamações sobre valor. Queria uma oportunidade e lhe ofereci uma. É aceitar ou não. Caso contrário, suma da minha loja!
— Desculpe, não quis ser desrespeitoso. Bem, uma moeda de bronze por cinco ratos, certo?
— Não quero as carcaças, fedem demais.
O homem tirou da caixa uma cauda ressecada que na ponta havia uma formação óssea que lembrava uma navalha.
— Só me servem as caudas, por isso vai ter que arrancar-las dos corpos. Só vou pagar por essa parte. Se tiver boas habilidades, como afirmou, conseguirá levantar uma boa quantidade de moedas.
Guilherme desviou o seu olhar da expressão sorrateira do comerciante, agradeceu e foi embora.
Ele focou no seu caminho para poder desviar dos grupos de criminosos que se multiplicavam naquela rua, aquela gente tinha expressões perigosas, e muitas delas com olhares ameaçadores fixos no rapaz que descia a avenida na direção do Bosque dos Sussurros.
O clima pesado era o normal naquela parte da cidade, a qual passou a frequentar depois de se inscrever na guilda da caveira.
O rapaz, intimidado pelas ameaças visíveis, não percebeu que na varanda de um prédio uma linda garota observava toda a movimentação dele, enquanto limpava os cantos das unhas com um punhal de cabo preto.
— Vergonha, nosso caminho é escuro, reduzidos a caçadores de ratos — reclamou a pedra. — Herói, se você não começar a medir suas escolhas, não vamos ter um futuro digno.
— Você está de prova, pedra, como tentei arranjar formas melhores de trabalho.
— Escolhas entre assaltos, linchamentos, extorsões, era tudo uma vergonha.
— Má sorte. Não entendo, minha aventura não era para ser sofrida, tinha que ser gostosa e fácil, sou o herói, sou o protagonista.
— Veja a verdade, herói. Teve a oportunidade de escolher a fonte de magia de luz, e escolheu o caminho das trevas. Também foi você que decidiu cada passo da nossa jornada. Não é má sorte, é consequência!
— Chega! Quer dizer que a culpa é minha, isso? Eu joguei tantos jogos, li tantas novels, passei minha vida na frente da tela de um computador. Era para eu estar preparado. Mas nesse mundo nada faz sentido.
— Sentido não tem isso que falou. Sabe que não conheço nada disso?
— Bem… não sei, não sei de nada, que droga!
— Só me diga uma coisa: era comum na Terra as pessoas conquistarem glórias sem merecimento?
— Ah, bem… era complicado, pedra, outra realidade.
— Esse é o problema: honra é honra, independente da realidade. Quer ser um herói? Um protagonista? O que você fez para merecer uma grande honraria?
— Besteira, não preciso disso, porque sou o herói das histórias. Esse mundo é o meu ISEKAI. O deus Skog garantiu isso.
— Esqueça as promessas doces daquela criatura maligna, ou irá pagar um preço alto demais.
— Chata demais, pedra, você é o único que não pode falar nada!
Guilherme fez uma pausa para enxugar a saliva que escorria pelo canto da boca com as costas da mão.
— A ignorância e a inteligência nunca habitam na mesma casa. Estou à mercê de suas escolhas. Mas desta vez é diferente. Terrivelmente diferente.
O tom da voz da pedra foi drástico.
— Batizar nosso bando com um nome fraco e limitado como COELHO, por quê?
— Porque quis, porque quem manda sou eu!
Eu não vou aceitar ordens de um pedregulho falante, não apostei minha vida para isso.
Essa pedra pode falar o que quiser, mas sou eu que tenho a benção do deus Skog.
Fui eu o seu escolhido, e isso significa que ele está do meu lado.
É meu amigo.
É mais importante que essa maldita pedra que tá presa em mim.
No fim, as coisas vão se ajeitar, tenho certeza!
Sou o herói, sou o protagonista.
— Responda: qual comerciante, mercador ou nobre, com juízo vai dar um trabalho decente para um bando com o nome de coelho?
— Não aguento mais essa ladainha. Chega de reclamar no meu ouvido. Você esqueceu que é a besta da sabedoria que não sabe de nada. Uma pedra que vou ter que carregar até o fim.
— Como ousa? Você tem algum problema no cérebro? Já expliquei minha situação, não é focar na minha limitação, ou descontar as frustrações em mim, que vamos resolver nossa situação.
— Esqueceu quem eu sou, maldita? — Guilherme engoliu em seco. — Aliás, também esqueceu que ainda posso fazer uma aposta: contar que pertenço à classe dos sábios! Vamos ver o que vai acontecer.
— Oh! Não, não, você prometeu que iria manter o segredo!
— Não prometi nada, apenas concordei, certo? Você diz que não pode fazer nada, que não tem poder, mas é cheio de segredos. Droga, desembuche de uma vez, pedra.
— Lamento, o passado precisa ficar no passado. Não vou falar sobre isso. Para nossa aventura só importa o futuro, conquistar Last Downfall: todos os erros poderão ser reparados.
Erros?
Hum…
O que você fez, pedra maldita?
É claro que é pior que eu.
— Certo! Escolhi o coelho para ser o nome do bando porque tenho meus motivos, e como você mesmo acabou de lembrar: o passado precisa ficar no passado.
— Claro, você é o herói. Desculpa!
— Agora não adianta melar as palavras, idiota.
— Só quero que faça boas escolhas. Dividiremos o mesmo destino. Você pode ter sido um grande campeão na Terra com as novels e os jogos, mas agora está num mundo diferente, é uma terra de dor e agonia.
Ao ouvir a palavra campeão, Guilherme engasgou, de leve, e logo voltou a respirar.
Mundo diferente, não, não, é a mesma realidade de merda, onde não passo de um fracassado.
Mas ninguém sabe disso, a pedra não sabe.
Por que não consigo fazer diferente?
Foco, foco, foco.
Dessa vez posso fazer a minha vida dar certo, sou eu quem manda.
Não vou deixar ninguém ditar o que devo fazer ou não, sou o herói.
Vou fazer como achar melhor!
— É só parar de encher meu saco. Eu vou dar um jeito na nossa situação.
Guilherme chegou numa praça movimentada, que dava para ver o bonito prédio da guilda dos heróis. Seu rosto suado esboçou um riso forçado e afirmou:
— Aquilo, lixo, não precisamos daquele lugar!
— Aí está o que quero que entenda. Se não tivesse escolhido a fonte mágica de trevas, poderíamos estar lá, nossa jornada seria muito mais fácil.
— Ora, não era você que não queria entrar numa guilda.
— A guilda da caveira. Só quero o melhor para você!
— Hum… certo. Esqueça isso. Vamos caçar alguns ratos cauda-de-navalha, ganhar algumas moedas, comprar um bom equipamento. Logo eles vão se arrepender por não aceitar a gente. Eu sou o sábio!
— Sobre as moedas, ainda resta a última moeda de bronze. A use para comer algo reforçado. Já faz dias que não come nada!
— Não! Você gosta de mencionar meus erros, pode gravar mais um: foi errado gastar todas aquelas moedas no vilarejo Folha Seca!
Guilherme apanhou um bastão quebrado que estava num canto, tinha pouco mais de um metro, mas era resistente e com uma ponta alongada e fina.
— Naquela situação, você não tinha outra escolha.
— Eu sei, pedra — murmurou Guilherme entre os dentes. — Mas se tivesse uma ideia do valor das moedas, poderia ter conseguido um preço melhor. Por isso não vou gastar essa última, vou deixá-la para alguma emergência.
— A certeza que você tinha na época era que teria facilidades ao encontrar a guilda dos heróis, ah, não vou falar sobre isso porque não importa mais. Você precisa comer!
— Argh! Não vou gastar a moeda. Esse corpo aguenta bem a falta de comida. Meu estômago parece que vai virar do avesso, fora isso, não sinto mais nada, posso aguentar mais alguns dias. Depois de caçar alguns ratos, a escassez vai acabar. Tenho certeza.
— Certo! Então, vá de uma vez. Quanto antes, melhor.
— É o que estou fazendo.
Guilherme continuou seguindo a rua, já podia avistar o Bosque dos Sussurros.
Ele conferiu a ponta do bastão. Apenas esse gesto pareceu acalmar sua mente. Não podia negar, Carrasco Bonito era um antro de curiosos e pouca compaixão.
Parou na frente de um prédio feito de madeira áspera e escura. O rapaz afinou mais a ponta esfregando contra a madeira bem devagar.
A sua lentidão era premeditada. Como se desejasse provocar alguma reação nos moradores que o media o corpo de cima a baixo.
Bem, como era mesmo aquela lagarta que espirrou a gosma ácida?
Ah, sim, acho que era verde e tinha duas listras brancas.
Tanto faz!
Vou apostar que a gosma ácida é uma característica de todas as lagartas desse mundo.
Lidar com ratos não é nada comparado a lidar com uma matilha de lobos horrenda.
Vou conseguir e todos verão como sou foda… foda… foda pra caralho!
◈◈◈◈◈◈
Guilherme chegou na margem do Bosque dos Sussurros, e diante do oceano verde, coçou a cabeça e suspirou preocupado.
Isso não é um bosque, é uma floresta do mal!
Merda, cada vez melhor!
O Bosque dos Sussurros se estendia por todo o Império Tusso do Norte. Essa massa de árvores antigas uma vez formou o vale das árvores negras, que foi dividido depois da grande guerra em três florestas distintas. O Bosque dos Sussurros do Império Tusso do Norte; o vale das Rosas Sangrentas do Reino da Árvore Sagrada; a Floresta Negra do Império Tusso do Sul.
◈◈◈
Ao Leste da cidade de Carrasco Bonito erguia-se uma sombria floresta formando uma coluna de árvores altas e inacessíveis.
Esta vastidão verde chamada de Bosque dos Sussurros ocupava grande parte das terras do Império Tusso do Norte, sendo dividida pela estrada União-De-Ferro.
A ponta mais distante, ao sul, terminava no reino da Árvore Sagrada, enquanto aqui, no lado Leste era a estrada que cortava toda a floresta e passava pelas minas de Allahu, e terminando na capital: Vale-de-Aço.
Mesmo com as insistentes tentativas com os moradores e comerciantes de Carrasco Bonito, Guilherme não conseguiu aprofundar as informações sobre o reino da Árvore Sagrada, além que era uma terra maldita de traidores, adoradores de árvores e fornicadores de elfas, a qual era governada pela temida e odiada Rainha Vermelha.
Ainda menos informações obteve do terceiro nome importante que ouviu bastante: Império Tusso do Sul. Tudo que ele conseguiu descobrir foi que era uma terra distante, diferente e perigosa, e que ficava além das terras do reino da Árvore Sagrada.
Parecia que mexer nessas informações era cutucar em feridas amargas, tudo envolto por receios e sombras, como terríveis tabus.
Para ser mais específica sobre a atual situação do nosso aventureiro, para ele deixar a cidade de Carrasco Bonito, havia duas opções:
Primeira: Usar a estrada União-De-Ferro.
A rota que seguia para o Leste, bosque adentro, ou a estrada para o sul, por um terreno um pouco mais descampado.
Ambas estradas cobravam pedágio, inclusive para os viajantes a pé. Valor de algumas moedas de bronze. O total não dava para especificar, já que Guilherme ficou com receio de perguntar, afligido por uma espécie de medo profundo.
Segunda opção: usar as estradas secundárias que levavam para os mais variados destinos.
Essas trilhas cruzavam todo o Bosque dos Sussurros e, segundo as pessoas supersticiosas, eram passagens amaldiçoadas por criaturas terríveis. O consenso de toda casta de comerciantes era que cruzar essas estradas apenas acompanhado de um grupo de aventureiros de classe C para cima.
Aliás, muitos dos serviços que Guilherme perdeu foram por causa desses boatos. Ninguém acreditou que um garoto tão franzino era capaz de executar tarefas tão arriscadas.
Ou seja, havia muitas rotas de saída, porém, quase nenhuma escapatória para a sua drástica situação.
Eu vou consegui!
Quando eu voltar a sair desse bosque, carregado com as caudas dos ratos malditos, todos terão que admitir minha força.
Irá chover trabalhos, moedas e garotas.
Quem sabe eu compre toda a barraca de morangos para aquela garota… sim, ela gosta!
Não faço bulhufas do seu paradeiro, droga, onde ela está?
Bem… com dinheiro tudo vai se resolver.
Isso!
Quem sabe posso juntar uma moeda de prata.
Encerrar essa minha pindaíba dos infernos!
...