Last Downfall Brasileira

Autor(a): VALHALLA


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 14: O Protagonista Covarde

O homem que passava a mão pelo cabelo de Guilherme, para mostrar a seriedade de suas palavras, deu um passo para frente, e com um estranho brilho no olhar apontou o punhal na direção do olho esquerdo do rapaz.

— Seja uma menina boazinha, que não vamos te machucar demais.

O outro homem, que continuava sentado, sorriu medindo o rapaz de cima a baixo com olhos famintos.

Guilherme suspirou e gelou o sangue. Era a mesma situação que assistiu várias vezes nos canais de notícia da Terra. Tudo indicava uma violência sexual, só que o temor que afligiu o rapaz era mais profundo e terrivelmente familiar.

Ele reconheceria aqueles gestos perversos, aqueles olhares frios e a sensação de invasão em qualquer lugar.

Os fortes devoram os fracos.

Outra vez não!

Nesse mundo sou diferente!

Monstros cruéis.

Já não bastou acabar com minha infância?

Tirar minha esperança?

— Menininha, entendeu? — O homem tornou a falar com a voz ainda mais puxada e ardilosa.

Guilherme assentiu, com um leve gesto de cabeça. Estava meio entorpecido pelo pavor dos fantasmas do passado e, embora visse todos os detalhes da cena acontecendo diante de seus olhos, aquilo tudo parecia irreal, como num pesadelo.

O homem agarrou a bolsa de aventureiro do rapaz e puxou-a forte, mandando-o, depois, ficar de joelhos e esvaziar todos os bolsos.

— Herói, se você não reagir, não vai sair vivo deste lugar — avisou a pedra.

Foi doloroso para ele admitir, que para um herói, aquela mísera bolsa era tudo que tinha naquele mundo. 

O sangue voltou a correr pelas veias arrancando Guilherme do estado de letargia, onde conseguiu reagir, puxando de volta e abraçando sua bolsa como se fosse um valioso tesouro.

— N-não, é minha — ele sussurrou.

O homem se surpreendeu com a reação daquele covarde, e ainda incrédulo, voltou a apontar o punhal e perguntou:

— O que você pensa que está fazendo, menininha, quer tanto assim ser apunhalado?

Guilherme ignorou e se afastou, depois apertou o passo para alcançar o Gerente da guilda, porque só ele poderia lhe ajudar nesse lugar, mesmo aquele sujeito sendo ainda mais ameaçador.

O outro homem agarrou seu machado e se levantou, bloqueando a passagem do rapaz. Ele era maior que o comparsa e com a cara ainda mais medonha.

A seguir, ele passou a língua nos lábios e fez um gesto para ou outro de trás, que por sua vez, parou e guardou o punhal na cintura.

— Você não pode rasgar essa pele lisa e linda porque seria um desperdício. Podemos vender essa coisinha para a casa de prostituição. Ouvi hoje de manhã que estão precisando de escravos sexuais, o que você acha?

— Não sei, ele tem a pele branca e lisa, é capaz de valer algumas moedas. Ou, só o couro, sei de nobres que pagam melhor quando estão descarnados!

As baixas risadas macabras dos outros criminosos que também estavam naquele salão sombrio se espalharam, todos pareciam se divertir com aquela impiedosa tortura.

— Não há honra nessa casa! — comentou a pedra. — São todos covardes! Homens como esses merecem ter a sola dos pés arrancadas.

— E quem vai fazer isso? — Guilherme começou a soluçar.

— O que você disse? A menina tem coragem. — O homem do machado se animou. — Vou levar você para minha cabana. Vai ser divertido te amansar para depois vender para algum nobre pervertido.

Droga, droga…

Pedra desgraçada!

Esses comentários fora de hora vão me matar.

— Patifes, deixem o rapaz passar — disse o Gerente já atrás do balcão. — Primeiro o objetivo, depois os negócios.

— Ora, ora, Gerente, só estávamos brincando com o garoto. — O homem abriu a passagem. — Certo, pode passar gracinha. Antes de partir, venha aqui, se quiser fortes emoções. Hahahahaha!

Guilherme controlou a crise de soluços e correu para o balcão.

O Gerente, desconfiado, encarou o rapaz.

Os seus traços, ora retorcendo nas sombras, ora gravados a fogo quando as chamas na lareira saltavam e estremeciam, eram mascarados pela barba grossa e escura. Seus olhos escuros e insensíveis combinavam perfeitamente com a penumbra.

— O que você quer? — ele perguntou. — Contratar um trabalho, vamos ver, geralmente para rapazes do seu tipo: querem que alguém morra, um assassinato. Quanto maior é a eficiência, maior é o número de moedas.

— Não — soluçou Guilherme. — Vim para me inscrever na guilda da caveira.

— Que os vermes corroam os ossos do meu irmão, aquele patife. O que temos aqui, você é fonte mágica negativa?

— Sim!

Houve um ataque de gargalhadas no salão.

— Só ventos do agouro para trazer uma flor tão delicada para essa fornalha do inferno.

O Gerente pegou por baixo do balcão um cristal semelhante ao da guilda dos heróis, e o colocou na frente do rapaz.

— Você sabe como funciona — disse ele. — Coloca a mão de uma vez.

Guilherme estendeu a mão sobre o cristal, e como da última vez, irradiou um brilho escuro como alcatrão.

— Que escuridão sinistra — disse o gerente.

O rapaz retirou a mão e depois coçou a cabeça, parecia um mau presságio.

— Má sorte, garoto, seu lugar é nessa fornalha queimando junto dos miseráveis. É um tom de negro especial, mas o volume é fraco, menos radiação que uma vela no final de fio. Que Krig poupe seu coração.

— O que foi isso? Clamar por um deus, Gerente? — Um homem bêbado que estava perto escutou o comentário e gritou surpreso: — O Círculo Dourado vai queimar sua carcaça na fogueira!

— E vai arder mais ainda — disse o gerente, puxando um bastão e golpeando a cabeça do bêbado. — É preciso dar uma olhada nesse corte na sua cabeça, maldito. Aqueles hereges não têm autoridade dentro das guildas.

O bêbado com a cabeça rachada caiu no chão desmaiado, ou morto, não dava para saber. Mas não estava respirando.

Mais que droga!

Onde fui me enfiar?

Pera… não era o contrário?

Quem queima na fogueira são os hereges, eles não queimam as pessoas de fé.

Tifuder!

Deuses, cultos profanos, violência, fogueiras: não tenho nada a ver com isso.

Que inferno é esse?

Só quero ganhar dinheiro para não morrer de fome.

— Bêbados malditos, não vou renegar o deus da guerra, seria um erro. No meu ofício, proteção nunca é demais.

O gerente guardou o bastão, em seguida encarou Guilherme e continuou:

— O que vai fazer, rapaz, entrar para algum bando?

O homem carrancudo deu um murro no balcão, e chamou a atenção de todo o salão.

— Alguns dos miseráveis aceitam o franguinho no bando?

Um homem se levantou empolgado, era o sujeito de antes, o qual usava touca e empunhava o machado simples. Ele bateu sua arma contra o assoalho de madeira. Criou um ruído fino e longo.

— Sou Pem, o líder dos Cervos sem Chifres: eu digo que o rapaz pode entrar para meu bando — concluiu rindo: — Sempre pode se arranjar utilidade para uma coisinha linda.

Nível bronze

PEM

Bando: Cervos Sem Chifres.

Posição no bando: Líder.

Função: Combatente. 

Infâmia: O Cão Molestador.

Recompensa: 35 moedas de bronze.

Homem cruel, que prioriza seu prazer em vez da razão. Gosta de ser a porta de entrada para os mercenários novatos. 

◈◈◈

Outro homem se levantou, estava junto de um grupo no fundo do salão.

— Sou Suem: Os Abutres aceitam a entrada do novo mercenário para o bando — disse firme.

Nível bronze

Os Abutres: Bando de mercenários nível bronze.

Infâmia: O bando é conhecido por não rejeitar trabalho.

SUEM

Bando: Os Abutres.

Posição no bando: Líder.

Função: suporte. 

Infâmia: Hálito seco.

Recompensa: 30 moedas de bronze.

Um homem careca, que a sua testa na escuridão do salão da guilda refletia um brilho sem vida. 31 anos. 1.82 de altura. Pele branca e bronzeada. Magro, porém, os músculos eram bem traçados. Olhos escuros e arregalados como um doente. Usava uma túnica branca, com detalhes vermelhos. Também tinha cordas negras em volta dos pulsos, tornozelos e cintura. Seu calçado era uma sapatilha de couro. Não tinha nenhuma arma à vista.

◈◈◈

— Carniceiro — berrou Pem. — O seu maldito bando só quer uma reserva de carne para os momentos difíceis. São idiotas demais para saber que podem fazer um uso melhor para esse corpo.

— Como você, Pem, o cão molestador — retrucou Suem. — Você é um maldito massageador de bolas! E se orgulha disso. Só quer o frango para as noites frias.

Os mesmos valentões de sempre.

Os filhos de puta me perseguiram na Terra e vão me perseguir no meu novo mundo.

É isso?

Essa é uma maldição que me deixa frustrado.

Estou sempre abaixando a cabeça e sorrindo amarelado.

Mas eu tenho que fazer essas coisas para não apanhar, para não me machucar.

Sempre foi assim.

Droga, não, nada mudou.

Eu morri em vão!

Enquanto o salão mergulhava num conflito de bandos, o Gerente encarou Guilherme e perguntou:

— O que vai ser, rapaz, para qual dos bandos você vai entrar?

— Nenhum! — Quase foi um grito de desespero. — Quero criar meu próprio bando!

Num estalo, silenciou o salão, e depois todos começaram a bater nas mesas e arrastar as cadeiras, enquanto explodiam sonoras gargalhadas.

— Herói, se não levantar o tom, se não reagir, será devorado por esses homens — avisou a pedra. — Que tipo de guerreiro é você que não reconhece isso?

Eu sei, droga.

Essa pedra pensa que é fácil.

Não quero me machucar.

Só quero fugir.

Será que isso tudo vale a pena, não há outra forma?

Não adianta, não tenho para onde retornar.

O que fiz da minha vida, mamãe?

Como, como… como fui terminar assim?

Eu não sei sobre os anjos, mas é o medo que dá asas ao homem!

Guilherme saiu da toca do coelho com um pouco mais de confiança.

— Tem certeza, rapaz? — O Gerente ergueu o queixo.

Guilherme sobressaltou-se e olhou diretamente para os estreitos olhos escuros daquele sujeito carrancudo, como se procurasse neles significados que as palavras não revelaram. Os olhos atrozes pareceram dilatar-se, e depois baixaram, soturnos, perante o olhar frouxo do rapaz.

— O que, não posso?

— É permitido — disse o Gerente esfregando o cristal com um pano encardido. — Pelas suas roupas, você é um camponês. E com esse olhar apavorado, aposto que nunca pegou numa espada…

"Existem horrores demais nas ruas.

“Acredito que pensou que poderia mudar de vida entrando numa guilda. Mas pela vontade dos deuses nasceu com magia negativa. Aqui não é como plantar batatas numa fazenda, aqui lidará com os piores seres do mundo.

"Escute, você não tem experiência. Sozinho irá ver o sorriso de Krig, se não, um destino pior. Entre para um desses bandos, poderá ser difícil no começo; faça alguns favores, deixe outros felizes, e irá sobreviver, se acostumar; todos se acostumam.”

— Se é louco, não, olha para esses caras. — Guilherme espichou o pescoço, para não ter que olhar para os lados e não conseguiu controlar o palavreado. — Irei morrer se me juntar a qualquer um nesse lugar podre. Não vou durar uma semana.

Sombras negras oscilavam nas paredes enquanto o Gerente encarava o rapaz de boca desmedida. O corpo entroncado e amplo por trás do balcão parecia crescer e expandir-se à luz do fogo da lareira, lançando atrás de si uma sombra longa e ameaçadora.

Os pelos da barba eriçaram e o rosto ganhou a profundidade de um abismo.

A confiança momentânea, com destino para o lugar mais longe possível, estava abandonando o coração de Guilherme.

Vários homens se aglomeraram em torno do franguinho trêmulo, querendo um pedaço da carne macia.

— Você não entende onde está, pedaço de merda? — A voz pesada do Gerente causou calafrios no rapaz. — Se não medir suas palavras, não vai sair inteiro dessa guilda!

Guilherme se encolheu como uma uva no sol, vistoriando rapidamente todos em sua volta. Então, quase chorando, voltou a direcionar os olhos para o Gerente. Então entreabriu os lábios, mas não deixou escapar nenhum gemido de medo.

Apoiava-se com as mãos no balcão para não cair no chão, porque as pernas já não tinham mais sustentação.

Droga, droga, droga…

O que está acontecendo, esse não é o mundo de Isekai que tanto sonhei, tanto desejei.

Eu morri e vim parar no inferno?

Afinal, eu merecia, depois do que fiz com ele, né?

Deu ruim… independente da nova vida, não importa o que faça, nem mesmo um mundo novo, todos irão me fazer sofrer, será sempre uma bosta para mim.

Esse é meu poder especial: só se fuder!

— Herói, herói, se não fizer nada você vai morrer — disse a pedra. — Reaja!

— Desculpe minhas palavras rudes, bom senhor — disse Guilherme se controlando para não chorar. — Só quero me inscrever numa guilda e viver minhas aventuras.

Neste momento, o Gerente começou a gargalhar de boca aberta. A saliva jorrava para todos os lados, manchando o balcão de madeira e caindo sobre o cristal. 

Todos os homens que cercavam o rapaz, começaram a rir e agitar os braços.

— Vocês escutaram, canalhas? Sou um bom senhor. Aventuras, é isso que você quer? Está longe de casa, franguinho. — O Gerente fez sinal para todos os outros. — Vão encher a cara, seus vagabundos, eu cuido do frango desmiolado!

— Não pegue pesado demais, Gerente — disse Pem com os olhos esbugalhados de tanto rir, deitou o machado sobre o ombro e se afastou. — É um rapaz fresco!

O Gerente voltou a contornar Guilherme com os olhos.

— Não é brincadeira, aqui é a sala dos miseráveis, a maioria desses homens sonharam um dia em ser aventureiros. Não confunda essa guilda com a guilda dos heróis, aquele lugar é perverso!

Guilherme desviou os olhos. Apoiou o corpo no balcão para firmar ainda mais e disse:

— Eu só quero me inscrever numa guilda.

— Você é covarde!

Três palavras foram ouvidas, mas foi a palavra covarde que invadiu os ouvidos do rapaz como cera quente, ela tem um efeito admirável nos homens.

Guilherme inclinou-se, espremendo instintivamente os dedos da mão contra a madeira do balcão. Já no escuro poço do medo, juntou todo o brilho do orgulho que restava no seu coração em frangalhos.

— Não quero depender de ninguém, não vou! Vou seguir minha estrada, para o bem, para o mal, não importa o que aconteça!

Foi então que um sorriso angustiante surgiu na face carrancuda do Gerente.

— Muito bem, rapaz, a escolha é sua! Coloque a mão outra vez sobre o cristal.

Guilherme não criou caso ou fez perguntas, só queria terminar logo para desaparecer desse lugar imundo. Ao colocar a mão, o cristal não brilhou.

— Qual o nome do bando? — perguntou o Gerente.

Guilherme foi tragado para a toca do coelho.

Eu já errei muito nesse mundo, e nada é como imaginei.

Mas o nome do meu grupo de aventureiros já sabia deste que era criança, quando corria entre os pés de café no sítio, era tão divertido.

Será que você ainda está lá?

Claro que não, depois de tudo que fiz… claro que não!

E daí que sou covarde? E daí que sou fraco? E daí que é um bando? E daí que sou um mercenário? E daí que não tenho valor?

Só há um nome… o nome que escolhemos juntos!

— Coelho! O bando: Coelho!

Guilherme levantou a cabeça lentamente até ficar erguida. Seus olhos, apesar da falta de coragem, brilhavam intensamente.

— Pelo menos esse bando vai dar um bom guisado — gritou Suem, o líder do bando Os Abutres.

Guilherme não conseguiu reagir e permaneceu calado.

Os homens que assistiram àquela cena humilhante continuavam perplexos, sem pronunciar uma única palavra, apenas rindo.

— Qual é o seu nome de bando?

Eu nunca pensei num apelido, sempre achei que as pessoas fossem me nomear conforme minhas conquistas, sei lá: deus da espada; Senhor das Chamas; Monarca das Lolis.

Fail… agora não importa!

—Bem, acho que pode ser Guilh…

— Rapaz, ainda não entendeu, bando, criminosos, quer usar seu nome de sangue?

— Eu sei um bom para ele — gritou um dos frequentadores, se divertindo à custa do rapaz. — Rabinho Felpudo!

— Combinou com o coelhinho — gritou outro. — Vem aqui, Rabinho Felpudo, senta no colo do papai!

Outra série de gargalhadas ecoaram.

Vocês vão ver, cães miseráveis.

Eu não preciso pensar num apelido idiota, porque já fui nomeado pelos céus.

Isso, continuem rindo, mas riam bastante, enquanto podem.

— Esse é meu apelido: O sábio!

— Enlouqueceu? — perguntou a pedra. — Avisei para não mencionar sua classe especial.

Esses idiotas estão ocupados demais rindo para fazerem qualquer associação.

Chutei o balde, mesmo, não tô nem aí.

Não vou ser o herói medieval babaca.

Vou ser um herói grego!

Glória!

O que adianta ser incrível, se ninguém vai saber?

A luz negra brilhou dentro do cristal. Guilherme sentiu um leve formigamento na mão, então a puxou de volta surpreso.

— Certo, O Sábio, está finalizado — disse o Gerente, guardando o cristal e rindo. — Agora só precisa criar um símbolo para seu bando, apesar que consigo imaginar qual será: um pé de coelho!

O homem contraiu as costelas e se acabou de rir.

— Gerente, escute minhas palavras, vocês pisaram em mim, mas o meu bando será o maior desse mundo. Essa guilda perdeu o melhor membro. O Sábio nunca mais voltará para esse buraco!

O gerente fez uma cara séria, um pouco triste, muito desamparada.

— Você realmente não conhece como são as coisas lá fora. O mundo é grande demais. Não têm ideia dos pesadelos que vagam nas sombras. Não dou nem três meses para voltar de corpo e alma quebrados. Será conhecido como: O Sábio Miserável!

Guilherme recusou tudo e se afastou.

Ele se sentiu mal, só queria sair daquele lugar maldito, mas ainda precisava arranjar uma forma de conseguir moedas; então anatou no seu pergaminho alguns serviços interessantes do quadro de trabalho e se apressou para ir embora, não aguentava mais permanecer naquele lugar.

— Que pena a cabeça desse coelho não valer algumas moedas, seria lucro fácil — disse alguém sem importância.

Guilherme ignorou completamente, só queria ir embora, quase estava correndo.

— Gracinha, ainda pode entrar no meu bando. — Pem deu um tapa forte na bunda do rapaz. — Vou cuidar de você!

O companheiro de Pem ameaçou ir para cima dele também, mas só tirou uma casquinha relando a mão no rosto do rapaz.

O interior de Guilherme gritou por uma reação, mas apenas correu vacilante, quase tropeçando nas próprias pontas dos dedos. As pernas não sustentavam seus passos. Assim, deixou o local.

Quando fechou a porta daquele lugar maldito e a luz do sol voltou a esquentar sua pele, sentiu um grande alívio.

Já era fim de dia.

O rapaz não estava feliz.

Ele nada tinha a ver com alguém que escolheu as trevas por achar que seria um caminho mais divertido.

Droga, droga, droga, droga, droga, droga!

O vento de fim de tarde soprou forte e frio.

Depois das provocações e das intimidações dentro da guilda, Guilherme, se sentiu solitário, e com a confiança destroçada. Usou todas as forças para não chorar.

Com as pessoas que vagavam por aquela rua que estava, tornava-se impossível encontrar uma faísca de comoção, de companheirismo.

O problema para Guilherme não era o fato que foi ele mesmo que havia escolhido o poder mágico das trevas. Não é o fato que esse mundo se revela cada vez mais assustador.

O que machucava o seu coração, foi o fato que mesmo apostando sua vida anterior, ele não mudou e continuava o mesmo fracassado de antes, só que dessa vez, sozinho.

— Não está sozinho porque estou com você — antecipou a pedra.

— Dói, pedra… dói muito, sou um covarde. Eu não sei o que fazer.

Seus sentimentos eram tão intensos que o suposto herói esqueceu que suas lamentações pudessem levantar a suspeita da besta sobre a sua verdadeira natureza.

Só que naquele momento nada importou. Naquele momento toda a dor veio de uma só vez.

Os olhos de Guilherme inundaram de lágrimas, não podendo mais segurar, então chorou… chorou muito.

— Mudar nossa natureza é difícil, herói — lamentou a pedra.

...



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