Lana – Uma Aventura de Fantasia Medieval Brasileira

Autor(a): Breno Dornelles Lima

Revisão: Matheus Esteves


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 28: A torre de gelo

Na capital do reino de Polaris a construção mais notória era a Torre de Gelo, nome da torre principal do castelo do rei. Este por sua vez era denominado de o supremo. A torre era uma formidável fortificação criada num enorme paredão de gelo que mesclado as pedras formavam uma esplêndida obra de arquitetura, parte moldada pela natureza e parte pelo homem.

A torre central, era o ponto mais alto da capital. Do alto o supremo governa com os olhos voltados para o seu povo, mas isso sem esquecer do mundo externo, pois dali sua visão alcançava longas distâncias. E foi numa tarde gélida que um dos olhos do rei presenciava o retorno ao lar de dois viajantes.

Assim que chegaram eles foram recebidos por serviçais e do alto de uma escadaria, protegidos do vento cortante por uma enorme porta de cristal duas mulheres observavam atentamente. Uma mulher de meia idade de pele branca, mas de cabelos negros e olhos castanhos, estampava uma expressão serena, ocultando sua real ansiedade, demonstrada apenas nas mãos que não se aquietavam. Esta era a rainha Sabrina e ao seu lado uma mulher jovem, pele extremamente clara e cabelos dourados e olhar gentil, a princesa Karine. Ambas aguardavam pelo retorno do jovem príncipe.

Ao notar a presença de sua mãe e de sua meia-irmã, Rafael tratou de subir apressadamente as longas escadarias da torre. Dois guardas empurraram os portões de cristal, uma lufada de ar gelado entrou pelo aposento seguido de passos apressados. Após cinco anos longe de casa, finalmente Rafael retornava ao seu lar.

— Minha mãe! Há quanto tempo! — dizia Rafael abraçando a rainha e ignorando todas as formalidades.

— Meu filho, seja bem-vindo de volta! Olhe para você, está formidável! — dizia a rainha, seus olhos brilhavam de orgulho.

— Seja bem-vindo meu irmão — cumprimentou em seguida a princesa.

— Muito obrigado minha bela irmã. Você está linda, parece uma verdadeira princesa de Polaris! — respondeu Rafael.

— Seu bobo, eu sou uma princesa e de Polaris — respondeu a jovem tentando conter o riso.

— Mas por que demoraram tanto para retornar meu filho? Ficamos muito preocupados com a sua demora.

— Infelizmente fomos obrigados a passar por Bravia e as coisas estão um pouco complicadas devido a invasão dos povos do leste.

— Vocês passaram pelo campo de batalha? Tiveram que lutar para chegar até aqui? – perguntou a rainha apreensiva.

— Não passamos por nenhum campo de batalha, o nosso caminho foi o mais discreto possível graças ao meu bom amigo Edmundo que esteve do meu lado a viagem toda e conhece as melhores rotas de todo o continente — disse Rafael apontando para seu amigo que subia as escadas lentamente.

— O sagaz sempre cumpre a sua missão — disse a rainha. — Embora dessa vez ele tenha se demorado um pouco mais do que o esperado.

— A culpa não é dele, as principais cidades estavam sitiadas, perdemos um bom tempo seguindo por rotas alternativas.

— Todas as cidades foram tomadas? — perguntou Karine.

— A essa altura é provável, só não sabemos se eles ficarão satisfeitos ou se continuarão em sua marcha de conquista. Por falar nisso, onde posso encontrar o supremo?

— Bem, seu pai está na sala do trono — respondeu a rainha.

— Ele também está lá?

— O nosso irmão estava no conselho de guerra até onde eu sei — completou a princesa.

— Pois bem, irei me apresentar ao supremo. — O príncipe deu alguns passos e então se voltou para Edmundo, levou a mão até a cintura e desatou o florete com a sua bainha.

— Em que mais posso lhe ser útil, alteza? — falou Edmundo em tom cerimonioso.

— Meu bom amigo, me faça mais um favor antes que eu me esqueça. Leve esta peça até o Armeiro. Diga-lhe para devolvê-la o seu dom natural.

— Perfeitamente. — Edmundo pegou a arma, fez reverência a família e partiu em busca do armeiro do castelo que ficava alojado numa construção adjacente à torre principal.

— O que era aquilo? — perguntou Karine curiosa, seguindo Edmundo com os olhos.

— Uma espada inutilizada — respondeu o príncipe.

— Não me diga que se envolveram em combates? — perguntou a rainha.

— Não! Aquilo é apenas uma arma danificada que espero que seja reparada — explicou Rafael resumidamente enquanto caminhavam em direção as escadarias que levavam até a sala do trono.

— E quanto aos combates? — insistiu a rainha.

— Tivemos alguns contratempos. Mas não foi nada grave, pois como as senhoritas podem ver eu estou ileso — disse Rafael piscando o olho e empurrando o grande portão a sua frente.

Assim o príncipe entrou sozinho no salão principal, tão logo ele adentrou os vigias fecharam o portão, deixando as duas mulheres para trás. O local era bem amplo e seguindo em frente o caminho dava em direção ao trono real. Rafael passou os olhos pelo salão e não viu sinal algum de seu pai.

Por alguns segundos ele fitou o trono. Diziam que tal como o castelo, fogo algum poderia derreter o assento. Era feito de cristal, translúcido e com diversos adornos rústicos entalhados.  Suas quinas refletiam diversos feixes multicoloridos de luz. Era uma peça de valor inestimável.

Enquanto divagava em seus pensamentos, o estrondo de uma porta se abrindo bruscamente o assustou. O supremo entrava em passos largos discutindo política com seu filho mais velho. O assunto não poderia ser outro senão a guerra que assolava o continente. Mas ambos se calaram, ficaram surpresos ao notarem a presença do membro mais novo da família ali na sala do trono.

— Ora, veja só se não é o meu irmão mais novo? — disse o sucessor admirado. Este era o príncipe Ricardo. Um homem alto, de trinta anos, barba espessa, cabelos claros como o do pai.

— E já não era sem tempo! Este garoto já estava começando e me deixar preocupado! — disse Eric Valle Arpoador, o supremo. — Estávamos até mesmo questionando se Edmundo perdeu sua habitual sagacidade!

— Perdoe-me pela demora meu pai. Tivemos alguns imprevistos por conta da guerra.

— Se dois dos homens mais capacitados do reino não conseguem sequer chegar em casa eu posso entregar o meu trono para o primeiro invasor que aparecer! — respondeu o supremo enquanto abraçava o filho. — Cinco longos anos em Porto Celeste, e vejo que tenho um homem na minha frente — continuou Eric.

— Espero que o calor daquele lugar não tenha te amolecido demais irmão.

Antes mesmo que Rafael pudesse responder o supremo respondeu por ele:

— Eu não mandaria o meu filho para uma academia de esgrima por tanto tempo se não fosse para torná-lo mais do que quando ele partiu. Reconheço de longe quando vejo um grande homem e posso afirmar que aqui temos um!

— Pelo menos três, meu pai! — respondeu rápido o príncipe Rafael.

— Vê como ele é esperto? — disse o supremo e em seguida dando uma longa e alta gargalhada.

— E quanto a guerra meu irmão? Tem algo que pode dizer sobre ela? — perguntou o príncipe Ricardo.

— A situação não nada bem em Bravia.

— Deixe esses assuntos para depois, venha vamos festejar o seu retorno! Quero que me conte das coisas que realmente importam! — disse o supremo levando o filho para uma outra sala. — As mulheres em Porto Celeste continuam fascinantes?

E foi dado início a preparação de um grande jantar de celebração pelo retorno do príncipe.



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