Volume 1 – Arco 2
Capítulo 27: O reino de gelo
Rafael e Edmundo finalmente deixaram para trás os campos verdes de Bravia, atravessaram dentro da grande cordilheira e chegavam nos limites de sua terra natal.
Os dois viajantes desceram a montanha e seguiram algumas horas por uma estrada até se depararem com um gigantesco portão de gelo. Nele estava estampado o brasão de uma cabeça de urso branco à frente de um grande machado de dois gumes.
Uma grande muralha de pedra rodeava todo o vale e representava a última linha defensiva, atravessando-a, a dupla estaria oficialmente no reino de Polaris, ainda assim, seria necessário percorrer mais alguns quilômetros pela neve até chegar à capital do reino.
Do alto das torres as sentinelas controlavam a entrada e a saída das pessoas, somente com autorização real os portões eram abertos. Uma vez concedida, um grupo de homens girava um conjunto de engrenagens que arrastavam as enormes pedras de gelo liberando o acesso, um som enorme se fazia ouvir por todo o vale quando as pedras finalmente repousavam.
— Ainda bem que chegamos, mais um pouco e acho que os cavalos não iriam aguentar — disse Edmundo descendo da montaria.
— Não sei como eu estou aguentando. Não me recordava deste frio todo. Mais um pouco e até minha alma congelaria — respondeu Rafael.
— É a vida naquele clima ameno de Porto Celeste que lhe deixou mal-acostumado.
— Pode ser, mas talvez eu não tenha vocação para tanto frio.
— Eu até concordaria com você se não soubesse que o sangue ancestral também corre em suas veias.
— Você não precisa me lembrar da minha própria genealogia — respondeu Rafael de forma desinteressada.
— Ótimo, porque não sou professor de história e você deve saber muito mais do que eu sobre estes assuntos.
— Eu deveria saber meu caro amigo, deveria.
Os cavalos foram deixados num estábulo. Um homem se aproximou e entregou um trenó e acomodou a pequena bagagem da dupla, outro homem trouxe um par de lobos brancos da neve. Eram animais de grande porte e com a pelagem longa pareciam ainda maiores. O homem fazia grande força para conter o ânimo das feras que por pouco não o arrastava. Rafael esperou o homem atar todas as rédeas nos lobos e então se aproximou.
Partiram para a última etapa da viagem. Deslizando pela neve, passavam rapidamente pela paisagem quase inóspita. Vez ou outra se deparavam com algum tipo de vegetação, raramente algum animal selvagem era visto.
Por vezes a desolação era quebrada por pequenas cabanas, no mais a imensidão branca dominava o cenário até que a grande capital do reino despontou no horizonte. Apenas um pequeno ponto distante que cada vez mais tomava forma conforme eles avançavam.
Edmundo esboçou um sorriso de satisfação no rosto, pois após meses de atraso sua demanda foi cumprida, trazia em segurança de volta ao reino o segundo na linha de sucessão, o príncipe Rafael Valle Arpoador.