Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 2

Capítulo 88: A Calmaria Antes da Tempestade

Devorando uma pasta de comida, San observava o antigo campo de batalha, os menos feridos ajudando a recolher os cadáveres. Dois montes, um contendo os monstros, e o segundo humanos.

Cavar nesse terreno seco, morto e repleto de terra seria fácil considerando as habilidades físicas dos mutantes ali, o problema seria deixar os corpos.

Monstros andam nessa floresta constantemente, caçando, passeando ou só procurando comida. Quando achasse inúmeros túmulos, o permitindo devorar tudo, atrairia a atenção das bestas de diversas espécies, podendo as levar a base.

Outra questão nisso, seria eles virarem zumbis ou fantasmas, aterrizando as florestas, matando humanos, os próximos exploradores e qualquer ser vivo.

Por fogo é a melhor escolha, extermina os restos mortais, impede de nascer qualquer coisa dos mortos e a família não tem que se preocupar com o corpo, mesmo muitos ficando irritados por nem terem o cadáver do filho.

A pilha dos monstros queimava violentamente, soltando fumaça preta. A dos humanos, formaram um círculo, vendo os corpos, os sons de choro ecoando, alguns querendo negar e reclamar, se culpando.

Quando a pira foi acesa, mantiveram os olhares nas chamas crescentes, em silêncio. San continuou no seu lugar, comendo e saciando a sua terrível fome, coçando o peito e descansando.

Terminado o fogo, alguns recolheram as cinzas e guardaram. No seu canto, San quase dormia, sua mente girando e uma dor de cabeça o enchendo.

Vindo na sua direção, uma soldada de cabelos loiros ultrapassando os ombros e tentando esconder o machucado na perna, mancando na sua direção, parou.

A comandante da missão, seu nome: Brenda, uma mutante respeitada pelos soldados e ela se preocupa com os seus, sendo facilmente percebido ao prestar atenção à vermelhidão dos seus olhos.

— Vamos juntar os equipamentos e marchar novamente por um tempo, devemos pegar uma boa distância daqui e montamos acampamento. Siga só as minhas ordens, desobedeça, e te mando a pé de volta.

Concordando acenando, San arrumou suas coisas, esticando o corpo e dispersando o sono. Demoraria umas horas até o anoitecer, teria de aguentar.

Nessa missão de exploração, foram utilizados dois jipes de alta potência, capazes de passar esse terreno irregular, recarregando suas baterias usando energia solar, e guardando boa parte do essencial para sobreviverem.

Iniciando a caminhada, San limpava o suor do rosto irritado, odiando esse clima quente. De repente, um grupo veio perto, acompanhando do seu lado.

Abrindo um sorriso, escondeu o rosto, esperando puxarem conversa. Hana, sua irmã, com uma carranca e curiosa.

— Onde aprendeu a lutar?

Pego de surpresa, respondeu:

— Li um livro.

— Aprendeu aquilo em um livro?

Dando de ombros, caminhava calmamente. Lake, o loiro bonito na sua esquerda perguntou:

— Sua dica foi realmente útil na hora de utilizar meus poderes, só preciso me ajustar melhor. — Seu rosto sendo sempre sério, os olhos afiados além.

“Poderia falar isso sorrindo, parece forçado.” San pensou observando o cabelo antes manchado de sangue limpo.

— É bom seguir as minhas dicas.

— Pois é, e onde aprendeu esse tipo de coisa. — Maria, cética do conhecimento, perguntou.

— Experimentando, e conheci vários mutantes experientes, me ensinaram muito.

Sendo os únicos a conversar, San manteve isso por um bom tempo, melhorando no círculo social, mudando as opiniões do pessoal. Puxando um assunto aleatório, perguntou:

— Sabem de Max?

Hana soltou um bufo, desviando o olhar, irritada.

— Aquele maluco foi pra equipe de extermínio, responsável de matar os monstros que tentam chegar perto da cidade. Deve tá adorando.

Notando facilmente a raiva de Hana do seu amigo estranho, desferiu o olhar a Maria.

— Max queria lutar contra ela, e quando negado, a atacou do nada, fazendo os dois serem punidos. — Maria respondeu soando cansada de contar essa história.

— Aquele cara ainda vai ver, eu vou o ferrar também. — Hana murmurava, às vezes soltando risadas sinistras.

“Bom que eu não sou assim.” Depois de duas horas, chegaram no lugar marcado para o acampamento. San pegou uma barraca guardada, já que muitas perderam seus donos, e a montou meio isolado, claro, dentro do limite da guarda severa dos mutantes e soldados.

Seu familiar, Garmir deitava no lado de fora, gostando bastante de ficar assim, apreciando as estrelas e o som da vegetação, independente da maior parte estar morta.

Sentado tranquilamente, San tinha o corpo limpo por panos molhados e lenços, o normal ali, evitando de gastar água. Tudo terminado, tirou sua armadura, e na hora do peito, arregalou os olhos assustados.

No meio do seu peito, veias escuras saltavam da sua pele, um vermelhidão o cobrindo. As marcas escuras queriam subir mais, porém, não havia energia, se limitando àquela parte.

Pondo as mãos na frente do rosto, sentia uma vontade de coçar aumentado, forçando a resistir. 

— Sacro, tem alguma consequência?

O relógio no seu pulso demorou a responder, o símbolo de carregando estampado na sua superfície.

— Por enquanto está tranquilo, enquanto estiver longe do coração e do cérebro é administrável. No entanto, percebi uma diferença, comparado a última vez.

Engolindo em seco, deu um sorriso nervoso.

— Espero ser uma diferença melhor.

— É, quem dera. As veias tão mais violentas, forçando a contaminar as vizinhas, sempre querendo avançar. De acordo com meus cálculos e suposições, sempre ao usar esse poder desconhecido, irá piorar, talvez chegando ao ponto do seu corpo não resistir.

Soltando um longo suspiro, perguntou:

— Por que tô aguentando?

— Na primeira vez fui incapaz de determinar, mas agora acredito ter conseguido. Sua habilidade de roubar poderes te salva e prejudica.

Confuso, o rosto de San se contorcia, procurando uma resposta.

— Sua habilidade impede das veias se corromperem, o dominando. Contudo, facilita da máscara o contaminar, o chamar para usar. A questão é se dominar seu coração ou cérebro.

Preferindo evitar até imaginar esse resultado, San deitou na barraca macia. “Confirmado, nunca vou deixar essa máscara me dominar novamente, vou continuar a ser eu, um humano.”

Pegando no sono rapidamente, perdeu suas energias, entrando no mundo dos sonhos.

No lugar de sempre, a lua de sangue brilhando fortemente no céu completamente escuro, San andava sob um mar escuro, incapaz de ver o fundo, seus passos reverberando na água.

Reconhecendo o que iria acontecer, San abriu os braços, aceitando. Subitamente, mãos explodiram dos seus pés, o agarrando, puxando. Subiam no seu corpo, todas as suas vítimas, só de ter seu poder roubado, tinha um lugar especial nesse lugar.

O escalavam, as bocas abertas gritando, os olhos completamente sem cor, chorando lágrimas escuras. No entanto, diferente das últimas vezes, onde só tentavam chegar no seu rosto para gritar, fecharam a boca.

Estranhando isso, abaixou a cabeça, e o encararam.

— Assassino. — Um dos mortos falou, um jovem mimado de boa aparência, sua primeira vítima.

— Assassino.

— Assassino.

— Assassino.

Em uníssono, as vozes o chamavam de assassino, um coral enchendo seus ouvidos, desequilibrando, caindo na água. Sentindo um líquido no canto dos olhos, pôs a mão.

Incapaz de compreender, um líquido escuro caia, aumentado constantemente. O coral só aumentava, as vozes sendo estridentes, como se todos gritassem diretamente nos seus ouvidos, o acusando, culpando, exigindo justiça.

— Para!

San implorava ser livre desse inferno, só para ser soterrado, seus gritos abafados pelas acusações.

Sentando em um pulo, San respirava rapidamente, suando e ofegante, procurando ao seu redor, os pelos do seu corpo arrepiados. Vendo estar no mundo normal, respirou fundo, acalmando sua condição.

Soltando uma risada curta, caiu de volta rindo. “Eu to ficando maluco, ótimo!” Cerrando os dentes fortemente, apertava os punhos.

Nessa posição, seja lá quanto tempo, uma sirene tocou no acampamento, acordando os soldados e alunos, o chamado para despertarem e arrumar suas coisas.

Amaldiçoando essa sensação, checou os ferimentos no seu corpo, os curativos e se infeccionou. Seus ossos poderiam ser muito resistentes, capazes de aguentar grandes pancadas, mas sua pele continuava normal, um corte no lugar errado, e acabou.

Vestindo sua armadura novamente, confirmou da marca no seu peito estar no controle, diminuindo levemente, provavelmente sumindo em dias. Com descanso, até menos, talvez horas, o complicado seria conseguir isso no campo desses.

Saindo da sua barraca, comeu um pouco e foi a Brenda, ordenando a guardarem as barracas, limpando a área e avisar aos alunos se arrumarem e prepararem para marchar novamente.

Devido aos jipes terem espaço limitados, foram reservados pra os importantes ou feridos, forçando o restante a caminhar, tendo pequenos espaços de intervalo.

Aguardando ela terminar, deu um sorriso e perguntou:

— Já vamos?

— Exatamente, estamos perto, ao meio-dia alcançaremos o nosso objetivo.

Surpreso de já estarem próximos, falou:

— Bom, e qual o objetivo?

Brenda só estendeu a mão e apontou para as costas de San, e virando a cabeça, forçou a boca a permanecer normal. Era a montanha vista da base, até o surpreendendo o quanto caminharam em um dia.

“Depois de umas horas caminhando, só ativei o modo automático, ignorando as distâncias eu acho.” A viagem demoraria um bom tempo, e San preferia guardar a sua energia, preocupado de ter inimigos no seu caminho ou no local.

Sabendo não ter opção, a menos que desse um jeito de montar em Garmir, algo impossível, pois o cão do inferno jamais aceitaria isso, seu orgulho impedindo.

Querendo brincar um pouco, sorriu na direção do jipe e falou:

— Uma pergunta, posso ir no jipe com vocês?

Brenda o encarou, os olhos penetrantes focados. Engolindo em seco, San desviava a cabeça. “Foi uma piada, acalma ae moça.”

— Certo, sente ali e descanse bem.

Arqueando as sobrancelhas, San ficou estupefato, considerando ser uma pegadinha. Mesmo assim, Brenda permanecia séria, logo dando ordens aos demais.

Se animando, subiu no jipe e sentou confortavelmente, pegando no sono, livre dos sonhos horríveis sobre a constante tremedeira, vozes reclamando e olhares de inveja sendo jogados nele.

“Eu sou o vip daqui pessoal, aproveitem a caminhada, vou dormir o máximo e os deixar resolver os maiores problemas.” Desfrutando da mordomia, a velocidade prosseguiu rápido, e logo depois do meio-dia, chegaram nos pés da montanha.

No solo, San esticava seu corpo, sorrindo amplamente, caminhando em frente, procurava o objetivo da missão. Querendo ir falar com os companheiros, percebeu uns estando em falta, e Brenda o chamou.

Tendo a curiosidade despertada, obedeceu, e se afastaram dos demais. Parados em uma clareira, longe o suficiente para estarem despercebidos, um grupo de mutantes e soldados esperava.

San acenou a Hana e seu grupo, e comprimento os perto, conhecendo nos treinamentos de controle de essência, e confirmou algo: essa gente era os bons, mutantes fortes.

Brenda, no meio do restante, declarou:

— Vocês aqui irão realizar a principal missão, os melhores e capazes, espero estarem prontos.

Vendo o povo acenando em concordância, San tava confuso, desconhecendo a missão.

— Vamos. — Brenda falou assumindo a liderança.

Uma marcha iniciou, as armas em mãos e cuidando seus arredores. Cansado de ser o único ali a desconhecer a real missão do grupo de exploração, cortou caminho até Brenda.

— Então, dá pra me falar ou vou adivinhar?

— Já pensou o porquê dessa região ser tão morta? — Simplesmente falou, os olhos à frente.

— A vegetação aqui é uma merda, monstros destruíram esse lugar, humanos fizeram algo, ou é natural daqui. — San liberou as teorias criadas há tempos.

Brenda acenou, não concordando ou discordando.

— Ninguém sabe o motivo na verdade, entretanto, temos teorias, umas boas. Independente de sabermos, descobrimos uma forma de consertar isso, a natureza poder dominar novamente.

Impressionado, a animação de San crescia, a ideia de participar de uma missão capaz de dar a vida a um lugar inteiro. “Ironia, um assassino querendo dar a vida.”

— Legal, o que vamos fazer?

— Tem uma caverna aqui perto, entrando, devemos enfrentar hordas de monstros, e lá dentro, terá a forma de consertar tudo.

Dessa vez em dúvida, San inclinou a cabeça, era vago, sonhador.

— Só isso? Parece improvisado.

Soltando uma risada, Brenda virou o rosto a San, revelando a animação.

— Estamos preparando essa missão há meses, quase anos. Formamos um acordo com a academia Anastasia, nos disponibilizaram os melhores alunos, estudamos essa região e sabemos estar perto.

Lambendo os lábios, San tremia. Esse plano foi praticamente maluco, os alunos sendo usados de soldados, contra a sua permissão, na desculpa de ser um treino.

— Bem, devem ter escolhido os alunos a dedo, e eu? Por que to aqui?

Erguendo o rosto, Brenda explicou:

— Consideramos o seu caso, contudo, sua violência é complicada de lidar. Mas quando me comuniquei com a base, me falaram do que você fez no caminhão, afastando hordas de bestas, as forçando recuar.

Sabendo o que ela queria, o medo de San cresceu.

— Apareci de repente, e se eu não estivesse aqui?

Estalando a língua irritada, Brenda respondeu:

— Muitos daqui morreriam. É uma sorte ti ter aqui, espero que dê tudo certo, afinal de contas, a vida de inúmeros aqui está na sua capacidade de afastar os monstros.



Comentários