Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 2

Capítulo 86: Rebelião

O sangue dos seus inimigos cobrindo boa parte de San, sua essência drasticamente baixa e cercado, a preocupação o dominando, sobrando somente uma opção.

A pulseira no seu pulso mudou a forma, subindo ao seu rosto, igual a mercúrio sendo moldado em uma máscara sorridente, pequenos chifres na cabeça pontudos, os olhos tendo uma pontada de vermelho, cobertos na escuridão.

Na hora que virou realmente a máscara, sussurros assolam a mente de San, seu corpo contraiu e ficou todo arrepiado. Sua postura mudou, desajeitada e o aperto da espada vacilando.

Rapidamente o poder veio na mente de San, o induzindo a usar, tentando ele, ao invés de deixar dominar, o controlar, resistiu.

O barulho nas suas orelhas eram insuportáveis, querendo fechar os olhos e deixar pra lá, dar permissão a essa máscara para acabar com todos os inimigos.

Esse desejo só aumentava, porém, recebeu os avisos do Ethan, um imortal vivo há séculos, sabia que só resistiu tanto tempo por sorte, seu poder confuso de alguma forma suprimindo a loucura da máscara.

Um dos maiores medos de San era ser dominado, fechando os olhos, e nunca mais abrindo, nada de si sobrar e só um ser maluco, viciado em violência, um diabo de verdade.

Uma energia nova entrou no corpo de San, violenta e abrasadora, queria o dominar, mover seus membros e atacar, dar um fim nos seres vivos ali.

Resistiu, cerrando os dentes, seu peito ardendo, e com isso, deixando o poder transbordar, mas não completamente. A sua presença mudou, cobrindo a área inteira, e qualquer ser vivo perto notou.

Todos os monstros pararam na hora, derrapando no chão, e observaram o humano, antes machucado e desesperado, ficar pior que eles.

O ar pesou, respirar complicou, o vento tinha cheiro de sangue e os corações aceleraram. A presença dele dando medo só de olhar, e os olhos, o ponto vermelho coberto na escuridão, os encarando, suplicando ser solto.

Ninguém ali ousou fazer barulho, os instintos dos monstros alertando a fugirem, tremendo.

Um dos homens peixe, corajoso, deu um passo em frente, sua arma de osso bem levantada e o peito estufado. Os monstros perto abriram espaço, querendo ver o desenrolar.

A poucos passos de alcançar o mascarado assustador, um som surgiu do nada, um zumbido nos ouvidos dos seres ali. Em breves segundos, a cabeça da besta caiu, seu corpo caminhando mais dois passos até parar, e cair no chão.

Em meio a visão assustadora, uma espada foi levantada, apontando aos inimigos. Os monstros recuaram apressados, o medo os dominando completamente.

Podem não ser muito inteligentes, contudo, a vida desses seres é luta, morte e derrotas ou vitórias. Passaram anos enfrentando inimigos e sabia quando um era demais.

Para piorar, parado, o que os monstros achavam um humano, se mostrou um demônio, prestes a pular e os eliminar, seus ataques vindo do ar.

Sem hesitar, os medrosos dali deram as costas, os homens peixes marcharam apressados de volta ao rio, submergindo e sumindo de vista. Quanto aos invisíveis, seus passos pesados voltaram à floresta, em silêncio e evitando fazer barulho.

O campo de batalha tava vazio, somente os corpos caídos para contar a história. San, de espada levantada ainda, desabou no chão. Largando sua arma, usou sua energia e moldou a máscara novamente, sendo bastante complicado, voltou a ser uma pulseira escura.

Esparramado, sua mente girava, e incapaz de aguentar, começou a tossir, seu sangue saindo da boca e derramando. Continuou nisso por um minuto, até acalmar e limpar a boca.

A cabeça doía, sua mente girava e até pensar era ruim. Virando o rosto, viu Levante preso em um galho, o observando. San sorriu e agradeceu sinceramente.

Há tempos, San pensava em uma forma de usar o poder do objeto amaldiçoado e se manter no controle, até formou teorias, faltava testar e confirmar, a pior parte.

Essa foi a primeira vez desde o caso do lobisomem a tentar, e fracassou. Claro, resistiu ao controle da sua mente, não virando a besta horrível assassina, mas isso custou muito.

Só da energia estranha o invadir foi demais, e para impedir de o controlar, teve de usar tudo de si, limitando completamente seus movimentos. Erguer a espada necessitou de uma força mental enorme, o cansaço desgastante, semelhante a correr uma maratona.

Quando o monstro veio na sua direção, achou que acabou, seria o fim da sua farsa. Para a sua sorte, Levante, a águia familiar de Liz, o ajudou, criando uma lâmina de vento forte, o assassinando na hora.

Sob a preocupação de um ataque invisível os eliminar vindo do nada, decidiram recuar. Nesse momento de exaustão, a mente de San funcionava lentamente, e por isso, nem passou na sua mente o Levante contar a Liz do seu segredo.

Demorando um pouco, forçou seus pés e levantarem, sussurrou a Sacro:

— Aconteceu alguma mudança no meu corpo?

Processando, o relógio respondeu:

— Suas veias mudaram de cor novamente, dessa vez partindo do peito, entretanto, comparado a última vez, é consideravelmente menor.

“Nem usei o poder, e ainda assim as veias mudaram, deve ter um jeito de impedir isso de acontecer.” Voltando ao caminhão, puxou o pano cobrindo a visão dos amigos.

De armas em mão, apontavam na sua direção. Ao verem ser seu companheiro, relaxaram, soltando suspiros de alívio. San deu uma batida na lateral, sinalizando o fim.

Os soldados desceram, incluindo os seus companheiros. Olharam em volta surpresos, ideias passando nas suas cabeças, e teorias sendo formadas, de onde veio aquela sensação assustadora, sumindo em segundos.

A primeira ação dos soldados foi correr ver a mangueira, checando seu estado e se quebrou. Os companheiros analisavam ao redor, vasculhando os cadáveres caídos.

Nisso, tanto Jason quanto Liz manterem o olhar em uma poça de sangue, seus olfatos feitos para isso, reconheceram facilmente ser do amigo, no entanto, evitaram perguntar, preferindo deixar pra depois, sozinhos e longe dos soldados.

Apoiado nos seus joelhos, San demorava a se recuperar. Sua mente lenta e confusa, difícil de raciocinar, suas pernas bambas e uma falta de ar. Jhon veio em frente após inspecionar a mangueira e disse em voz alta:

— Terminamos aqui, vamos voltar agora. — Olhava de canto de olho a San, hesitante de perguntar da forma de impedir os monstros de os matar.

Como um raio atingindo a cabeça de San, cerrou os dentes e ficou de pé.

— O grupo de exploração tá passando por problemas, vamos os ajudar.

Pegos de surpresa, o grupo raciocinou rapidamente, e logo perceberam ser complicado. Estavam cansados, suas energias escassas e em missão.

Vendo a hesitação dos amigos, San não julgou, faria o mesmo, a diferença é que tem uma pessoa no grupo de exploração importante pra ele.

O estranho, foi uma centelha de raiva surgindo no seu peito, e logo adivinhou ser um dos efeitos residuais deixado da máscara.

Jhon pensou enquanto seu subordinado recolhia a mangueira, considerando suas chances, e preocupado de seres os mesmos que os atacaram.

Balançando a cabeça, falou:

— Vamos voltar.

Surpreso, San encarou Jhon. Esperava seu apoio, afinal de contas, nesse grupo, havia soldados, conhecidos dele, e poderiam morrer.

— Quer os abandonar?

— Essa água é importante, os monstros podem voltar a qualquer segundo, perder esses tonéis seria muito ruim.

Ainda influenciado pelos efeitos da máscara, San disse irritado:

— E perder pessoas não seria ruim?

— Entendeu o que quis dizer. O grupo de exploração é importante, tem meus amigos lá! Porém, é a sua missão, e a nossa, é levar essa água de volta.

San e Jhon mantiveram o olhar, sérios e incapazes de recuar nas suas decisões.

Sabendo ser útil discutir, San deu um passo em frente, ultrapassando Jhon, entrando de volta na floresta.

— Sua missão é escoltar o caminhão!

Jhon gritava, tentando forçar San a mudar de ideia, e nada o fazia parar, até dizer:

— Se não parar, eu vou te obrigar.

Cessando seus passos, San já no seu limite, virou o rosto, de olhos brilhando em raiva, respondeu:

— Tenta me tocar ou impedir, e você vai saber como eu forcei os monstros a recuar.

O ar ao redor de San esfriou, uma pequena névoa sendo formada nos seus pés, contra a sua vontade, só sendo ativado sozinho. O punho no cabo da espada, e a outra mão, brilhando levemente, e fora da vista dos outros, a pulseira tremendo.

Jhon segurou a pistola no seu cinto, o olhar sério e uma pitada de medo. A tensão no ar era palpável, em um movimento, seria decidido o resultado.

O aperto de San foi mais forte, e curvando seu corpo levemente, pretendia avançar, um corte na garganta, o tiro de energia no seu companheiro e daria um fim.

Prestes a dar um passo, Liz veio e parou no meio dos dois, claramente nervosa.

— Vamos fazer assim, San vai ajudar o grupo de exploração e nós escoltamos o caminhão, vamo conseguir, só o deixa ir.

Liz sabia ser impossível mudar a ideia do amigo, e Jhon, sendo o superior no comando, negaria a insubordinação, era preciso uma forma de conciliar, do contrário, um iria morrer.

Jhon manteve o olhar no aluno rebelde, e engolindo em seco, largou a arma.

— Certo, nos seus lugares.

Dar essa ordem doeu no seu interior, permitir uma afronta dessas, de um aluno vindo de fora. Só permitiu a ideia prosseguir, devido ao poder desconhecido do jovem e preocupação de comprometer a água.

San deu as costas, prosseguindo a sua caminhada, uma raiva o dominando, desesperado para se libertar.

— Terá consequências, saiba disso. — Jhon não se aguentou.

Abrindo um sorriso de zombaria ao soldado, respondeu:

— Prefiro ser punido a abandonar meus companheiros. Esse tipo de gente, é melhor morrer.

Entrando na floresta, sumiu rapidamente da vista, suas palavras ecoando nas pessoas.

Caminhando entre a grama seca, San cambaleava, raivoso e só querendo liberar.

— Seu estado é impróprio para a luta, tem certeza? — Sacro perguntou.

— O que está sugerindo?

Considerando, disse:

— Nada.

Antes de responder, Sacro lembrou da vez em que sugeriu abandonar Leonardo, alegando que ele já estaria morto, e San o avisou que se um dia tentasse o fazer abandonar uma pessoa importante de novo, o jogaria fora. O relógio lembrou perfeitamente, e preferiu evitar o risco.

— Bom.

Seguindo em frente, a mente de San focava na luta à frente, sabendo estar em péssimo estado. No campo de batalha, teria Garmir e alunos capazes, reduzindo o seu peso.

Porém, as habilidades eram desconhecidas dessa gente, e San sabia ser forte, mas invencível era outra coisa. Não iria entrar na luta e mudar tudo, sendo o salvador. Seu plano só seria garantir a sobrevivência da sua irmã.

No começo, seus planos consistiam em utilizar do seu grupo como suporte, mudando o rumo da batalha. Sozinho, debilitado e cansado seria uma história diferente.

Seguindo a marca de Garmir, dava um passo de cada vez, coçando constantemente o peito, sua mente parando e só caminhando, de vez em quando avistando um monstro, que fugia.

Em um período de tempo desconhecido, escutou o som de luta. Espadas batendo contra carne, gritos humanos e bestiais, e o cheiro de fogo nas suas narinas.

Subitamente, San parou, o seu estado de morto-vivo sumindo, e o ânimo crescendo. Abrindo bem os olhos, observou bem o campo de batalha, a pouca energia acumulada pronta para ser gasta.

A luta era acirrada, monstros de quatro eram os principais inimigos. Sem pelos, dentes afiados e tão grande quanto um humano.

Os mutantes ali davam seu máximo, lutando de unhas e dentes. San encontrou rapidamente sua irmã, Hana, enfrentando um desses monstros.

Avançando igual um canhão, se jogou em um deles, e erguendo bem o braço, deu um soco no meio da barriga do inimigo, o jogando contra as árvores, e nem dando tempo de descanso, tava na sua frente, esmagando a cabeça.

Abrindo um sorriso, San olhava ao redor, avistando Garmir coberto de fogo, um pouco de sangue no seu pelo e as unhas manchadas.

San sorriu, mas diminuiu ao notar os corpos humanos entre as bestas. Desviando o olhar, arregalou os olhos, a raiva entorpecida voltando.

Lutando na linha de frente, uma mulher de cabelos castanhos presos, vestindo uma armadura de metal boa em movimentação, sua arma sendo um par de manoplas.

San a reconheceu facilmente, seria impossível esquecer, queimado na sua retina. Laurem, a assassina do seu melhor amigo, no meio do campo de batalha.

Inconscientemente, abriu um sorriso. “Foi uma boa ideia vir aqui.”



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