Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 2

Capítulo 73: Feridos

Dois monstros, um de frente para o outro. A neblina os cercando, impedindo do lado de fora visualizar o mínimo de movimentação.

O lobisomem rodeava de quatro a figura mascarada, suas garras cravando na terra, deixando marcas profundas. O ser permanecia no lugar, esticando o pescoço, abrindo os braços e socando o ar, ignorando completamente a figura perto.

Estalando seu pescoço, teve certeza: já se acostumou o suficiente com esse corpo. O monstro avançou em um pulo, suas garras estendidas visando o peito.

Em um simples movimento, a cimitarra defendeu o ataque, e dando um passo em frente, cortou a barriga inimiga, trazendo consigo um silvo no ar de pele derretendo.

O lobisomem arregalou os olhos, recuando momentaneamente. Ao invés do mascarado continuar seu ataque, encarava a espada coberta de veias escuras.

Balançando o objeto, ajustava seu equilíbrio. A fera notou isso, e tocando seu ferimento, a ferida permanecia aberta, o sangue caindo na grama verde.

Abrindo um sorriso, atacou novamente, abaixando suas garras abertas. A máscara soltou uma risada horrível de ouvir, desconcertando a audição aguçada do inimigo.

Não se contendo mais, atacou em uma velocidade surpreendente, em cada golpe, um corte incapaz de curar. O lobisomem tentou resistir, contudo, a luta mudou em um piscar de olhos, o agressor apanhava.

O estilo de luta de San mudou completamente, onde um dia o objetivo já foi os pontos críticos, se tornou só acertar qualquer parte, e sempre mantendo um sorriso de orelha a orelha.

Posição de combate era inexistente, o corpo parecia estar sem ossos, o braço segurando a cimitarra virava em uma posição inexplicável ao desviar e acertar o peito do monstro, para em seguida, torcer seu pescoço assustadoramente e evitar as garras.

Nem poderia mais chamar de luta, o lobisomem apanhava, ficava irritado e tomava um corte direto. San, nessa forma, era igual um demônio lutando. A piedade, raiva, mágoa, tudo isso sumiu, sobrando somente aquele sorriso, e uma crueldade inimaginável.

Em um minuto, o corpo enorme do lobo tava repleto de ferimentos, mancava e perdeu um dos seus dedos, os machucados abertos derramando sangue.

Preferindo evitar a morte, a fera recuou, seus olhos mostrando a vontade de continuar sua luta, sendo obrigado pela sua situação. No entanto, o mascarado queria terminar.

Os ventos batendo contra os seus cabelos, surgiu na frente do lobisomem, e cravou a espada no seu estômago, atravessando e escutando um uivo enorme, a satisfação dentro crescendo.

Infelizmente, o monstro atacou com os dois braços, e San recuou, recebendo um corte perto do pescoço, a ferida grave, o vermelho crescendo rapidamente.

O estado dos dois piorou, e o resultado era incerto. Soltando um suspiro, estendeu a mão e a cimitarra da barriga tremeu, causando espasmos de dor na fera.

A espada voou de volta a mão repleta de veias escuras saltadas e abanou a mão, semelhante a espantar um cachorro ou incômodo. O lobisomem manteve os olhos e entrou na floresta, fugindo mata adentro.

O mascarado sentia a vida da névoa, só relaxou sentindo o ponto sumindo. Balançando a cabeça, a máscara tremeu no seu rosto e ficou em uma forma líquida, voltando ao pulso, e caiu de costas.

A mente de San vagava, a escuridão o rodeava, flutuando em um ambiente desconhecido, a quantidade de tempo sendo misteriosa.

Subitamente, teve um puxão, e a luz voltou. Abrindo os olhos de repente, a dor se espalhou por inteiro no seu corpo, uma falta de ar e a essência dentro de si esgotada, obrigando a neblina se dissipar.

Só desejando fechar os olhos, uma sensação úmida tocou sua mão. Confuso, virou a cabeça, e o seu sangue caia rapidamente. Alarmado, forçou sua mente a se concentrar no problema imediato.

Rasgando a parte debaixo da sua roupa, amarrou em volta do ferimento grande, suas mãos tremendo e a respiração acelerada. Dando um nó apertado, respirou fundo.

Sua cabeça doía, e ao tocar o rosto, avistou sua mão direita, a da pulseira. As veias continuavam escuras, saltadas e grandes. Assustado, tirou a parte de cima da sua armadura, e notou seu estado.

Começando da pulseira, suas veias escureceram e cresceram, indo dos dedos até o braço inteiro, parado nesse ponto. “Tô infectado? Aí merda, vou morrer.”

A dor na cabeça nublava seus pensamentos, até um grito atingir seus ouvidos. Virando a cabeça, Liz pressionava o peito do seu irmão, implorando ele acordar. Bella, perto, forçava as sementes no chão a crescer, formando plantas de diversos efeitos, escondendo as lágrimas.

Em um flash, lembrou os acontecimentos: Jason tomando um ataque no peito, caindo inconsciente. Impulsionando o corpo, caiu em menos de um passo.

Cerrando os dentes, doendo a sua boca, seus olhos irradiavam raiva. Forçando o seu corpo moribundo, levantou, e cambaleou até cair do lado do seus amigos.

O ferimento era enorme, revelando ossos dentro. A respiração tava lenta, e mesmo tendo a audição de uma pessoa normal, ouvia o coração batendo, poucos batimentos.

Nessa hora, pela primeira vez em tanto tempo, San não sabia o que fazer. Sua essência esgotada, colegas cansadas em uma floresta perigosa e em um estado enfraquecido.

Negando, viu Liz, as mãos tremendo, coberta de sangue. Prestando atenção, havia ferimentos nos seus braços, cortes abertos recentemente. O fluido vermelho caindo, se movia rapidamente em direção ao peito de Jason.

— Vamo lá maninho, me prometeu ajudar a virar uma general, e ainda tem tantas piadas ruins pra fazer. — Sua voz era rouca e fraca.

De forma lenta, o ferimento de Jason fechava. Isso demorou um quantidade de tempo longa, e terminando, o sangue diminuiu bastante, sobrando carne viva.

Bella assumiu em seguida, pegando folhas longas e especiais, cobrindo o peito e apertando.

San esperava ao lado, desviando o olhar, até Liz cair na grama. Arrastando com as mãos, parou ao seu lado e checou o estado.

A pele extremamente pálida, pior do que o normal. O corpo frio e tremendo constantemente. Raciocinando, sua mente demorava a funcionar, algo o desacelerava, piorando seu estado.

— Falta de sangue, gastou ajudando o irmão. — Sacro falou baixo.

Lembrando de repente do seu relógio falante, perguntou:

— Como resolver?

— Ela deve reabastecer a força, senão, um vampiro esgotado e com fome, ou perde o controle e ataque o primeiro ser vivo à vista, ou morre.

Vendo brevemente Bella, tratava Jason desesperada, só sobrando uma opção. “Agora é a hora de ver porque meu sangue é considerado cheiroso.”

Erguendo a cabeça dela, sua aparência frágil era completamente nova a San, tão estranho comparado a modo mandona e energética. Procurando sua faca para abrir um corte no braço, foi pego de surpresa ao ver os olhos de Liz abrirem.

O brilho vermelho o atingiu, e em um segundo, ela foi atrás do lugar mais cheiroso: o ferimento tampado manchando o pano. Afastou a cabeça de San e suas presas cresceram, derrubando no ferimento.

Uma dor atingiu San, e tomou um susto, pois seu corpo paralisou, as mãos tremendo. A sensação de dor mudou rapidamente para um tipo tranquilizador, acalmando seus nervos e a vontade de dormir dominando.

Prestes a fechar os olhos, o aperto de Sacro o acordou. Piscando repetidas vezes, considerava o quanto seria necessário para a alimentar.

Em menos de um minuto, Sacro falou:

— Deu. Prosseguindo irá revelar sinais de anemia.

Concordado, demorou em a afastar, a sensação de tranquilidade era viciante. Balançando a cabeça, tirou a cabeça de Liz com dificuldade, só conseguindo devido à fraqueza de ambos.

Perdendo a anestesia de um vampiro, a dor veio novamente, o obrigando a pressionando as unhas na palma da mão e conter os gritos. Observando Bella, confirmou ter terminado o seu lado.

Focando em Liz, desmaiou, dormindo profundamente, encolhida. Descansando, aproveitou a luz do sol no rosto. No entanto, tudo que é bom acaba, e um vento frio o tirou desse estado.

Abrindo os olhos, o sol se escondia, e entendeu, iria anoitecer logo. Quanto a Bella, pegou Jason nas pernas e pescoço, o levantando.

— Leva a Liz?

Sendo os únicos acordados e capazes, sobrou para os dois ajudar. Tossindo, San concordou. Hesitante, pôs Liz nas suas costas, constantemente temendo dela acordar e querer saciar sua fome.

— Vamos voltar, chegamos na cidade já de noite.

Plária era uma cidade grande, seus arredores protegidos. Dava para passar a noite fora dos muros, o problema nisso é o estado do grupo, ferido, fraco e seus cheiros sendo capazes de atrair predadores cojasos.

Bella o encarou por um segundo e falou:

— Tem uma caverna aqui perto, eu e Jason avistamos e saímos de perto, imaginamos ser a toca dos lobos. — Só de falar a palavra lobo, seu corpo tremia, lembrando do lobisomem. — Dá pra passar a noite talvez.

San considerou. Quando seu poder foi ativado, sentia a localização dos perigos, e uma das áreas repleta de lobos tava perto. Porém, o lobisomem os eliminou. O complicado disso, era ser só capaz de discernir os seres vivos, então, um inimigo poderia estar na sua frente, mas um desfiladeiro os separando e seria incapaz de saber disso.

Concordando, pediu:

— Mostre o caminho.

Bella seguiu em frente, e San atrás.

Os passos da mulher eram firmes, as costas retas e o cabelo verde preso por vinhas. Sua constituição de mutante ajudou a carregar o corpo desacordado do vampiro.

Já San, a cada passo suas pernas queimavam, o suor escorria do rosto e andava inclinado, perto de cair para frente. 

Para a sua sorte, a viagem demorou só uns minutos, que pra ele, demorou horas, alcançaram a toca.

A caverna abria uma passagem em uma parede de pedra, as árvores perto faziam uma sombra, só aprofundando a escuridão dentro. Bella nem desacelerou e entrou.

No primeiro passo dentro, San perdeu a visão, as sombras o cegando. Seguindo a sua parceira, pararam e ouviu Bella posicionar Jason no chão.

Fazendo o mesmo, pôs Liz do lado, usando do toque para sentir. “Ela enxerga no escuro?” Tateando, tocou uma parede, e a utilizando de apoio, voltou a ficar de pé, as pernas tremendo.

— Vamos vasculhar o nosso redor, pegar lenha e arrumar uma forma de tapar a entrada.

— Eu faço isso, descansa.

— Qual é, tô bem pra isso. — Simulou uma risada, dando errado e desencadeando uma tosse forte.

No seu ombro bom, um toque de leve o induziu a sentar, e obedecendo, Bella falou:

— Devemos economizar nossa energia, e você tá péssimo, principalmente esse braço.

Odiando concordar, disse:

— Toma cuidado.

Os passos de Bella se distanciaram, e os sentidos de San, nesse estado, foram incapazes de dizer a localização. Em instantes, permitiu a sua mente e corpo receberem o tão esperado descanso.

Fechando os olhos, aproveitou o cansaço e pode ignorar as dores, pegando no sono, nem querendo saber o resultado de acordar.

***

San caminhava sob água escura, no céu, uma lua de sangue iluminando. Odiando o que vinha a seguir, deu as costas e começou a correr, já ouvindo as vozes o perseguindo.

Quebrou seu recorde, demorou cinco minutos até a primeira mão agarrar a sua perna. Derrubado, corpos o escalaram. Um jovem de boa aparência, chorando lágrimas escuras, Simon.

Uma mulher de rosto gentil e gritando, Gina. Um velho grande de garganta cortada, Gus. Um homem forte e rosto duro, Crauner. E nisso, um loiro forte, sem uma mão e a boca fechada, diferenciando os outros, só o encarando e subindo, Leo. Dessa vez, um vampiro tava junto, os cabelos escuros grudados no rosto e as presas afiadas, Jason.

— Não, eu não os matei!

Afastando as mãos, sabia o que ia acontecer, ser soterrado e sufocado, sempre acontecia isso, e sempre resistia.

Subitamente, a visão mudou, para seu quarto na academia, deitado em sua cama tranquilo.

Um som de palmas o alertou, e erguendo a cabeça, uma sombra em forma humana sentava em um banco, no seu rosto, uma máscara sorridente.

Reconhecendo na hora, deu um pulo e pegou distância. A boca repleta de dentes abriu, e ao falar, um som estridente atacou San.

Caindo de joelhos, gritava de dor. A voz parou e virando a cabeça confuso, batia o pé freneticamente, até pegar o seu banco e arremessar na porta.

Pirado, empurrou a cama, quebrou as janelas e soltava gritos, causando agonia em San.

“Acorda, acorda, acorda!”

Sua visão mudou, e ao abrir os olhos, o som de madeira estalando preenchia o ambiente, as sombras foram afastadas enquanto duas pessoas contemplavam o fogo.

Liz com o rosto sob os joelhos, e Bella desfocada, pensando profundamente. Quanto a Jason, sua respiração continuava lenta, mas constante.



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