Volume 2
Capítulo 70: Um Amigo Novo
San, sentado na sua cama, apoiando o queixo na mão e os olhos desanimados, encarava o holograma à frente feito por Sacro.
Cada estrutura do campus havia sido posta no seu mapa tridimensional, demorou uma semana de excursão junto a Liz, e finalmente conseguiu completar.
Com uma parte do plano concluída, San comemorou e estudou as inúmeras construções, pedindo ajuda a Sacro e revisando. Seu ânimo caiu por completo.
Investigava, analisava, pesquisava, pedia dicas, e nem um rastro de uma área capaz de guardar um objeto energizando a escola inteira, seu desespero cresceu tanto, que descartou o tempo de treino das suas habilidades e considerou perguntar de forma sutil a um dos professores.
Ainda sobrava tempo até seu tempo limite de reporte ao Eugene, porém, se chegasse no dia e não tivesse nem uma informação, poderia cancelar a missão o achando inapto.
Levantando da cama e rodeando o mapa, perguntou:
— Tem algum lugar que deixamos passar?
— Pela sétima vez, eu repito, cuidei detalhadamente os prédios e nem um tem sequer sinal de passagens secretas, poderes envolvidos ou tecnologia avançada.
— E os laboratórios?
— De novo, é sério?
— Fala.
— Meus equipamentos são capazes de detectar vários tipos de tecnologias, eu identificaria uma fonte de energia desse tamanho.
Jogando o cabelo pra trás e roendo as unhas, San caminhava no quarto, considerando suas opções e criando teorias. Pretendia continuar nisso por horas se necessário, contudo, recebeu uma mensagem.
Abrindo e reconhecendo ser Jason, a leu: “Deve ter esquecido, por isso vou te lembrar antes que a minha irmã vá até aí. Temos treinamento em grupo hoje, vem logo.”
Dando um tapa na cabeça, se irritava em ter concordado participar dos treinos aos sábados. Acalmando a respiração, vestiu seu uniforme preto e saiu do quarto, decidido a mudar o foco da sua mente por enquanto.
No caminho do ginásio, com as mãos nos bolsos, sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Virando a cabeça imediatamente, procurou alguém.
Em uma escola feita para mutantes, San acostumou-se em sentir seu radar apitando, até desenvolveu um controle melhor, de quando focarem em si, apitar.
“Deve ser só um dos seguranças que cuidam dos alunos.” Dando de ombros, continuou seu caminho ao ginásio.
Igual aos dias de aula, o lugar continuava com os tatames no chão e alunos treinando. Nos sábados e domingos, a academia permitia livremente o uso do ambiente.
Olhando ao redor, encontrou seus amigos no canto, conversando alto.
— Seis dias, faz seis dias desde o início dos nossos treinamentos e ele sempre se atrasa! — Liz exclamou.
— Ah, é normal rolar uns atrasos. — Bella acalmava a amiga ao seu lado.
Jason, afastado de Liz, virava os olhos freneticamente, procurando o colega de quarto e amigo.
O avistando vindo na sua direção, soltou um suspiro de alívio.
— Eae gente, de boas?
Ouvindo a voz tranquila e despreocupada de San, Liz virou.
— Atrasado.
Revirando os olhos, respondeu:
— Tava cuidando das plantas no meu quarto.
O rosto de Bella iluminou e já foi o defender.
— O cuidado de plantas é demorado e deve ter paciência, é um bom motivo para atrasos.
Enquanto a amiga dava uma palestra da importância dos cuidados em plantas, Liz encarava San, desacreditada.
— Certo, vamos começar. Um pessoal tava dizendo que a escola pretende nos enviar em uma missão.
— Legal, tava demorando. — Jason falou sorrindo.
O grupo formou duplas, Jason contra Liz e San com Bella.
Primeiro foi a dupla de irmãos. Pelo lugar ser público e os alunos serem livres de irem aonde quiserem, o grupo demarcou um espaço de alguns metros, quem sair, perdeu.
Os poderes de Jason eram controle de água, raro, e absorção de danos, épico. Liz, tinha o controle de sangue da sua família e conseguia ver os pontos fracos dos seus oponentes.
A poucos metros de distância, Jason agiu primeiro, usando sua velocidade para chegar perto e desferir um soco em direção à barriga da adversária.
Prevendo facilmente o golpe, Liz deu um tapa afastando a mão e uma cotovelada no queixo do irmão. Acertando, nem um sinal de dor ou desconforto surgiu, e continuaram.
San observava atentamente, só era permitido o uso de mãos, as habilidades foram proibidas, justamente como o objetivo de melhorar o corpo e descobrir a capacidade de cada um.
San preferia lutar contra um dos dois, o ruim era a diferença entre seus corpos. Os vampiros são melhores em velocidade, por isso os dois se enfrentam, conseguem realmente atingir seus limites.
A batalha demorou cinco minutos, os golpes em uma agilidade impressionante e certeiros.
Na hora em que Jason encontrou uma oportunidade, acertou um chute na barriga da irmã, a derrubando no chão. Segurando o local atingido e agachada no limite da área, gemia de dor.
Preocupado, seu irmão correu ver sua situação, e nessa hora, ao estender a mão, a tevê agarrada, em um golpe, usou o peso e posição de Jason contra ele, e o jogou fora dos limites.
Surpreso, Jason demorou a entender o que aconteceu, e gritar:
— Isso é trapaça!
A passos lentos, Liz parou do seu lado e estendeu a mão.
— Estamos numa luta, devemos manter a guarda levantada.
Os próximos entraram no ringue e entraram em posição de combate. Bella avançou primeiro, realizando um gancho na direção do queixo, e em seguida, deu um chute na perna.
San esquivava dos golpes, esperando. Sinceramente, poderia vencer facilmente, treinou durante anos em lutas de arena e treinamentos, claro, ela também recebeu treinamento, a diferença era a experiência.
O pior de tudo nisso, era esse não ser um treinamento pra ele. Se continha, e tinha medo de revidar, medo de levar sério a luta e atacar de verdade.
Demorando quase dez minutos, Bella ofegava levemente, estressada e frustrada por errar os golpes. San esperou, e valeu a pena, a sua adversária correu e pulou na sua direção, mirando um chute no rosto.
Revelando um sorriso, avançou agarrando sua perna, exercendo força, a desequilibrou e jogou contra o tatame, acertando de costas e tirando o ar dos seus pulmões.
Limpando o suor acumulado no cabelo, esperou até recuperar o fôlego e estendeu a mão, a ajudando levantar.
Reunidos em um círculo, Liz falou:
— Bem, me digam os erros dos seus adversários.
Pessoas odeiam falar das suas próprias deficiências, e às vezes nem podem enxergar. Pensando nisso, Liz propôs a eles dizerem os dos seus oponentes, afinal de contas, dizer o que o outro fez de errado é fácil.
Liz começou:
— Ingênuo demais, abaixou a guarda e achou já ter ganho.
— Ei! Você sempre faz isso, finge tá machuca e me trai, desde criança é assim.
— A gente treina todo esse tempo e ainda comete o mesmo erro.
Cruzando os braços e resmungando, desviou o olhar. San pensou por um tempo e disse:
— Golpes exageradamente pacíficos, falta violência, carregam muita força, que errando, gasta energia e pode receber um ataque de volta no processo.
Fechando os olhos e permanecendo em silêncio, Bella acenou a cabeça concordando. Abrindo um sorriso, respondeu:
— Obrigada, vou me lembrar.
San encostou na parede, escutando Jason reclamar desses treinamentos, até de repente, sentir uma sensação estranha.
Seus olhos vagaram no ginásio, como se estivesse atrás de uma presa, sério e a essência percorrendo o corpo. Até encontrar o culpado.
A passos lentos, um jovem entrava no ginásio, emanando uma aura sinistra, fria e assassina. Seus olhos amarelos vagavam, ignorando o cabelo grande espetado e desarrumado. Seu rosto fino era a representação de tédio, então, focou em San.
No mesmo instante, seu rosto iluminou, exibindo um sorriso lupino, semelhante a um animal avistando um igual.
San o observava vir, e a essência dentro agitou, implorando ser liberada. Mantendo o rosto erguido, tava curioso de quem era.
Em segundos, o jovem passou o ginásio, e todos que o viam, recuavam, mostrando medo, nojo e raiva. Quando ultrapassou o grupo de Liz, arregalaram os olhos.
Um de frente ao outro, um cheiro de sangue entrou no nariz de San, o homem estendeu a mão, e disse de uma forma tranquilizadora:
— Sou Max, ouvi falar de ti, é um prazer.
— San, eu também ouvi falar de você. — Apertou a mão.
As memórias corriam rapidamente, e lembrou na hora onde ouviu falar desse nome. Após matar o monstro no treinamento, sussurros o chamavam de um segundo Max. A sua curiosidade foi atiçada, e queria a saciar.
— Me diz, onde estava durante esse tempo? Já que os treinos de matar monstros são entre todas as turmas.
Revirando os olhos, Max soltou uma risada debochada.
— Na minha primeira vez nesse treinamento, preferi agir sozinho, e o professor recusou, então formei qualquer grupo e matei sozinho o monstro. O professor ficou irritado e me suspendeu, voltei hoje.
Ambos entraram em uma conversa, e San gostou bastante. Falavam de assuntos interessantes, métodos de luta, monstros, aulas chatas e professores irritantes.
Perdendo a noção de tempo, nem percebeu ter passado longos minutos, só se deu conta quando Liz veio o chamar, e notou ela evitando chegar perto de Max.
— Ainda temos treinamento, dá pra focar?
Lembrando de repente, abaixou os ombros entediado.
— Mal aí, cara, vamos ter de adiar a nossa conversa.
— De boas, tô ansioso pra termos uma aula juntos.
Acenando em despedida, Max saiu do ginásio. Finalmente fora de vista, o grupo inteiro correu a San, o cercando.
Surpreso de situação, perguntou:
— Que foi?
— É amigo do maluco? — Jason perguntou surpreso.
— Eu… acho, por quê?
As palavras vieram muito rápido, incapaz de compreender.
— Calma ae, um só.
— Ele é um doente! — Bella disse assustada.
— Por matar um monstro sozinho?
Soltando um suspiro, Liz assumiu a explicação:
— Ouvimos a explicação que ele te deu, é mentira. No primeiro dia, foi obrigado a entrar em um grupo, sob bastante pressão do nosso professor. Irritado, concordou, e ao entrar na arena…
Só de lembrarem, fizeram cara de nojo.
— Atacou o monstro e o derrotou sozinho, em uma velocidade surpreendente. O problema nisso, foi depois. Seu poder é desconhecido até agora, mas após matar a fera, a esquartejou em partes, e na frente da turma inteira, devorou.
Engolindo em seco, San ficou um pouco nervoso.
— E por isso o professor demorou a retomar as aulas, os alunos se recuperaram lentamente. — Bella finalizou segurando o estômago.
Considerando, San achou estranho com certeza, contudo, só de estarem perto, sentiu uma familiaridade. Balançando a cabeça, se afastou e caminhou até a porta.
— Entendi, vou tomar cuidado, tchau.
Fora do ginásio, sua mente tava cheia, tanto que demorou a perceber seu grupo atrás.
Levantando uma sobrancelha, esperou o motivo.
— O treinamento não acabou. — Jason falou desanimado.
— Vamos! — Bella foi em frente junto a amiga.
San e Jason se olharam, e soltaram um suspiro. As seguindo, passaram os portões da academia, caminhando na calçada movimentada, suas roupas atraiam atenção.
Intrigado do seu objetivo, ia perguntar, porém, deu de ombros, Liz tava animada, ficar perguntando só atrairia hostilidade.
Em longos minutos de caminhada, alcançaram o objetivo, um prédio grande, bonito e as portas de madeira grande. Ao passarem as portas, San conhecia bem o lugar.
Pessoas vestindo armaduras sentavam nos bancos comendo entre seus grupos, uma parte no quadro de missões, analisando os papéis de missões. “Base dos mercenários de novo, sério?”
Liz virou aos seus colegas e declarou animada:
— Vamos virar mercenários!
— Eba! — Bella apoiou.
— Iupi. — Jason fingiu animação.
— Por quê?
— Boa pergunta. Teremos trabalhos da escola envolvendo missões, e é bom ter experiência em situações reais.
Concordando, Liz o encarava, esperando.
— O quê?
— Então, você é um mercenário, certo?
— É.
— Bom, por isso, vai nos ajudar a decidir missões, e nos dizer os truques.
Olhando ao redor, via o olhar dos seus companheiros de antecipação, e um medo cresceu no seu estômago, lembrava claramente do seu último grupo, todos mortos. Dentro de si, havia uma preocupação grande em morrerem, e dessa vez seria sua culpa.
Considerando, firmou o maxilar e estufou o peito. Ia ser diferente, tava mais forte, melhor. Coçando o cabelo, abriu um sorriso.
— Tá bem, no entanto, vão seguir minhas ordens, certo?
Acenaram em concordância, e cuidava Liz, sabia que ela gostava de ser a chefe.
A primeira coisa a fazer é se inscreverem, vamo lá.