Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 2

Capítulo 63: Encontrando o Alvo

As sombras se afastando rapidamente, as gramas molhadas pelo relevo da manhã, o ar frio soprando na pele, a luz do sol fraca do início do dia.

A maioria dorme, esperando o despertador tocar e começar outro dia, aulas, ver amigos, colegas, professores, amores. Correndo no meio da calçada, San usava uma regata, bermuda e tênis confortáveis.

A sua camisa molhada de suor, o cabelo pingando e a respiração estável. Desde o dia que absorveu os poderes de ossos de ferro, iniciou um treinamento todas as manhãs, esse era o modo de os evoluir.

Mutantes tem físicos melhorados, são fortes, resistentes e rápidos. Um pacote completo, e nem faz parte das suas habilidades. No entanto, San continuava tendo o de uma pessoa normal, só adicionando os ossos melhorados agora.

Por isso, decidiu manter-se sempre em forma. Claro, perderia em uma corrida ou teste de força, independente disso, recusava parar ou desistir.

Em um ritmo constante, saiu da calçada e prosseguiu na grama, ultrapassou os prédios da escola e caminhou até uma árvore isolada.

Era no meio do nada, silencioso e tranquilo. Alongando o corpo, fez polichinelos, flexões, agarrou um galho grande e fez barras.

Ficando nessa por um longo tempo, finalmente atingiu o limite, caindo de costas na grama ofegante. Voltando às instalações, achou o primeiro bebedouro e encheu a garganta.

Recuperando o fôlego, notou ser sete horas, demoraria uma hora até as aulas começarem. Virando ao dormitório, longe, viu uma pessoa correndo na sua direção.

Curioso, decidiu esperar ao lado do bebedouro. Em segundos, avistou a figura de uma garota de cabelos escuros curtos, praticamente as mesmas roupas das de San, adicionando um boné.

Era Liz, nem ofegava e o suor era mínimo. Olhando San, arregalou os olhos surpresa, abrindo um sorriso, disse:

— Treinando cedo?

— Pois é, só retomando minhas rotinas. E você? Correndo bastante?

— Só um pouco, fiz uma corrida ao redor do campus. Vai continuar por quanto tempo?

“Um pouco? Mutantes vampiros tão em outro nível.”

— Já acabei, tô voltando ao meu quarto.

— É cedo, ainda falta uma hora até as aulas começarem.

— Eu sei, acordei bem cedo.

— Legal, eu lá pelas quatro.

“Ai, isso tá me complicando.”

— Que bom te ver, tava planejando falar contigo.

— Ótimo, vamos falando voltando ao dormitório.

Caminhando juntos, San falou:

— O quanto conhece essa escola?

Estufou o peito e respondeu orgulhosamente:

— Como a palma da minha mão. Antes de me matricular, estudei a fundo as melhores, nisso, analisei o tamanho, prédios, os muros ao redor. E quando finalmente vim pessoalmente, explorei todo o lugar. Por que a pergunta?

San abriu um sorriso interessado.

— Chama de excursão. Quero saber de tudo daqui, histórias estranhas, lendas urbanas, edifícios curiosos.

Sem entender, Liz disse:

— Pode ser, o problema é os horários, temos de estudar, fazer tarefas, dá um jeito na águia.

— Sei disso, por isso vou usar aquele favor que tá me devendo. Enquanto exploramos a academia, também podemos discutir estratégias de combate contra o monstro águia.

Pensando por um tempo, continuaram seu caminho em silêncio. “Essa é a melhor escolha, vou usar as informações dela pra descobrir pistas de onde a esfera de Dyson do Eugene tá.”

Já perto, Liz falou:

— Tá bem, posso arrumar tempo, hoje após a aula vai ser a primeira vez, vamo troca numero pra nos organizar.

Concordando, trocaram o contato e cada um foi ao seu andar.

San entrou no seu quarto e foi direto tomar um banho. Comeu doces, deitou um pouco e logo Jason acordou. Coçando os olhos, levantou da cama, ainda usava a roupa do dia anterior, uma camisa social, calças caras e sapatos bons.

— A festa foi boa?

Procurando seu uniforme, respondeu:

— Nem me fala, Caleb é um nerd chato. Apresentei uma garota e ele disse de um desenho antigo, sei lá. Depois exagerou na bebida e se agarrou em mim, falando toda hora de redes sociais e de como as pessoas são dependentes.

— Parece divertido.

— Há, você vem na próxima.

— Pode deixar.

Ambos ajeitaram suas roupas e saíram juntos, conversavam normalmente, rindo e tranquilos, só mudou isso quando San virou a direita indo na direção das salas e Jason a esquerda.

Parando no meio do caminho, San perguntou:

— Vai aonde?

— Pra aula. — Arregalando os olhos, deu um tapa na cabeça. — Esqueci de te falar, a um certo período de tempo, todas as turmas se reúnem para uma aula só, passamos a manhã inteira assim.

— Ah, já to há umas duas ou três semanas aqui e não tive essa aula, o tempo é tão longo assim entre si?

— Uma a cada semana, a primeira vez aconteceu antes de você vir, adiaram a próxima para nós processamos e ocorreram uns acidentes.

— Acidentes?

— É, alunos violentos, medrosos. Me segue.

Andando animados, quase ao ponto de correr, ultrapassaram vários outros. San, sendo contagiado, também abriu um sorriso. Caminhando juntos, viram os rostos dos alunos, desanimados, nervosos, medo, animação, várias emoções misturadas em um só.

Só desaceleraram a velocidade alcançando Liz e Bella.

— Eae maninha, preparada?

— Sempre, dessa vez vamos ser os melhores. Bella, pegou as sementes?

— Sim! É uma pena termos de as usar e descartar, mas será por um bom motivo.

Boiando, San só ouvia tudo tentando decifrar o conteúdo, criando teorias estranhas na cabeça.

— Dá pra explicar?

O encarando e sem precisar falar, lembraram.

— Tomara que tenha estômago forte. — Liz disse.

— Se vomitar, tenho hortelã comigo. — Bella disse mostrando um ramo da folha.

Então chegaram, em um domo cobrindo uma distância enorme. Entrando na passagem, o ar mudou, tornou-se frio, e San olhou admirado, já havia passado perto durante suas corridas, sempre pensando o motivo disso.

Alunos de turmas diferentes passando pelo corredor espaçoso, conversando sem parar, até virarem à direita e subirem em um tipo de lugar pra plateia.

Bancos alinhados perfeitamente e dando espaço a todos. No meio, uma arena grande, chão de areia, grades nas entradas e iluminado por lâmpadas lá em cima.

Minutos depois, todas as turmas se juntaram, então de repente, uma das grades se abre, e caminhando calmamente, um professor no meio.

Tinha cabelos brancos, um rosto levemente enrugado por conta da idade, usava um sobretudo, mesmo sendo um dia quente.

Alunos imediatamente ficaram quietos e prestaram atenção. Limpando a garganta, falou alto:

— Hoje é a nossa segunda aula, aos novos alunos, bem, perderam a explicação do primeiro dia, vou resumir. Formarão grupos, entrarão aqui, e matarão monstros.

Achando legal, San sentiu animação crescer, fazia tempo desde a sua última missão para os mercenários, até tava com um pouco de falta.

Esperando as conversas diminuírem, continuou:

— Quanto ao porquê, é para quando irem em missões de verdade, sozinhos em ambientes inóspitos, onde somente poderão confiar no seu grupo, e às vezes nem isso. Seguindo essa lógica, todas as turmas permanecem juntas, formem equipes a vontade, darei um tempo.

San olhou ao redor feliz, seria interessante. Sem querer, avistou Hana em um grupo, e nele, pessoas de todo tipo, discutindo estratégias. A encarando por um tempo, a viu abrir um sorriso, também queria participar.

— San, vem logo. — Jason o chamou.

Reunidos, Liz disse:

— Certo, temos um membro novo, vamos melhorar nossas táticas, podemos fazer melhor dessa vez.

— Na primeira, como foram? — San perguntou, já sentindo seus instintos de mercenário voltarem.

Corando um pouco, Bella respondeu:

— Alguns de nós vomitaram.

Jason desviou o olhar brevemente. Liz disse:

— Bem, San, esse é praticamente o nosso grupo de caça pra quando formos em missões fora da escola, quer fazer parte?

— Talvez, vamo ver o nosso resultado.

Acenando, virava a cabeça continuamente, procurando alguém. Voltando ao assunto, falou:

— O monstro é o mesmo pra todos, a ordem é aleatória, devemos prestar atenção e aprender os pontos fracos. Jason vai ser a linha de frente, eu vou ajudar, Bella usará as plantas para o prender.

— Legal, e eu?

— Você vai ficar de longe, utilizando o seu tiro de energia.

O sorriso vacilou.

— …Pode ser, mas eu também sou bom usando uma espada.

— Bom saber, consegue proteger a si se o monstro chegar perto.

Independente de odiar ser o atacante a distância, ficou quieto, dessa vez, iria observar e ver o nível dos colegas. Seu maior problema, seria tratar de Liz, podia-se ver uma clara liderança, e a fazer mudar de ideia poderia ser complicado.

Declarado o plano, os três começaram a virar a cabeça e procurar.

— Tão atrás de quem?

— Um talvez futuro membro permanente, estuda em outra turma e raramente nos vemos.

Sentando na cadeira, só esperou, a aparência era desconhecida, procurar seria em vão. Virando a cabeça aleatoriamente, só encarava o rosto das pessoas em tédio.

Ficando nessa durante um tempo, de repente, os ouvidos de San zuniram, tirando todos os sons do coliseu, incluindo pessoas, menos uma mulher. Jovem, cabelos castanhos, olhos escuros, corpo bem treinado e toda alegre caminhando.

San, no mesmo segundo, cerrou os punhos, trincou o maxilar, apertando fortemente, a essência no seu corpo movia selvagemente, querendo sair e destruir, e seus olhos brilharam em vermelho vivo.

Sussurrando, impossível de ouvirem, San disse um nome:

— Laurem.

A mulher causadora da morte do amigo, traidora, mentirosa e enganadora, caminhando alegremente e tranquila, exibindo um sorriso, conversando.

Esse pode ter sido o momento onde San teve que mais se controlar em toda a sua vida, a única, única coisa na sua mente, era: “Matar.”

Durante todo esse tempo, pensou em como seria a ver de novo, suas palavras, o sentimento. No entanto, a vendo de verdade, só sentia raiva.

Os sons voltaram ao normal, e ao seu lado, Bella disse:

— A achei!

A encarando, só pensou ser uma brincadeira, quais as chances? Porém, era a verdade, ela é a escolhida.

Levantando e indo ao lado de Liz, disse:

— Aquela garota é membro do grupo? — Sua voz soou pior do que o esperado, a fazendo virar a cabeça.

— Sim, forte, amiga boa, segue ordens bem, uma soldada perfeita.

Respirando fundo, Bella foi a buscar. Contou até dez e falou:

— Sem querer me intrometer, mas, ela é realmente necessária?

— Claro, uma força de ataque poderosa, seu poder é classe épico e tem experiência nisso.

— Legal, e quanto a personalidade?

— …Boa, sei lá, achei uma garota legal.

“Óbvio, esse é seu trabalho, realiza o papel de garota inocente e amiga de todo mundo, ajuda, dá conselho, e toma uma facada nas costas.”

— Cara, tá bem? — Jason disse.

— Sim, por que a pergunta?

— Seu rosto tá estranho, tipo, parece bravo.

— Haha, meu amigo, quando eu mostrar um rosto irritado, irá saber. Tô super de boa. Voltando ao assunto, ela é útil? Encaixa na estratégia e…

— Chega de pergunta, ela é forte e provavelmente um futuro membro do nosso grupo.

— Show, só tô tentando dar uma dica, esse tipo de…

— Pode guardar suas dicas, sei me virar, agora fica quietinho ou sai daqui.

Recebendo passe livre, San falou:

— Como quiser.

A passos largos, caminhou em outra direção, trombando em alunos, pechando pessoas, atrapalhando discussões. Jason o seguiu tentando o alcançar.

Indo ao corredor, San teve o ombro segurado. Virando imediatamente, levantou o punho.

— Calma! Calma! Sou eu, amigo.

Espichando a camisa procurando respirar melhor, respondeu:

— Veio aqui pra quê?

— Vim ver o seu estado, saiu rápido, irritado.

— Estou bem, pode voltar.

— Claro, vamos?

— Volto depois.

— Então espero. — Encostando na parede, só sorriu. — Sabe, a minha irmã tá toda estressada, a nossa primeira vez contra esses monstros, foi um desastre, pagamos mico, só por isso, não leva pro pessoal.

San assentiu, no momento, só queria ficar sozinho, e o amigo na sua cola o estressava.

— Volta, é sério.

— Eu já disse, só contigo junto.

Sem aguentar a raiva, frustração, ressentimento, tristeza, o encarou nos olhos e disse impiedosamente:

— Mandei voltar, me conhece por duas semanas e acha que é meu melhor amigo? Se toca, você e sua irmã podem ir pra puta que pariu, só me deixa quieto.

Jason, o olhou assustado, nunca viu San desse jeito, sombrio, as palavras duras, a amargura na voz.

— Sei que foi pra boca pra fora, tá tendo um dia ruim, tá estranho, acalma a cabeça.

Voltando ao seu grupo, San pode ficar sozinho, andando de um lado a outro, pensando. Sacro constantemente apertava seu pulso, uma hora, disse:

— Foi rude, recomendo…

— Cala a boca, Sacro.

Encostado na parede, deslizou até o chão e permaneceu imóvel, igual a uma estátua. Sozinho, seus olhos brilhando e o olhar de pedra, de repente, começou a rir.

Em alto e bom som, ecoando. Chegou ao ponto de chorar de tanta risada.

— Ah, San?

Virando a cabeça, deu de cara com Caleb. Ajeitando seus óculos, o rosto mostrava preocupação. San levantou e caminhou na sua direção, sorrindo.

— Meu amigo! Tá bem?

— Eu pergunto isso.

— Tô ótimo. Me diz Caleb, podemos matar o monstro do jeito que quisermos, certo?

— Sim, até onde sei.

— Perfeito, já me sinto melhor. Responde uma coisa, já tem um grupo?



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