Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 2

Capítulo 62: Um Reencontro

O silêncio preencheu a sala de aula, se derrubassem uma agulha, poderia ser ouvido, esse era o estado da turma. Alguns de boca aberta, surpresos demais para falar, outros, duvidosos, considerando as palavras ditas pelo professor.

E o próprio, no meio da sala, analisando um a um, cuidando das suas reações, prevendo. Já conseguia dizer os contra a ideia e a favor de acreditar.

San, demorando para raciocinar direito, só demonstrava surpresa, e Ethan viu isso. Abrindo um sorriso, o encarou uma última vez e continuou:

— Podem falar, sei o que estão pensando.

Se pondo de pé, uma aluna de expressão irritada mostrava-se a todos. Tinha um cabelo cor de prata, altura mediana, olhos azuis iguais aos de San e usava o uniforme da escola. Seu nome é Laura, a inimiga jurada de Liz, querendo estar na frente dela.

O motivo da sua indignação, seu sobrenome é Cor Glaciale, membro de uma das grandes famílias.

— Blackscar não é o sobrenome do assassino em série, devorador de almas?

Sorrindo, Ethan disse calmamente:

— Está certa, é um dos últimos membros vivos, seu nome é Dean.

— O senhor parece gostar dele, fala em uma animação. — Sua voz soava irritada.

Nem precisando pensar, o professor respondeu:

— Eu gostava do primeiro, o criador da família. O conheci, viramos amigos e como sempre, o tempo chegou. O vi morrer nos seus noventa anos, rodeado de amigos, filhos e netos. Um fim respeitoso, me lembrarei de Santiago Blackscar alegremente. Quanto ao devorador de almas, tenho uma opinião dividida.

— Dividida? Concorda com os assassinatos?

— Nem um pouco. Me diga, sabe o motivo deles terem sido exterminados?

Mantendo o silêncio, Laura considerou suas palavras e disse:

— Eram perigosos, rebeldes, odiavam seguir regras e mostravam a superioridade sempre, dando medo em todos.

— Está certa, em tudo. No entanto, me responda, como uma família, sem apoio de ninguém, conseguiria impor ordem em todas as outras? Pedindo por favor? Sendo gentis? Não, mandando, mostrando o quão fortes eram. Uma das armas mais poderosas do mundo, é o medo, começar e termina guerras, convence e persuadi.

Olhando seu relógio, disse um pouco desanimado:

— Nossa aula já está no fim, deixaremos as perguntas polêmicas para outro dia.

Arrumando suas coisas, uma mão foi levantada, vindo do fundo e chamando a atenção. Vendo isso, Ethan disse:

— Sim, emburrado.

— Uma pergunta, senhor, só uma antes da aula acabar.

— A vontade.

San tinha muitas perguntas, o porquê de ter o mesmo nome do seu ancestral, a história perdida, a forma que todos morreram. Porém, havia uma coisa mais importante, algo imediato e de extrema importância.

— O senhor disse: “ele é um dos últimos membros vivos.” Significa que tem outros?

Coçando o cabelo, pensou um pouco e respondeu:

— É possível, aquele homem, pode ter primos, irmãos, parentes sobreviventes, ou teve filhos.

A menção de filhos, fez a turma murmurar entre si, criando teorias de conspiração.

Liz, levantou a mão, e sequer recebendo permissão para falar, perguntou:

— Quais as chances de ter tido um filho, ou filha?

— Bem, essa é uma teoria bastante discutida entre os figurões. Considerando que Dean tinha entre seus vinte e cinco anos quando os Blackscar morreram, e após isso se manteve escondido por anos, é possível ter conhecido uma mulher e aproveitado a vida serena.

— A destruição ocorreu por volta de vinte anos atrás, seu descendente teria no máximo vinte de idade, por ser pouco provável analisando os problemas na época, eu diria dezenove. — Liz continuou.

— Concordo, e já teria despertado suas habilidades no momento, e devemos considerar mais de um filho.

Suando frio, San batia o pé a toda hora e roía as unhas, a cada palavra do professor, sentia ser dirigido a si. “Tá tudo bem, nem faz sentido eu entrar na lista de suspeitos, tem montão de gente na minha idade, sou só um aluno que tem o mesmo nome do criador daquela família.”

— Seus batimentos estão acelerados, pressão sanguínea aumentando, acalme-se — falou Sacro baixo.

Ethan soltou um suspiro.

— No final, é só uma teoria, talvez Dean Blackscar seja o último da linhagem. Acreditem, os grandes, lá no topo, preferem assim.

Batendo o sinal, Jason se virou ao companheiro e disse:

— Vamos pro refeitório?

— Claro, só vou no banheiro.

Levantando em um pulo, passou os alunos e procurou uma placa dizendo o caminho. “Maldita academia! Onde tá o banheiro quando preciso?”

Demorando um tempo, entrou e trancou-se em uma cabine. Respirando profundamente, tentava acalmar a mente, e aconteceu o de sempre, os pensamentos só vinham sem parar.

“Vão suspeitar de mim? Pareço suspeito? Show, só ficar normal, agir igual a todos os outros, fingir ignorância e ódio. A eu tô pirando, será que é uma armadilha? Quando eu sair daqui me prendem e nunca mais vejo a luz do sol.”

Antes de poder continuar a ter esses pensamentos, saiu da cabine e foi até a pia, ligando a torneira na potência forte, jogou água no rosto. As gotas caindo pela sua camisa e o frio tranquilizavam um pouco.

Fechando os olhos, respirou fundo cinco vezes e abriu novamente. Se encarando no espelho, via o seu reflexo, olheiras grandes, olhos azuis e uma cicatriz por baixo de um deles e o cabelo já alcançando os olhos.

— Meu nome é Santiago Lunaris, filho de Rachel Lunaris. Um órfão, aluno normal da academia Anastasia, só isso.

Retomou a postura rapidamente, a de um jovem calmo e preguiçoso. Saindo do banheiro, caminhou normalmente de volta ao refeitório, pegou uma comida aleatória e procurou seus amigos.

Sentando no lado de Caleb, comeu normalmente uma porção de arroz e carne, tentando escutar a conversa.

— Sei lá, meus pais nunca falaram mal do devorador de almas, talvez por sermos um dos grandes vivendo entre monstros. — Jason falou bebendo seu sangue.

— Pra mim é diferente, por ser uma pessoa normal, só ouvi as coisas do jornal e internet. — Caleb falou. — E você San? Qual a sua opinião do cara?

Terminando de mastigar, viu os amigos o encarando, esperando a resposta.

— É um nome de merda, um humano de merda, e se for pai, um merda também.

— Há, achamos um hater. — O amigo de óculos riu.

— Sei lá, só não gosto de assassinos.

Jason balançou a cabeça e disse:

— Compreensível. Mudando de assunto, topam ir em uma festa hoje?

— Aah, fui somente em festas de aniversário. — Caleb respondeu envergonhado.

— Tenho compromisso hoje, deixa pra próxima.

Descartando San, focou na sua frente.

— Meu amigo nerd, hoje vou te mostrar a vida de verdade, só saímos de lá, quando arrumarmos umas garotas.

— S-sério?

— Juro, somos jovens e te arrumando umas roupas boas nos tornamos lindos.

Continuando a conversa entre eles, San só comeu quieto, pensando no restante do dia, seus planos e compromissos. Pois esse dia, era especial.

As aulas passou em um flash, a concentração de San foi comprometida, sua mente vagava por aí, quando se deu conta, já terminou as aulas do dia.

Despedindo do amigo, voltou ao seu quarto, pegou Garmir e foram juntos na direção do portão.

Sem academia, colegas de classe, só um aluno normal e seu cão caminhando na cidade. Passando as ruas, via as vitrines de vez em quando, decorava lugares de alimentação, verificava preços.

Continuando nisso por um longo tempo, encontrou seu objetivo, um prédio enorme, vários andares e uma decoração bonita.

Entrando no saguão todo iluminado e um candelabro no teto brilhando, andou até o elevador. Apertando no sexto andar, esperou pacientemente, escutando a música tranquila.

Chegando no andar, deu poucos passos e parou na frente da porta. Por um instante, hesitou, um frio na barriga o dominou e quase foi embora.

Tomando coragem, bateu na porta. A espera foi insuportável, os segundos passando em silêncio, a vergonha de ser visto assim. Garmir ao contrário, sentia animação, balançava o rabo e deixava a língua de fora.

A porta foi aberta, de dentro, uma garota de sete anos o atendeu. Cabelo loiro longo, olhos castanhos e um sorriso enorme. Emile, a irmã mais nova do Leo.

San ficou parado, a encarando, pensando em uma forma de reagir, alegria? Tristeza? Já fazia três semanas desde a última vez que se viram, precisou ser assim, o tempo de aceitação da academia já havia chegado no limite.

Por causa disso, teve de deixar as garotas sozinhas, no meio do luto e em uma cidade em recuperação. Eugene prometeu as cuidar do melhor jeito, e recebia mensagens desanimadas do estado delas.

Esperando até tomar um tapa ou fecharem a porta na sua cara, Emile abriu um sorriso enorme e correu na sua direção, o abraçando na cintura fortemente.

Emma apareceu em seguida, sua aparência continuava a mesma, e incrivelmente parecida com a irmã, só mais velha. Ao ver San, seus olhos lacrimejaram e também se juntou ao abraço.

Pela primeira vez depois de um longo, longo tempo, San sentiu paz, e só as abraçou de volta, sem preocupações, perigos, medo, só alegria e saudade.

Entrando no apartamento, assobiou impressionado. O lugar era incrível, espaçoso, móveis caros e luxuosos, vários quartos, uma TV enorme, videogames, tudo perfeito.

“Eugene cumpriu a sua parte do acordo até agora. E esse é o problema, eu não conquistei isso, me foi dado, e pode ser tomado.”

Terminando de dar carinho em Garmir, as garotas se aproximaram, o agarraram na mão e disseram:

— Vamos mostrar o lugar.

Realizando um tour completo, adorou cada parte, e San viu ambas sorrindo, explicava a função de tecnologias estranhas animadas e falavam das suas vidas animadas.

Nessa nova cidade, poderiam fazer o que San mais desejou, ter uma nova vida, começar do zero. Emile estuda em uma escola cara e boa, Emma, trabalha e estuda, já se preparando pra a prova da faculdade, querendo cursar medicina.

Enquanto isso, trabalharia de garçonete em um restaurante caro onde ricos vão a todo momento. Prometendo visitar o lugar alguma hora, pegaram sorvete do congelador e comeram assistindo TV.

O tempo passou e a noite tomou conta, Emile dormiu encostada em Garmir. Emma, bem acordada, disse:

— Tá trabalhando pra aquele gordo?

A olhando um pouco, escolheu ser sincero.

— Sim.

— É por isso que temos tudo?

— Sim.

— E é o mesmo homem que você tinha uma dívida certo?

Erguendo uma sobrancelha, disse:

— Tá sabendo muito, como aprendeu?

— Leo passava reclamando em casa. — Sua voz se tornando triste e os olhos lacrimejando. — Sempre dizendo: “Gordo maldito, ainda quebro aqueles dentes!”

— Lembro disso, nós dois passávamos horas reclamando dele, bebíamos, riamos, até cantamos uma vez.

— Haha, eu lembro, acordou a vizinhança inteira.

Atingido pelas memórias do passado, San viu a irmã do seu amigo, jovem e livre de perigos, vivendo confortavelmente.

— Emma, aproveita essa chance, vire uma pessoa incrível. Estude, faça amigos, viva. E se um dia, quiser que eu saia da vida de vocês, eu faço.

Ficando quieta por um momento, San até considerou sendo uma confirmação, até ganhar um abraço.

— A gente é uma família agora, nem se tentar vai nos deixar.

Sorrindo, desfrutaram o tempo restante.

Passando horas, San teve de ir, mesmo sob súplicas de Emile implorando para ficar. Prometendo retornar quando pudesse, desceu ao primeiro andar junto a Garmir, ambos alegres e de humor sereno.



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