Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 2

Capítulo 61: Um Pouco de Passado

Duas semanas se passaram, e algumas coisas interessantes aconteceram.

Correndo pelo gramado do campus da academia, um grupo de cinco pessoas perseguiam San, mais precisamente, vampiros.

Durante esse tempo, se tornaram cada vez pior esses ataques, sujeitos com fome e desesperados por um sangue diferente, e San sempre recusou, até quando foi proposto recompensas boas em troca.

Encontrando uma parede e janela grande, acelerou o passo. Focado, pulou e usou suas mãos e pés para se impulsionar. Escalou em uma velocidade muito melhor do que dias atrás, essa caçada pelo sangue melhorou as habilidades de pular por aí.

No teto, correu sem olhar pra trás, só isso não os despistaria. Subindo os ladrilhos do telhado, alcançou o topo, em seguida desceu correndo, quase tropeçando.

Os vampiros tavam no encalço, até salivando. Chegando na ponta, nem hesitou e pulou. A essa distância, cair facilmente machucaria até mesmo mutantes.

Independente disso, os vampiros pularam junto, indo rumo ao asfalto da calçada, e quanto a San, tinha uma mão pendurada na ponta do teto, as veias saltando e exigindo o máximo pra continuar no lugar.

Forçando os músculos cansados, subiu de volta. Ofegante e suando, caminhou até encontrar um lugar baixo para voltar ao solo. Se quisesse, poderia revidar e possivelmente derrotar os vampiros, no entanto, o medo de punição o fazia evitar brigas, pelo menos por enquanto.

Uma das suas punições era ter de fazer trabalhos detalhados sobre monstros da aula do Julius e entregar, San ignorou. A segunda, o professor Ethan de história ficou encarregado, e até o momento, tava decidindo.

Caminhando nos corredores lotados, alunos riam, conversavam, permaneciam quietos, irritados. Era uma mistura de tudo, San prestava atenção nisso de vez em quando, tentando decifrar o que a pessoa pensava, a sua próxima ação ou fala, às vezes dava certo, e muitas errava.

Na sala de aula, viu a turma inteira por um segundo, havia gente de todo tipo, demi-humanos de várias espécies, vampiros, humanos e outros, uma mistura, e mesmo assim, conseguiam se dar bem, até San conversou com alguns.

No seu lugar, sentou confortavelmente e esperou, ainda sobrava tempo até a aula começar, só escolheu chegar um pouco cedo para garantir a segurança contra perseguidores.

Passando pela porta, Caleb, de cabelo partido ao meio penteado, avistou San e levantou a mão acenando, sentando na frente, abriu um notebook e digitou as anotações da aula.

Minutos depois, Liz, a irmã do seu colega de quarto, e Bella, a melhor amiga dela, de cabelo verde e olhos da mesma cor, chegaram. Quase sempre andavam em um grupo de garotas, de vez em quando se separavam, porém, as duas constantemente estão por perto.

Sentaram na mesa a frente de San e abriram os hologramas dos relógios, comparando as matérias. Antes de bater o sinal, Jason veio, agarrado a uma garota e dando um beijo de despedida ao entrar.

Nesse período de tempo morando junto ao colega, aprendeu várias coisas, uma delas é que o amigo arruma namoradas fácil, sempre com uma garota. San já teve de sair do quarto e andar sozinho à noite quatro vezes só para dar privacidade.

No seu lado, deu tapinhas na mesa animado, olhou o amigo e disse:

— Bom dia.

— Só pra ti. — resmungou desanimado.

— Te seguiram de novo hoje?

— Nem me fala.

Da mesa a frente, uma voz feminina disse:

— Já pensou em dar um pouco do seu sangue a eles? — Bella falou.

No mesmo momento, Liz e Jason a encararam incrédulos.

— Qual o problema? — perguntou se encolhendo.

— Se ele der o sangue, vão querer mais, pior ainda é se um dos grandes gostar. — Jason falou apressado.

— Grande? — perguntou curiosa.

— São vampiros filhos de pessoas importantes, de influência. Quando pegam uma presa, querem só pra si, chegando a um relacionamento tóxico.

Dessa vez foi San a falar, por conta de tudo acontecendo a ele, aprendeu bastante da raça.

— Também é uma vantagem, basta uma mordida e passar um tempo com eles, que os outros vão parar de o seguir. — Liz falou concentrada nas anotações.

— Eu to ficando confusa, é pra os evitar ou não?

— Depende da pessoa. — Os dois irmão falaram juntos.

Bella continuou a perguntar, demorando a entender. Já cansado dessa conversa, San foi salvo pela sirene sinalizando o início da aula. Já teve esse tipo de conversa e queria parar por enquanto.

— Qual a aula de agora? — perguntou ao amigo no lado.

Desviando o olhar e vendo para o teto, disse:

— Sei lá.

Semicerrando os olhos, pressionou:

— Tá estranho isso, fala.

Antes de receber uma resposta, o professor entrou na sala. Um homem de trinta anos, cabelos castanhos indo até os ombros, sorriso gentil e animado, cumprimentando as alunas na frente.

— A sério?

Levantando imediatamente, procurava uma abertura para fugir da aula. No primeiro passo, sentiu seus pés agarrados por algo, vendo para baixo, plantas o prendiam.

— Bella, me solta!

Ignorando a súplica, as vinhas só apertaram, já era tarde. Agarrando o colarinho do colega, disse:

— Os dois tão de complô, me traindo assim.

— Eu disse que ele é ruim mentindo. — Liz virou a cabeça. — Você faltou às duas últimas duas aulas, tamo ganhando nota e por isso pode ficar no vermelho.

— Ia vir na próxima! Mentiram assim na minha cara.

— Bem, já era, senta e presta atenção.

A maioria das aulas San gostava, agregava no seu conhecimento ou já sabia e podia ganhar uns pontos com professor, no entanto, nessa do Billy, odiava.

A aula era de controle de essência, um nome legal e propostas boas, o problema era a explicação do professor, San discorda da maioria.

— Certo turma, hoje veremos o modo de distribuir a energia pelo corpo e disparar seu poder da melhor forma possível. — Sua voz era pura compaixão, e claro, o normal de sempre, focado nas garotas.

Apoiando a cabeça nos braços, San ouvia tudo em um tédio, esperando a baboseira sair daquela boca.

— Vamos do começo. Como sabem, a essência se move pelas nossas veias, chegando no corpo inteiro e assim a habilidade podendo ser ativada a qualquer momento. O coração é a fonte, onde dá energia e armazena.

Por enquanto estava certo, San confirmou tudo isso por experiência própria, ao roubar um poder e o transformar em seu, deixava no coração. Quando aprendeu a ativar sua primeira habilidade, só entendeu melhor sobre a forma das veias carregarem energia.

— Vamos pegar de exemplo meu poder. — Estendendo a mão, fez uma bola de fogo. — Ao ativá-lo, precisei passar a essência do coração até a palma da minha mão, nisso, ultrapassou o peito, braço, antebraço e chegou no lugar, também por estar perto, nos dedos.

Apagando a bola de fogo, ergueu um dedo e percorreu pelo corpo, fazendo o caminho.

— Veja só, é inevitável fazer esse percurso, por isso devemos os energizar ao máximo as veias perto. Só assim, o resultado será muito melhor. Claro, é difícil, usaremos a aula de hoje nisso, reúnam em grupos, quem precisar de ajuda, me chame.

“Idiota.” Deitando sobre os braços, tentou dormir, seu sono ultimamente tem se tornado ruim, tem tanto a fazer pela noite. Estudar formas de matar uma águia monstro, procurar notícias e provas de criminosos andando nas ruas, pesquisar a área da cidade para Garmir explorar e analisar, a planta da academia atrás de qualquer coisa suspeita.

Seus olhos quase se fechavam, em segundos poderia dormir tranquilamente, infelizmente, recebeu um tapa no pescoço desprotegido. Erguendo na hora, deu de cara no professor o vendo irritado.

— Senhor Lunaris, dormindo de novo na minha aula.

Coçando os olhos, deu uma olhada rápida ao redor e viu a turma o encarando.

— Tava só descansando os olhos.

— Então imagino já ter aprendido o método?

— Exatamente.

— Me mostre. Comece normal e avance.

Revirando os olhos, ergueu a ponta do dedo e fez uma bola de energia, esse era sem modificar nada, só usando o mesmo jeito que aprendeu na primeira vez ao usar a habilidade.

Apagando a energia, fez outra, dessa vez se via claramente a luz forte e a esfera do tamanho um pouco maior. Podia simplesmente usar mais essência e conseguiria a aparência semelhante, porém, poderia ser identificado, tem certas características entre mutantes.

Levantando uma sobrancelha, assentiu orgulhoso e declarou:

— Bom, sob a minha orientação qualquer um consegue.

Billy saiu de perto. San ia voltar a tentar dormir quando foi cutucado pelo amigo. Soltando um suspiro, levantou a cabeça e viu os três o encarando, Jason, Liz e Bella.

— Que foi?

— Como fez isso? Tamo tentando e é complicado. — Jason perguntou.

O sono foi embora, então espreguiçou e disse aos colegas:

— Vou dar uma dica, esqueçam esse método, é uma merda.

— Você acabou de usar. — Bella falou.

— Usei por causa do Billy me enchendo.

— Por que não gosta do professor? — Liz perguntou aproximando a cadeira e vendo se ninguém escutava, os outros fizeram o mesmo.

— O cara é um lixo, sempre focando nas garotas e explicando errado.

— Bem, todas são maiores de idade. Explicando errado? — Jason perguntou, e logo recebeu olhares irritados das garotas.

Sendo encarado, disse:

— Vou dar um resumo. No princípio ele tá certo, é inevitável a essência passar pelo caminho todo, o errado é energizar tudo. Pode até aumentar o poder, no entanto, só vai gastar energia em vão.

— Então sabe um jeito melhor? — Liz perguntou, seus olhos ardendo em curiosidade.

Dando de ombros, respondeu:

— Simples, coloque o mínimo de energia.

Ainda recebendo os olhares curiosos, completou:

— Os nervos tão em todo lugar, se quiser usar um poder na ponta do dedo, passe a essência por um caminho só, linha reta e certeiro, assim o poder aumenta e gasta menos de essência.

Para demonstrar, ergueu a porta do dedo e fez uma bala de energia, melhor do que as duas últimas mostradas ao professor. Sam aprendeu esse truque no início, quando descobria uma forma de fazer uma bala de energia gastando pouco, depois, só melhorou.

Os colegas o via incrédulos, uma pitada de dúvida e outra de animação. Virando para frente, prestaram atenção em si. Jason tinha o poder épico de absorver danos, devolvendo quando quiser, e um controle de água. Pegando a garrafa na sua frente, pingou umas gotas na mesa e se concentrou.

Bella controlava plantas e uma segunda coisa que San precisava descobrir. Uma semente era pressionada na palma da sua mão, fechando os olhos, lembrou das lições.

Liz fez um corte no dedo, onde San aprendeu como acontecia tão rápido. O anel, além de proteger contra a luz solar, escondia uma lâmina pequena, apertando um lugar certo, corta o polegar. Sangue concentrava-se no dedo, ondulando diversas vezes.

A aula continuou assim, duas horas, passaram, alunos comemorando e fracassando, ao chamar o professor, sempre focava nas alunas e por último os caras.

Faltando dez minutos até a bater o sinal, San analisava os colegas, Jason claramente teve um progresso, formava bolas de água consistentes e melhores. “Billy é tão irresponsável que nem pra reservar o ginásio, só o exterior é insuficiente, é bom testar em alvos.”

Bella conseguia florescer as plantas em uma velocidade muito melhor, e quando tocava uma, usando o método, as deixava mais fortes.

Quanto a Liz, teve o melhor progresso, seus tiros de sangue já podiam ser considerados em um nível surpreendente, a força aumentou e o gasto de energia reduziu.

Mesmo os três treinando durante a aula, era claro que precisavam de tempo, compreender a melhora, realizar testes, etc. San demorou quase duas semanas para dominar.

Enxugando o suor, Jason virou ao amigo e perguntou:

— Impressionante, onde aprendeu?

— Desenvolvi sozinho, obviamente outras pessoas descobriram, só aprendi independente.

Arregalando os olhos, o grupo o encarou sem nem saber a forma de responder, parabenizar, comemorar, duvidar?

— Que idade você despertou? — Liz perguntou.

— Dezoito, demorei um tempo.

— E quanto anos tem agora?

— Dezoito.

— Reformulando, faz quantos meses que despertou?

Coçando o queixo, pensou, tempo era uma coisa complicada, tudo passou tão rápido.

— Uns seis meses, eu acho, talvez mais…

— Háhaha. — Caindo na gargalhada, Jason até chorava de rir. — Você, meu amigo, é meu novo professor.

— Eu não me importo em dar dicas.

— Eu também quero!

— Consigo me virar sozinha, mas uma ajuda é legal.

Dando de ombros, bateu o sinal e foram a outra sala, a próxima aula seria história, uma das preferidas de San, tanto pelo professor quanto o conteúdo.

Ethan entrou na sala igual a sempre, relaxado e andando sem preocupação. Sentando na mesa, analisou aluno por aluno, os olhando no olho.

— Me digam, por que a academia Anastasia é uma das melhores?

Inúmeros alunos levantaram as mãos. Ethan apontou aleatoriamente.

— Pelas instalações e professores?

— Um pouco disso, próximo.

— A cidade é enorme e tem potencial.

— A cidade tanto faz, antes da academia esse lugar era bem remoto, quase ninguém aparecia por aqui. Emburrado, sua vez.

San pensou por um segundo e respondeu:

— Por causa dos alunos?

— Ai! Acertou 80%. Sabem quantos alunos, filhos de membros das grandes famílias estudam e já estudaram aqui?

Recebendo o silêncio, respondeu:

— Impossível de contar, a escola foi fundada cem anos atrás, e ainda tinha membros dos grandes. Nessa turma tem alguns.

Levantando, começou a andar de um lado a outro.

— Certo, agora me digam, o que são as grandes famílias? Mutantes poderosos e justos? Guerreiros corajosos? Heróis atrás de matar todos os monstros? Se pensaram isso, erraram feio!

Cada aluno o encarava em fascínio, até os filhos dos grande.

— São tiranos poderosos, vieram antes da maioria e mataram quem tentava subir. Dez anos após o mundo se tornar um caos, foram surgindo pessoas dizendo fazer parte de famílias, exibindo o mesmo poder e juntando eles. Pergunta pra turma, como as habilidades não se espalharam por aí?

— Recrutaram todos? — Caleb perguntou animado.

— Errado. Só os promissores.

— Só os membros de sangue tem a chance de ter o poder?

— Errado, antigamente era tudo aleatório, podia despertar sem nem ter ligação sanguínea. O emburrado, responde.

— Sério? Tem tipo, a turma toda levantando a mão.

— Eu sei, mas gosto das suas respostas, me lembra de mim quando jovem.

Suspirando, disse a primeira coisa a vir na mente:

— Mataram todos com o mesmo poder.

Abrindo um sorriso, olhava San melancólico, como se visse um conhecido.

— Resposta certa. Mataram qualquer um, só por ter uma pequena semelhança. Isso continuou por um longo tempo. — Sua voz se tornando triste. — A dominância de terras e pessoas, obrigavam os fracos a trabalhar e os fortes a arriscar a vida.

Demorando um tempo, puxando a memória, abriu um sorriso.

— Um dia, há, ainda me causa arrepios só de lembrar. Um dia, um homem disse: “Não aturaremos mais!” Matou um dos grandes, e repetiu em todos os ruins.

— Como uma pessoa sozinha faria isso? Seria só reunir vários dos grande e o matar. — Um aluno falou enquanto anotava tudo.

— Não podiam, o medo os dominou. Porque sabiam, que a cada morte, ele se fortalecia. Um tempo depois, casou com uma mulher incrível, o ajudou a melhorar, e formaram uma das grandes famílias, responsáveis em cuidar de todas as outras, tipo uma polícia severa, impedindo dos erros repetirem, vigiando, fortalecendo, e matando. Alguém sabe o nome deles?

San batia o pé compulsivamente, sentia a resposta na ponta da língua, queria negar, mas sabia.

Abrindo os braços no meio da sala, o professor disse:

— Blackscar, os ladrões de poderes.



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