Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 2

Capítulo 60: Fugindo

San mantinha as mãos erguidas em sinal de paz, esperando a irmã do seu amigo não o atacar, e ela cuidando qualquer movimento de perigo. Um pouco perto, pode ver direito Liz.

Ofegava continuamente, as feridas no seu corpo curavam a olho nu e o sangue pingando voltava ao dono. Segurando na sua mão direita, exibia uma espada claramente sendo cara e afiada, de uma cor prata reluzente.

San, de cabeça erguida, já pensava em formas de fugir ou imobiliza-lá. Claro, por um momento a ideia de a matar em caso de ameaça surgiu, só pra ser descartada em um piscar de olhos, seria a pior decisão tomada, todos os seus planos dariam errado e era contra sua ideia de eliminar somente os ruins.

Semicerrando os olhos, Liz disse:

— É o colega de quarto do meu irmão? O cara que lutei hoje?

— Exatamente.

— Por que tá aqui? — Ela perguntou olhando por cima do ombro, cuidando se tinha parceiros ao redor.

— Escutei um som estranho e segui.

— É verdade?

— Por que eu mentiria?

— Pegar o familiar.

Erguendo as sobrancelhas e fazendo uma careta, disse:

— Como assim?

— Você sabe, a lenda entre os alunos.

Soltando um suspiro, até abaixou as mãos, a deixando alerta.

— Deve ter esquecido, sou aluno novo.

Lembrando subitamente, ficou envergonhada.

— Pois é. A lenda é de um estudante de uns anos atrás, um cara com familiar morreu e deixou o monstro sozinho, os alunos vêm na floresta tentar o desafiar.

— Legal, mas eu já tenho um, e nem sei se posso ter dois.

Arregalando os olhos, o encarou incrédula.

— Você tem um?

— É, tá dormindo agora no meu quarto, Jason pareceu gostar dele.

— Ah, então foi mal, pode ir.

— Ata, quase perfura minha cabeça e tchau, simples assim?

— Quer que eu implore por perdão? Não vai rolar.

— Sei lá, podia me explicar melhor essa história, sobre esse monstro.

Antes de continuar a falar, um vulto surgiu na sua frente. A velocidade incapaz dos olhos acompanharem, quando se deu conta, seus pés saíram do chão e atingiu o topo de uma árvore.

Galhos espetando a pele e constantes batidas nos troncos, caiu de uma altura de três metros até o chão e “aterrissar” de lado na grama.

Mesmo seus ossos sendo resistentes, ainda sentiu uma grande dor ao cair dessa altura. A cabeça girando e tendo de apoiar no tronco para se manter de pé, o vulto voltava na sua direção.

A mente de San tentava raciocinar, contudo, a pancada o deixou impossibilitado.

Para sua sorte, Liz se pôs no meio com sua espada. Ao bater de frente ao vulto, teve os pés arrastados na grama, faltando pouco até San.

Finalmente imóvel, viu o culpado do seu arremesso. Uma águia careca enorme, a pelagem de branco e marrom, garras tão afiadas quanto facas e asas enormes.

— Sai logo dai! — Liz gritou, claramente forçando seu corpo a ficar nessa posição.

Forçando as pernas fracas, pulou ao lado, e ela pode afastar o corpo. O monstro atingiu o chão, destroçando a grama. Engolindo em seco, San levantou o dedo e soltou um tiro de energia.

A águia abriu as asas e desviou facilmente, sumindo completamente de vista.

— Sugiro fugirmos. — Sua respiração irregular e zonzo.

— Vai você, eu vim sozinha e consigo dar conta.

— Claro, um monstro nessa velocidade vai ser facinho.

Aparecendo novamente no ar, visou San, e fez uma investida veloz, impossível de desviar. Igual à última vez, Liz conseguiu interceder, utilizando a espada de defesa. Se soltando, voou para o céu.

Irritado por ser o foco dessa besta, San forçou sua mente a concentrar e apontou o dedo, disparando outro tiro. Superando tanto em velocidade quanto força o anterior, chegou rapidamente no céu.

Vendo a bala de energia aproximar, a águia desviou em um bater de asas, achando fácil. No entanto, antes de perceber, no meio da trajetória, mudou de direção. Acertando diretamente no peito, teve dificuldade em continuar no ar e caiu.

Abrindo um sorriso sádico, preparou outro tiro de energia. Nessa hora, Liz o passou correndo e falou apressada:

— Corre!

O monstro estava a vários metros de distância, abriu as asas, recuperando-se, e focou o olhar em San.

Foi como se ele teletransportasse, nem vulto pode ser visto, no segundo seguinte, San foi arremessado no chão, derrapando contra a grama, empurrando terra e chocando contra obstáculos.

Desorientado, a águia permanecia no seu peito, brava. Levantando as garras, perfurou o peito dele. Perdendo o ar, uma dor encheu sua mente.

A sua sorte era as costelas terem impedido das garras atingirem seus pulmões. Surpresa, a águia ergueu a outra. San, mesmo querendo fazer qualquer coisa, seu corpo todo doía e a cabeça girava.

Uma flecha de sangue veio do meio da floresta, sabendo ser uma má ideia ser atingido, a besta içou voo. “Eu vou matar esse bicho, foca em mim só por eu não ter uma arma.” Era seu único pensamento.

Liz apareceu ao seu lado e o ergueu, pôs no ombro e correram pelas árvores. Recuperando o fôlego, e deixando um rastro de sangue, San procurava ao redor.

— Valeu pelo aviso, na hora certa. — falou sarcasticamente.

— Foi mal se demorei, tô acostumada a fazer isso sozinha. Esse monstro tem padrões, ataques especiais dá pra dizer, acabei decorando.

Percebendo estarem indo embora, perguntou:

— Tamo fugindo?

— Tenho um limite de quanto posso usar no meu poder, gastei demais.

Correndo no máximo, já podiam ver a saída da floresta, em poucos segundos estariam a salvo. Porém, a águia pousou na frente, o tamanho grande e a aura emanando os sufocou e pararam.

— Você é a especialista, e agora?

— Nunca cheguei nessa parte.

O monstro os encarou e esperou, talvez quisesse a emoção da caçada e os deu a oportunidade de fugir de novo. Diferente disso, um som saiu da sua boca, uma voz.

— Seres interessantes, é uma pena terem de morrer.

“Ótimo, ele fala, só significa o quanto é forte.”

— Deveria nos permitir ir, um professor virá logo. — Liz falou nervosa.

San pensava em forma de fugir, até em usar seus poderes copiados.

— Os professores não virão, isolei essa área, acham estar tudo normal.

“Curiosidade de merda! Devia ter ficado longe daqui.” Escolhendo tentar a abordagem agressivo, San disse:

— Quer mesmo nos enfrentar? Vai morrer.

Dando uma risada, onde foi estranho por ver um animal enorme rindo igual a um humano, respondeu:

— Falou quem está se apoiando na vampira. Mas podemos fazer assim: nessa luta, percebi que os dois tem potencial. Lutem entre si, o vencedor vive.

Liz o olhou por segundos, considerando suas chances, se sentia confiante. San engoliu em seco, mantendo a pose de forte.

— É a última vez que vou falar, saia ou morra.

Continuando no lugar, a águia já pensava em matar o humano na sua frente, cansada disso. Ao abrir as asas, uma presença mudou a área.

O ar se tornou quente, o vento parou e uma sede de sangue encheu o ambiente. De trás de San, uma luz surgiu. A passos calmos, Garmir caminhava.

Por onde pisava, fogo nascia. Os olhos brilhavam em vermelho vivo, os dentes extremamente afiados à mostra, e a pelagem escura combinando à noite. Indo à frente do seu parceiro, disse em voz alta:

— Deveria ouvir o meu companheiro, porque faz tempo desde a última vez que comi galinha.

Hesitante, a águia abaixou as asas e preocupação passava por seus olhos.

— Um cão do inferno, aqui?

— É, ficar em um quarto o dia inteiro é entediante.

Encarando um ao outro, nem um desviou o olhar, raiva em cada rosto e hostilidade. Por fim, a águia fugiu.

Tanto Liz quanto San soltaram um suspiro de alívio, poderia só cair no chão, no entanto, preferiam voltar à academia antes disso.

A verdade, era que sim, Garmir melhorou bastante, suas técnicas de caça superaram a de San, afinal de contas, cães do inferno nasceram pra isso. Já podia controlar um pouco das chamas e amedrontar os outros, mas com certeza perderia se lutasse.

A águia tinha seja lá quantos anos, treinada e forte. Garmir no máximo um ano de vida. Esse incidente só mostrou a San o quanto é importante fazer seu companheiro evoluir.

Já longe do perigo, caíram no chão. Liz foi a primeira a falar:

— Isso foi incrível! Por um momento achei que iria te matar.

— Eu também.

Se encarando, deram risadas e só descansaram, quietos e calmos.

— Vai volta lá né?

— Exatamente.

— Mesmo podendo morrer?

— Quanto maior o perigo, maior a recompensa. Minha mãe sempre diz isso.

— Nem imagino como ela seja.

Rindo um pouco, mudou o foco a Garmir sentado. Já nem soando ameaçador.

— Cachorro legal.

Abanando o rabo, ergueu a cabeça orgulhosamente.

— Dá pro gasto.

Mordendo o pé de San, quase o arrastou de volta à floresta. Distraído, nem percebeu Liz se afastando. Vendo ter sido descoberto, disse envergonhada:

— Desculpa, é o cheiro.

Se fungando sutilmente, até pediu a opinião de Garmir. Subitamente, lembrou que ela é irmã de Jason e o cheiro do seu sangue é tentador.

— Bem, eu já vou indo, exagerei demais pra uma noite.

Erguendo o corpo com dificuldade, sentia tudo doer. Caminhando na calçada e Liz poucos passos atrás, alcançaram os dormitórios. Antes de poder entrar, foi parado.

— San, me atrapalhou mais que ajudou hoje, eu te carreguei e fugimos ainda por cima. Tá me devendo.

— Sério?

— Aham. E pra compensar, quero pedir sua ajuda, dá próxima vez, vamos trabalhar juntos.

Soltando uma risada, respondeu:

— Eu dispenso. Se quiser, posso pagar seu lanche ou passar cola nas provas, mas arriscar a vida é exagerado.

— E-então me faz um favor.

— E eu ganho o quê?

— Cola nas provas?

Sob o olhar desanimado de San, soltou um suspiro e disse:

— Vou pensar. Vi que se juntar a força de nós três aumentamos a probabilidade de vencer.

“Ela é a queridinha dos professores, também parece saber bastante das coisas, talvez saiba sobre o item do Eugene, posso me beneficiar, e só vou precisar arriscar a minha vida.”

— Feito, claro, vamos deixar isso pra depois, por enquanto vou focar em estudar, aprender nas aulas e sofrer duas punições, uma de exagerar contigo no ginásio, outra de brigar com um cara no refeitório.

Pondo o dedo no queixo, Liz penso e respondeu:

— Certo, podemos resolver isso rapidamente, em questão de umas duas semanas já tá tudo bem.

Surpreendendo um pouco pelo otimismo, acenou a cabeça e despediu-se. Subindo de volta ao seu quarto, Jason dormia profundamente, todo jogado na cama e desarrumado.

Indo até o seu lado do quarto, pegou as bandagens usadas do professor Ethan e enfaixou o peito, deitou na cama e encarou o teto, nem imaginando seus próximos dias. “Descobri porque eu passava escutando alunos querendo faltar às aulas. Qual será a punição por isso?”

Faltando pouco para dormir, Sacro perguntou:

— Qual o plano agora?

Coçando os olhos, respondeu:

— Plano?

— É, da Hana.

— Ah, eu tava pensando nisso, já sei o plano perfeito: não vou fazer nada.

— …Como assim?

— Eu demorei, mas percebi. A Hana tá vivendo bem, sem problemas na escola, tem amigos, pais amorosos, tá tudo perfeito. Se eu me intrometer, só vou quebrar.

— Você é a família dela, vai simplesmente a abandonar?

— Essa é a questão, pra abandonar, preciso fazer parte. Eu já devia ter notado, aonde vou, alguém morre, é sempre assim, amigo ou inimigo tanto faz, a morte tá do meu lado, e quero isso longe dela.

— Então é assim, esqueceu os planos ou formas de se aproximar?

— Exatamente, só por eu ter a visto, sorrindo e alegre, me contento com isso.

Pegando no sono sem nem perceber, pela primeira vez em semanas, dormiu livre de pesadelos, tranquilo e sereno.

Acordando cedo, lavou o rosto, trocou os curativos, pôs seu uniforme e saiu junto a Jason, até colocou perfume sob o machucado, tentando suprir o cheiro de sangue.

A caminho da sala, recebeu olhadas de pessoas ocasionalmente. Na sua frente, uma mulher de cabelos loiros e olhos brilhantes passou e o encarou, abriu um sorriso sedutor e foi embora.

Acompanhando ela com o olhar, pensou em seriamente em segui-lá. “Retiro tudo que eu disse de mal da escola, é incrível.” Virando de costas e indo na sua direção, foi agarrado na parte de trás da camisa e arrastado pelo amigo.

— Ei, ei, ei! Deixa eu ir, saí fora!

— Ela é uma vampira cara, tá te atraindo pra chupar teu sangue.

— Isso importa?

Encarando o amigo, disse:

— Sim! Você pode se tornar o escravo de sangue dela, acredite, vai ser desagradável.

A vendo sumir nos corredores, suspirou e chegou na sala. Nem se importou e foi até os fundo sentar no canto, Jason parou um pouco no caminho pra conversar com umas garotas, todas dando mole.

“Odeio caras bonitos.” Afundando a cabeça nos braços, esperou a aula começar.

Demorando um tempo, ouviu um grito de surpresa do amigo:

— Mana? Por que tá aqui?

Espiando, viu Liz e sua amiga de cabelo verde sentadas nas mesas a sua frente. Sem entender, só prestou atenção ainda abaixado.

— Decidi mudar de lugar.

— Aham, tá suspeito nisso.

— Bem, vim te ajudar nas aulas, sabe, ir bem nas provas, impedir de dormir. Meu irmão deve ser bom também.

Levantando a cabeça em um pulo, San compreendeu. “Ela disse ontem que era fácil resolver o meu atraso, é disso que tava falando, me vigiar?” A colega o olhou e disse:

— Prazer, espero poder colar nas provas.

— …Digo o mesmo, eu acho.

A aula do dia era sobrevivência, a professora, uma mulher já de idade, independente disso, se movia de um lado a outro em uma energia surpreendente, explicando o método de fazer uma fogueira, pegar os galhos finos e secos.

Acabando a aula, foi moleza, San já sabia de tudo, aprendeu sozinho ainda novo. Duas aulas entediantes depois, no refeitório, as garotas se separaram indo ao seu grupinho e os garotos ficaram sozinhos.

— Finalmente, não aguentava mais ela. — Exclamou Jason pegando seu saco de sangue.

Enchendo seu prato sem nem saber o que era a comida, procurou uma mesa vazia. Sentado sozinho, o garoto do dia anterior, visto no hospital, permanecia sozinho enquanto recebia pedaços de comida na cabeça.

Soltando um suspiro, andou até a mesa e sentou ao seu lado, os garotos pararam e deram uma encarada. San só virou o rosto e disse:

— Por que tão incomodando meu amigo?

— N-nada, só uma brincadeira.

— Ah, parece divertido, podemos fazer isso em vocês?

Assustados de receber algo na cabeça, mudaram de mesa. Jason só sorriu e sentou junto.

— Eae, um novo membro do grupo?

— Por aí.

Caleb Nem sabia o jeito de agir, então só agradeceu.



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