Volume 2
Capítulo 59: Caça
Fazia um tempo desde que San caçou pela última vez, aconteceram tantas coisas e problemas. Mas a caça sempre o lembrou de dias melhores, calmos.
Quando está atrás da sua presa, sente os sentidos melhorarem, uma tranquilidade encher o corpo e tem apenas um objetivo, sem distrações, problemas, amizade, nada.
Correndo nos tetos de casas, equilibrava o peso para as partes fracas sustentar seu peso. Foi difícil no início, ocasionalmente emitia barulho ao pousar. Pensando ter acordado o dono do lugar, mudava rapidamente de casa.
Continuando nisso, chegou em uma rua vazia e pulou ao chão, tendo uma aterrissagem complicada, quase caiu. Caminhando na rua, nunca passava embaixo dos postes de luz, sempre nas sombras.
Os pedestres nem se importam, sabiam reconhecer problemas de longe, uma das vantagens de viver nesses bairros, e um cara andando na escuridão com uma espada nas costas era o suficiente.
Após minutos, procurava. Podia pedir a Sacro abrir um mapa da cidade e o orientar, porém, ultimamente sentia estar se tornando dependente demais da inteligência artificial, precisava fazer isso sozinho.
Por sorte, avistou um grupo de homens, todos embriagados e cambaleando. Pegando o caminho de onde vieram, viu um bar aberto 24 horas.
Sabia ser o certo, então, achou uma separação entre dois prédios apertados, um lugar isolado e olhou ao redor. Latas de lixo, janelas trancadas, pichações e uma escada de incêndio alta. Pegando impulso, utilizou as paredes para subir.
Na primeira vez, errou, caindo no chão. Levantando, tentou de novo, mudando e pegando latas de lixo para usar de apoio. Demorou um bom tempo.
Organizando, pulou sobre um lixo, indo alto. Na mesma hora, usou uma das pernas na parede e deu outro pulo, finalmente colocando as mãos nas escadas de incêndio.
Conseguindo pôr o corpo inteiro, deitou na grade de metal, recuperando o fôlego. Ultimamente, pretendia aprender a escalar, se viveria em uma cidade de prédios em todo o lugar, aprenderia a usar isso ao seu favor.
Subindo as escadas, no segundo andar observou o bar. Cliente entrava, saia, entrava, saia. Uma repetição sem limites, até achar seu alvo.
Um homem apoiando-se na porta de madeira caminhou na rua, com certeza embriagado. Entre seus quarenta anos, um cabelo preto desarrumado e roupas simples.
San o seguiu por cima dos prédios, tentando mantê-lo na visão o máximo possível. Em meia hora, tava em casa, um barraco caindo aos pedaços.
O homem entrou, ligou as luzes e perambulou um pouco, em menos de cinco minutos, tudo foi desligado, deixando a casa nas sombras, igual às outras perto.
Descendo ao chão, San olhava ao redor, confirmando estar sozinho e chegou na porta. Esse tipo de casa não havia entrada dos fundos, por isso, seria na frente por onde entraria.
Concentrando na sua essência, a percorria no corpo, e em um pensamento, a usou na fechadura, focando nos pinos dentro e os mexendo.
Tentava a todo custo ser silencioso e ágil, mas demorava demais. “A explicação do Sacro fazia parecer fácil.” Parado na frente da porta por sete minutos, quase desistiu e deu um chute, no entanto, ouviu um clique, e puxando a maçaneta, destrancou.
Soltando um suspiro de alívio, ia entrar, quando ouviu um barulho vindo de trás, passos, perto.
Em um movimento rápido, se virou e agarrou o pescoço do indivíduo, o levantando do chão e batendo na parede. Finalmente vendo o rosto do culpado, era um adolescente.
Suas roupas todas maltrapilhas, o cabelo praticamente careca e rosto sujo de terra, seus olhos arregalaram e indo gritar, teve a boca tampada.
“É apenas uma criança, deve ter estranhado eu aqui e veio ver.” Tirando a mão do garoto tremendo, fez o sinal de silêncio na frente da boca sorridente da máscara e encostou o relógio no dele.
Em um instante, transferiu cinquenta créditos e o soltou. Ainda entendendo, o garoto pensou, e percebendo o que fazer, balançou a cabeça e correu sem virar o rosto sequer uma vez.
Entrando na casa, um lugar pequeno, San viu lixo jogado no chão, a cozinha com panelas de comida estragando, poucos móveis. Explorando a casa toda, viu ter apenas duas portas, uma para o banheiro e outra ao quarto.
Confirmando ter apenas uma pessoa na casa, relaxou. No quarto, viu o homem roncando alto, dormia igual a uma pedra.
Pegando uma cadeira na cozinha, sentou nos pés da cama, o observando. Podia acabar tudo naquela hora, um corte limpo e deu, porém, precisava de provas, queria ter certeza do homem na sua frente, ser culpado de verdade.
Umedecendo os lábios, San começou a assobiar, um longo e calmo, sem falhar ou vacilar, espalhando o som pela casa e rua.
Em apenas alguns segundos, o cara acordou. Podia ser um bêbado, mesmo assim era um mutante. Levantando-se da cama em um pulo, encarou a figura sentada envolta em sombras.
Rapidamente pôs a mão embaixo do travesseiro tirando uma adaga longa, quando virou na direção do invasor, ao invés da cadeira, estava na sua frente. No primeiro movimento dele, San já havia levantado, seria arrogância permitir o alvo se armar.
Dando um soco na barriga grande do homem, agarrou a adaga e sem hesitar, cravou em uma das suas mãos, atravessando a parede.
Prestes a soltar um grito enorme, teve a boca tampada fortemente, chegando a quase quebrar o maxilar.
— Shhhh. Silêncio, tem pessoas dormindo em outro lugar. — falou calmamente, a voz modificada da máscara, deixando irreconhecível. — Posso soltar, mas sem gritar, tá bem?
Respirando fundo, balançou a cabeça. Tendo a boca liberta, soltou um grito. Menos de um segundo, tomou um soco na cara, teve a camisa agarrada e bem próximo do rosto, San falou:
— Tô te dando uma chance, se quer tanto assim morrer, posso fazer agora, quer? Outro desses e já era.
— N-não, por favor, eu imploro, leva qualquer coisa.
— Você tá se confundido, não vim pra isso.
— O que quer?
— Francis Lee, alcoólatra violento. Há duas semanas atrás, depois de beber bastante, espancou um homem o matando. Um pai de família, normal, simplesmente querendo beber um pouco. E você é um mutante, bem injusto.
— É mentira! Sou um cara bom, por favor. — Suplicava chorando.
San ainda duvidava, então empurrou mais a adaga contra a parede. Segurando a vontade de espernear, trancava o maxilar
— A verdade, Francis, estou sendo sincero contigo, espero o mesmo.
Virando a cabeça, com lágrimas caindo, falou:
— Tá legal, eu o matei em um beco. O cara me irritou, passava exibindo as fotos dos filhos, a boa vida. É justo? Sou um mutante, eu merecia isso! Um inútil desses tendo tudo, só dei uma lição.
Sentando na cama, San o encarou, vendo o estado dele. Só precisava disso, uma confirmação, só soube da história por jornais, “mutante se safa por falta de provas.”
— Francis, Francis. É inveja, achou ser melhor que uma pessoa normal só pela sorte de ter nascido com poder, porque é isso que teve, sorte. É um mutante, imaginou ser acima da lei e melhor. Está errado, no fim, com habilidade ou não, sangram de qualquer jeito.
Desembainhando a espada nas costas, sob as constantes súplicas do homem, a cravou no seu peito. Aqueles olhos o viam incrédulos. Em segundos, de onde foi feito o corte, as veias se tornaram escuras, pulsantes.
Subindo até sua cabeça, os olhos, boca, nariz. Tudo começou a sangrar. Mesmo de boca aberta e querendo gritar, nem um som saia, e tendo um espasmo completo, continuou preso à parede.
Francis demorou um pouco para morrer. Durante todo o processo, San sentia uma energia na sua cabeça, o poder.
Já tendo copiado inúmeros, conseguiu reconhecer ser a habilidade de resistência aumentada, formando uma fina barreira ao redor do corpo, igual ao de Leo.
Só de lembrar da sensação do poder do amigo, o fez querer vomitar, quase como se fosse a própria habilidade dele.
Levantando da cama, caminhou até a cozinha e tirou a mangueira de gás, deixando o cheiro espalhar na casa. Pegando um palito de fósforos na bancada, acendeu um dentro do guarda-roupa, queimando umas roupas. Quando ia sair, uma vontade estranha tomou conta.
Voltando ao corpo morto, arrancou a adaga da parede, limpou o sangue na roupa de Francis e guardou. Finalmente tendo acabado, foi embora.
Segundos seguintes, a casa explodiu, mandando destroços para os lados e o fogo crescendo.
— Sim, uma casa tá pegando fogo, já mandei a localização.
Terminando a ligação aos bombeiros, voltou a escuridão enquanto os moradores acordavam e iam ver o ocorrido.
Andando nos tetos, voltou ao térreo do seu apartamento. Fazendo a máscara se tornar uma pulseira novamente, entrou na sua porta.
Tirando a espada das costas, jogou na cama e foi ao seu quarto. Procurando na parede, encontrou uma notícia no jornal dizendo de Francis.
Numa lixeira de metal, queimou e jogou dentro. Vendo a matéria pegando fogo, sentiu uma tranquilidade tomar conta. Tirando a adaga, a analisou.
— Por que pegou isso? Nem é de boa qualidade — Sacro perguntou.
— Vejo como uma recompensa, um troféu.
Em uma parede aleatória, a jogou, prendendo fortemente. observando as fotos de crimes, pensou vagamente qual seria o próximo. Nem se preocupou em absorver a habilidade recém-adquirida, era fraca. Desde que absorveu os ossos de ferro, descobriu o jeito de evoluir, o ruim era necessitar tempo.
Seu plano no momento era achar um poder diferente dessa vez, queria algo forte, poderoso. Já procurou por controle de chamas, vento, terra. Há outros ainda, o ruim é a forma de os conseguir.
Sentando na cadeira, abriu um holograma de Sacro, nele, todas as informações de Laurem, a mulher culpada da morte do amigo, conquistadas por Eugene e compiladas.
Uma mutante órfã, os pais morreram misteriosamente em uma missão para o exército, foi criada em instituições de treinamento, sendo uma das melhores.
Uns anos atrás, tentou ganhar uma bolsa para a academia Anastasia, recusada por motivos desconhecidos. Após isso, viajou, em todas as cidades, e coisas grandes acontecem, geralmente o povo decidindo rebelar contra as autoridades.
Depois de Veridiam, em um acordo feito, teve permissão para entrar na academia. Poderes, misteriosos, turma, misteriosa, localização, misteriosa.
San já leu e releu várias vezes, grudando na mente. Impossível de esquecer, tudo que precisava, era a achar.
Coçando os olhos, viu já ser quase três da manhã, decidindo já ter feito muito pela noite, desligou e voltou aos bairros ricos, chamou um carro e voltou a academia.
“Devo aprender a dirigir, vai ser útil no futuro para quando for necessário mover um corpo.” Prestes a chegar, desarrumou o cabelo e deixou o fedor de álcool ganho na casa de Francis. Nos portões, passou os guardas no mesmo lugar, focados.
Deram uma olhada rápida e ignoraram, já estavam acostumados a alunos novos saindo no meio da noite para se divertir e às vezes nem voltando no dia seguinte.
Antes de entrar no prédio dos dormitórios, ouviu um som fraco ao longe, quase imperceptível, nem reconheceu. Levemente curioso, mudou a direção e caminhou procurando.
Andando nas gramas, nos fundos do campus, em uma parte onde árvores enchiam o lugar. Dessa vez, pode ouvir o som melhor, batidas fortes, e cheiro de sangue.
Indo atrás, passou por troncos caídos, alguns partidos ao meio, com marcas de perfuração e encontrou a culpada.
Liz, irmã de Jason, de pé sobre uma poça de sangue. Olhava os lados continuamente, procurando. San encarou curioso, podia ver seus cabelos sujos de grama e arranhões pelo corpo.
Parado, a observou, em completo silêncio, no entanto, um mosquito pousou no seu braço, dando um tapinha leve, o afastou. Voltando o olhar, ela apontava o dedo, fazendo uma flecha de sangue.
Virando o corpo, se pôs atrás da árvore. Em instantes, sentiu um vento passar a cabeça, olhando acima, viu um buraco no meio do tronco, o ultrapassando. “Hoje é um dia complicado.”
Em um pensamento rápido, se revelou, de mãos levantadas.