Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 2

Capítulo 57: Briga

Paralisado, sua mente nem sabia o que fazer. Durante todo o tempo desde receber a notícia dela estudar na academia, já imaginava suas palavras, o jeito de abordá-la, convencer ser verdade. No entanto, a vendo na sua frente, esses pensamentos evaporaram.

Os dois quando pequenos eram bastante unidos, sempre andando juntos e se divertindo. Então um dia, o pai a pegou e sumiu, voltando uma semana depois, sozinho. A mãe ficou triste por um longo tempo e San nunca entendeu o porquê, mesmo perguntando sem parar.

Anos passando, descobriu por sorte, que o pai atraiu atenção de um dos seus inimigos, descobrindo sobre a sua filha. Sua escolha foi a levar, mandar morar em um local desconhecido.

Jason, acompanhando seu olhar, disse:

— Hana Campbell, a querida dos professores, amiga das populares e a paixão de vários alunos.

Encarando o novo amigo em dúvida, perguntou:

— Como sabe disso? E por quê?

— Ah, ela é uma gata, tento conversar, mas aquelas amigas atrapalham.

“Tá legal, eu não sei reagir isso.” Vendo Hana ir ao refeitório, andou no caminho semelhante, e Jason o seguindo.

Abrindo a porta enorme, alunos de várias idades, e espécies se juntavam, rindo e comendo de tudo. O lugar era grande, podendo caber mais alunos. As mesas feitas de metal e cadeiras espaçosas, janelas grandes permitindo a luz entrar e o cheiro de diversos alimentos.

Entrando na fila para pegar sua bandeja, San mantinha o olho na irmã, a vendo rir e se divertir. Constantemente conversando, nunca mostrando nenhum sinal de tristeza.

“Ela tá feliz, é bom. Show, show, show.” Batendo o pé compulsivamente e roendo as unhas, nem percebeu já ser a sua vez de pegar comida.

Jason teve de o cutucar para notar.

— Tá bem cara?

Demorando a responder, sua mente tava uma bagunça.

— É claro, vamo pegar a nossa comida e sentar logo.

Agarrando uma bandeja, viu os inúmeros pratos, carne, ovos, vegetais, pão, sucos. Tantas opções. Mesmo assim, San pegou qualquer coisa e esperou o amigo, mantendo Hana no olhar.

Andando juntos, sentaram a duas mesas de distância. “Posso tentar puxar uma conversa normal, na verdade, ela deve até me reconhecer. Preciso ser visto.” No meio de ideias de chamar atenção, Jason balançou a mão na frente do seu rosto, dizendo:

— Olha, sei de ti apenas umas horas, e até meio arriscado dizer, mas, cê tá estranho.

Forçando seu olhar a desviar, encarou o amigo.

— To ótimo, só admirado com tanta comida.

Vendo seu prato, nem sabia direito o que pegou. Uma fruta verde e cheio de bolhas, uma carne contendo espinhos e uma fruta roxa comprida. O de Jason era pior ainda.

Um saco plástico preto incapaz de ver dentro e um canudo de metal. Olhando nas mesas, algumas tinham o plástico semelhante, e nem foi isso o que chamou tanto a sua atenção.

Em vários lugares, pessoas sentavam, homens com orelhas de animais e unhas afiadas, mulheres de asas de morcegos, gente de pele escamosa e rabos grandes. Todo tipo de espécie.

Coçando os olhos, sentiu uma dor de cabeça horrível. “A minha mente tá confusa demais, preciso de um tempo.”

— Esse saco aí, é igual às comidas de sobrevivência que não tem data de validade? — Perguntou para focar em uma só ideia.

Dando um gole longo, os olhos de Jason brilharam levemente avermelhados.

— É sangue, eu sou um vampiro, lembra?

— Claro, óbvio. De onde arrumam?

— Ah, os avanços da humanidade. Conseguiram criar um sangue artificial, o gosto é um pouco ruim, porém, já serve.

— Tá bom, tem outra coisa sobre essa escola que devo saber?

Batendo na cabeça, disse:

— Esqueci! Você é novo. Temos uma aula que temos de criar Grupos de caça. São grupos para missões, temos uma matéria de exploração, saímos pra áreas onde monstros vivem e todos têm um grupo e objetivos, os melhores tem recompensas.

— Legal, faz parte de um?

— Sim, o da Liz. É bem-bom, treinamos juntos e melhoramos para quando irmos em uma missão de verdade. Devido estarmos no início do ano letivo, temos um tempo até começar.

— E dá pra fazer sozinho?

— Nope, o professor nos obriga a fazer grupos.

“Pode ser problemático. Sendo um mercenário eu podia andar sozinho e usar qualquer habilidade se acontecesse algo arriscado. Entrando em um, preciso tomar cuidado.” Deixando Jason falar, manteve o olhar em Hana, até pensando em uma forma de pedir para entrar no seu.

Minutos depois, Jason disse apressadamente:

— Alerta! Babaca chegando.

San olhou sem entender nada, só percebeu quando um cara alcançou a mesa. Alto, bem treinado, cabelos castanhos fortes, olhos iguais aos de um gato, e na parte de cima da cabeça, um par de orelhas felinas se levantava.

“Tem quatro orelhas, duas humanas e duas animais. Deve ser estranho.”

O homem o encarou de cima a baixo e disse:

— Não tivemos a chance de nos apresentar, sou Brian. Vi você observando minha amiga.

Olhando Jason, o via balançando a cabeça e um rosto assustado. “Bem, se o cara é amigo dela, devo ser legal.”

— Eae, sou San. — estendeu a mão. — Só fiquei curioso se ela tinha um grupo de caça.

— Sério? Parecia outra coisa. — falou batendo na mão estendida.

Contendo a centelha de raiva, sorria.

— Entendeu errado, se quiser, posso te convidar pro grupo.

Enchendo a boca, deu uma risada alta. Os amigos das mesas distantes riam também. “Se controla, bater em desconhecidos é errado.”

— Tá zoando né? Um fracote magrelo que nem você tá querendo formar um grupo?

— To decidindo, era só?

— Tudo bem, só vou te dar um aviso. Fica longe da Hana, ela é minha.

— É namorado?

— Alguma hora vou ser.

Perdendo um pouco da paciência, falou:

— Sei, tá com medo de se declarar e fica barrando os outros?

Uma veia pulsou na sua testa, a boca abriu revelando dentes afiados, em um rosnado disse:

— To sendo legal, tenta falar com ela, eu vou te machucar.

Soltando um suspiro, San deu um sorriso leve. “Bater em desconhecidos é errado, mas matar também, e já fiz isso, então tanto faz.” Olhando no fundo dos seus olhos, disse:

— Vai ser ferrar sua bola de pelo ambulante.

Erguendo uma sobrancelha, as veias de Brian saltavam da pele,

— Ah, seu filho dá…

Antes de terminar a frase, tomou um soco forte no meio da boca, o empurrando. San planejava provocar Brian e fazê-lo iniciar a briga, no entanto, só de ouvir o insulto fez seu corpo agir por conta própria.

Todos do refeitório pararam e encararam. Surpresos, perceberam ser uma briga, e fizeram uma roda. Brian levantou em um pulo, seus olhos afiados e presas amostra.

Desajeitado, San calmamente disse:

— Foi sem querer, vamo ficar de boa.

San chamava atenção demais, se fosse socar o cara, preferia em um lugar isolado, para piorar, tinha medo do que fosse acontecer.

Desde a morte do seu amigo, algo mudou. Se irritava fácil, todas as brigas envolvidas, precisou de alguém o parando, quase levando a morte de muita gente, e por causa da habilidade ossos de ferro, seus socos se tornaram pior.

— Seu merda, me soca e vem falar. É vamo ficar de boa, ajoelha e pede perdão.

Respirando fundo, cerrou bem o punho e disse:

— Brigas são desnecessárias, é sério, vai se arrepender.

— Tá amarelando? — Soltou uma risada estridente, e seus companheiros repetiram. — Ajoelha ou apanha.

— Ai, cansei.

Impulsionado suas pernas, chegou perto de Brian, a mão levantada e querendo acertar o rosto. Prestes a conseguir, em uma agilidade alta, o oponente desviou e subiu o pé, o acertando na barriga.

San voou pelas mesas, batendo de costas em uma cadeira. Mesmo assim, ficou de pé tão rápido quanto foi arremessado e já atacou novamente.

Desferindo golpes simultâneos, todos foram desviados, a velocidade de Brian era um problema, e ao atacar, acertava, fazendo San derrapar um pouco.

Em um sorriso, Brian fez suas unhas crescerem, virando garras afiadas.

— Vamo vê se fica tão convencido assim, agora vai morrer!

Dessa vez avançou primeiro, cortou no peito. San mal teve tempo de desviar, deixando um rasgo na camiseta e um rastro de sangue. Suportando a dor, considerava rapidamente suas opções, e eram ruins.

Usar seu tiro de energia poderia dar errado, a velocidade do inimigo era grande, o impediria. O jeito era ter uma ideia.

Partindo pra cima, concentrou sua essência e vendo a garra perto, a retardou, utilizando sua telecinese. Abrindo uma oportunidade, o socou no meio da barriga, o empurrando na multidão.

Brian mostrava confusão no rosto, contudo, descartou e entrou na briga novamente, sendo empurrado pelos companheiros.

Em segundos, San foi forçado a desviar, incapaz, recebendo um arranhão na barriga. A luta continuou assim, sendo forçado a esquivar e recebendo golpes, independente da sua telecinese.

Parando de repente, tava no limite, durante a luta, teve de limitar seus golpes, entretanto, o cansaço crescia e só deu permissão aos seus instintos, a raiva crescendo no peito e a vontade de machucar. Permanecendo imóvel, ignorou os gritos da multidão e uma sensação o tomou.

Brian via San parado, de rosto abaixado e imaginou já ter ganho, e disparou, atacando no seu ombro, e acertou, suas garras penetraram na pele, indo fundo.

San nem tentou desviar, deixou ser atacado. Quando a garra entrou no seu corpo, abriu um sorriso assustador, seus olhos brilhando em um vermelho, disse:

— Acha que isso vai me matar? Vou te mostrar o que é morte.

Ignorando a dor, ergueu o segundo braço, agarrando no pescoço de Brian, o empurrando até uma mesa. O oponente desesperou-se na hora, tirando a garra do ombro e atacando sem parar.

San levantou a mão, a do braço ruim e o acertou diretamente no rosto. Depois outro e outro e outro. O inimigo até o atacava, tentando atravessar o corpo, e nada adiantava, suas garras paravam ao acertar o osso.

As pessoas ao redor já se preocupavam, vendo o tanto de sangue no chão. Os vampiros, encaravam em fascínio, suas bocas abertas.

San a todo momento usava uma mão para socar e a segunda apertar o pescoço, impedindo de desviar e respirar. Seu rosto já tendo sangue respingado e sorrindo, mudando a cor dos dentes.

Até que uma hora, Brian ficou maior, tornando mais musculoso e forte. Em contrapartida, o aperto no pescoço só piorou, o deixando completamente sem ar, até desmaiar.

Inconsciente, o corpo voltou ao normal, e San continuou batendo, repetidas vezes, sorrindo. Sua mente havia sumido, somente o via morto.

Subitamente, sentiu uma dor na parte direita e foi arremessado no ar, caindo em um aglomerado de mesas. As pessoas se afastaram enquanto via o novo inimigo.

Porém, toda a vontade de lutar acabou. O cabelo vermelho preso apressadamente, mechas caindo na testa. Hana, parada no meio, o encarando. Na hora se animou, pensando ter sido reconhecido, talvez querendo um abraço.

— Já deu né? — Ela falou firme.

— Como assim? — perguntou em dúvida.

— Está exagerando, o derrotou.

Compreendendo, levantou a mão e deixou a voz tranquila.

— Ele começou.

— E você terminou, até demais.

Olhando sua mão, sangue a cobria por inteiro, nem podia imaginar seu rosto e corpo.

— Meu nome é San, prazer.

Hana o olhou incrédula, até assustada.

— Acaba de espancar um homem e ainda consegue sorrir assim? É um psicopata?

“Ela tá confusa, faz tempo, é normal.” Um passo em frente, Hana levantou as mãos preparada para lutar.

— Mais um passo e vai ter uma luta justa.

Então a ficha caiu, San se enganou profundamente. A irmã não o reconhecia, talvez nem lembrasse de ter um irmão, e na sua frente, o via feito o vilão, um cara violento e assustador.

Uma mistura de sentimentos o assolou, decepção, tristeza, mágoa, e raiva, uma a anos guardada, piorando. Abaixando a cabeça, cerrava os punhos, e disse:

— Desculpe.

Indo na multidão, abriam caminho, alguns estranhamente o cheirando. Passando no corredor, andou aleatoriamente, alunos o encarando e distanciando-se.

Achando uma placa de banheiro, entrou imediatamente. No espelho, viu seu rosto ensanguentado e furos na roupa inteira, contando machucados.

Derramando água, tentou tranquilizar a mente, a fúria. Segurando no granizo, apertava.

— Vou matar ele. — Sua voz carregava amargura.

— Quem? — Sacro perguntou.

— Quem?! Meu pai, aquele merda, arruinou tudo, a afastou de casa, mandou pra algum lugar, uma família nova. Como se a nossa fosse ruim. E eu? Tudo bem me deixar!

Batendo contra a pia, descontou até rachar. Jogando mais água no rosto, acalmou um pouco os ânimos. Observando seu reflexo, tirou a sujeira.

Saindo do banheiro, deu de cara no professor Ethan, o de história, esperando do lado de fora.

— Me acompanha? 

Sabendo ser uma ordem, só o acompanhou. Caminharam por um tempo e chegaram em um prédio, separado dos restantes e grande. subindo as escadas, pararam na frente de um quarto com uma placa escrito: “Professor Ethan.”

Entrando, era grande e bagunçado, livros de todo tipo no chão empilhado, aparelhos eletrônicos antiquados, cartazes de filmes de pessoas usando armaduras tecnológicas e mapas na parede, de lugares confusos a San.

— Se sinta à vontade, já volto.

Indo a um quarto diferente, San nem sabia a direção de olhar, era um mundo novo. Na estante, pegou um livro grosso. O abrindo viu ser um álbum de fotos.

Eram em áreas estranhas. Cidades sem muros, prédios enormes, ruas repletas, uma estátua de um homem de braços abertos, uma torre fina.

E tinha também pessoas, Ethan na maioria, no entanto, às vezes homens, crianças e mulheres. No meio, encontrou fotos onde Ethan e uma mulher sempre apareciam, às vezes só ela. Em cidades e paisagens lindas, felizes.

O professor voltou segurando curativos e viu o aluno ali. San esperava receber uma bronca, ao invés disso, Ethan disse:

— Achou um dos meus álbuns.

— Um?

— Eu to vivo a mais de duzentos anos, e gosto de tirar fotos, só um ia ser difícil.

— Verdade, esqueci desse detalhe.

— Centese e me mostre os machucados.

Pegando uma cadeira, fez, tirando a camisa. Ethan passou o curativo habilmente, às vezes parando para ver as inúmeras cicatrizes, outras vendo a reação do aluno.

San sentia dor, mas acostumou, esse tipo de coisa já tornou-se normal, estancar ferimentos, esperar curar e ferir-se novamente, sempre o mesmo ciclo.

Acabando, Ethan disse:

— Agora, vamos falar sobre o ocorrido.



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