Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 2

Capítulo 56: Irmã

O treinamento da aula de combate consistia em usarem as técnicas ensinadas pelo professor Aquiles para imobilizar e impedir ferimentos sérios, no entanto, Liz e San decidiram ignorar isso e lutar como bem-quisessem.

San usava o estilo de luta da dança da serpente, focado em movimentos rápidos e certeiros. Durante todo o tempo aprendendo a usar essa técnica, sempre viu em uma certa vantagem comparado aos outros, afinal de contas, havia sido criado por uma das grandes famílias.

Mas na sua frente, Liz lutava tão bem quanto, talvez até melhor. Conseguia desviar facilmente dos golpes e revidava no momento certo.

San abaixou o corpo quando ia receber um soco, contudo, outra mão vinha de baixo, mirando bem no rosto. Antes de ter tempo de desviar, foi acertado em cheio, sendo arremessado ao chão.

O golpe era poderoso, podia ser de alguma habilidade ou apenas o físico sobre-humano de um mutante barra vampiro. Se não fosse o poder roubado de ossos de ferro, com certeza teria quebrado algo.

Levantando na hora, correu no máximo, mirando na barriga. Ela desviou e pegou distância. Mesmo tendo errado, desconsiderando o descanso, virou e continuou golpeando.

Vendo uma abertura de acertar seu rosto, San nem hesitou, indo direto em um soco forte. Porém, foi assegurado por um das mãos, escondendo o susto, usou a outra, também agarrada. A força era incrível, capaz de o conter facilmente.

Liz o olhou nos olhos e abriu um sorriso animado, revelando as presas. Impulsionou a cabeça pra trás e bateu contra a de San. Quando o fez, o soltou na hora, tudo girando e uma dor horrível, a resistência alta era inesperada.

Escolhendo aproveitar a oportunidade, San deu um chute nos seus pés desengonçados, a derrubando de costas. Derrubando o pé na sua barriga, ela utilizou as duas mãos para o impedir.

Dessa vez, a analisou, e ela revelava raiva e empurrou sua perna. Em uma força enorme, foi jogado para trás e voou no ar, batendo no tatame sua cabeça.

Os dois, desnorteados, levantaram fracamente, ambos animados e exibindo sorrisos.

Liz ergueu a mão direita e do nada, seu indicador abriu um corte. Seus olhos brilhando e ao invés do sangue pingar, se moveu até a ponta do dedo, formando um tipo de flecha de sangue.

San apontou o dedo da mão esquerda, uma esfera azul formou, seus olhos mudaram para um carmesim forte.

Sem precisar trocar uma palavra, ambos dispararam seus projéteis, em uma velocidade alta.

No entanto, estavam tão distraídos entre si, que nem perceberam a multidão observando do lado de fora, os alunos pararam de fazer seus exercícios e focaram na luta divertida.

O professor, a todo momento, os encarava de longe, cuidando os movimentos e golpes, considerando se deveria intervir ou só deixar. De início, escolheu só ver, mas quando usaram suas habilidades, deu um basta antes de um se machucar.

Ambos os poderes, prestes a chocar, então em um piscar de olhos, Aquiles no meio do campo, estendeu as mãos e em cada uma, os ataques acertaram.

Tanto San quanto Liz se assustaram, imaginando terem machucado o professor. Contudo, lá tava ele, sem um único arranhão e apenas soprando onde foi acertado.

Limpando a garganta, disse com uma voz severa.

— Esse é um treinamento físico, amistoso, para melhorar suas habilidades. Os dois iniciaram uma briga e podiam ter se machucado.

Mesmo San querendo contestar e dizer ter sido culpa de Liz, ao ver o rosto severo do professor, só abaixou a cabeça, ouvindo o sermão sobre responsabilidade e os outros alunos poderiam ter se envolvido. Acabando, finalizou dizendo:

— Ambos me decepcionaram, terão uma punição, por enquanto, a aula acabou.

Com Aquiles voltando ao meio do ginásio, as conversas se espalharam. Jason apareceu em um pulo ao redor do amigo, todo sorridente.

— Caramba! Você é forte. Aqueles golpes e seu poder.

Sequer conseguindo responder, Jason o agarrou no braço e o arrastou em uma velocidade surpreendente até o lado de Liz.

— Maninha, esse é meu colega de quarto e amigo, San. Então, forte né?

Em meio a tagarelice do irmão, olhou San e estendeu a mão.

— Liz Sanguináris, prazer.

Apertando a sua mão, sentiu uma energia passar seu corpo, porém, diferente de todas às vezes anteriores, em um nível de força assustador. Engolindo em seco, disse:

— San Lunaris.

Largando as mãos, ela continuou:

— Foi mal por ter feito aquilo de te derrubar, achei que fosse um daqueles chatos fujões anti briga. Tipo o meu irmão.

— Ei! Eu prefiro lanças a socos, sei brigar.

— De boas, essas aulas me entediam, foi divertido.

— Digo o mesmo.

Do lado de Liz, uma garota surgiu, cabelo verde, olhos verdes e um sorriso animado.

— Oi, sou Luna, amiga dessa viciada em ser a melhor. Você foi bem legal lutando, onde aprendeu? Faz academia? Qual o nome da sua habilidade? É daqui?

Recebendo tantas perguntas, San nem processava a informação, Luna falava sem parar, em um ânimo que quando se juntou ao de Jason, tornou-se impossível entender.

Salvo pelo gongo, o sinal tocou, sinalizando a troca de turnos. Soltando um suspiro aliviado, despediu das garotas, pegou Jason e se mandou.

Coçando a cabeça, disse:

— Diz aí, qual o poder da Liz?

— Ah, vejo que te interessa, veja bem meu amigo, minha cara irmã gêmea tem o poder de controlar o sangue e ver os pontos fracos dos oponentes.

— Legal, parece ser forte, sorte a sua ter uma habilidade dessas.

Ao ouvir isso, seus ombros caíram, e logo animaram de novo.

— Eu não tive essa sorte, sou completamente diferente, ao invés de sangue controlo a água.

Vendo o novo amigo estando claramente deprimido pelo comentário, mudou de assunto:

— Qual a próximo aula?

— História, com o melhor professor de todos, Ethan.

Curioso de saber quem seria o melhor, andou animado. A sala de aula era igual à última, as mesas juntas e as cadeiras. Indo até o fundo, sentou apoiando a cabeça.

Esperando o professor vir, puxou conversa com Jason, tentando descobrir sobre o poder de sangue, ficou preocupado quando o copiou, a energia era demais, tinha medo de acontecer algo ao seu corpo.

— Me diz uma coisa, é arriscado usar o poder de controlar o sangue?

Colocando o dedo no queixo, ponderou por um tempo, e respondeu como se não fosse nada:

— É claro, pode morrer só de usar.

Tentando se manter calmo, perguntou:

— Dá pra explicar?

— Ah, no início, quando o usuário ainda tem controle baixo, usa o próprio, e é arriscado. Um primo distante, tirou o sangue inteiro do corpo, morrendo na hora.

— Tá, e a sua irmã consegue de boas?

Dando uma olhada em Liz, só pra se certificar, falou baixo:

— Ela é considerada um prodígio entre a minha família. — Seu rosto escureceu. — o que poucos sabem, é o quanto se esforçou pra isso, demorou muito tempo pra aprender a controlar, e inúmeras vezes quase morreu.

San a olhou e percebeu o machucado no dedo já curado, incluindo um pequeno arranhão de quando lutaram.

— Aposto ter várias vantagens.

— Com certeza, faz o corpo melhorar a capacidade física, armas de sangue, e avançando bastante, até controlar inimigos.

Seria um eufemismo dizer que San estava animado, ter todas essas possibilidades, o problema seria aprender a fazer tudo na primeira vez. Tinha confiança na sua capacidade, entretanto, no ponto de ser igual a uma pessoa a usando por anos, seria exagero.

Tendo os pensamentos interrompidos no professor chegando, o viu se preparar para dar a sua aula.

Era um homem magro, cabelos castanhos e braços finos, sempre sorrindo e sentou na mesa, encarando cada um dos seus alunos.

— Certo turma, falávamos na nossa última aula sobre a tecnologia de antigamente, agora, será do começo. Alguém me diz, como os monstros surgiram?

Algumas mãos levantaram, apontando aleatoriamente, um garoto disse:

— Uma espécie de animais evoluiu?.

— Talvez, próximo.

— Outro planeta? — Um aluno de óculos e cabelo arrumado.

— Essa é interessante. Próximo.

— Foram criados pelo homem. — Liz respondeu com orgulho, já esperando ser parabenizada.

Pensando um pouco, o professor disse:

— Alguns, mas nem todos. Próximo.

Nesse momento, ninguém continuou, um silêncio reinou pela sala inteira. Procurando um novo candidato, o professor disse:

— Você aí atrás, o emburrado, dá uma resposta.

“Qual é, no meu primeiro dia, três professores já tão me focando, será minha aparência?” Pensando por um tempo a resposta, tava cansado, então só falou:

— Vieram do nada.

Os alunos à frente deram risadas, cochichando. Ethan, na frente, disse:

— Exatamente.

Ficaram quietos, tentando ver se era uma piada. Um aluno a frente, usando óculos e o cabelo preto penteado, falou:

— Como assim professor?

— É bem simples, ninguém sabe de onde os monstros apareceram. No ano de 2023, oito de novembro, um dia normal, com pessoas indo trabalhar, estudar e curtir, de dentro das florestas, bestas surgiram.

Todos focaram a atenção, curiosos do assunto.

— O governo foi o primeiro a os impedir, com suas armas grandes e assustadoras, e de nada adiantou, até armas nucleares experimentaram, e só deixaram os monstros piores. E sem perguntas sobre armas nucleares, depois eu detalho. Os governos caíram, as pessoas precisaram se tornar independentes, o mal, ficou pior, e quem era bom, ou mudava, ou morria.

Tomando um gole de água, esperou um pouco, permitindo processarem.

— Para nossa sorte, os mutantes também surgiram, pessoas capazes de soltar fogo pelas mãos, controlar monstros, mudar a gravidade de lugares e manipular o clima a sua vontade. Salvaram muita gente, tentaram criar colônias, abrigos. Deu errado, o ser humano se tornou violento, o forte reinava subjugando os fracos. Foi uma época difícil.

Os alunos queriam mais, curiosos, no entanto, o professor disse:

— Retomamos na aula seguinte, nosso período já está acabando.

Se surpreenderam, nem notando o tempo passar, focados e interessados nas palavras de Ethan. Enquanto ajeitavam suas coisas e conversavam, San levantou a mão no fundo.

— O emburrado, pode falar.

Mesmo soando loucura, desde o começo da história, achou algo estranho, as palavras carregavam um sentimentalismo, até demais para um professor apaixonado. Já havia ouvido pessoas soarem assim, na época de procurar um alvo na base dos mercenários e escutar os relatos deles, dava para perceber terem sentido na pele.

— O senhor fala como se tivesse vivido.

Dessa vez, ao invés de risadas, o encaravam, incrédulos, os sentados perto até se afastaram. Porém, palmas ecoaram.

Virando a cabeça, Ethan, na frente, batia palmas sorrindo.

— É isso que eu gosto, pessoas, sem medo de perguntar. Aposto que vocês já pensaram o quão curiosas são minhas histórias, e escolheram ficar quietos. Está certo, emburrado.

Em uníssono, cada um sentado naquela sala, arregalou os olhos, incrédulos e até assustados.

Uma aluna sentada no meio, cabelo curto e baixa, falou:

— O senhor teria ultrapassado os cem anos.

— Verdade, tenho cento e cinquenta anos, era uma das pessoas que despertou no meio do caos. Dei o nome da minha habilidade de immortalis, resumindo, sou um imortal, vivo há eras.

— Por isso o senhor dá aulas? — San perguntou, curioso de uma pessoa ter esse tanto de poder e se contentar em ser um professor.

— Sim, afinal de contas, meus relatos sempre estarão certos.

— Se é verdade, os outros alunos iriam nos contar. — falou Jason ainda duvidando.

— Eles podem, mas ofereci nota para os que ficassem quietos. Bem fácil. Tava vendo o quanto tempo demorariam pra descobrir.

O sinal bateu de novo, terminando a aula e os deixando sair. Em silêncio, foram aos corredores, procurando erros e duvidosos.

Ao lado de Jason, San perguntou:

— Aula curta.

— O período de história é menor.

— Pena, qual é a próxima?

— Refeitório.

Animando em pensar na comida diferente, caminharam, e já na porta grande, depararam-se com outra turma, dando uma olhada rápida, achou normal, até ver uma pessoa.

A boca de San secou, as mãos suaram e seu corpo ficou paralisado. Junto a um grupo de garotas, a do meio chamava atenção. Um cabelo longo vermelho, olhos completamente pretos, todos os caras a olhando e querendo conversar.

Nesse momento, nem precisou ver a foto que Eugene o mandou, revisar em Sacro ou pensar muito, sabia, sentia isso, aquela mulher era sua irmã mais nova.



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