Volume 2
Capítulo 55: O começo das aulas
Ver um cara fazendo flexões no teto, de mãos e pés agarrados em uma velocidade surpreendente era estranho, e conseguindo em um bom ritmo, pior.
Só de certeza, San saiu do quarto e viu se tava no certo. Confirmando, soltou um suspiro longo e balançou a cabeça. Limpando a garganta, disse:
— Aaah… Oi?
Parando os movimentos na hora, girou o pescoço de um jeito sinistro. Percebendo o visitante, permitiu suas mãos soltarem, e deitado, caiu.
Em pleno ar, moveu o corpo e a ficar de pé, livre de sons altos ou ferimentos, atingiu o solo.
O cara era jovem, vinte anos no máximo. Vestia uma regata branca suada, cabelo de um escuro forte e grande. Uma pele extremamente pálida e olhos levemente avermelhados.
Jogando o cabelo para trás, estendeu a mão e revelou um sorriso animado.
— Jason Sanguináris, seu colega de quarto.
— San. Prazer.
“Sanguináris, esse é o nome de uma das grandes famílias, até onde lembro, os que controlam o sangue.”
As grandes famílias eram poderosas e assustadoras, capazes de controlar cidades facilmente, com poderes únicos, exclusivos apenas a seus parentes.
San era considerado um, os Blackscar. Ainda que tivesse sido destruída da união dos outros, e sobrasse só dois.
Descartando os pensamentos desnecessários, apertou a mão, e conteve de fazer uma careta. Há um minuto atrás, viu seu colega de quarto pendurado no teto, e o tocando, não sentia copiar o poder.
O estranho era que a segunda habilidade de San consistia em copiar o poder de uma pessoa ao tocá-lo e ter visto anteriormente, infelizmente, acabou de dar errado.
Devido a sua curiosidade, demorou no aperto de mão. Jason soltou e foi até o meio do quarto. Apontando para a direita, declarou:
— Esse é o seu lado, pode fazer qualquer coisa, pintar, decorar, quebrar. Sei lá, até onde seus pensamentos o levar.
Indo na sua parte, jogou a mochila no chão e deitou na cama. Macia em um nível nunca visto, poderia dormir na hora.
Garmir sentou nos pés, de olho no colega de quarto. Forçando seu corpo a levantar, abriu as cortinas, deixando a luz do sol entrar, batendo diretamente no seu rosto.
Desviando do sol no rosto, notou a luz só ir até o meio do quarto, como se criasse uma divisão.
Mudando o foco para o colega, sua curiosidade crescia, dos seus poderes e capacidade. Nessa linha de visão, uma porta tava no meio, e cedendo à curiosidade, a abriu, revelando um banheiro.
Chuveiro, pia dupla, bancada, todo o necessário. Admirando por tanta coisa que nunca teve antes, encarou por um tempo.
Recompondo, voltou à sua cama, e viu Jason de roupa diferente. Uma calça preta onde uma linha fina vermelha descia pela calça, e uma camisa cinza com uma rosa-vermelha estampada no peito, o uniforme da academia.
Jason tava no limite do seu lado, agachado e chamando Garmir. O cão do inferno ergueu a cabeça, e deitou novamente.
— Pode ir perto, só de vez em quando morde.
— Sério? Bem, me faz um favor? Fecha essas cortinas.
Desviando a visão a cortina, procurava erros, ameaças ou perigo, e era normal. Hesitante, fechou.
Na hora, Jason passou o quarto e deu carrinho no monstro. Nessa em minutos, viu San o encarando duvidoso. Entendendo em instantes, disse:
— Foi mal, esqueci de falar. Então, sem surtar ou deixar a imaginação correr solta, beleza? — falou levantando as mãos, como se tentasse tranquilizar San.
— Tudo bem. — respondeu já se preparando para qualquer coisa.
Demorando um tempo, reunindo coragem, falou:
— Eu meio que sou um vampiro.
San o analisou de cima a baixo, dessa vez prestando atenção a detalhes diferentes. Os olhos avermelhados fracos, a boca levemente aberta revelando presas pequenas e a pele extremamente pálida. Só isso o entregava, de resto, um humano.
Sendo a primeira vez a conhecer um vampiro, considerava se tinha uma resposta a dar, só respondeu:
— Legal. — e voltou a explorar seu lado do quarto, abrindo os armários e gavetas.
Jason o fitava surpreso, sempre acompanhado perto do cão do inferno o acariciando.
— Você parece, sei lá, tranquilo.
— Não deveria? — Dessa vez levantou a guarda.
— Sim, é claro. É que os meus últimos colegas de quarto piraram. — Disse apressado, sentindo uma aura do monstro e humano à frente.
Pensando brevemente, San lembrou de ter entrado tarde na academia, as aulas iniciaram há um mês. E Jason arrumou um parceiro só agora.
— Por quê piraram?
— Ah, tavam com medo de eu sugar o sangue deles, enquanto dormiam. — falou dando um sorriso de leve. — Só pra constar, é bobagem.
— Sério? posso ficar despreocupado quanto ao meu sangue?
— Óbvio, recebemos uma parcela no refeitório.
Dessa vez curioso, San perguntou:
— E aquilo de grudar na parede?
— É normal entre a minha espécie, podemos fazer umas coisas. Sabe, grudar nas paredes, hipnotizar…
— Virar morcego?
— Isso é mito.
Voltando a atenção a sua mala, Jason tagarelava sobre sua raça, explicando uns mitos e superstições. San descobriu assuntos interessantes, e da academia.
As aulas iniciaram há um mês, por sorte aceitavam alunos atrasados em um certo período de tempo. Jason teve três colegas de quarto, todos se assustaram e fugiram. Alunos conseguem sair do campus a hora desejada. Os guardas sempre permanecem no lugar, cuidando de tudo.
Passando meia hora, uma batida na porta os tirou da conversa. Quando San viu quem era, descobriu ser um entregador. Aceitando a caixa, abriu em cima da cama, vendo o uniforme igual ao de Jason, a calça preta e camisa cinza, adicionando um paletó preto.
O vestindo, levantou uma sobrancelha na facilidade de servir. Já sendo oito horas, Jason disse:
— As aulas vão começar, vamos? — Disse pondo um anel vermelho no dedo do meio.
Faltava organizar seus bens, ver as matérias, estudar a planta do prédio, regras. Porém, essa é a primeira vez a ir numa escola, aprendendo desde a infância em casa, sonhava em participar de uma. E nisso, decidiu adiar seus planos.
— Me guie.
Descendo de elevador, encheu de alunos apressados, suando e uma música calma tocando. Passando a porta de vidro e caminhando na calçada, os alunos mantinham as mãos livres, sem cadernos ou livros.
O mais estranho era Jason de boa em plena luz do dia.
— Quanto ao sol, qual o lance?
— Ah, meu anel é feito para me tornar imune. Mas é só por um algumas horas, então preciso dar um descanso de vez em quando, senão eu queimo.
— Tendi, e qual a aula que tamo indo?
— Monstros. Na academia temos poucas aulas teóricas, o resto envolve atividades físicas, como exercícios, exploração, treinamento de combate. Esse tipo de coisa.
Dentro de um prédio vizinho, tava repleto de salas de aula, jovens conversavam rindo, discutindo e debatendo. Uns tinham orelhas animalescas, outros peles pálidas.
Pretendendo perguntar novamente, Jason virou de repente, entrando em uma sala. San quase passou, por sorte viu na hora e entrou junto.
O lugar era grande, mesas grudadas iam até as janelas, separando os alunos por cadeiras e um espaço com degraus no meio para percorrer.
Admirando, encarou por um tempo, os alunos se divertindo, trocando conversa fora, rindo. Cada um num grupinho, igual havia lido em livros. Os de aparência bonita e faladores, isolados e quietos, altos e fortes.
O preocupante, era os membros das grandes famílias, de acordo com Sacro, essa academia era cheia.
Parado, adivinhando quem seria o que, atrapalhou a passagem de alguém.
Girando a cabeça, um homem de quarenta anos tentava passar. Os cabelos escuros eram jogados pra frente, olhos castanhos fortes e usando a mesma roupa dos alunos, apertada no corpo magro, a diferença, ao invés de preto, era branca a maior parte.
— Saia logo da frente. — Sua voz segurava a raiva, carregando desdém.
San planejava sair, o problema foi o jeito falado. Ficando a centímetros do homem, disse:
— Claro, mas fale por favor.
Sua reação mudou de calmo para irritado, encarando o aluno na sua frente. Prestes a falar um insulto, Jason apareceu, assegurando San pelo braço, o puxando e dizendo:
— Me desculpe professor, é aluno novo.
Antes de receber uma resposta, se afastaram até o fundo da sala e sentaram na cadeira.
— Caramba! O Julian é um saco, evita o incomodar, beleza?
Assentindo, só permaneceu quieto. O professor foi até a frente do quadro e começou a escrever, não falou muito, e encheu a lousa.
Escrevendo em uma velocidade surpreendente, todos digitavam nos hologramas dos seus relógios desesperados, porque quando o quadro enchia, era apagado na hora e escrito mais.
San olhava todos fazendo isso e só apoiou a cabeça no braço. Ao invés de copiar, escolheu só ler, mesmo a sua memória não sendo perfeita, a considerava boa para decorar assuntos de monstros. Qualquer coisa, perguntaria a Sacro.
Após uma uma hora nisso, finalmente acabou. O monstro do dia era goblins, suas características, pontos fortes, bases, dificuldade, etc.
Julian observava os alunos tirando fotos rapidamente e pegando as anotações de colegas, feliz, e pôs os olhos no fundo, em um quase dormindo. Contendo a vontade de gritar e o repreender, teve uma ideia diferente.
Tossindo alto e chamando a atenção dos alunos, disse:
— Goblins são monstros violentos, a maioria das suas armas são rudimentares e fracas, o problema é quando matam mercenários e as pegam. Esses são os evoluídos, podem me dizer como são chamados?
Umas mãos foram levantadas. Julian só ignorou, olhando até o fundo e dizendo:
— Você aí, atrás, é novo, né?
Todas as cabeças se viraram. Jason deu uma cutucada no parceiro. San ergueu a cabeça e nem tentando esconder o desânimo, disse:
— Exatamente.
— Certo, senhor… — abrindo um holograma, viu a chamada e continuou. — Lunaris. Pode me responder à pergunta? O nome dos goblins evoluídos.
Espreguiçando o corpo, bocejo um pouco e respondeu:
— Hobgoblins. São rápidos e lutam bem.
Se surpreendendo, pois goblins são raramente estudados pelos alunos, até levantou uma sobrancelha. Limpando a garganta, prosseguiu:
— Correto, e eles têm um líder?
Revelando um sorriso, lembrou da vez em que junto a Mavara, a mãe de Garmir, visitaram uma vila goblin. No dia, ficou assustado ao estar cercado, mesmo assim deu certo.
— É claro, um tipo de rei. Senta em um trono de madeira, usa uma coroa brega, é bem gordo e grande.
As questões prosseguiram um lado perguntando e o oposto respondendo. O objetivo de Julian era dar uma lição no aluno distraído servindo de exemplo, no entanto, as perguntas foram respondidas corretamente.
Quase perdendo o controle, se preparou para fazer perguntas em outro nível. Porém, o tempo da aula estava acabando, e a toda hora, uma aluna sempre mantinha a mão, querendo por tudo responder, e quando não teve a chance, se virou para San com raiva.
Tinha cabelos curtos e escuros, uma pele pálida, muito bonita, olhos levemente avermelhados e como a maioria, usava o uniforme preto.
Percebendo o olhar, San girou a cabeça, a vendo também, ficando em contato por segundos, deu um sorriso debochado. Batendo, o sinal levantaram.
Ela foi até a porta, e San manteve a visão. Uma das suas habilidades, era detectar mutantes, o problema era a academia inteira ser constituída deles. Contudo, conseguiu retardar o poder, fazendo para somente aqueles que o encaram.
E ao ser pego no olhar da garota, sentiu um poder forte, diferente dos normalmente sentidos.
Jason animado, falou:
— Conhece bastante de monstros, que legal! Onde aprendeu?
Mesmo fazendo outras perguntas, foram ignoradas. Seguindo o olhar do companheiro, abriu um sorriso animado e falou:
— Ah, entendi. Seu nome é Liz, ela é bonita, mas sabe, tendo o meu sangue é difícil ser feio.
Pela primeira vez se virou e surpreendeu-se.
— Como assim?
— Bem, eu e a minha maninha viemos da nossa terra natal pra cá. Ela é meio temperamental e sempre quer ser a melhor. Apesar disso, é uma boa pessoa, se quiser, posso os apresentar.
— To de boa, só vamos para a próxima aula.
“Sei, esse poder vem do sangue, entretanto, é diferente da sensação do Jason.”
Caminhando de novo juntos, olhava aos lados, procurando, cuidando, analisando cada um dos estudantes. Sem encontrar seu objetivo, só seguiu Jason.
Pararam em um ginásio grande, cheio de tatames azuis o cobrindo. Os alunos foram tirando os sapatos e indo em frente. Parado no meio, o professor esperava.
San juntou à multidão, prestando atenção. O homem na sua frente tinha entre seus sessenta anos, o cabelo completamente branco e braços grandes. Mesmo já tendo uma idade avançada, conversava animadamente e se mexia constantemente.
Quando se reuniram, o professor disse:
— Tudo bem, se tem algum aluno novo, meu nome é Aquiles. Seu professor de combate, sabe, sou o cara que vai os ensinar a lutar melhor. Por favor, reúnam em duplas.
Cada um se separou entre amigos, e ficando parado. Jason continuou ao seu lado, assobiando fraco.
— Então, quer ser a minha dupla?
— Claro, parece ser divertido.
Em um canto, olhavam o professor realizar uma técnica com um aluno. Consistia em receber um soco e desviar, agarrando a mão e o derrubando contra o chão.
Acabando, disse que iria cuidar seus movimentos, se cometessem um erro, iria os corrigir.
Jason com certeza estava sem vontade, desanimado e dando socos fracos. San nem se importou, já sabia fazer o ataque.
— Diz aí, onde tá seus amigos? tipo, só tem andado comigo, se quiser, pode ir com eles.
Soltando um suspiro, Jason disse:
— Olha, a verdade é que não tenho amigos, o preconceito entre monstros conscientes como eu é grande.
— E a sua irmã? Tava com umas garotas.
— Ah, ela é um caso especial. Se esforça ao máximo em tudo, querendo sempre ser a melhor. Enturmar com os outros foi fácil, e sua habilidade… — Sua foz ficou fraca.
— Olha, você é meu parceiro de quarto e vamo ficar assim por um bom tempo. E eu duvido que vou ter muitos amigos, tamo no mesmo barco.
O animando de leve, treinaram. Independente da energia posta, Jason continuava ruim, lutas corpo a corpo eram demais. Aquiles se aproximou dos dois e falou:
— Aluno novo, certo?
— Isso.
— Me siga.
Deixando o parceiro, foram até o outro lado e só pararam quando chegaram em Liz. Curioso, deu uma olhada no professor.
— Como é novo aqui e perdeu umas coisas, pedi a uma das minhas melhores alunas para te ensinar.
Liz abriu um sorriso, mostrando o orgulho de ser chamada de umas das melhores.
— Valeu professor, mas tô dê boa.
O sorriso dela desapareceu e Aquiles expressou curiosidade.
— Tem motivos?
— Eu sei me virar lutando.
— Todos acham isso, é sempre bom aprender ou revisar.
Sequer podendo contestar, o professor se afastou a passos largos. Quando virou de volta a Liz, deparou com um soco vindo na sua direção.
Desviando por pouco, outro veio em seguida, dessa vez usou os braços de defesa. O soco era forte, o fazendo se desequilibrar e quase cair.
Levantando as mãos, disse:
— Tempo, tempo.
— O que foi?
— Por que tá me atacando do nada?
— Disse saber lutar, tô testando.
— Olha, me deixa quieto, vou embora.
Virando as costas para longe, tomou uma rasteira, e antes de ter tempo de colocar as mãos ou tocar o chão, teve a cabeça forçada, indo rápido até o solo.
Mesmo o tatame amortecendo, dói bastante cair de cara. Dessa vez irritado, levantou e percebeu o nariz sangrando levemente, Passando as costas da mão, limpou e a encarou.
— Tá legal, então vamos treinar.