Volume 2
Capítulo 124: Cura
Acordando na cama do seu quarto na academia, San permanecia imóvel, os olhos abertos encarando o teto, escutando os roncos do vampiro dormindo do lado oposto do quarto.
Nessa posição, San queria continuar, pois sabia o quão ruim se sentiria quando levantar.
Vendo a hora, já tava a tempo demais, e a cada dia que passa, o assalto se aproxima.
Forçando o corpo a sentar, dores vinham de cada canto. Fechando os olhos, mantinha a posição, contendo a tontura e dores insuportáveis.
Na noite passada, San matou o seu alvo, sendo uma armadilha para o diabo. Por causa disso, não teve tempo de ir a um curandeiro, resultando em ficar com o corpo horrível.
Para evitar sangrar até a morte, se cobriu com bandagens, sendo bastante complicado alcançar certas partes.
De pé, o sol recém havia nascido, e poucos alunos andavam nos campus, sobrando somente os guardas secretos, tendo reforçado a sua segurança desde os últimos eventos.
Caminhando de boas, estando calmo e composto, agia como se estivesse perfeito, até sorria para alguns funcionários passeando.
Sentando em um banco, teve de parar um pouco. Depois da adrenalina passar, finalmente tendo ficado calmo após a luta, sentiu realmente os ferimentos.
Os golpes de Gabriel foram incrivelmente pesados, e poderosos. A armadura impediu dos ossos de quebrar, e isso ainda assustava San.
Fazia meses com os poderes de ossos de ferro, se acostumou a focar somente nos ferimentos a sua pele, ignorado a parte óssea.
Essa foi a primeira vez que sentiu realmente essa preocupação, e isso o assustava. Gabriel é um soldado, forte, mas obviamente não o mais.
Só de pensar em enfrentar inimigos piores, fazia os pelos de San arrepiar. Não tava pronto, precisaria de poderes melhores, treinamento, experiência.
Levantava uma segunda questão, como os mutantes tendo somente dois poderes, em comparação àquele capaz de ter vários, conseguiram o superar?
Na verdade, o próprio Sacro respondeu uma vez, sendo a experiência e o quanto estavam acostumados.
Todos os mutantes desenvolveram as suas habilidades há muito tempo atrás, passando por dificuldades, descobertas e perigos.
Em tudo isso, tiveram tempo o suficiente para aprenderem, e ficarem melhores.
San era talentoso, isso é inegável. Ter a capacidade de aprender novas habilidades rapidamente, as usar ativamente em uma batalha, e continuar a fazer isso com várias, provava o seu talento.
No entanto, para ter experiência demoraria, e San tinha de enfrentar os melhores antes disso, porque cada vez mais, iriam o perseguir.
Balançando a cabeça em negativa, sabia das suas limitadas opções, e por enquanto, teria de esperar, ser paciente. Iria treinar o poder de eletricidade e depois arrumar um novo, repetindo o processo quantas vezes for preciso.
Voltando a sua caminhada em direção ao hospital da academia, um pequeno sorriso era exibido, ansioso em ter seu corpo curado.
Chegando perto, havia uma novidade, sendo um guarda na porta, de rosto sério, armadura completa e armas equipadas.
Imaginando ser devido a tantos problemas que aconteceu na academia entre alunos e os rumores no lado de fora, decidiram aumentar a segurança do lugar.
Indo em direção à porta de vidro, prestes a entrar, um vulto apareceu do seu lado, o agarrando e pondo um braço em volta do seu pescoço.
Arregalando os olhos, virou a cabeça a pessoa responsável.
— San! Eu não te enviei a mensagem? Falei que estaria no refeitório, vamos, deve ter se confundido.
Max, o lobisomem, segurou San, firme, o levando do lugar, sorrindo e conversando em voz alta, para qualquer um ouvir.
Tentando se soltar, descobriu o forte aperto, o impossibilitando. O motivo sendo o tanto de ferimentos o cobrindo, resultando na sua fraqueza.
Escolhendo aceitar por enquanto e descobrir o motivo estranho do amigo, caminharam para longe, ainda nas calçadas do campus.
Levantando a cabeça, Max começou a cheirar o ar, virando a cabeça constantemente. Confirmando estar livre de qualquer um dos guardas que ficam nas sombras, soltou o amigo.
Finalmente livre, San foi para longe, o encarando, confuso e esperando uma explicação.
Max prosseguiu a caminhada, e San decidiu o seguir, ainda que preferisse ir ao hospital e sarar esses ferimentos.
Juntos, Max falou baixo:
— Sinto cheiro de sangue em você.
— Bem, é por isso que tava indo ao hospital.
Balançando a cabeça em negativa, disse:
— Eu vi o noticiário, os caçadores parecem bem irritados. E por isso, não pode ir a qualquer hospital.
— Espera, como assim? — Franziu as sobrancelhas esperando o motivo.
— Sabe aquele cara na frente da porta? O enviaram para cuidar qualquer ferido, atrás do diabo que ri. Os médicos foram instruídos a relatar ferimentos suspeitos.
Começando a entender, trincou o maxilar, sabendo que as duas opções de cura foram eliminadas, sendo o hospital da cidade e a da academia.
— Tá bem, isso é ruim. — Coçando o queixo, pensava em uma solução. — É só encontrar um curandeiro trabalhando para os criminosos, tenho uns contatos.
Soltando uma risada, Max encarou San, o sorriso lupino no rosto, os olhos afiados analisando o amigo.
— Vai dar errado. Os caçadores tão levando isso a sério, por isso, foram atrás de qualquer curandeiro criminoso, os ameaçando prender.
Engolindo em seco, sabia ser obra da Íris e Gabriel. Estavam fazendo a mesma coisa da armadilha, montando um cerco, tirando os seus recursos e fazendo trabalhar sob pressão.
Considerando o que fazer, pensava seriamente em sequestrar um dos médicos, e os obrigar a o curar.
Enquanto essa ideia era formada na sua cabeça, parou, lembrando da engenhosidade de Gabriel, aquele sorriso convencido.
“Devo começar a pensar igual a eles, o que eu faria para capturar um alvo?” Em divagação, começava a formar planos na cabeça, estratégias, bem pensadas.
Em uma delas, descartou imediatamente a ideia de sequestrar um médico. Os caçadores já devem ter considerado isso, colocando escoltas para os proteger.
Talvez até deixassem San se curar, para logo em seguida, um exército aparecer do nada o cercando, tendo de repetir a briga acirrada.
— Como sabe disso? Aconteceu ontem a noite, e parece que as coisas tão indo rápido demais.
— Ah, é simples. Eu também gosto de caçar na cidade, indo atrás de certas presas interessantes. A diferença entre nós, é que depois de terminar, eu devoro qualquer evidência. Ontem a noite, enquanto ia embora, escutei um fragmento de conversa.
Vendo de canto para Max, San começava a suspeitar do amigo. Escutar essa conversa foi estranhamente conveniente. E a sua fala de caçar na cidade, sendo obviamente que ele matava pessoas.
— O problema na conversa, foi eu ter pego no final. Por causa disso, tive de fazer umas perguntas, e digamos que dois policiais tiraram férias permanentes.
A voz de Max vinha com um riso, só de lembrar da noite passada o fazia sentir alegria.
“Essa é a diferença entre nós dois. Ele mata qualquer um, e quanto a mim, só os culpados.” Independente dos motivos das mortes de Max, San sentia ser errado.
Infelizmente, teria de manter a boca fechada, pois os dois conheciam o segredo um do outro. A menos que San fosse capaz de o eliminar, teria de continuar quieto.
A questão, é se San mataria Max. Os dois começaram a se dar bem, e o amigo acabou de o salvar de ser pego, uma forma tão simples e até humilhante.
Ele deveria entregar o amigo? O matar? Essa é uma das grandes perguntas da mente de San. O quanto uma pessoa teria de fazer errado para ele ir atrás e matar.
E também, ser o seu amigo daria carta-branca para fazer o que quiser? É uma questão a se pensar, e teria de adiar por enquanto.
— Alguma sugestão para mim?
Pensando um pouco, concordou:
— Mate um curandeiro ou um mutante capaz de se regenerar, e roube o seu poder. Nunca mais tera de ir nesses lugares chatos. Acredite em mim, a capacidade de se regenerar é ótima, as lutas só melhoram.
“É fácil falar. Tenho de dominar o poder de controlar eletricidade, e só depois vou decidir o meu segundo poder. Mas isso me deu uma ideia.”
Agradecendo a ajuda, mudaram de caminhos e foram resolver os seus assuntos, com San tendo um último pensamento: “Nem que seja um pouco, ele deveria ser punido.”
Aguardando calmamente em uma parte do campus, usava as sombras de um prédio para manter a sua presença oculta.
Demorou um tempo, de manhã as coisas funcionam mais lentas, o forçando a pôr em prova a sua paciência.
Depois de aproximadamente uma hora, finalmente avistou o seu alvo. Um dos médicos mutantes.
Esse em específico tinha o rosto cansado, caminhava arrastando os pés, olheiras grandes, e uma expressão abatida.
O motivo era que depois de passar dias tendo um sono ruim, o seu plantão acabou, poderia voltar para casa.
Até mutantes curandeiros eram obrigados a fazer plantões, às vezes sendo mais exigente do que os médicos comuns.
Seu trabalho consistia em usar dos seus poderes para ajudar as pessoas, e a cada uso, gasta uma parcela de energia, os cansando repetidamente. Recarregava a essência, e teria que a gastar, sempre mantendo um estado de estresse e pensando o quanto curar.
A academia obrigava ter ao menos um sempre no seu hospital, e esse, na frente de San, acabou o seu, e poderia voltar para casa.
Ele caminhava indo para os portões da academia, indiferente aos seus arredores.
Procurando ao redor, San sentia uma grande concentração de mutantes escondidos o rodeando, cuidando.
San só pode supor serem ordens dos caçadores de mutantes, para qualquer plano de o eliminar ou sequestro.
Saindo das sombras, andou lentamente na sua direção, em direção contrária, cabeça baixa e fingindo ver o seu relógio.
Ainda longe, os mutantes nas sombras mantiveram o olhar em San, o seguindo. Suprimindo o nervosismo, reforçava a mente repetindo: “Fugi da morte ontem, enganei os caçadores, consigo atuar um pouco.”
Chegando cada vez mais perto, e os olhares nas suas costas aumentando, foi para a frente do médico e se chocou contra.
Eles caíram, rolando no chão. O doutor devido ao cansaço e San a sua dor, que para piorar, na queda, abriu alguma coisa, pois sentia o sangue descer no braço.
Tentando pegar força para se levantar, uma mão veio ao seu auxílio.
Virando a cabeça, o médico cansado o ajudava. Sorrindo sinceramente, aceitou, agarrando e voltando a ficar de pé, e na hora, sentiu uma energia entrar no seu corpo.
Se desculpando e indo embora, voltou a caminhar, dessa vez em um sorriso. Poderia não ser capaz de roubar um poder de cura, mas copiar é outra história.
Querendo ir para o seu quarto, uma pedrinha o atingiu na cabeça. Virando o rosto de onde veio, a sensação de um mutante surgiu na sua cabeça.
Forçando a visão, viu um Floki acenando.
Revirando os olhos, entrou na floresta, livres dos mutantes os observando.
Longe o suficiente, Floki vestia uma bermuda amarela, regata azul, e um sapato social.
“Tá legal, esse senso de moda tá estranho demais.” Ignorando esse detalhe da personalidade do companheiro, esperou o motivo do criminoso ir à academia faltando pouco para o roubo.
Já que, só alunos e parentes são permitidos a entrada, Floki usa do seu poder de teletransporte, se arriscando bastante para não ser pego.
— Certo, meus parabéns, conseguiu matar aquele cara. Eae, tá bem?
— Deveria estar mal?
— Eu soube das ordens dos caçadores de verificar os pacientes, e vim te avisar.
“Caramba, todo mundo sabe menos eu, e olha que sou o procurado.”
— Seria mais fácil enviar uma mensagem.
Dando de ombros, Floki viu da cabeça aos pés o amigo, analisando os mínimos detalhes.
— Cê tá ferrado.
— Vou dar um jeito nisso, já copiei uma habilidade de cura.
— Bem, até la, podemos adiar a missão.
Arregalando os olhos, San ficou um pouco irritado.
— Vamos prosseguir.
Hesitante, ainda lembrando da reação raivosa, Floki falou calmo:
— A sua luta foi desgastante, e deixa eu apostar, tá com essência baixa.
Desviando o olhar, concordou.
— Vou me recuperar até lá.
— Duvido muito. O seu reservatório de essência é maior em comparação a um mutante comum, e isso é para usar o tanto de poderes no seu arsenal. Devido a isso, demora muito mais para ele encher.
Respirando fundo, obviamente San sabia disso ser verdade.
— Estarei cheio até lá.
Escondendo o aborrecimento, falou:
— San, você tem que guardar essência até poder usar a cura, e depois de curado, guardar de novo. Vai demorar bem mais do tempo que temos.
Fazendo uns cálculos mentais de quanto deveria gastar usando o poder de cura e depois a sua taxa de regeneração de essência, concordava em partes.
Demorava um bom tempo para o encher, e eles teriam de usar os poderes de San, e durante um bom tempo.
Porém, San tava cansado de dever ao Eugene, depender tanto daquele homem desprezível. Finalmente a sua vida tem começado a ficar melhor, mesmo com os caçadores de mutantes.
Depois das provas planejava viajar, ir para as terras dos vampiros com Liz e Jason, queria paz, sem ter de pensar sempre na sua missão.
Para piorar, os seus planos iam além de só roubar a esfera, pois tinha algo planejado além, sem Floki conhecer, sabendo que seria contra.
Tinha de ser nessa data, e San faria de tudo para o plano seguir certo.
— Vamos roubar a esfera de Dyson daqui a uma semana, e eu vou estar bem até lá. Só complete a sua parte, e eu dou um jeito.