Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 2

Capítulo 121: Momento Interrompido

Dentro da delegacia de polícia, um homem de mãos livres batia o pé compulsivamente, olhando sempre por cima do ombro, na direção dos gritos das pessoas lá fora.

É claro que sabia o motivo de estarem fazendo isso, por sua causa. Jairo tomou uma surra em um bar, e depois disso, ferido e mal conseguindo pensar direito, foi preso.

Passaram-se dias na prisão. Para um humano normal, seria até normal ir para a cadeia, estariam presos, mas ainda seriam eles.

Pra um mutante, é horrível. Tiram dele aquilo que os compõem, sua força, energia e esperanças. Por isso tem tantos que preferem passar a vida fugindo do que se entregarem.

E ali estava Jairo, a poucos minutos de ser livre, e nem sabia o motivo. Só chegaram na sua cela e o mandaram arrumar as suas coisas.

As únicas explicações foram a falta de provas, e isso foi estranho, pois havia câmeras com o seu rosto, entre testemunho e mais.

Porém, cavalo dado não se olha os dentes, e por isso Jairo deu de ombros, agradecendo a Deus sua sorte.

Sentado no seu banco, vendo a noite se instalando, finalmente um policial chegou, o pegando pelo braço e levando até os fundos.

Uma animação crescia no seu peito, os olhos eufóricos. A liberdade a tão poucos passos, poderia ter a sua vida de volta.

Já até sabia a primeira coisa que faria. Dar uma lição na mulher que o recusou, e depois ainda teve a ousadia de o denunciar a um maluco violento.

Quanto ao jovem responsável de o colocar atrás das grades, iria esperar um pouco, aquele maluco é complicado de resolver.

Vendo a porta de metal na sua frente, foi aberta, e sem uma palavra, o policia o jogou para fora.

Tropeçando e olhando ao redor, voltou a ver o policial.

— Estou livre?

O homem só o olhou estranho, seu olhar com… pena. Ele fechou a porta e foi embora, deixando Jairo na rua, sozinho.

Dando de ombros a isso, começou a caminhar de cabeça baixa, precisaria pegar distância antes de voltar aos seus antigos hábitos.

Perdido em pensamentos, considerava o que deveria fazer. “Voltar para aquele apartamento da garota? Complicado, a segurança deve ter aumentado. Posso ir para o restaurante dela. É, me reconheceriam. Vou beber alguma coisa e penso na hora.”

Mudando de direção constantemente, foi obrigado a mudar de caminho. Aqueles protestantes irritantes estavam em cada rua.

Entrando em um beco simples e saindo em um novo, percebeu um cheiro estranho, fumaça, queimado.

Olhando ao redor, casas incendiadas se espalhavam, caindo aos pedaços, e o cheiro forte no ar. Decidindo ir em frente, esse seria a melhor forma de pegar distância dos protestantes.

De mãos no bolso, tava relaxado, só tendo que tomar um pouco de cuidado com a noite, a sua visão prejudicada. A única luz possível, era a da luz cheia no céu.

Percorrendo um longo caminho, estranhou o ar esfriar, logo quando o dia inteiro foi calor. Balançando o corpo para se animar de novo, uma névoa apareceu do nada.

Só cobria a parte do chão, tampando os seus pés. O vento levava um pouco para cima, diretamente na sua cabeça.

Engolindo em seco, teve uma ideia de voltar, achando esse clima confuso. Decidindo a retornar, escutou um som perto.

Virando na hora, sua essência circulava no corpo, olhando em cada lado. De novo, um barulho estranho perto. Independente de quanto procurasse, o som prosseguia.

Começando a ficar ansioso, virava o corpo freneticamente, isso até ver o motivo do barulho. Encostado atrás de uma viga quebrada, uma jovem vestida de branco o encarava.

Era pequena, uma criança simples, de olhos grandes e cabelos caindo pelo corpo e vestido branco. Ao ver essa cena, Jairo arregalou os olhos, petrificado.

Reconhecia ela, era sua filha, morta há muito tempo. Tremendo, estendeu a mão, chamando:

— Minha filha? Venha aqui, sou eu, o papai.

A garotinha continuava a o encarar, quieta.

Jairo a chamou, e nada.

Dando um passo em frente, tentou a alcançar, mas não importa o quanto andasse, ela estava sempre distante demais.

Uma veia saltou na sua testa, e explodiu:

— Venha aqui agora!

A menina sumiu, evaporando no ar.

— E-espera, me desculpa.

Começou a grita alto, implorando para que ela voltasse.

Demorando um pouco, viu de canto de olho ela novamente, escondida.

De joelhos, respirava pesadamente.

— Por que me matou papai? — As primeiras palavras forma como facas entrando no peito de Jairo. Frias e distantes.

Estremecendo, ele balbuciou, negando.

— É mentira, eu só tava te educando, e a-acabei exagerando.

A garota o encarava, o vestido estranhamento parado com o vento, deixando Jairo murmurando súplicas e desculpas.

Perto dali, encostado contra uma parede de tijolos, San observava o homem, seus olhos encarando aquele merda.

O motivo da garota estar ali é bem simples na verdade. A névoa, além de revelar a localização dos seres vivos ao redor, tem a capacidade de quando respirada por tempo demais, causar ilusões.

San consegue impedir desse efeito o atingir por ser o dono e criador da névoa. Quanto a Jairo, um mutante fraco e ruim, tendo tantos problemas do passado, foi rápido.

Com as informações novas tendo descoberto com os murmúrios do homem, balançou a cabeça em negativa. Antes já o considerava um merda, agora, um imprestável.

Observando a sua pulseira, deu uma ordem mental a ela, e simplesmente virou liquido, movendo no seu pulso e ficando no rosto, mudando de forma.

Os dentes abriram em um sorriso sinistro, sendo feito pela vontade de San. Dando um passo em frente, caminhou lentamente a frente, observando de cima Jairo.

Ajoelhado no chão, o violento culpado pedia desculpas incessantemente. Sacando a sua cimitarra, de forma silenciosa, apontou a cabeça dele.

Demorando um segundo, quase desferindo o ataque no culpado, parou, pensando um pouco.

Recolhendo a espada, embainhou de volta. Vendo Jairo assim no chão, chorando e implorando perdão por ter matado a filha, San achou ser insuficiente só o matar.

Recolhendo a névoa, fez sumir no ar, evaporando. Esperando pacientemente, iria desfrutar do momento.

Jairo demorou minutos, para finalmente voltar a razão. Olhando ao redor, confuso, demorava a raciocinar.

No entanto, notou facilmente uma pessoa do seu lado. Ficando de pé em um pulo, olhou o ser.

Máscara cobrindo o rosto inteiro, dentes pontudos em um sorriso enorme, espinhos fugindo da cabeça, e os olhos uma poça de escuridão, tendo só um brilho lá no fundo, em vermelho vivo.

Todo o corpo de Jairo gelou, um medo primordial o dominando. Já havia escutado histórias, quem não? O diabo que ri, assassino violento, matando mutantes culpados.

Alargando o sorriso, San via a expressão do homem mudar constantemente, sendo de medo, desesperança, pavor. Uma pilha enorme.

— Sou inocente. — Foram as primeiras palavras de Jairo, trêmulas e abafas. — A polícia me declarou inocente.

San girou a cabeça em um angulo confuso.

— Sabe, eu trabalho em uma parte separada da polícia.

Tremendo de medo, Jairo pensava rapidamente, o que sua mente depravada conseguiria.

Entendendo estar sem opção, Jairo caiu de joelho, sob os pés de San.

— Eu imploro, por favor! Me deixe viver.

Os seus gritos se espalharam na parte abandonada da cidade, suplicando pela vida.

Indiferente a isso, San deu um chute diretamente na cara do culpado.

Se abaixando na altura da cabeça dele, falou:

— Vou te dar uma chance. Corra, corra até não conseguir mais. Se conseguir me despistar, vive.

Confuso, Jairo pensou, considerando a veracidade das palavras de um assassino.

— Vamos, vamos, vou contar até dez, tem esse tempo para correr.

Desconhecendo ser verdade, Jairo começou a acelerar, batendo os pés no tijolo, tropeçando e utilizando do seu corpo melhorado de mutante para correr, ultrapassando em muito uma pessoa comum.

San o via de longe, sorrindo. Por algum motivo, isso o dava uma sensação de déjà vu. Buscando na memória, lembrou brevemente de ser obrigado a correr em um cemitério, cercado por neblina.

Teve de correr muito, tentando despistar os ataques daquele espectro. “Acho que foi isso que me motivou a tentar essa ideia. Entendo um pouco o motivo do porquê dele fazer isso.”

Tendo passado os dez segundos, San nem via mais o homem. Controlando bem o seu poder, fez a eletricidade passar no seu corpo, sendo preciso concentração para dar certo.

Os enviando para seus pés, raios começaram a sair das suas botas. Dando um passo em frente, acelerou muito, encurtando a distância facilmente.

Continuando a fazer isso, passou toda a área queimada. Finalmente parando, avistou um homem correndo na sua direção com tudo, os seus cabelos voando no vento.

Olhava sempre por cima do ombro, querendo ver se estava sendo seguido. Quando olhou para frente, viu o seu caçador o esperando, apoiado em uma parede.

San levantou a mão, acenando para ele.

— Posso começar a contar?

Jairo derrapou até parar. Virando novamente, começou a correr em outra direção, dessa vez entrando nos prédios vazios, pegando caminhos confusos e estranhos.

San deu de ombros, e ativando novamente os poderes no pé, acelerou, ultrapassando o tanto de lugar.

Nisso, descobriu um problema de se apoiar em certas construções. Atropelou algumas casas, derrubando paredes e causando barulhos altos.

Ao menos, serviu para amedrontar ainda mais Jairo. Parando de novo, desembainhou a espada, e esperou.

Rapidamente, Jairo apareceu na sua frente, ofegando e suando. Avistando San de espada em mãos, o encarou, pensando se não estava alucinando.

Balançando a espada na sua mão, San falou em uma risada:

— Já tá no cinco, é melhor se apressar.

Gritando alto um insulto, Jairo deu as costas, correndo de novo. San achou divertido fazer isso, mas decidiu inovar um pouco.

Energizando um dedo, apontou, mirou, e disparou.

O tiro voou no ar, rasgando os céus e em alta velocidade. O seu brilho azul iluminou as ruas. Jairo, correndo focando a frente, viu as paredes azularem.

Antes de entender o que aconteceu, foi disparado na parte de trás das costas, o jogando contra uma parede de tijolos.

A atravessando, caiu no chão ferido. Levantando na hora, tocou nas suas costas, atrás de ferimento. Nada, nem uma gota de sangue.

Confuso, só voltou a sua fuga.

San observava de longe, criando outro tiro de energia, deixando de forma fraca, disparando novamente.

Em dez minutos, San esperava a uns metros do Jairo, atirando repetidas vezes. O seu alvo, tinha o corpo tão roxo de ferimentos que quase mudou a sua cor.

Parando no meio da rua, Jairo virou, cambaleando. Erguendo as mãos, ativando o seu poder, avançou, atacando o diabo.

San deu uma risada alta, e gritou:

— Caramba, demorou pra isso.

De espada guardada, San ergueu os punhos, entrando em uma posição de luta.

Jairo encurtou o espaço, desferindo um soco no rosto de San. Desviando facilmente, devolveu gancho de direita, o derrubando.

Voltando a ficar de pé, San o acertava facilmente. Desviou de um chute, dava um soco em um local já ferido, de novo e de novo.

Ofegante e perto de perder a consciência, Jairo virou as costas e começou a fugir de novo. Dessa vez, a sua velocidade gravemente reduzida, nem perto de minutos atrás.

San só precisou caminhar lentamente para o alcançar. Desembainhando a sua cimitarra, soltou um assobio, longo e fino, se espalhando no ar.

Enquanto assobiava, ergueu a sua espada, e a abaixando em um movimento fluido e forte, acertou as suas costas, atravessando e perfurando o coração,

Jairo caiu, sangrando, os olhos suplicando ser salvo. San retirou a espada, e esperou a morte levá-lo.

Poucos segundos depois, começou a convulsionar, veias negras surgiram no seu corpo, tentou gritar, e nada saia. Os olhos ficaram completamente brancos, e sangue fugia de cada buraco no seu rosto.

A cada segundo, San sentia um poder crescer no seu interior. Inútil, nunca iria o usar. Os seus sentidos abafados, focados somente em absorver a habilidade.

Tendo acabado com isso, pôs o dedo no queixo, pensando no que acabou de fazer.

“Estranho, não sinto nada, fiz algo errado? Gostei na hora de o caçar, entretanto, depois de o eliminar, completar a vingança, é estranho. Preciso pensar melhor nisso.”

Se preparando para ir embora, parou, o seu corpo se arrepiando por completo.

De repente, palmas, lentas e altas.

Virando a cabeça para o dono, um homem jovem tava ali, de cabelos cacheados jogados para trás, vestindo uma armadura preta.

Ao seu lado, uma mulher, que a reconheceu facilmente, sendo Íris, a líder da caçada ao diabo que ri.

Os sentidos de San o alertavam, falando de vários mutantes ao seu redor, o cercando.

Lambendo os lábios, fazendo a máscara lamber os dentes, desembainhou a sua espada.

— Odeio matar mutantes inocentes. Os seus poderes são bons, é claro, só que os seus gritos são os piores.

O homem só o encarou, finalmente falando:

— Sempre quis estudar o Dean, descobrir como o seu poder funciona. Você vai servir.



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