Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 2

Capítulo 116: Reunião

Esticando seus membros, sentia pontadas de dores no corpo, o obrigando a retardar os seus movimentos. Pondo um dedo a tomada ao lado da sua cama, começou a absorver a eletricidade do prédio.

Demorando um bom tempo, recarregou quase tudo, ficando novamente em um estado capaz de lutar com o poder.

No meio do seu quarto na academia, o sol mal acabou de nascer, e já tava acordado, desfrutando da paz temporária. Olhando em direção à cama do seu colega, viu o vampiro dormindo profundamente, roncando de leve.

Observando o seu amigo, soltou um pequeno sorriso, balançando a cabeça. No dia anterior, depois de Liz ir embora, deixando San a só, demorou apenas alguns minutos e Jason chegou, trazendo consigo um vaso de plantas, presente de Bella.

Independente do seu ato de violência, os amigos continuaram ao seu lado, o surpreendendo de verdade.

Vestindo seu uniforme preto da academia, chamava mentalmente Garmir, tentando contato. Infelizmente deu errado, a distância entre ambos era demais.

San nem sabia onde o cão do inferno andava, só sentia a sua vida pulsando, a marca de chama no seu pulso demonstrando a sua ligação.

Arrumado, abriu a sua porta e começou a andar no campus. O dia seria cheio. Tinha tanto para arrumar, discutir e organizar, e só pra piorar, no fim do dia, uma reunião com a escola junto a seu “pai”.

Devido a San não ter família, teve de mentir nos registros escolares, deixando Eugene resolver esse problema, provavelmente designando um dos seus soldados.

As suas preocupações dessa reunião eram baixas, já que de acordo com os seus amigos, aquele grupo de alunos gostava de arrumar confusão, a escola só precisava de um motivo para os punir.

O máximo da preocupação de San seria em uma punição de leve. Na verdade, uma parte dele até torcia para o suspenderem, isso liberaria uma grande parcela de tempo da sua agenda.

Dando de ombros, prosseguiu a sua caminhada, raramente encontrando alunos a essa hora. Ainda faltando um longo caminho até os portões, sentiu uma presença nas suas costas.

Fingindo normalidade, sentiu a essência no seu corpo crescer. Desde o combate do dia anterior, decidiu ficar mais precavido. “Laurem ficou mais atrevida, até mandou uns caras me bater, acho que tá chegando a hora da minha vingança.”

Escondendo o sorriso, aguardou um pouco, desacelerando o passo. Rapidamente, vindo no seu lado direito, um rosto conhecido.

Os cabelos espetados e olhar animalesco revelando facilmente o dono, e causando um certo aborrecimento.

— Max, que surpresa de ti ver aqui, tão cedo.

— Digo o mesmo. Eu gosto de acordar cedo, dar uma volta e caçar alguma presa deliciosa.

Franzindo a sobrancelha, perguntou cautelosamente:

— E essa sua presa, por acaso seria um animal ou… anda sob duas pernas?

— Ah, isso eu ainda tenho que ver. — Abriu um sorriso animado, faminto. — O que tá fazendo a essa hora?

— Vou me encontrar com um amigo.

Caminhando juntos, Max falou:

— As coisas têm se complicado pro teu lado.

— É, mas eu vou dar um jeito, sempre dou. — Desferiu um olhar afiado ao lobisomem. — Valeu por ter me ajudado.

Dando de ombros, Max só respondeu

— Somos amigos, cara, de boa.

Dessa vez abrindo um sorriso, San concordou.

— Verdade, somos amigos.

Alcançaram os portões da academia, se separando depois de estarem do lado de fora, ambos indo fazer as suas coisas.

San deu uma boa pernada, passando os bairros ricos, comendo uma coisa simples em uma loja, depois continuou até os bairros pobres, finalmente se sentindo bem de verdade.

Quando está nos bairros ricos, repleto de gente com dinheiro e roupas bonitas, agindo de uma forma pomposa, o deixava estranho.

De mãos no bolso, andava de cabeça baixa. Devido ao ocorrido da imprensa ter contado tanto a seu respeito, independente do lugar em que caminhava, observava os cidadãos desferindo olhares para todos os pedestres.

Procuravam o verdadeiro diabo, um assassino matador de mutantes ruins, violento e tão mal quanto os seus alvos. Ao menos é isso que os rumores falam por aí.

San tem ficado por dentro dessas informações usando a sua informante, ajuda a saber a opinião do povo.

Quase chegando ao seu destino, até vendo a casa de dois andares, avistou um grupo carregando tacos de madeira e canos nas mãos.

Já imaginando serem ladrões ou criminosos, mudou de caminho, querendo passar despercebido. Já de costas, escutou um deles, do meio, gritando:

— É isso aí, seus bandos de merdas, eu sou o diabo que ri, e qualquer um que me desobedecer, vai morrer.

Erguendo uma sobrancelha, foi ver quem se autodenominava um assassino procurado.

O cara tinha entre seus trinta anos, cabelo escuro grande, ombros largos e andava como se fosse o dono do lugar, os seus capangas ao seu lado, corajosos.

Vestia uma regata, exibindo os braços por completo, e nisso, uma tatuagem de corvo, as suas asas abertas em plena exibição.

Sendo obrigado a desviar o rosto para não rir alto, achava esse grupo estranho, gritando em voz alta assim. Obviamente a tatuagem não era uma boa de verdade, já que poucos sabem fazer uma dessas.

Sendo sincero, uma parte de si queria ir na frente deles, e dar uma surra nesse bando, os humilhando na frente dos seus ditos inferiores.

Balançando a cabeça em negativa, deixou pra lá, era perda de tempo, ninguém acreditaria neles. Fazendo um pequeno desvio, na frente da porta do prédio, bateu.

Demorando um pouco, deu uma última olhada naquele grupo, já notando os olhares hostis nas suas direções.

A porta abriu na sua frente, dando de cara em um Floki de regata, óculos de leitura e calças de la.

— Meu amigo! Venha, entre, entre.

Obedecendo, entraram na casa do seu parceiro de negócios, caminhando na pilha de coisas bagunçadas e mobília estranha.

Passando essas coisas, foram para um quarto separado, com uma mesa grande no meio, luzes fortes nas paredes e em cima, inúmeros itens, seja fotos, plantas de prédios, anotações.

Abrindo um sorriso, San aplaudia mentalmente o colega, afinal de contas, esse seria o seu plano de ação para roubar a esfera de Dyson.

Andando animado ao redor da mesa, Floki recolhia papéis jogados, organizava alguns e esmagava outros.

— Certo, com todas as informações disponibilizadas, bolei um plano para roubamos a esfera.

— Perfeito, conta e vemos se dá certo.

Acenando positivamente, começou:

— Usamos do seu poder de eletricidade para sentir os soldados robôs, nos precavendo contra e confirmando estar vazio de câmeras. Depois, com o meu poder, exploramos o lugar, isso até encontrarmos o nosso objetivo.

— Isso considerando se conseguimos passar despercebidos.

Fazendo um rosto estranho, disse:

— A parte complicada é considerarmos quantos são, suas forças e se tem outros meios para localizar intrusos. Claro, e a parte de pegarmos a esfera, porque se fosse eu, teria um cofre bem-bom a guardando.

— Mas isso você consegue dar conta, né?

— Posso usar uma das minhas poções ou a moda antiga de descobrir a senha. O ruim é termos tanta pouca informação. Tem guardas na porta? Qual o tamanho? O que vai acontecer depois de a retirarmos?

San escutava pacientemente, já tendo escutado isso anteriormente. Essa não foi a primeira reunião para discutirem do plano, com Floki obrigando o parceiro a voltar repetidas vezes naquele labirinto, visando formar um mapa.

E repetidas vezes, o colega falava as suas preocupações, na verdade, San até sabia as próximas palavras que ele falaria.

— Que tal adiarmos o plano?

— Floki, vamos fazer esse plano dar certo, o nosso tempo é curto, principalmente agora que os caçadores de mutantes tão atrás de mim. E se descobrirem algo e me obrigar a fugir?

— Se fizessem isso, Eugene não iria mais te incomodar.

— Verdade, ao invés disso, iria ameaçar as minhas sobrinhas, querendo que eu, um Blackscar repleto de poderes, faça diversos trabalhos.

Soltando um longo suspiro, Floki, em um momento raro, fechou a boca e começou a pensar. Sendo parceiros, San sabia da capacidade do amigo, principalmente por ter formado um império praticamente sozinho.

Bagunçando o cabelo, ergueu o rosto e falou:

— Vamos tentar então, quando?

Dessa vez foi a vez de San pensar. Antes de ser descoberto, tendo tantas informações suas espalhadas, o seu plano seria ser lento, talvez esperando para a época das férias.

Tendo seus planos mudados, teve de apressar, considerando as dificuldades, e, claro, para não suspeitarem de San sendo o culpado.

— Duas semanas, daqui a duas semanas, vamos começar o assalto.

Engolindo em seco, Floki mordeu o lábio e concordou. Esse era um bom tempo, poderiam sarar suas feridas, organizar os planos, inventar desculpas e mais.

Começando agora, cada hora e dia, seria de suma importância, nada de exagerar, puxar brigas nesse período de tempo ou agir de forma suspeita, por menor que seja.

Tendo pondo uma data para o seu plano, começaram a agir mais sério, e retomaram os detalhes necessários, discutindo e debatendo o que deveria ser feito.

Essa tarefa durou o dia inteiro, literalmente. Tendo de recriar planos reservas, modificando e recriando partes inteiras.

Gastaram todas as suas forças mentais, comendo pouco e entrando em discussões. Para San, teria de ser perfeito, a sua vida dependia disso.

Dando certo, poderia finalmente viver uma vida relativamente normal, já que não dependeria de mais ninguém, sozinho, tomando as suas decisões.

Essa perspectiva aumentava a ansiedade de San, a animação crescendo, o fazendo roer as unhas e batendo o pé compulsivamente.

“O ano tá quase acabando, o que vou fazer no fim do ano? Continuar na escola? Bem, tenho que ver como vai ser o final do roubo, então me decido.”

Vendo a hora em Sacro, decidiu dar um fim por enquanto, já que precisava comparecer à reunião idiota da academia.

Despedindo do colega, saiu pela porta da frente, dispensando uma carona, traumatizado da última.

Caminhando nos bairros pobres, em um beco escuro, avistou um bando caído, jogados e espancados. Seus rostos tão machucados sendo complicado de reconhecer.

E dando uma breve olhada, ao menos sabia quem era um deles. Vestindo uma regata, exibia os braços, e onde a horas atrás uma tatuagem de corvo era exposta, só carne cortada restou.

“Realmente, não sei como me sentir quanto a isso. Tanto faz eu acho.” Prosseguindo a sua caminhada, ultrapassou os dois bairros, nada demais acontecendo, e entrando novamente na academia Anastasia.

Indo para a ala da secretária, responsável de resolver praticamente qualquer coisa dos alunos, parou em frente a uma recepcionista.

— Com licença, to aqui pra reunião envolvendo uma briga entre alunos.

A mulher de cabelos escuros e olhos grandes o encarou por um segundo, pensando, até uma lâmpada brilhar na sua cabeça.

— Claro, sabia que você me lembrava a alguém. O seu responsável está te esperando em uma sala separada, iremos avisar para quando virem.

Meio confuso, San deu de ombros e seguiu na direção das instruções da mulher, passando umas portas e vendo a sua.

Grande e de metal, duvidava muito ser possível uma pessoa de fora ouvir as pessoas dentro. Empurrando, entrou pensando: “Vamos acabar logo isso, conhecer esse cara e voltar aos meus planos.”

Entrando na sala, um lugar grande, até demais, a sensação mudou completamente. Um frio tomou conta do lugar, quando as portas fecharam, nada mais podias as abrir.

Um calafrio tomou conta de San, esse foi enorme, fazendo cada pelo do corpo arrepiar.

Desconhecendo o motivo disso, avistou um homem no meio da sala, de costas. Alto, cabelos escuros bagunçados, vestindo um terno, roupas bonitas.

Por algum motivo, o peito de San acelerou, não queria ver o seu rosto.

O homem, imóvel, virou o corpo, se revelando por completo. A primeira coisa a ser vista sendo a sua cicatriz grande passando pelo olho esquerdo.

Um cara de boa aparência, rosto duro, severo. A idade já chegando para ele, e ainda assim, se podia ver uma energia por trás dele. Querendo negar muito, havia uma certa semelhança entre os dois.

Paralisado, San não respirava, de olhos arregalados, mãos tremendo e boca aberta. O seu pai, o devorador de almas, assassino em série, procurado em todo lugar, na sua frente.

Vendo a reação do seu filho, Dean soltou um suspiro longo. Tentando um sorriso, falou:

— Oi filho, faz um tempo, você tá bem.

A pequena dúvida de San, esperando ser só coincidência, um poder ou sua mente pregando uma peça, sumiu ao escutar aquela voz, grossa, cansada.

Fazia anos desde a última vez em que San o viu, era apenas uma criança na época, e o rosto dele se nublava na sua mente, devido aos anos e por querer isso.

No entanto, uma coisa nunca sumiu na sua mente, a voz. A voz que assombrava os seus melhores sonhos, estragando tudo.

Fechando a boca, rangeu os dentes, sentindo o sabor de sangue na boca. Os olhos adotando uma pura expressão de raiva, e fechando tanto os punhos que pingava sangue.

A essência dentro explodia, e nada mais podia o deter, pois finalmente encontrou o homem responsável de ter acabado com a sua vida, separar a sua família e o abandonar.

Dean só o encarou, esperando, e usando a si mesmo de referência, sabia o que o filho iria fazer.

Toda a energia no corpo de San explodiu, completamente descontrolada, os olhos brilhando em um puro vermelho, e as veias escuras no seu braço, que não tiveram tempo de recuar, avançaram.

Eletricidade passou no seu corpo inteiro, acelerando os seus pensamentos e desacelerando o mundo, e com isso, misturando a essência nas suas pernas e a eletricidade, avançou em uma velocidade nunca antes comparada.



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