Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 2

Capítulo 112: Conversa Interessante

Paralisado, San não esperava do seu segredo ser descoberto desse jeito, nessa hora, sentado em frente a uma cafeteria, em um clima tão calmo.

Nada poderia o preparar para isso, confrontado de frente, o seu maior segredo, e perigoso, exposto na sua cara. Obviamente, a primeira coisa que San pensou foi em um jeito de o manter escondido, e só teria uma forma, eliminando a pessoa que sabe.

Cuidando os seus arredores, as ruas estavam em uma movimentação calma, pouca gente passando. Íris agia despreocupadamente, relaxada na sua cadeira, completamente diferente da época em que se conheceram.

Sua mente agia em uma velocidade alta, considerando as inúmeras variáveis, e em pouco tempo, descartou a maioria.

A matar no meio da rua, em plena luz do dia seria burrice, pedindo para se expor ao mundo. Teria de aguardar até o anoitecer, mas então vinha a questão de quantos sabiam, para quem ela contou?

Bebendo um longo gole, Íris ficou quieta por um tempo, aguardando San raciocinar, e em alguns minutos, disse:

— Agora estamos falando na mesma língua.

Recompondo a postura, San se ajeitou na cadeira e disse:

— Não sou o diabo.

— Ah, qual é. — A sua reclamação foi sincera, claramente querendo ir ao assunto de verdade, porém, impedida.

San continuaria a negar, esperaria provas de verdade.

— Vim para a cidade a meses, enquanto o diabo apareceu recentemente.

— Tá bem, vou explicar. De acordo com nossas pesquisas, a primeira morte do diabo foi um homem explodido na sua casa. Coincidentemente, é o mesmo dia em que você chegou na cidade.

Permanecendo quieto, escutava atentamente, verdadeiramente surpreso por terem essa informação, e as seguintes.

— Depois disso permaneceu quieto, porém, matou em segredo enquanto estudava. Uma das suas mortes fácil de encontrar foi um coveiro em um cemitério.

Engolindo em seco, San sorriu de nervoso e disse:

— Tudo especulação, quero as provas.

Fazendo uma careta, Íris balançou a cabeça.

— É, ainda estamos juntando isso. Mas para mim, que te conheço, trabalhos juntos em Veridian, onde foi a primeira aparição dele, já sei a verdade.

— Independente de saber a verdade, precisa de provas para me prender.

Erguendo as sobrancelhas, Íris tava confusa.

— San, se eu quisesse te prender, teria aguardado terminarmos e ido bater na sua porta, estou aqui por outro motivo.

— E esse seria?

Encarando San diretamente, tomou coragem e respondeu:

— Por favor, se entregue.

Franzindo as sobrancelhas, San pensava se escutou certo. Essa era a última coisa esperada.

Íris, vendo a reação no rosto de San, explicou:

— Você já causou muitas mortes, eliminou os que considerava ruins. De acordo com os psicólogos, resultado da sua infância morando nas ruas, vendo os poderosos se safarem enquanto os fracos eram oprimidos. No entanto, durante esses meses, foi um bom aluno, tendo formado amigos e companheiros.

Surpreso de estar sendo analisado assim, a seco, nem sabia a reação a ter, só mantendo o silêncio.

— Sabe, recentemente fui promovida para comandar a caçada a você e o seu pai, e nisso, consegui informações muito interessantes, secretas. Deixe-me contar algumas.

— Você é a líder que responsável de caçar o diabo?

— Sim. Uma das informações encontrada, é do passado. Antigamente, todos achavam que essa família só tinha vantagens, capazes de ter quantos poderes quisessem, copiar habilidades só de tocar a pessoa e terem uma quantia enorme de essência. Um erro, pois com tanto poder, é necessário um equilíbrio.

Escutando atentamente, San se interessava, informações dos Blackscars eram tão escassas.

— A consequência de conseguir cada vez mais poder, é a perda da sua humanidade. A cada morte, a alma deles é morta de pouco em pouco, ficando cada vez mais indiferentes a vida humana, até se tornarem monstros insensíveis.

Sentindo um calafrio, forçou a manter a cabeça parada, querendo a mover em negativa. Se sentai ótimo, e tendo bastante humanidade.

— Devem ter te mentido, claro, só especulando, não sou o diabo.

— Sei. É verdade, e temos uma prova viva. O devorador de almas é um exemplo perfeito desse caso.

Posicionando o corpo a frente, escutava atentamente.

— No começo, ele matava somente os mutantes responsáveis de eliminar a sua família, e por isso, o exército abafou as suas mortes. No entanto, depois de um tempo, piorou. A cada eliminação, ficava mais violento, frio. Até começou a criar um ritual antes de cada alvo, fazendo uma comida para eles.

Coçando a testa, considerava as palavras, vendo uma verdade por trás.

— Isso aconteceu com Ramon. Ele deu o azar de encontrar o devorador de almas, e um soldado, não perfeito, mas decente, foi morto, tendo a parte superior do seu corpo destruída, irreconhecível.

— Por que ele o matou?

— Ninguém sabe. Só estou te falando isso, para entender a si mesmo, San. Lembra de Simon? A sua primeira vítima. Como se sentiu depois de o matar?

Inconscientemente, as memórias foram puxadas para aquela época, em um canteiro de obras isolado, e tendo matado o jovem mimado.

Em cima do seu corpo, lembrava perfeitamente de ter vomitado após   o ato, e dias depois, alguns pensamentos considerando ter feito a coisa certa apareciam, se perguntando.

— Certo, agora lembre da sua última morte, a de Francis, como se sentiu nela?

Sua respiração parou, os lábios secaram e um tremor passou no seu corpo. Sentiu alegria, uma animação por ter ganhado um poder forte, vencer um inimigo poderoso, gostou da sensação.

Íris esperou pacientemente, aguardando San raciocinar.

— Comparando a sua primeira vez e a última, vê a diferença?

— O que eu vejo é amadurecimento, adaptação para um trabalho ruim.

— Ah, é uma boa desculpa. Então me responda. Agora, após eu falar que sabia a sua identidade, qual foi o seu primeiro pensamento? Eu até aposto qual é, realmente acha isso normal?

“Pensei em a matar, mas isso é normal, ela saber a mina identidade significa morte para mim, é normal, né?” Nessa hora, lembrou da conversa com Max.

Na floresta, o lobisomem o comparou a um filhote, e que uma hora, iria aceitar a sua verdadeira essência, ser um assassino de verdade.

— Vou te falar o que irá acontecer se permanecer livre. As mortes aumentarão, se tornarão piores, e o seu nome será temido em cada canto, só de falarem em voz alta, irão tremer. Pequenas provocações irão atrair o seu desejo de matar o alvo. Porém, isso o será ser igual ao seu pai, um monstro.

Apertando o maxilar, rangia os dentes, os olhos irritados. Só de imaginar ficar igual àquele homem, fazia a sua raiva transbordar.

Demorando um pouco, respirou fundo, acalmando a mente. Ficar irritado na frente dela seria um erro, guardaria para mais tarde.

— Então, quer prender o diabo, e aí? Vai pra uma prisão, ser feito de cobaia, nunca mais vendo a luz do sol.

— Vai dizer que não merece? Deu uma de juiz, juri e carrasco. Mata e destrói qualquer um na sua frente. É só uma questão de tempo até matar um inocente. Entregue-se, e prometo de ajudar, irá para uma prisão boa, confortável.

Respirando fundo, por algum motivo no seu interior, era atraído para essa sugestão. Nas suas costas, havia mortes de tantos. Criminosos, verdade, mas sabia, bem fundo, que poderia matar quem precisasse.

Não importava o seu passado ou criminalidade, só de atrapalhar os seus planos, seria morto. Isso ia contra tudo o que ele pensava há meses atrás, sentia as mudanças ocorrendo lentamente.

Perdido em pensamentos, Íris continuou tentando o convencer:

— Vamos lá, sabe que estou certa. Quando está aborrecido, sente raiva, tristeza ou ansiedade, o que quer fazer é sair a noite e caçar uma presa, e ao conseguir, sente uma calmaria ótima.

Reconhecendo a verdade, desviou o rosto.

— E se eu disser não?

— Bem, então eu e minha equipe iremos com tudo. Arrumaremos provas e iremos te expor ao mundo, revelando seus crimes, e pego, sua identidade revelada.

Incapaz de pensar, San sentia medo, de verdade. Diferente de quando luta contra monstros, está na cara da morte ou tem de tomar uma decisão arriscando a sua vida.

Essa era completamente diferente, nunca tendo passado por isso.

— Te darei três dias, me encontre aqui nesse tempo. Se não aparecer, irei considerar como uma recusa.

Levantando da sua cadeira, foi embora, entrando no meio da multidão, sumindo.

San permaneceu na cafeteria, tão parado quanto uma estátua, os seus pensamentos uma bagunça.

Passando um período de tempo desconhecido, se levantou e começou a caminhar nas ruas movimentadas dos bairros ricos.

Caminhando desengonçado, tava desanimado, uma ansiedade dificultando a sua respiração.

Anoitecendo, voltou ao hospital, caminhando até o quarto das garotas. Nem sabia a hora, só tava tarde.

Parado no vão da porta do quarto de Emma, observava as duas, dormindo juntas na cama, abraçadas.

Fechando os olhos, lembrava de cada detalhe da conversa, repassando pela milésima vez. No entanto, além dessa conversa, lembrou da sua vida atual.

Academia, amigos, as duas garotas, uma vida tão boa. Estaria disposto a largar isso? Reconhecer estar errado e se entregar, sumir como apareceu.

Cerrando os punhos, rangia os dentes. Subitamente, isso parou, e respirou fundo, soltando o ar.

Abrindo os olhos novamente, estavam diferentes. Nada de raiva, confusão ou medo. Refletido na sua visão, confiança e determinação.

“É verdade, ela estava certa, em tudo.” San cansou de negar a sua natureza, limitar os seus desejos, os restringir e os conter.

“Sou um monstro, e eu gosto de matar. Me acalma, e as mortes continuarão. Um dia, meu nome se tornará tão temido que ninguém ousará me desafiar, ferir meus companheiros ou sequer olhar torto pra mim. Se tenho que lidar com os caçadores de mutantes, ótimo.” Usando o ditado de Max, San evoluiu de filhote para um lobo.

Esticando o pescoço, ouviu um estalo, e por algum motivo, se sentia muito bem. Desde a morte do amigo, sentia uma pressão no peito, o forçando a ser o mesmo de sempre, mantendo a sua personalidade igual.

Na verdade, havia mudado, independente de negar. Só queria permanecer normal. No entanto, aceitando a verdade, é relaxante, libertador.

“No fim, me tornei o que tanto odiava. Entretanto, nunca abandonarei as pessoas importantes para mim, vou me tornar o pior para que os outros não precisem.” Dando as costas, caminhou no corredor do hospital.

Avistando um quarto vazio, entrou, fechando a porta e trancando. Usando o seu sentido elétrico, avistou uma tomada. Pondo a mão inteira, sugou a eletricidade.

Uma dor enorme passou no seu braço. Diferente de antes, ao pegar de pouco em pouco, só absorvia. Seus pelos arrepiaram, a pele queimou, chiando no ar.

Resistindo, absorvia feito uma esponja na água, enchendo as suas baterias. Demorando um tempo, terminou, agachado, respirando pesadamente.

Balançando a cabeça, repetiu o processo, isso até estar cheio. Demorou, as luzes do andar inteiro piscavam, oscilando.

Sua pele queimada soltava cheiro, e ainda assim, sorria no chão do quarto. Ficando de pé, estendeu a mão, ativando o seu poder, controlando a eletricidade.

Estática começou a chiar no ar, estalando. De repente, eletricidade passou no seu braço. Ficando nessa posição durante um tempo, parou, sabendo demorar um pouco para controlar bem.

“Se os caçadores virão com tudo, eu vou me aprimorar o máximo, independente da dor ou agonia. Nunca vou ser preso, e prefiro morrer a me trancarem.” Voltando a concentrar os seus poderes, treinava em silêncio.



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