Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 2

Capítulo 111: Parceiros do Passado

Andando de um lado ao outro pelo quarto do hospital, San fazia de tudo, causando risadas de Emile sentada na cama, e da garota deitada ao seu lado.

Amaciando o travesseiro, pegando a bandeja de comida e verificando estar tudo certo, San acenou em concordância, abrindo um sorriso grande.

— Como está?

— Perfeita. — Emma respondeu, alegre e rindo de leve.

Finalmente sentando na poltrona, soltou um suspiro. Apoiando a cabeça na mão, observava as duas conversando, contando histórias e rindo frequentemente.

Demorou quatro dias para Emma acordar, sendo curada por médicos constantes e seus sinais cuidados constantemente. San ficou ao seu lado sempre, esperando.

Faltou aulas sem se importar, com seus amigos vindo constantemente, vendo como estava o amigo.

Quando finalmente ela acordou, a primeira coisa que San fez foi se desculpar, por não ter conseguido chegar a tempo e a proteger, sendo obrigada a passar por esse tipo de situação.

Depois de muita conversa entre os dois, San passou mais dois dias por perto, raramente saindo do seu lado, e a ajudando com qualquer coisa.

Na poltrona macia do hospital, tava relaxado, pois ela teria alta no dia seguinte. Seu rosto, o alvo do atacante e grande parte do local dos seus ferimentos, curado há tempos.

O que faltava mesmo para ver era o crânio, tendo criado uma rachadura, o motivo pela demora de ter acordado.

Observando as duas garotas loiras, pensava no passado. Quanto as coisas haviam mudado. Ainda lembrava das vezes em que ia na casa do amigo discutir assuntos e contava suas aventuras fora dos muros para Emile, das vezes em que comeram todos juntos.

Eram tempos bons, onde a maior preocupação de San seria arrumar dinheiro para Eugene. Tanta coisa mudou. Estava em uma cidade enorme, em uma academia renomada, aprendendo assuntos interessantes e arrumando amigos.

Perdido em pensamentos, sentiu uma vibração no braço. Erguendo uma sobrancelha, foi ver quem era, tendo de reprimir a vontade de fazer uma careta.

Uma mensagem, e o remetente, um conhecido vindo diretamente dos seus tempos calmos, ele sendo uma peça para ter mudado isso.

Floki, o seu parceiro de negócios criminosos, tendo assumido recentemente o comando das bases do último alvo de San. Abrindo a mensagem, falava de dois assuntos.

O primeiro sendo um agradecimento da sua ajuda, e falando que tem a recompensa prometida há tanto tempo. A segunda parte da mensagem falava de um pequeno problema ocorrendo, solicitando ajuda.

Considerando o que fazer, tava tentado a pegar a sua recompensa, afinal de contas, Floki devia uma grande quantia de dinheiro, resultado de ter conseguido procrastinar o pagamento.

Batendo as mãos nos joelhos, pensava bastante. Não queria deixar as garotas, mas a ganância de dinheiro o chamava. Estalando a língua, levantou e falou:

— Vou ter que sair um pouco para ajudar um amigo, volto daqui a umas horas.

As duas só acenaram em concordância, ligando a TV e começando a assistir um programa. Indo embora, falou mentalmente a Garmir deitado no chão:

— Cuide delas.

Recebendo um latido positivo, caminhou nos longos corredores do hospital, descendo no elevador e saindo da área das pessoas com dinheiro, uma compensação de Eugene.

Nas ruas dos bairros pobres, procurava a base de Floki, tendo recebido a localização anteriormente. Finalmente encontrando, avista um prédio de dois andares.

Passando a entrada e subindo os degraus, encontrou a porta de metal, batendo duas vezes. A porta foi aberta rapidamente, avistando o seu parceiro de negócios.

Vestia uma camiseta listrada, feito uma zebra, calças de couro apertada e tênis de corrida. Balançando a cabeça, ignorava, já acostumado ao senso de vestimenta confuso.

— Meu amigo, San, pode vir, entra.

Passando a porta, avistou o interior da casa. Era grande, e completamente bagunçado, até lembrado da sua loja na cidade natal de San.

Caixas espalhadas, abertas ou fechadas. Móveis jogados aleatoriamente, alguns até curiosamente repetindo, tipo um sofá em um lugar e outro a poucos passos.

De pé, esperava o companheiro se organizar, andando de um lado a outro, passando com maestria a bagunça da sua casa.

— Que bom ter vindo cedo, tenho tantas coisas a falar.

— Tenho pouco tempo, anda logo.

Trazendo da sua cozinha duas xícaras contendo bebidas estranhas, estendeu e sentou em uma poltrona amarela.

Pegando uma cadeira espalhada, sentou na frente, afastando a sua bebida suspeita.

Dando um longo gole, começou:

— Esse tempo em que eu assumi o negócio do Francis, consegui espalhar a minha influência, distribuindo o produto entre grande parte da cidade, ficando bem reconhecido.

Escutando o monólogo de Floki dos seus negócios, explicava da facilidade do povo aceitar a sua droga, principalmente por ter efeitos colaterais fracos. Até a polícia ficou um pouco mais de boa, pois era só um efeito alucinógeno, deixando as pessoas calmas.

Quanto mais escutava, a animação da quantia de dinheiro aumentava, imaginando a enchendo o seu bolso.

Finalmente tendo acabado, Floki falou:

— Te agradeço imensamente meu amigo, nada disso teria sido possível sem a sua ajuda. Por isso, tenho um presente para você.

Já esperando o dinheiro, San quase esfregava as mãos. Floki de repente se levantou e caminhou no seu apartamento, vasculhando as caixas.

Confuso, San nem sabia o que falar. O certo seria o companheiro estender o braço e transferir o dinheiro, ao invés disso ele tá procurando algo.

— Achei! — Seu grito foi ouvido na casa inteira, causando arrepios do que poderia ser.

“Eu juro que se ele me der uma bobagem, vou dar uns socos no cara.” Aguardando os passos apresados do companheiro se aproximar, balançava o pé.

Em uma animação, Floki trazia um peitoral de metal, alegre e pulando de animação. “Sério, uma peça de armadura.” San pensou ao ver aquilo.

— Aqui está meu amigo.

Recebendo o peitoral, nem sabia a reação a ter. Prestes a falar algo, Foki continuou:

— Essa é uma armadura muito forte, capaz de aguentar ataques poderosos, e ainda se manter intacta. Pode levar aonde quiser, e é discreta, perfeita.

Ficando um pouco surpreso, San só falou:

— Valeu, eu acho.

— A, de nada, meu amigo, e tem a melhor parte.

Tirando das mãos de San, Floki pôs no peito do companheiro, e clicando em algo, a armadura se prendeu.

Confuso, San tentava tirar, sentindo a dificuldade, e subitamente, a armadura agiu sozinha. Nos seus braços, começou a crescer metal, indo nas mãos, pernas, o corpo inteiro.

Se levantando na hora, não sabia o que fazer, ficou sem palavras, e na hora, sabia o que era aquele peitoral: uma arma bestial, ou mais precisamente, armadura bestial.

Eram caras e complicadas de conseguir, pois para montar, precisa de partes de monstros resistentes, sendo ruins de matar. Realmente alegre, exibia um sorriso enorme no rosto.

— Caraca! Valeu cara.

— Ah, já te devia uma grande quantia de dinheiro mesmo, considere a nossa dívida paga.

Nem precisando discutir, só concordou, imaginando o que poderia fazer com essa armadura.

— Claro, mas ainda vai precisar me pagar nos meses seguintes, temos um acordo lembra?

O sorriso de Floki vacilou um pouco, sendo obrigado a concordar.

— Como desativo isso?

No restante do tempo, Floki passou ensinando a mexer na armadura, sendo necessário um pequeno treinamento para ficar realmente bom no manuseio e velocidade de ativação e desativação.

Tendo aprendido, agradeceu novamente, só que quando se acalmou, lembrou de uma segunda parte da mensagem do amigo, e perguntou:

— Qual era o problema falado na mensagem?

Lembrando de repente, sua animação diminuiu, o seu sorriso sumindo do rosto, ficado sério. Encarando nos olhos de San, falou:

— Ultimamente, nos bairros pobres e ricos tem acontecido uma coisa. Caçadores de mutantes tem andado por aí, fazendo perguntas e vasculhando.

Se lembrando na hora, sabia quem eram, tendo conhecido dois na sua cidade natal, um deles, o cara que torturou Leo tendo uma revelação dos seus crimes expostos.

Os caçadores de mutantes eram especializados em lidar com mutantes, seus membros todos sendo pessoas muito poderosas, treinadas e permitidos uma autoridade grande.

Estarem fazendo perguntas pode ser muita coisa, talvez nem envolvendo os dois. O problema era a recente notícia da cidade, de um assassino caminhando por aí e matando gente.

Permanecendo em silêncio por um tempo, perguntou:

— Sabem de alguma coisa?

— Até onde sei, não sabem nada. E para a nossa sorte, a líder responsável, é uma novata no cargo, essa sendo a sua primeira missão comandando.

Acenando em concordância, relaxou um pouco. Dois agentes tentaram o pegar na última cidade, um bastante experiente, e conseguiu se livrar, essa seria moleza.

— Valeu pela armadura, agora preciso ir, tenho de voltar.

— Claro, só toma cuidado.

Indo embora do apartamento, caminhou nas ruas dos bairros pobres de cabeça baixa. As breves olhadas para a frente revelaram as pessoas e criminosos.

Durou um bom tempo, no entanto, já passou dias desde a sua última caçada, e por isso os criminosos começavam a voltar as ruas.

Quase alcançando o hospital, os pelos da sua nuca arrepiaram. Tendo alterado o seu radar de mutantes para só o alertar quando alguém focava nele, virou a cabeça diretamente para a pessoa.

Sentada em uma cadeira de madeira simples, na frente de uma cafeteria com pouca gente, uma mulher o encarava. San a reconheceu facilmente, tendo mudado só um pouco.

Vestia um terninho chique, a pele escura combinando perfeitamente os seus olhos escuros, os cabelos presos em um rabo de cavalo. Sua postura era relaxada, e sorria de leve.

Surpresa seria um eufemismo, San esperava nunca mais ver ela, e ali estava, sentada e o esperando. Íris, a caçadora de mutantes.

Se conheceram em Veridian, e na época, ela e seu parceiro, Ramon, foram fazer perguntas sobre a primeira vítima de San, tendo conseguido passar pelo interrogatório.

Trabalharam juntos brevemente, tendo conseguido arrumar a câmera de segurança e entregado para ela. Terminaram brigando, pois San escolheu espalhar informações que fizeram Ramon ser punido.

Engolindo em seco, sua mente corria em diversas possibilidades. Uma delas, a pior de todas, dela ter ido o buscar, falar que sabe de tudo e o prender ali mesmo.

Esse era o seu pior pesadelo, o fazendo suar frio. Trincando o maxilar, negou essa hipótese. Por que ela estaria sentada em uma cafeteria ao invés de o interceptar?

Tomando coragem, caminhou a frente, se aproximando, repetindo mentalmente: “É só uma coincidência, qual as chances?”

— Íris? Caramba, quanto tempo, bom te ver.

— Bom dia, San, é bom te ver. Quer sentar?

Concordando, pegou uma cadeira e ficou na frente dela, sorrindo sempre.

— O ambiente escolar te fez bem, tá diferente comparado a última vez.

— Obrigado, tive uma oportunidade de vir pra cá e aproveitei. — A atmosfera ao redor da mesa era boa, tranquila, acalmando San, tirando as preocupações da sua mente.

Recostando as costas na cadeira, só por garantia, deu uma olhada rápida ao redor, atento a todos os mutantes perto, só para confirmar serem normais, e não agentes esperando um sinal.

Tava de boa, nada preocupante.

— Então, como tem ido?

Íris pensou um pouco, bebendo um gole do seu café. Soltando um suspiro, respondeu:

— Lembra do Ramon? O meu parceiro, aquele que torturo o seu amigo.

Escondendo o desagrado de lembrar daquele homem, respondeu:

— Sim, um cara legal.

Íris o encarou nos olhos, e dessa vez, o sorriso dela não era mais caloroso, e sim frio.

— Depois de ter sido exposto, reduziram o seu cargo, e o mandaram em missões perigosas, em cidade distantes. Mesmo assim, conseguiu sobreviver, isso até, o devorador de almas o encontrar.

Quieto, San só escutava, sério.

— Sinto muito, e entendo o porquê de você me culpar.

Balançando a cabeça em negativa, Íris falou:

— Não te culpo. No começo, sim, mas agora, entendendo, te perdoo por ter feito aquilo, só queria justiça pelo seu amigo.

San concordou, essa parte sendo verdade. Íris continuou:

— Pesquisei ao seu respeito, e depois da morte de Leonardo, cuidou das suas irmãs, como se fossem suas. É um bom aluno, começou um clube de treinamento de essência, ajuda alunos, tem amigos.

Franzindo as sobrancelhas, San esperava o motivo dela falar tudo isso, e por ter pesquisado tanto.

— Depois de ver essas informações, sei que você é um bom garoto, tenta ser gentil, ajudar as pessoas. Por isso, vim até aqui, implorando ao seu lado bom, se entregue.

Um frio tomou conta de San, a respiração parou completamente, perdendo toda cor do rosto. De olhos arregalados, recuperou a compostura rapidamente, se mexendo desconfortavelmente.

— Olha, eu cometi uns erros quando adolescente, contudo, me entregar é demais né!

Íris só o encarava, seus olhos com pena.

— San, qual é. Ou prefere que eu te chame pelo apelido? O diabo que ri.



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