Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 2

Capítulo 108: Uma Visita ao Sócio

Uma estátua, completamente imóvel, até a respiração extremamente lenta. Era assim que San ficou, sentado em um banco macio, esperando os resultados dos médicos, aqueles responsáveis de falar do estado da Emma.

Aguardando na sala de espera, sua mente passava por cada ação tomada naquele dia, os seus vacilos, na hora da ligação, o desespero na voz dela.

“É minha culpa, eu deveria ter sido mais rápido, contratar guardas, chamar a polícia, sei lá.” Coçando o cabelo, fazia isso freneticamente, já sem unhas para roer, e os músculos da sua perna machucados demais por ter exagerado no uso da essência.

Absorto nos seus pensamentos, ignorava qualquer coisa ao seu arredor, incluindo o amigo na sua frente, o olhar preocupado, mas tendo de esconder isso, pois precisava distrair uma garotinha.

Do lado de Emile, Jason conversava com ela, a ouvia, e tentava tranquilizar, sabendo que San seria incapaz disso por enquanto.

O tempo passou, e San nada de falar ou interagir, isso até Emile falar algo:

— Ele entrou em casa, quebrou tudo e depois foi no nosso quarto. Era um cara estranho. — Forçava a guardar as lágrimas.

Ao escutar isso, San ergueu a cabeça, a encarando, os seus olhos brilhando em vermelho vivo.

— Como ele era?

Afundando sob aqueles olhos, Emile permaneceu quieta, assustada, incapaz de sequer falar. Jason se pôs na frente, usando da sua voz tranquilizadora.

San queria informações, ir atrás do cara e o matar de uma forma lenta, agonizante. Porém, sabia ser incapaz disso no momento, precisava estar ali.

Após minutos, o som de passos apresados veio na sua direção. San sentiu na hora um par de olhos na sua direção. Erguendo a cabeça na hora, procurava inimigos perto, já circulando essência, e paralisando as visitantes.

As duas mulheres pararam no meio do caminho, suas duas colegas e amigas. Bella engoliu em seco, reconhecendo essa sensação da vez em que estavam na missão dos militares. Dessa vez tava em uma versão miniatura, controlada.

Liz se recompôs rapidamente, caminhou a frente e sentou do seu lado, perguntando:

— Você tá bem?

Em silêncio, pensava em uma resposta, pois sentia com certeza mal, uma raiva no seu ser, o queimando, e só havia um desejo dentro de si, deixar queimar.

— Eu tô ótimo. — A sua voz sendo fria, distante.

O grupo sentou nas cadeiras, aguardando, conversando de vez em quando, principalmente com Emile. San ficava no seu canto, ignorando as tentativas de conversa.

Depois de uma hora, o médico apareceu, a prancheta em mão e um rosto cansado.

— Santiago Lunaris?

Escutando seu nome, forçou o seu corpo sem energia a levantar.

— Aqui.

— Sua sobrinha já foi tratada, pode vir a ver.

Parado, recebia os olhares dos seus amigos. As suas pernas doíam, ardiam só de ficar de pé, cambaleava ao andar, e nem era isso que o impedia, e sim o medo de a ver.

Emile agiu primeiro, de pé, assegurou a sua mão, o olhou nos olhos e abriu um sorriso. Soltando um suspiro, seguiu em frente, tendo dificuldade em dar um passo.

Para a sua sorte, o médico permitiu do seu grupo vir junto, e todos entraram no quarto grande. Deitada em uma cama de lençóis brancos, Emma, a quase adulta dormia.

O inchaço diminuiu consideravelmente, contudo, gazes enchiam o sue rosto, tampando uma boa parte. Desviando o olhar, aguardou o doutor falar.

— Como foi ordenado, usamos de curandeiros mutantes para a tratar, mesmo assim tivemos algumas dificuldades. Ela foi atingida por um mutante forte, esmagando uma boa parte do seu crânio, precisamos cuidar de muitas coisas. Ainda não sabemos ao certo a hora em que acordará.

Apertando o maxilar, rangia os dentes, e precisando de uma alta força de vontade para manter o rosto impassível. Ao terminar, o médico os deixou e foi embora.

Emile correu a irmã, as lágrimas correndo no seu rosto, ficando do seu lado. Sentando em uma cadeira, San encarou Emma por um tempo, e pela primeira vez notou de verdade seus amigos.

Jason usava a sua roupa da academia, desgrenhado e nervoso, suando bastante. Bella, com pena da garota deitada, quase chorando junto, e Liz o observava.

— Por que estão aqui?

— Jason nos falou do ocorrido, e viemos correndo. — Liz falou gentilmente.

— Não precisavam, eu sou o…

— Qual é, você é nosso amigo, e quando esse tipo de coisa acontece, nós viemos apoiar. — Bella o interrompeu irritada, claramente afetada pela situação.

Abrindo um leve sorriso, disse:

— Valeu galera.

Ficaram no quarto um bom tempo, mal trocando palavras, isso até ouvirem uma batida na porta do quarto.

Era um homem uniformizado de policial, um pouco nervoso de estar perto de tantos mutantes. Recompondo a compostura, falou:

— Santiago, pode me acompanhar?

Forçando as suas pernas cansadas e ruins a andar, saiu do quarto, parando do lado de fora.

O policial tirou um tablet da sua roupa e estendeu a San, mostrando um vídeo. Nas imagens, um homem passava os corredores do apartamento onde as garotas moravam, só parando na parte que ele arromba a porta.

San arregalou os olhos, focando a sua visão naquele homem, o reconhecendo facilmente. O viu naquele dia, ao comer junto a Liz, o cara agia estranho.

Uma raiva começou a crescer novamente em San. Eliminando os seus inimigos, sabia sobrar só um culpado disso, um chefe do crime que sabia a casa das garotas, poderia impedir os seguranças, e estava irritado da lentidão dos planos de roubar a esfera de Dyson.

“Um soldado do Eugene.” Mordendo o lábio, sangrava no piso. O policial perguntou:

— Me desculpe, o senhor conhece esse homem?

Balançando a cabeça, disse:

— Tem alguma pista do cara?

Desviando o rosto, guardou o tablet e respondeu:

— Infelizmente as informações são poucas e sou proibido de falar.

Essas palavras só reforçaram na mente de San a possibilidade do homem ser um soldado de Eugene, ele teria poder para fazer tudo isso.

O policial foi embora, o deixando sozinho, parado. Voltando ao quarto, caminhou ao lado da Emile, agachando ao seu lado.

— Eu vou ter que sair um pouco, pegar o cara que fez isso. — Sussurrou no seu ouvido.

Os olhos da garota brilharam em animação, e acenou em concordância.

Em direção a Emma, falou baixinho:

— Me desculpa, vou dar um jeito nisso. — Terminou dando um beijo na sua testa.

Perto dos amigos, ele finalizou dizendo:

— Vou ter que ir até a delegacia, querem pegar um depoimento de mim.

Seus amigos o olharam estranho, sabia ser uma mentira, ouviram a conversa, e principalmente os dois vampiros, por ter uma audição apurada.

Saindo do quarto, encontrou um curandeiro descansando, e abriu um pequeno sorriso.

Depois de uma pequena ameaça, teve as suas pernas parcialmente curadas, sendo capaz de andar normal novamente, ainda sentindo dor, grande, mas tanto faz.

Passando as portas de vidro do hospital e de volta as ruas, um vulto apareceu do sue lado, andando de quatro, o pelo com pequenas labaredas de fogo, os dentes extremamente afiados, as garras riscando o chão e o ar perto de si quente.

Garmir refletia as emoções de San, bem mais profundamente, e os seus instintos animais expostos assim.

Ambos caminharam juntos, até pararem de repente, e em uníssono, em uma rua movimentada, se viraram, prontos para disparar um ataque, já tendo sentido estarem sendo seguidos.

No entanto, pararam na hora, já que o culpado disso era um amigo, Jason, de rosto sério.

— Eu vou junto. — Declarou firme.

— Foi mal amigo, vou resolveu um assunto particular.

Dando um passo para perto de San, tocou no seu ombro.

— Somos amigos, e não vou te deixar fazer uma loucura sozinho.

Vendo o rosto do vampiro, uma rara vez em que o viu sério, de verdade, sabia ser impossível o convencer do contrário, teria de o levar.

Estalando a língua, deu as costas.

— Faça o que quiser.

San preferia estar sozinho, mas uma ajuda pode ser útil, ainda que tenha uma ideia fixa na sua mente do resultado de encontrar o culpado de machucar Emma.

Nada de carros, caminharam nas ruas movimentadas. San se trombando nas pessoas, ignorando xingamentos e reclamações, enquanto Jason pedia desculpas ao amigo.

Essa foi a primeira vez de Jason vendo o amigo assim, uma expressão completamente nova, e perigosa. Porém, por mais que preferisse negar, sabia já ter visto uma parte dessas anteriormente,

A primeira vez sendo na aula de eliminar monstros junto ao amigo. Naquele dia, por algum motivo, ele agiu feito um louco, sorrindo por explodir a cabeça de um monstro, prolongando o sofrimento da besta.

Depois agiu normal, mas Jason sempre lembrou disso, e viu novamente depois, sempre preocupado caso ele explodisse, e dessa vez sabia, o acalmar seria impossível.

Inicialmente a sua irmã queria ter vindo sozinha, dizendo que conversaria com San e tiraria da sua mente o seu óbvio objetivo.

Jason negou firmemente, alegando ser coisa de homem, e só ele poderia ajudar. Jason não sabia a desculpa certa para dar, só sabia que no seu interior, os instintos mais profundos, falavam para não deixar junto a sua irmã.

Ele nunca acreditaria na possibilidade do amigo a ferir, só era uma sensação. Aconteceu a mesma coisa na sua primeira missão de mercenário, no caso do lobisomem, sentindo uma sensação e desviando antes de ter o seu coração arrancado.

San prosseguiu, nada de planos mirabolantes ou estratégia, só um objetivo em mente, e o completaria, de qualquer jeito.

Demorando um pouco, alcançaram um armazém, as portas de metal trancadas, vozes vindo do outro lado, e a luz nas janelas quebradas revelando a presença de gente.

San sabia estar no lugar certo. No dia em que Eugene o encontrou de limusine, deu o seu endereço, um lugar normal de ficar para conversarem.

Batendo fortemente na porta, os dois amigos ficaram lado a lado, Garimr escondido, só aguardando o momento certo. Demorando alguns segundos, a porta grande de metal abriu, e um segurança grande o avistou.

Analisando de cima a baixo os dois visitantes, falou:

— O que querem aqui?

— Vim ver Eugene.

Coçando o cabelo curto, disse:

— O chefe tá ocupado.

— Fala pra ele que San tá aqui.

Franzindo as sobrancelhas, hesitou brevemente, e negando novamente com a cabeça, assumindo um ar de valentão.

— Escuta aqui garoto, o chefe mandou ninguém o interromper, tanto faz o seu nome, vaza daqui.

O brutamontes fechou a porta nas suas caras, os deixando no escuro novamente. San virou e voltou, Jason o vendo confuso, não entendendo nada.

Longes, San parou e disse ao amigo:

— Vou entrar lá, e quero que fique aqui.

— A nem vem! Vamos juntos, e essa gente parece barra pesada.

Agarrando o seu ombro, San o encarou nos olhos.

— Jason, essa gente sabe do culpado, talvez esteja lá, só quero saber e denunciar a polícia, e preciso fazer isso sozinho, só um tempinho.

Considerando, Jason deliberava, sabendo dos riscos, e principalmente por mandar o amigo a toca dos lobos. Ainda assim, a calma dele o tranquilizava por algum motivo.

— Tá, mas se demorar demais eu entro.

— Feito. — Começou caminhando de volta ao portão, parando brevemente. — Se escutar alguns sons estranhos, tipo gritos, ignora.

De volta ao portão, dessa vez Garmir tava do seu lado, bateu mais forte. Abaixando a cabeça, se via zerado, nada de armas, equipamentos ou armaduras.

No seu pulso, as veias escureciam, mas deixou, sentindo uma onda de energia violenta entrando, sabendo que iria precisar. Se fosse realmente o Eugene culpado do incidente, e acreditava fortemente nisso, o seu contrato juntos iria acabar naquele dia, e só um sairia do galpão.

A porta de metal foi aberta novamente. O guarda, vendo o moleque recém-expulso, sacou uma arma da cintura, e prestes a apontar, teve o peito acertado, sendo jogado para trás, voando.

San entrou sob o olhar confuso de tantos funcionários empacotando drogas, e revelou um sorriso enorme, sádico. Sem se importar, virou as costas a tanta gente e fechou o portão de metal, o trancando.



Comentários