Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 2

Capítulo 105: Uma Conversa Amigável

Sinceramente, San não fazia ideia da reação a ter. Raiva? Por esse monstro ter machucado seus amigos, o enganado durante meses, fingindo ser um parceiro. Medo? Por Max saber tanto do seu segredo e sua força, sozinhos em uma floresta, podendo facilmente o eliminar e falar ao restante do grupo terem sido atacados.

Tantas opções, perigos, e o que mais San queria naquele momento, de frente a uma massa de pelos de dois metros e babando no chão, eram respostas, do porquê estar naquela situação, de sempre se meter em perigo e arrumar confusão.

O seu desejo de lutar sumiu tão rápido quanto apareceu, conhecendo das habilidades assustadoras do lobisomem, até usando o poder da máscara só o feriu gravemente, e prometeu a si que nunca mais usaria aquilo novamente.

Parado, aguardava o próximo movimento de Max, e subitamente, o som de ossos estalando voltou, os pelos se contorcendo e voltando a aparência normal, um humano forte, camiseta larga e dessa vez, pés descalço.

Sério, observava Max sorrindo, batendo o pé compulsivamente, igual uma criança esperando a reação do pai ao mostrar algo.

Desconhecendo do que aconteceria, fez a primeira pergunta, só pra começar:

— Por que nos atacou naquele dia, na floresta?

— Ah, eu soube da sua missão, e tava curioso da sua força, então fui atrás de testar, e me surpreendi. — Nem hesitou.

— Sério? Porque ao invés de me focar foi direto aos dois membros isolados, e eu quase cheguei tarde.

O sorriso de Max mudou naquela hora, os dentes levemente maiores, e o olhar de fome.

— Queria saber da resistência de um vampiro, e vendo aqueles dois isolados, descobri a oportunidade perfeita, e aproveitei.

Rangendo os dentes, San nem tentou esconder a raiva.

— Então simplesmente decidiu os atacar, e iria os matar.

— É a lei da selva, o forte sobreviver, comendo o fraco. — Deu um simples encolher de ombros.

— Por isso estamos aqui? O forte comer o fraco.

Dessa vez a expressão de Max mudou, ficando sério, encarava San nos olhos.

— Nem pensar. Em uma alcateia, temos vários membros, iguais, e é assim que eu te vejo, um amigo, parceiro, companheiro.

Arqueando as sobrancelhas, qualquer dúvida da sanidade de Max evaporou. Simplesmente vir do nada na sua frente, o confrontar do seu segredo mais profundo e chamar de amigo.

Na sua juventude, enquanto era um humano normal, estudou inúmeras raças de monstros, querendo aprimorar seus conhecimentos dos possíveis perigos que poderia enfrentar, e sabia algumas informações dos lobisomens.

Estando nessa situação confusa, decidiu perguntar.

— Li por aí, que lobisomens perderam as suas habilidades de virar humanos a séculos, ficando somente na sua forma monstruosa, só mantendo a mente humana, e até isso modificado.

— Verdade. — Admitiu simplesmente. — Minha raça perdeu essa habilidade, e por isso me chamam de variante, uma mutação entre os meus iguais, ganhando a capacidade de voltar a forma humana.

Variante, San estudou isso durante algumas aulas, sabendo ser extremamente raro, poucos casos sendo catalogados. Resumidamente, é uma mutação entre raças dos seres, os modificando do restante dos seus iguais.

Alguns exemplos, sendo mais fácil de catalogar devido à parceria e similaridade, foi os vampiros, tendo casos de alguns conseguirem andar na luz do sol normalmente, ou aqueles capazes de comerem comidas comuns, dispensando o sangue.

Os lobisomens sempre foram ruins de catalogar, pois mesmo tendo mentes pensantes e sendo inteligentes, abandonaram a maior parte disso para seguir os seus instintos, caçando e viciados em sangue.

— O que quer comigo?

— Simples, quero um amigo, alguém para se divertir, caçarmos juntos, matar.

— Por que eu?

Max o olhou com um rosto surpreso, seu rosto a manifestação de divertimento, claramente gostando dessa conversa.

— Não é obvio? Somos iguais.

Um arrepio percorreu o corpo inteiro de San, bem diferente das vezes em que detecta mutantes perto, esse é medo, e pavor.

— Discordo. Sou um humano normal, nada de mutações ou vícios do seu tipo.

De repente, Max soltou uma risada, inclinando o corpo, até enxugando lágrimas. Dando um passo em frente e se aproximando de San, pôs o braço envolta dos seus ombros.

— Fala sério, cara. Seu poder é literalmente roubar as habilidades dos outros, as matando, causando dores agonizantes. Esconde sua capacidade do restante da sociedade, e gosta de caçar.

Se soltando do aperto de Max, cerrava seus punhos, os olhos adotando um tom vermelho.

— Não temos nada parecido. Meu poder é uma merda, impossibilitando de ter uma vida normal. Odeio matar pessoas, e só me escondo senão seria caçado pelo mundo inteiro.

— Ah, me poupe. Meu olfato é apurado, até demais. Ocasionalmente sinto o cheiro de aborrecimento em você, e então, uma noite depois, volta alegre, relaxado, e sei que caçou naquela madrugada.

Balançando a cabeça, negava fortemente, dizendo a si que é somente trabalho, uma forma de ficar mais forte, impedir criminosos de andarem por aí.

Infelizmente, Max continuava a falar, suas palavras entrando nos seus ouvidos feito veneno, um tão forte que era impossível evitar de ouvir:

— Pegou gosto pela matança, pois é bom nisso. Se sente inquieto quando fica sem. Pode negar, mas sabe a verdade, e isso te assombra, por enquanto. Na minha visão, você é um filhote, que diz odiar matar, porém, na hora do ato, sorri, tendo completado o trabalho perfeitamente, e continua a negar. Sei que alguma hora, vai admitir, é inevitável.

San respirava pesado, os olhos vagando aleatoriamente, sua mente negando as palavras, entretanto, uma parte admitia, queria ouvir, concordar.

Negando fortemente esses pensamentos, só uma coisa veio na sua mente: “Não vou ser o meu pai, só mato criminosos, e nunca vou gostar!” Segurando fortemente a sua espada, apontou a Max.

Recebendo uma risada de resposta, o lobisomem nem se importou, afinal de contas, até o seu ferimento na barriga já curou.

— Vou manter segredo da sua atividade extracurricular, posso garantir isso. Só preciso esperar, afinal de contas, uma hora ou outra, vamos lutar, e se ajudar.

Mantendo um breve silêncio, embainhou sua espada, o encarando diretamente nos olhos, a sua cor retomando ao azul normal.

— Sou um humano, e prefiro morrer a ser um monstro igual a você.

Dando as costas, seguiu embora, seu corpo preparado para o mínimo movimento suspeito do monstro nas suas costas. Em qualquer suspeita, usaria toda a sua força e atacaria.

Ao invés de revidar, Max ficou parado, sorrindo ao ver suas costas, e suas palavras finais sendo:

— Veremos, meu amigo. Virá o dia, em que matar será só mais uma brincadeira, e estarei lá, caçando junto.

Os passos de San só aceleraram, ignorando as palavras do lobisomem nas suas costas, e as risadas incrivelmente altas vindo, sua mente um caós.

“Sou um humano, eu mato por necessidade de força.” Repetia essa frase mentalmente, jogando para o fundo da sua mente as afirmações de Max.

Já passou quase um ano desde o seu despertar, e lembrava vividamente a primeira vez em que matou uma pessoa. O maldito mimado filho do chefe dos guardas da sua cidade, uma pessoa ruim e merecedora.

Naquele dia, ainda na cena do crime, vomitou, tremia e sentia ter feito algo errado, tendo que se reafirmar repetidas vezes para evitar da culpa e o medo o dominarem.

O tempo passou, a matança aumentou, e então, percebeu uma coisa. Após a morte do seu amigo uma coisa mudou dentro de si, pois durante meses, ficou sozinho, somente tendo a sua mente quebrada, nutrindo um ódio enorme por uma única pessoa, e rodeado somente de gente violenta ou triste, o influenciando inconscientemente.

O ódio cresceu tanto, ao ponto de na primeira vez em Plária, essa cidade enorme, matando uma pessoa, sua reação foi indiferença, nada de incômodo ou o nojo.

Na verdade, profundamente, sentia um pouco de aborrecimento pela habilidade do seu alvo ser tão fraca, inútil de ter. Evitava pensar nisso, tendo foco somente na sua vingança, mas tendo sido jogado na sua cara assim, por um assassino, e falando que eram iguais, só o quebrou.

Um assassino, igual à pessoa que ele tanto odiava, que jurou evitar ser. Agarrando os cabelos enquanto caminhava, apertava os dentes, só desejando esquecer isso.

Na sua frente, um monstro de lama surgiu, e mal tendo tomado sua forma, recebeu um tiro de energia, o obliterando. San pouco se importava no gasto de essência.

Tendo percorrido durante um tempo aleatório, sentiu o cheiro de fogo, e olhando para cima, uma fumaça escura subia aos céus. Sabendo o causador disso, foi na sua direção.

Em uma curta caminhada, encontrou Jack e Sonea, tendo acabado com uma cota enorme de criaturas, e nesse momento recolhendo os olhos nojentos.

Tendo sido avistado, revelaram surpresa, e vendo San sozinho, se preocuparam.

— O que ouve? — Jack perguntou primeiro.

Demorando um pouco para organizar seus pensamentos, sabia precisar esconder os acontecimentos, sendo uma ideia péssima revelar.

— Max preferiu caçar sozinho, falando ser capaz de correr melhor, e me abandonou.

— Estranho, foi ele que falou de formarmos duplas. — Sonea falou ao fundo, encarando San.

— O cara é imprevisível, muda de opinião toda hora.

Mudando o foco a Sonea, lembrou de Jack falando dela e Max estarem em um grupo antes, os dois. “Ela sabe? O quanto?”

Por um breve segundo, considerou a eliminar ali, só para evitar suspeitas, porém, negou esse pensamento na hora, amaldiçoando a si mesmo por pensar nisso.

— No caminho pra cá tava livre, duvido de ter sobrado algum, vamos voltar? — Tentou apelar para abandonar Max, querendo nem olhar o seu rosto.

— E deixar Max? — Jack, o garoto certinho se pronunciou, firme.

Sonea só balançou a cabeça, concordando. Sabendo ser uma péssima ideia discutir ou tentar os dissuadir, seria suspeito, só admitiu derrota e ficou por perto.

Exploraram por um tempo, só para confirmar da conclusão da sua missão, e nesse tempo os monstros foram eliminados completamente, a floresta até ficando menos pantanosa.

Tendo um membro separado do grupo, escolheram ficar onde fumaça subia no ar, facilitando de Max os localizar. Mentalmente, San duvidava dele precisar disso, o seu olfato e sentidos já tendo sido provados uma excelente forma de se guiar.

Em silêncio, aguardam, recuperando suas forças energias, raramente conversando. San foi deixado com seus pensamentos, só os dispersar, e a aura ao seu redor sendo vista facilmente por uma tristeza.

Entediada da espera, Sonea virou na direção de San e falou:

— Ei, já que estamos aqui, que tal uma luta amigável?

Levantando o rosto, viu os seus olhos verdes animados, há tempos querendo fazer isso. Anteriormente, San teria negado, criado qualquer desculpa, no entanto, nesse momento, só deu de ombros.

— Vamos nessa.

Sua preocupação dela descobrir o seu estilo sumiu, só o desejo de lutar sobrando. Obviamente ainda não usaria a dança de serpente, só queria algo para fazer.

Arrumando um espaço na clareira recém-formada pelo fogo, se posicionaram um na frente do outro, cimitarras desembainhadas. A de Sonea um par bonito, o material bom, quanto a de San sendo só um, o material igual, pois as comprou na sua cidade natal.

A apenas poucos metros os separando, encararam um ao outro durante um tempo, e estando indiferente a qualquer estratégia, San avançou primeiro, correndo e cortando na direção da sua garganta.



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