Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 2

Capítulo 104: Segredos

Longe da cidade, em uma parte pantanosa da floresta, um grupo recuperava o fôlego, e ao seu redor, somente pares de olhos conectados por um fio gosmento, os únicos restos dos seus inimigos.

Sem exceção, estavam ofegantes, cansados, até o mais resiliente, Max, demonstrava sinais de leve exaustão. O grupo lutou ferozmente contra os Lumbres, monstros feitos puramente de lama, e especialistas em sufocar suas vítimas.

Apoiado contra uma árvore, San limpava o suor com as costas da mão, sentindo de leve a sua essência. Aceitável, o suficiente para mais tiros de energia e, se necessário, outros poderes.

Os seus golpes eram rápidos, e por isso conseguiu eliminar a sua parte em uma incrível velocidade, sobrando espaço para servir de auxiliar na luta.

Sendo bem humilde, acreditava firmemente ser um dos maiores causadores de dano entre as bestas. A cada tiro, um era eliminado, caído, e do seu corpo, o tiro prosseguia, atingindo inúmeros na sua frente.

Obviamente, isso causou certas consequências. Sua energia até poderia ser capaz de o fazer disparar indiscriminadamente durante um longo tempo. No entanto, a fadiga mental ainda o incomodava, e isso fazia sua cabeça doer bastante.

Infelizmente, após decidirem seus grupos, uma nova leva de monstros chegou, tentando a sorte, e novamente, tiveram de entrar em uma luta feroz.

Dessa vez, realmente acabou por enquanto, e poderiam se separar em grupos, mas, para alimentar as esperanças de San, Jack falou:

— É uma boa ideia nos dividirmos? Sabe, pode ter muitos ainda por aí, e talvez não demos conta.

Max considerou brevemente. Mesmo sendo um viciado em lutas, matar monstros e perigo, ainda era esperto, e conhecia os riscos de uma separação, principalmente em um campo desconhecido desses.

Porém, sua decisão já havia sido tomada, e balançando a cabeça em negativa, falou:

— Vamos prosseguir com o plano. É arriscado, admito. Contudo, até eu prefiro evitar passar a noite aqui fora, em um lugar desses

Uma preocupação passou nos olhos das pessoas ali. Independente de serem mutantes e mercenários experientes, e estarem relativamente perto da cidade, em uma área dessas, com monstros classificados no nível de perigo em B, sabia ser uma ideia ruim.

Sonea deu um passo em frente, peito estufado e suas lâminas já limpas.

— Vamos nessa, e lembre-se, ao nos encontramos trocamos de grupo.

Acenando em concordância, deram as costas e seguiram caminhos separados, seus membros, claramente descontentes disso.

Reconhecendo ter poucas escolhas, San deu de ombros e começou a seguir Max, ao menos esse cara seria uma opção menos perigosa.

Em um ritmo lento, andavam perto, atentos aos mínimos sons suspeitos. Sob seus pés, a lama tentava os sugar, impedir seus movimentos, em vão, a única coisa sendo os desacelerar levemente.

San se considerava um bom rastreador, principalmente ao ativar usa habilidade de névoa, no entanto, Max estava em outro nível. Cheirava o ar repetidas vezes, e falava precisamente da localização das suas presas, até o número.

Em aproximadamente meia hora, usando as árvores de cobertura, San escondia seu corpo, espiando ocasionalmente seus oponentes, um bando de Lumbres, seis no total, talvez, mais, já que às vezes se escondem pelo chão.

A sua respiração calma, e nem precisando olhar, sabia onde Max tava, preferindo ignorar. Aguardando alguns segundos, deu uma última olhada, então partiu pra cima.

De espada em mão, avançou em alta velocidade, pegando o primeiro de surpresa, cortando a garganta feita de lama, derrubando a sua cabeça, e seu corpo ainda se movendo.

Os seus companheiros mal demonstram surpresa, o normal, já que não tinham rostos. Vendo o seu oponente ali, na frente deles, a lama molhada nos seus pés mudou de leve e flexível para grosa e ruim de mover as pernas.

Descartando esse detalhe, seus olhos captavam cinco pares de mãos indo em direção a si, e mais um regenerando a sua cabeça. Acalmando a respiração, permanecia imóvel, petrificado.

Focando no primeiro vindo na sua direção, fez um golpe rápido, cortando o seu peito. Sem parar por aí, continuou, usando toda a força do seu corpo, abrindo grandes partes dele.

Utilizando a sua força inteira, suava bastante, e em breves segundos, vários pedaços caíram. Ofegante, encarava os pedaços se reconectarem, e estalou a língua, reconhecendo ter vacilado.

Indiferente as mãos a centímetros do seu rosto, permanecia pensando. De repente, saindo de baixo da lama, escondido, Max pulou, seu corpo chocando contra a lama ambulante, os empurrando violentamente.

Suas garras tão afiadas quanto facas foram cravadas nos seus inimigos, destroçando e arrancando. Até tentavam se regenerar, só para serem exterminadas.

Em breves minutos, Max eliminou os Lumbres, voltando a andar sobre as duas pernas, sorrindo amplamente.

San nem olhou na sua direção, continuava a pensar. Durante a luta de Sonea, a observou constantemente, e reconheceu melhor, ela estava em um nível elevado, o superando.

Além disso, as suas técnicas eram diferentes de algum jeito. Foi difícil explicar, uma suavidade, como se a técnica fosse feita para o seu corpo.

“Será algo envolvendo a sua habilidade? Sei lá, só vi técnica por enquanto, o problema seria se estivesse mantendo segredo. Ah, que complicado, só queria roubar um estilo de luta de uma das grandes famílias, por que tem de ser assim?” Durante seu tempo sozinho, tirando Max, San tentava replicar os movimentos, sentindo ser um obstáculo, tão ruim quanto absorver eletricidade ou usar a essência para melhorar seu físico.

Balançando a cabeça, viu Max, esperando pacientemente. San agradeceu mentalmente ao amigo a isso. Esse já foi o quarto grupo derrotado, e o parceiro sempre esperava as divagações e falta de ajuda do companheiro.

— Vamos, sinto que estamos no fim. — San falou esperançosamente.

Balançando a cabeça em concordância, abriu a boca para falar, mas parou no meio, indeciso, hesitante. Preferindo deixar pra lá, virou as costas e cheirou o ar, ignorando a lama presa em si.

Caminhando por quase vinte minutos, derrotaram dois grupos, tendo facilitado o processo, já aprendendo o processo e seus golpes. Terminaram rapidamente.

No meio da sua procura, Max parou subitamente, apurando o nariz, dessa vez demorando um pouco. Ao terminar, revelou um sorriso enorme, e sem falar nada, correu a frente.

Vendo isso, San pretendia o impedir, infelizmente o amigo já partia em alta velocidade. Soltando um suspiro longo, acelerou o passo e o seguiu, sendo bem complicado, considerando o seu corpo ainda normal.

Em alguns minutos, no ritmo apressado, San o perdeu de vista, esperando o encontrar quando chegassem no objetivo. O problema dessa ideia foi não ter sobrado nem um rastro, e perdido, parou.

Procurando nos arredores, observava qualquer sinal de rastro, seja galhos quebrados, pegadas, algo fácil de fazer nesse terreno horrível, e nada.

“Merda, qual é cara.” Andando aleatoriamente, procurava o seu amigo, nada assustado de estar em um lugar possivelmente repleto de monstros podendo aparecer vindo de lugares aleatórios.

Já desistindo, fechou os olhos, circulando a sua essência, esfriou o ar, e rapidamente uma neblina surgiu. Concentrando a sua mente, procurava a localização de Max.

Em pouco tempo, espalhando o seu sentido, descobriu estar perdendo o seu tempo. O amigo estava perto, até demais, na verdade, em cima de uma árvore, a apenas uns metros de si.

Erguendo uma sobrancelha, desferiu a cabeça na sua direção, e prestes a falar, seus sentidos dispararam, alertando da localização de um outro ser, perto, na verdade, sob os seus pés.

Só obedecendo o que o seu corpo manda, pulou para o lado, rolando na lama. No entanto, foi tarde demais, e onde estava, explodiu. Estilhaços de pedra voando por aí.

Sentindo uma dor no seu braço, foi ver o que aconteceu, e trancou o maxilar. Na parte da armadura, várias partes esmagadas, estilhaços presos, e sangue pingando.

Sabendo estar em perigo, focou a frente, o causador disso. Um Lumbre de dois metros e meio, seu corpo grande e forte. Engolindo em seco, sabia na hora ser o tipo diferente, melhor.

Sacando a sua espada, a mente corria, considerando o que fazer. Antes de ter tempo de fazer qualquer coisa, o monstro virou a cabeça para ele, e erguendo um braço, contraiu, adotando uma forma de canhão.

Reconhecendo o ataque, e também sabendo ser incapaz de desviar, cerrou os dentes fortemente. Erguendo a mão livre, pingando sangue, reuniu o tiro de energia.

Ao invés de um dedo, usou três, e mal tendo os formados, disparou, no mesmo momento do monstro.

Rasgando o ar, e a pequena distância, os dois se chocaram, causando uma explosão, fazendo o vento se tornar violento, arrancando galho e levando consigo objetos no chão.

A força foi grande, e San só deixou ser levado, querendo pegar distância desse ser. Voando aleatoriamente, bateu as costas contra uma árvore, tirando o ar dos seus pulmões.

Recuperando o seu estado, o monstro havia sumido no ar, nem rastro sobrando. Em segundos, um par de membros apareceu de trás da árvore, o prendendo firmemente.

Seu corpo era apertado, esmagado, e o único motivo de ainda continuar consciente e vivo: seus ossos tão duros quanto ferro. Sabendo estar em alto perigo, liberou seu poder, só deixando.

A telecinese foi ativada, e sons de estalos da madeira soaram, incapaz de a arrancar, mas a força de esmagamento reduziu, e levemente liberto, ergueu as mãos, agarrando a lama.

Carregado de raiva, a pulseira no seu pulso tremia fortemente. Só permitindo do seu poder sair, nem sabia qual usaria, e de repente uma descarga elétrica fugiu das suas mãos, correndo no corpo.

Soltando a sua energia inteira, tendo demorado tanto tempo para guardar, e faltando tanto para estar cheia, paralisou levemente o seu oponente.

Liberto das garras do Lumbre, se afastou dali. Sabendo onde o inimigo estava, juntou o máximo de energia na sua mão, dispersando os dedos, formou uma bala de energia em potência máxima.

Só soltando, a velocidade foi levemente reduzida, porém, o monstro continuava paralisado, e a bala de canhão atingiu primeiro a árvore, a atravessando e acertando o alvo.

Um grito de gelar os ossos veio do monstro, se contorceu bastante, e então caiu, seu corpo reduzido a somente um par de olhos gosmentos e feios.

De joelhos na terra, a respiração de San era acelerada, ofegando e puxando ar. Mesmo a sua essência ter crescido bastante, fazer uma bala desse tamanho o desgastava bastante, o forçando a precisar de repouso e descanso.

A sua cabeça doía bastante, forçando a manter silêncio, tentando recuperar o seu estado, sabendo ser horrível demonstrar fraqueza, principalmente nessa situação.

Adotando uma expressão irritada, seus dentes rangiam. Virando a cabeça ao topo de uma árvore perto, encarava fixamente Max, já querendo acabar com ele na hora.

— Max!! — Tentava controlar a voz, esconder a vontade de matar, em vão.

Pulando dos galhos, o amigo forte espantou as folhas do cabelo, sua expressão uma confusão, tanto de decepção quanto animação.

— Eu entendendo, aquele bicho era fraco, mas nem uma amostra do seu poder?

Confuso, San acreditava firmemente na loucura do colega.

— Eu vou te matar.

— Acredito nisso, bem, que vai tentar, é claro.

Sem paciência, deu um passo em frente, segurando o cabo da sua cimitarra.

— A qual é, acha mesmo capaz de me derrotar nesse estado? Fraco e baixa essência. No entanto, pensando bem, pode vir, e dessa vez usa toda a sua força.

Parando no meio do processo, pensava no que Max tava falando.

Notando isso, Max sorriu de leve, e disse:

— Vamos lá, usa toda a sua força, e quanto falo em toda, me refiro àquela máscara sinistra.

Um arrepio percorreu seu corpo inteiro, os movimentos paralisaram, igual uma estátua, até parou de respirar, e no seu pulso, a pulseira antes tremendo, imitou o dono.

Sua mente agia em uma velocidade nunca vista, seus pensamentos funcionando em um ritmo extremamente confuso, procurando mentalmente cada pedaço de informação falada e o que falou para causar suspeita.

— Máscara? — Tentou, esperançosamente negar.

Balançando a cabeça, Max falou:

— Qual é, diabo que ri.

Já era, conhecia seu segredo, das mortes, e o que mais enchia sua mente era do que fazer, e sabia, instintivamente. Nada de regra, culpado ou ética. Sua vida estaria acabada no momento revelado dessa informação.

Independente da essência um pouco baixa, o corpo dolorido, um cansaço o dominando, a adrenalina corria no seu corpo. Fazendo um dos movimentos mais rápidos da sua vida, lançou a espada em direção ao pescoço de Max.

O colega desviou o pescoço, soltando um assobio animado.

— Calma ae cara, tá precipitando demais as coisas.

Ignorando as palavras dele, avançou, cortando em cada parte sensível do colega, nos pequenos pontos vitais e críticos, e infelizmente o seu oponente desviava em uma agilidade impressionante.

Aumentando o nível, San não assegurava mais, e imediatamente começou a usar seus poderes.

Encontrando uma oportunidade, mirou no estômago de Max, que ia desviar novamente, no entanto, seu corpo agiu sozinho, flutuando no meio do ar.

A lâmina curvada cravou, tirando uma grande porção de sangue, respingando. Não parou aí, subiu em direção ao peito, pretendendo o estripar.

Pela primeira vez, reconhecendo o perigo, Max ficou sério, estendendo as mãos, parou a lâmina, as garras crescendo e olhos brilhando.

Soltando a sua arma, San pôs a mão na frente do rosto de Max, e uma explosão de energia disparou, o desorientando. Sacando uma faca da sua bota, mirou direto no pescoço.

Pressentindo o perigo, usou os músculos da sua perna e deu um pulo recuando, disparando metros. San só apontou os dedos e disparou outro tiro de energia, esse levemente mais fraco, contudo, o acertando e desequilibrando, derrubando.

Indo em frente, viu o companheiro agir em segundos após caído. Tirando a cimitarra da barriga, a segurou, e a olho nu, o sangramento começava a desacelerar.

Vendo o seu atacante se aproximando correndo, ergueu as mãos em rendição, gritando:

— Espera! Eu não vou contar a ninguém.

Derrapando na lama, San observava Max, considerando qual seria o próximo ataque, pretendendo ser letal. O seu oponente viu isso nos seus olhos, e já adiantou falando:

— Eu só te falei da máscara pra conversarmos.

Em dúvida, San já sabia o que fazer, mas esperou para ouvir.

— Tá legal, deixa eu falar. Queria ver o poder da máscara de novo, e o fazer lutar contra aquele monstro foi o jeito mais fácil na minha visão.

A mente de San descartava as partes inúteis e foi logo para o cerne da questão.

— De novo?

— É, sabe, gostei da nossa luta, e queria repetir isso.

— Poderia ter me pedido na academia.

Max balançou a cabeça.

— A outra luta.

Não importava o quanto San pensasse, era incapaz de lembrar de outra luta, só deduziu do colega estar louco.

Vendo o rosto confuso do amigo, Max sorriu levemente.

— Meu disfarce deve ser ótimo. San, nós somos iguais, e pra provar que nunca, na vida inteira, vou revelar o seu segredo, nada mais justo do que conhecer o meu.

Recuando um passo, jogou a espada de volta a San, que a pegou em um movimento, cuidando o que Max iria fazer.

A uma pequena distância, esticou seu corpo, e subitamente começou a mudar. Os músculos cresceram, completamente diferente do normal da sua habilidade. Os ossos instalaram, sua altura cresceu, superando os dois metros. Pelos surgiram no corpo inteiro, as garras cresceram e o rosto mudou de humanos a animal. Seu focinho esticando, as presas afiadas saindo, e os olhos incrivelmente amarelos.

San ficou paralisado, os olhos arregalados, incapaz de sequer falar. Reconhecia essa forma facilmente, atormentando uma parte dos seus pesadelos. Esse era o lobisomem responsável de o atacar na missão de matar lobos, quase matou seu grupo inteiro, e por causa dele, usou pela primeira vez o poder da máscara.

Na sua frente, as roupas de algum jeito inteiras. Max, ou o lobisomem, exibia um sorriso sinistro, e sem sinal de perigo, semelhante a ver um amigo, um parceiro, um igual.



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