Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 2

Capítulo 101: Aprendendo

No meio de um mar escuro, San observava a lua de sangue, mãos agarrando no seu corpo, apertando e puxando. Os gritos eram tantos, impossível de diferenciar.

Tendo passado nessa condição por horas, já tinha acostumado aos berros nos seus ouvidos, sendo igual a um som de mosquito na orelha, só um incômodo que logo desapareceria.

“Lunaris, o meu sobrenome vem da lua. Minha mãe dizia que ela adorava esse nome, ainda que não fosse importante ou pertencesse a uma família poderosa, e gostava ainda mais por nunca ter mudado, já que o do seu marido era um procurado.”

As memórias passavam na sua mente, de vez em quando seu rosto se contraia de dor ou incômodo, suprimindo e tentando acostumar sua mente e físico para isso.

Nos seus olhos as cenas passavam, de uma mulher linda brincando e rindo juntos, tocando um piano, correndo nas ruas. As memórias eram lindas, quase o fazendo desejar passar a vida nisso.

“Eu lembro de ter visto na internet uma vez, que as pessoas antigamente acreditavam em várias coisas estranhas, e uma dessas falava especificamente da lua. No alto do céu, intocável aos humanos, só sendo possível vê-lá, causando loucura aos seus adoradores.”

Virando o rosto e vendo os mortos gritando na sua cara, uma parte dentro de si começava a acreditar na lenda da lua provocar loucura, o próprio San sentia seu estado mental ruim.

“Olha quantos mortos, me querem, me odeiam. Não os culpo, deveriam. Sou seu assassino, trancafiei suas almas dentro de mim, e continuou vivendo a minha vida. Desde quando fiquei tão insensível a isso? Sentia ódio e nojo só de pensar, e agora dou de ombros, fingindo ser algo normal. Estou no caminho certo de buscar a força?”

Sentindo sua mente vacilar, na sua visão, a lua vermelha vinha ao seu rosto, chegando perto, tornando seus olhos um puro vermelho, sendo arrastado para baixo, para a água negra.

Abrindo os olhos lentamente, vislumbrou o teto do seu apartamento, sujo e algumas manchas de mofo preso. Sorrindo fracamente, suprimia as lembranças nos seus sonhos.

Ficando de pé, esticava seu corpo, ouvindo o som de estalar dos ossos. Tendo terminado isso, deu o primeiro passo, e de repente, sua perna perdeu a força.

Incapaz de compreender, caiu de cara no chão, batendo a cabeça no piso. Soltando um pequeno grito, xingava em voz alta. Ainda no meio da sua dor, apoiou a mão na cama, sentando nela.

Novamente, algo estranho aconteceu consigo, uma dor de cabeça enorme. Respirando pesadamente, apertava o crânio, olhos arregalados e incapaz de permanecer na sua posição, o equilíbrio prejudicado e a dor insuportável.

Dessa vez impediu de ir em frente, caindo de costas no colchão duro. Sendo atacado por uma dor enorme, se encolhia e esperneava, soltando gritos constantes.

Do outro lado da cidade, na academia Anastasia, Garmir, deitado na cama de San, tampava as orelhas com as patas, variando de raiva a dor, o ar ao redor aquecendo rapidamente, tirando a umidade do quarto, os papeis em cima da mesa soltando fumaça e as cortinas disparando faíscas.

Para a sorte do Jason, passou a noite fora, entediado de ficar confinado nessa escola, uso o charme de vampiro e boa fala para arrumar diversão.

De volta no seu apartamento, San suplicava para parar. As veias na sua pulseira cresciam, escurecendo, e sussurros vinham:

— Consigo acabar com a dor, me dê uma chance.

No meio da sua agonia, considerou seriamente, só para acabar. Subitamente, uma voz veio do seu pulso, o relógio inteligente finalmente falando:

— Encontrei! Demorou um pouco, mas sei como parar.

Sacro começou a vibrar, tremendo. Fora da visão de San, a energia da sua casa caiu, desligando os eletrodomésticos. Em seguida, os vizinhos, o prédio, a vizinhança inteira.

O som diminuiu lentamente, dando uma pausa a San, podendo finalmente respirar de novo. Tirando as mãos das orelhas, esperava encontrar sangue, ao invés disso tava normal.

Aquele barulho era ensurdecedor, tão alto quanto várias caixas de músicas enormes nos seus ouvidos tocando no barulho máximo. Ainda assim, seus tímpanos tavam normais.

Sem entender, Sacro o alertou rapidamente:

— Rápido, temos pouco tempo. Se sente no chão, cruze as pernas e feche os olhos. A dor pode voltar a qualquer momento.

Só de pensar naquele som de alguns segundos atrás, San obedeceu e sentou no chão, cruzando as pernas. 

— Controle a sua respiração, deixe sua mente vazia.

Respirando fundo, soltava o ar lentamente, e em um período de tempo desconhecido, agia normalmente, como se estivesse meditando ao acordar.

Em segundos, o som ensurdecedor voltou, assolando seus ouvidos e transformando seu estado tranquilo em perturbado e instável. Independente da dor, manteve a posição, percebendo claramente estar em um nível menor.

Passando longos minutos, achando que passou horas, o som sumiu novamente, abafado. Abrindo os olhos, respirava pesadamente, ofegante, e suor escorrendo da sua pele.

— Por favor, me diz que isso acabou.

— Infelizmente, ainda é só o começo. — A voz de Sacro o atingiu feito uma faca, só querendo dormir novamente. Ao menos lá ele poderia pensar.

— O que diabos foi isso?

O sacro processou e rapidamente explicou:

— A sua habilidade roubada se ajustou no seu corpo durante a noite, e acordando essa manhã, a ativou involuntariamente.

Entendendo, arqueou as sobrancelhas. Lutou contra o dono desse poder, sabia das suas capacidades, foi vítima das dores horríveis e disparos de raios.

“Eu confundi na hora de absorver a habilidade? Peguei a errada?” Após deliberação cuidadosa, descartou essa ideia, sabendo ser impossível, nem bêbado e sob efeito de remédios erraria. Havia uma clara diferença em cada poder, sua energia, o caminho, e ainda mais, sonhou com Francis naquele mar escuro nessa noite.

— Pode me explicar a habilidade?

— Claro. — Sacro disse simplesmente, já esperando isso. — Habilidade de classe épica, capaz de absorver eletricidade ao redor e armazenar no seu corpo, para quando quiser usar, estiver à disposição.

Gostando do que ouvia, admitia ser interessante e até surgiu uma ansiedade em testar. O único problema era o som irritante vindo do nada.

Sabendo dessa ser a principal curiosidade do seu dono, Sacro explicou:

— Para absorver a eletricidade, primeiro deve saber onde encontrar, e por isso desenvolveu um certo instinto desses itens.

Compreendendo, sua mente rapidamente começou a funcionar de verdade, livre de interferências ou dores, pode usar suas capacidade de raciocínio.

Repassando cada momento desde abrir os olhos, pensou detalhadamente, buscando estranhezas, e encontrou pequenas coisas passando despercebidas.

Ao levantar da cama, seus ouvidos deram um estalo, nada demais, porém, usando os conhecimentos adquiridos, teorizou ser os seus ouvidos captando a eletricidade perto, buscando.

Em seguida, caindo no chão, seu relógio emitiu uma energia estranha, e no meio da sua dor, os olhos focados em outras coisas, passou despercebido.

Dessa vez ele buscou na memória e lembrou ser uma onda de energia preenchendo o seu quarto, casa, prédio e além. Acenando, olhou ao seu redor, e os olhos captaram pequenas novidades.

Os sons, antes aterrorizantes, ficaram abafados, e procurando no seu quarto, um tipo de barreira formada envolvendo, impedindo de o atingir.

“Interessante, consigo ver os sinais de energia vindo na minha direção, correndo na casa e ao redor. Treinando meus olhos, devo conseguir ver mais.”

Considerando as capacidades dos seus poderes, abriu um sorriso animado, reconhecendo ser uma habilidade incrivelmente boa se usado direito.

Por exemplo, de acordo com as teorias de San, se alguma hora o gravassem, poderia seguir o rastro. Nisso, juntando ao poder da névoa, saber a localização precisamente das pessoas, que nesses tempos todos usam relógios, seria fácil.

“Francis era um idiota. Focou somente na força, provavelmente suprimiu esse lado, achando ser um problema, efeito colateral. Valeu, tenha certeza, serei um melhor dono desse poder.”

— Quanto tempo essa barreira pode ser mantida?

Sacro manteve silêncio por um tempo, e respondendo, sua voz carregava uma leve dúvida na sua voz robótica:

— Consegue ver a minha barreira supressora de efeitos eletromagnéticos?

— Sim, e deveria pensar em nomes melhores.

Recuperado da sua surpresa, Sacro respondeu:

— Posso manter até as minhas baterias durarem, e recarrego na luz solar.

— Muito bom, dá pra eu aprender a pelo menos suprimir antes de andar por aí.

Sentando novamente de pernas cruzadas, fechou os olhos e falou a Sacro:

— Libere um pouco.

Obedecendo, a barreira perto de San afinou levemente, e os seus ouvidos foram atingidos novamente, dessa vez reduzido consideravelmente.

Ainda incomodando, apertou o maxilar. Estando sozinho e desconhecendo pessoas capazes de o orientar, teve de descobrir seu método sozinho.

Demorando durante horas, ocasionalmente desejava parar e desistir, no entanto, sua persistência e curiosidade impedia disso, sabendo ser um problema para o futuro.

Já passando do meio-dia, San ficou nessa durante o dia inteiro, e só quando o sol começou a sumir no céu, dando espaço à noite repleta das luzes dos prédios, nada de estrelas ou lua.

Abrindo os olhos, respirou fundo, abrindo um sorriso, engoliu em seco.

— Sacro, pode liberar a barreira.

Em um instante, o seu quarto foi liberado, contudo, San tava normal, sua expressão firme, prestando atenção no mínimo detalhe.

Erguendo os braços em alegria, um sorriso enorme era exibido no seu rosto. Finalmente conseguiu controlar a parte de suprimir os sons nos seus ouvidos.

A parte da sua visão ainda era o de menos, só era meio estranho ver coisas que os outros não vinham. Linhas saindo de eletrodomésticos, relógios e carros, podendo, se quiser, os seguir e descobrir a sua origem.

“Bem, a definição de um louco é ver o que os outros não conseguem.” Escutando sua barriga roncando enormemente e uma vontade de ir no banheiro, foi correndo, alegre demais, despreocupado de ter perdido um dia, achando ter demorado muito.

Sacro, no seu pulso, estava travado em uma tela, seu processamento agindo em uma velocidade enorme, calculando e tentando prever os resultados dos eventos.

Tantas variáveis dificultavam, e internamente, Sacro mal conseguia suprimir a surpresa dentro do seu sistema. A velocidade de San foi impressionante, dominar a habilidade de suprimir os sons da eletricidade superou em muitos as suas expectativas.

Dentro da sua mente, queria falar com o seu dono, o parabenizando, falando dos seus efeitos impressionantes. Contudo, sabia ser incapaz disso, seu criador o obrigou a suprimir esses desejos, temendo do filho ser um convencido.

Esse era só um dos lados da mente de Sacro, o segundo escrevia palavras rapidamente em um bloco branco. É uma mensagem, feita às escondidas.

Na mensagem dizia:

“Alvo de codinome Santiago apresenta problemas de controlar sua raiva. A máscara demoníaca tenta entrar na sua mente constantemente, o tentando a usar seu poder, a força corruptora até forçando passagem no corpo do alvo em momentos de fraqueza.

“Também foi notada a estranheza da máscara demoníaca, evitando matar seu alvo, uma clara diferença das mortes rápidas dos seus últimos hospedeiros. É solicitado e recomendado intervenção, do contrário, o demônio selado dentro dominará o corpo de Santiago, e se isso acontecer, terá a capacidade de roubar poderes, e misturado ao seu próprio, será um desafio imenso o impedir, até o eliminar seria tão difícil quanto, sendo necessário exterminar a cidade inteira.”

Sendo enviado a mensagem, Sacro manteve seu estado impassível, observando uma comida sendo feita por San, e os cálculos sendo feitos na sua mente constantemente.

Do outro lado da cidade, longe do bairro pobre, a academia Anastasia permanecia banhado pela escuridão, as luzes de postes iluminavam as ruas.

No entanto, longe das luzes, dos olhares dos supervisores, uma mulher tava no meio da floresta, seus cabelos castanhos presos, olhos afiados apreensivos. Usava as roupas escuras do uniforme da academia com uma listra vermelha passando, sendo propositalmente mais apertada que o normal para atrair atenção.

Seu rosto era completamente diferente do requintado e belo exibido para as outras pessoas. Apresentava raiva, nojo, e nervosismo, roendo a unha grande do dedão.

O motivo desse estado? Durante dias, meses, Laurem tem sentido um olhar sobre ela, escondido nas sombras, esgueirando e observando. Ela não era burra, sabia o suficiente para saber o culpado disso. Santiago, um maluco que conseguiu sobreviver a um ataque de monstro à cidade.

— Seu merda, verme imundo, cachorro!

Soltando constantes insultos, o estado mental de Laurem tava claramente afetado, o nervosismo de ser observada, tendo que tomar cuidado nos seus movimentos, sendo forçada a atuar sempre.

“Trabalhei muito pra chegar aqui. Me infiltrei nos piores lugares e os traí, e depois de anos, me recompensaram uma vaga nessa academia, só por causa do meu sangue me negaram tanto, e agora aquele merda quer tirar isso de mim. Tudo por causa do Leonardo, aquele merda, tão preocupado com as irmãs e seu amigo. Eu tive que o manipular pra começar aquela gerra, senão, nada aconteceria.”

No meio dos seus pensamentos, nem um único som a alertou, mas uma aura cobriu seus arredores, a sufocando e dificultando sua respiração.

Forçando a manter a calma, evitou procurar, sabia ser inútil. Em poucos segundos, escutou passos pesados, só porque ele queria ser escutado.

E ainda assim, sua velocidade assustadora incapacitava de definir a localização, sendo um vulto. Umedecendo os lábios, falou:

— Obrigado por vir, é uma honra minha falar com você.

Só o som do vento respondeu, e continuou:

— Quero pedir a sua ajuda, tem uma pessoa que pode o interessar. Ele é forte, maluco e sedento por sangue, bem o seu tipo.

— Quem? — Uma voz veio da escuridão, grosa e incapaz de pertencer a um humano.

Engolindo em seco, sabia que essa seria a sua melhor escolha, demorou muito para arrumar informações desse ser, e iria arriscar tudo.

— Santiago Lunaris, presidente do clube de controle de essência. — Procurando na memória, nem hesitou em falar. — Dizem ter uma namorada vampira, se o senhor quiser, pode a pegar também, talvez se divirta.

Um rosnado veio do meio da floresta, irritado.

— Posso ter a aparência de um animal, mas me interesso pela luta e sangue, e não ago como um.

Acenando em concordância, ficou em silêncio, aguardando a resposta dele.

Aparecendo pela primeira vez na frente de Laurem, viu um ser de mais de dois metros de altura. Olhos amarelos fortes, um corpo musculoso e repleto de pelos escuros, presas afiadas, um focinho estendido e orelhas pontudas.

Se San ou qualquer membro do seu grupo estivesse ali, reconheceriam esse lobisomem facilmente, o causador de tanta dor. A encarando por um tempo, vendo o suor cair do seu rosto e as pernas tremerem.

Ele abriu um sorriso grande, e por fim falou:

— É uma pena, se fosse qualquer outro, até o mataria. Entretanto, San é divertido, tenho planos para ele, afinal de contas, somos parecidos, quero ver até onde ele vai. Claro, não vou te impedir de tentar, é assim na floresta.

Sumindo em um vulto, deixou Laurem no meio da floresta, mordendo fortemente o lábio, derramando sangue. “Ótimo, até um monstro daqueles considera Santiago um igual, então eu mesma vou o matar.”



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