Volume 1
Capítulo 41: A Proposta
San olhava os lados, curioso do lugar. Era uma sala desconhecida, o grupo de sequestradores — incluindo o guarda-costas careca — permaneceu no comodo, todos de pé atrás do sofá de Eugene, sem mover nem um milímetro e a cabeça erguida.
San falou primeiro:
— Então, Eugene, que eu me lembre, me resta uns dias até o pagamento da parcela.
Recostando no sofá, abriu um sorriso revelando uns dentes de ouro e disse:
— É verdade. O assunto é outro, por isso te chamei.
— Chamou? Temos significados diferentes dessa frase.
— San, meu garoto. Ouvi umas coisas sobre você, fiquei curioso, e mandei que te testassem.
— Tendi, os rumores já espalharam. O quanto sabe?
Abrindo um sorriso, ficou animado e disse:
— Detalhadamente. O motorista é um dos meus soldados, um dos melhores, me contou enquanto vinham e os meus soldados mercenários contaram histórias.
Tendo uma teoria pra direção que essa conversa estava indo, San levantou a cabeça, confiante.
— Eugene, já disse inúmeras vezes. Prefiro matar monstros a trabalhar para ti.
Batendo palmas fracamente, concordou com a cabeça.
— Perspicaz. Sim, quero que trabalhe para mim.
— Já recebi essa oferta, e recusei.
— Teimoso. Me lembro de quando nos conhecemos, era apenas um garoto capaz de tudo por dinheiro. Tem um tempo que penso, desde pequeno, você sempre tenta ganhar dinheiro, a vida inteira numa dívida.
— Onde quer chegar?
— Imagine só, se livrar desse fardo. Livre das preocupações ou medo.
— É o que todos querem.
— Aham, e estou oferecendo a você.
“Liberdade, sonhei com isso a anos. Infelizmente, duvido ser fácil. Contudo, é estranho, tem poder de chamar quatro mutantes para me testar, por que eu?”
Demorando a decidir, tentou soar indiferente.
— A proposta?
— Um roubo, simples assim.
Incapaz de segurar, San começou a rir. O grupo de pé, o encarou incrédulo. Nessa cidade, ninguém ria de Eugene, só se quisesse ser morto.
Contra o que todos esperavam, Eugene riu junto, quase chorando. Voltando ao normal, San falou:
— Sério, me conta qual a pegadinha?
— É real, juro… — falou recompondo a postura.
— Você, deveria ser o melhor em saber, roubo não é pra mim.
— Ei, está se subestimando, era uma criança, e foi bem. No entanto, agora é diferente, o item, necessita das suas habilidades.
— O que é?
— Só posso falar após aceito.
— Ah tá. Dá pra partir logo pro fim? Me fala o necessário.
— Ai, ai. Bem, gosto de um suspense. A informação é: o item é uma fonte de energia poderosa, capaz de energizar uma cidade. E eu o quero.
— Se algo assim tivesse em Veridiam, eu saberia, tá em outro lugar. E a distância?
— Bem longe. Se a pegar, todas as suas dívidas serão liquidadas.
— Por que eu?
— É forte, jovem, leal, e o melhor, com muito a perder.
San ficou quieto, considerando. “Realmente tentador, e seria incrível poder finalmente economizar.” Pensando nos prós e contras, considerou.
Mesmo demorando, ninguém o atrapalhou; sabiam que uma escolha dessas tinha de ser tomada pela pessoa. Soltando um suspiro longo, respondeu:
— Foi mal, viajar por semanas ou meses, me arriscar junto a mutantes e talvez morrer, prejudica bastante a proposta.
Falando isso, San preparou. Poucos recusavam uma proposta de Eugene, se mandava, era na hora, recusando, era morto ou pior.
De novo, indo contra todos esperavam, tava calmo, levantou e falou numa voz tranquila.
— Tudo bem, pode ir.
Surpreso, tentou conter, em vão e falou:
— Simples assim?
— Forçar seria inútil, ameaçar também. Quero cooperação, então vou arrumar um objetivo mais tentador. Já tenho uma ideia.
Levantando, o escoltaram para fora. Eugene e seu guarda ficaram; o segurança perguntou:
— Se me permite, por que está procurando convencê-lo? Podemos só ameaçar.
— Típico de um mutante, como se fosse resolver. Tem que usar o cérebro se quer ser um homem de negócios. Quando uma pessoa é ameaçada, tem duas escolhas.
Parando, bebeu um gole de chá.
— A primeira, realiza o que foi ordenado de modo desesperado, podendo chamar atenção. O segundo, rebelar, decidir que já deu e arruinar o plano.
— O senhor acha que Santiago é a última opção?
— Sim. Eu o conheço desde os seus doze anos, o vi crescer, amadurecer e melhorar. Sei o que aconteceria, mas a história muda se fizer por vontade própria. Estando realmente determinado, faz de tudo para completar a missão.
— Com o que pretende convencê-lo?
— Boa pergunta, recentemente, realizei umas pesquisas. Se acertar, será o destino falando comigo.
***
Diferente de antes, algemado e em direção à van; só o escoltaram na casa. Olhando os lados, sabia que era um dos vários móveis espalhados na cidade no nome de Eugene.
Na frente da porta, viu a rua, pessoas andando aleatoriamente. Prestes a sair, Charle, o líder dos sequestradores, falou:
— Foi mal, pelo jeito que te trouxemos.
— De boa, tavam seguindo ordens.
Na rua, considerou a proposta. “Ele me quer pra essa missão estranha e tá determinado. Merda, quando fica assim, arruma uma forma de convencer a pessoa.” A proposta era tentadora, se estivesse em tempos melhores, aceitaria, independente dos riscos.
Entretanto, com os acontecimentos recentes: Leo, Salvadores, Gus, ataque de monstros, esses problemas, preferiu recusar; havia assuntos importantes a focar no momento.
Voltando em casa, — ainda vazia. — ficou na frente da TV, sentado ao lado de Garmir, pensava na maneira dos seus dias tornarem tão agitados.
“Acho que foi ao ganhar esses poderes, matei Simon e os caçadores de mutantes apareceram, a partir dai, só ladeira a baixo.”
No silêncio da sua casa, Sacro aproveitou e perguntou:
— Estou curioso, como conseguiu a dívida?
— Por quê?
— A, conhece o ditado: entender o passado para compreender o presente.
Considerando, escolheu contar, pra quem um relógio no seu pulso falaria?
— Foi simplesmente o pior roubo da minha vida, e erro.
***
Sentado na calçada, San, mais jovem, um garoto de doze anos, observava uma mansão bonita, o quintal bem aparado, empregados percorrendo e seguranças.
Vestindo uma camiseta manchada, calças rasgadas e tênis cheio de cola prendendo. Um cabelo grande, faltando centímetros até os ombros e olhos selvagens, cuidando os movimentos da casa.
Passando horas ali, saiu, tendo recebido vinte créditos de pessoas o imaginando ser um mendigo. Voltando ao bairro pobre, caminhou entre moradores de rua, outras crianças tentando o assaltar e adultos bêbados.
Frente a uma casa caindo aos pedaços, feita de tijolos desprendidos e um teto de lona, bateu levemente na porta desprendida.
Segundos depois, arrastando para o lado a porta, viu Leo. Seu cabelo loiro cortado curto, as roupas levemente melhores e centímetros maior que o amigo.
Abrindo um sorriso, convidou a entrar. Por a casa ser pequena, em poucos passos e já estavam na sala e cozinha. Pegando duas cadeiras de madeira frouxa, sentaram-se.
— Qual é a boa? Arrumou um emprego? — Leo perguntou animado.
— Perto, bolei um novo plano.
Ao ouvir essas palavras, seu corpo gelou, falando na voz amigável, respondeu:
— San, seus planos, bem, na maioria das vezes, dão errado.
— Eu sei, porém, esse é melhor, tô arrumando há um tempão, já tem o necessário. Só falta um parceiro.
— Nem vem, vai dar errado de novo e a gente vai se ferrar. Posso te arrumar um trampo se quiser.
— …Não tenho tempo, preciso do dinheiro agora. Já arrumei um comprador para o item.
Ficando em silêncio, Leo analisou o amigo, o estado, as mãos praticamente sem unhas, batendo pé compulsivamente.
— Tá tão ruim assim?
Demorando a responder, colocou a mão no rosto e assentiu.
— Tá bem, te ajudo.
Animando de novo, San puxou a cadeira par perto e disse:
— Valeu! O plano é esse, vamos entrar de empregados, já conseguir as roupas. Agimos igual aos nossos semelhantes e subimos até o segundo andar, dentro de um quarto, tem um jarro do tamanho da minha mão, pegamos e saímos.
— Só?
— É.
— E os seguranças?
— Só se preocupam em vigiar desconhecidos, vamo atravessar fácil.
— E vão só ignorar dois garotos aparecerem?
— Vamos nos apresentar sendo novatos.
Coçando a cabeça, Leo concordava ser um bom plano, tinha tudo para dar certo, e combinaram de tentar no dia seguinte.
Caminhando eretos, usavam roupas de empregados, assaltadas por San. Nos portões de metal, o nervosismo cresceu, medo de serem descobertos pelos dois seguranças grandes assegurando armas.
Passando ao seu lado, um encarou San, e ele só seguiu em frente, repetindo mentalmente: “Sou apenas um empregado normal, nada aqui.”
Andaram alguns passos e ninguém os atrapalhou, abriram um sorriso e quase pularam de alegria. Se contendo, chegaram na porta e uma empregada velha os analisou de cima a baixo.
— Quem são vocês?
— Os novos contratados, iniciamos hoje.
Em dúvida, os olhava com suspeita.
— Onde devemos começar? — Leo perguntou animado.
— Limpem os móveis.
Ela saiu, e seus passos ecoaram na casa. Ambos suspiraram aliviados. Procurando, acharam panos simples e limparam.
A mansão era enorme; cada cômodo tinha algo de limpar, o cansaço foi acumulando, e a ansiedade de terminar aumentando. Até que, a mesma mulher que os atendeu os mandou até o segundo andar.
Obedecendo, veio a segunda parte do plano. Leo ficaria nas escadas, limpando os degraus ou corrimão, avistando qualquer um subindo.
Esgueirando, San abriu porta por porta, somente uma fresta. Então, achou seu objetivo, um jarro pequeno, verde, repleto de desenhos contendo tempestades e uma tampa selando.
O quarto era grande, vários objetos se espalhavam e uma cama no canto ajeitada, em cima da cabeceira, o jarro. Sabia ser esse; o homem que mandou a missão de roubar, mostrou fotos detalhadas. Ao pegar na mão, sentiu um peso grande considerando o tamanho. Colocando sobre as roupas, ia embora; nesse momento, o seu telefone tocou.
Desligando na hora, sem nem saber quem era, andou até a porta e deu uma olhada fora, tranquilo. A passos lentos, alcançou a escada e seu amigo havia sumido. Contendo o medo, desceu até a porta.
A abrindo, uma mão fechou fortemente. Virando o rosto, deparou-se na empregada velha, os olhos diretamente em si, e abrindo um sorriso sinistro.
— É proibido pegar itens de quartos.
Nessa hora, San nem importou na idade da mulher e deu uma cotovelada na sua barriga. A ultrapassando, correu até a sala e passou em inúmeras outras empregadas; seu objetivo sendo a porta dos fundos.
Chocando-se contra as pessoas e derrubando no chão objetos, só queria sair. Ao abrir a porta e pôr um pé, o agarraram, sendo derrubado no chão e o jarro caindo na grama.
Olhando para trás, viu a velha, sua mão esticada em um nível inumano, o segurando fortemente.
Chutando e debatendo, tentou se libertar, mas a mulher vinha cada vez mais. Desesperado, agarrou o chão e arrastou o corpo.
A mulher aproximava, sorrindo assustadoramente, a boca esticada. Olhando rapidamente o jarro na sua frente, o pegou.
Subitamente, foi puxado até chegar na senhora. Quando o fez, a tampa prendeu em uma saliência; porém, a força da mulher era grande e o trouxe para perto.
San ficou de cara, segurando o jarro fortemente, assustado. Nessa hora, a mulher viu o objeto verde sem tampa. Em uma explosão, corpos nublados fugiram de dentro, obstruindo a visão de todos e se espalhando.
Se tornou um vendaval, a forma escura saiu da casa, indo até o céu e criando uma nuvem enorme, cobrindo a cidade inteira. A chuva veio logo depois, trovões e relâmpagos por toda a parte.
San olhava admirado de tamanha tempestade estar guardada em um pote; antes de fazer qualquer coisa, a empregada golpeou sua cabeça, o desmaiando na hora.
Vendo a chuva, seu rosto mostrava medo e preocupação.
San acordou com o constante barulho de água caindo, desconhecendo quanto tempo passou; deduziu ser noite pela escuridão, a tempestade continuava. Abrindo os olhos, viu-se amarrado a uma cadeira em um galpão velho, homens usando roupas pretas e detalhes amarelos ao seu redor, quietos.
A porta enorme foi aberta, e um homem acima do peso entrou, de terno caro e visão afiados. Analisando San, disse:
— Criminosos hoje em dia estão jovens. Sou Eugene, para quem trabalha?
San permaneceu quieto. Eugene fez um sinal, e o homem à sua direita deu um soco na barriga do garoto.
— Vamos de novo, para quem trabalha?
Calado, recebeu outro, mesmo assim, recusava-se a falar. Ganhando quatro socos e vomitado, fechando os olhos e desmaiando, teve seu rosto jogado água fria.
— Bem, aquele item era muito especial, capaz de criar uma tempestade fortíssima, foi caro e tinha planos, garoto. Posso te bater por horas, e saberei o que quero. Eu não gosto de matar crianças, então vou embora, e meus homens farão. Quer morrer assim?
Ser um dedo duro era horrível; o odiariam e negariam trabalho. No entanto, morrer seria pior.
— Recebi de um homem, usava um manto e sua voz era de velho. Me prometeu bastante dinheiro.
— Qual era sua altura?
— Sei lá, médio.
Prestes a perguntar novamente, um telefone tocou do bolso de um capanga, era o de San, que, por apenas relógios caros terem a opção de ligação, usava esse aparelho velho. Levando a Eugene, viu e desligou.
Continuando as perguntas, as respostas eram vagas, e o telefone tocava incessantemente. Cansado, Eugene atendeu, ouvindo, desligou e disse:
— Era do hospital, alguém está bem ruim.
Ao ouvir, San se desesperou, tentando soltar seu corpo, nem importando em machucar a pele no processo.
— Por favor, eu tenho que ir!
— Só após responder minhas perguntas.
— Eu imploro, só me deixa ir, manda me seguirem sei lá.
As perguntas vinham, e San respondeu velozmente, errando palavras e gaguejando.
— Falo onde moro, meu nome, tudo. Só me deixa ir.
Considerando, Eugene disse:
— Tá, se trabalhar para mim e, claro, pagar o estrago feito.
Nem importou, só concordou. Sendo desamarrado, partiu em disparada a porta, abrindo fortemente e correndo na chuva. O chão era escorregadio e a água deixava difícil.
Ignorando, só passou os mendigos na rua, vendedores apressados e avistou o hospital, gente andando de um lado ao outro.
Girando a porta giratória, só foi ao corredor, ignorando os gritos o proibindo, tentando impedir. Na porta do quarto, a abriu com força, o médico estava parado ao lado da cama, cuidando o relógio e anotando na sua prancheta, dizendo:
— Hora da morte: 19:45
Na cama, uma mulher de olhos fechados, seus cabelos vermelhos, antes de uma cor viva, mudaram para fraco. A pele, magra e pálida, lençóis cobrindo e aparelhos desligados.
— MÃE!!
San correu a cama, implorando aos gritos:
— Acorda, eu to aqui, cheguei!
De nada adiantava, em meio aos berros e choro, foi tirado pelos seguranças, precisavam levar o corpo.
***
— Nesse dia, fiz igual ao meu pai, a abandonei. Deixei a minha própria mãe morrer sozinha, em meio à dor.
Sacro falou rápido:
— A culpa é de Eugene, ele o prendeu.
— Não, o plano era meu… Quando a mente da minha mãe foi afetada, passava me confundindo com o meu pai, o chamando, e nos breves momentos de lucidez, me implorava para morrer, dar um fim na dor. Eu, sendo o egoísta que sou, negava, querendo ficar com ela o máximo de tempo, e nem isso fiz.
— Você era uma cri…
— Deu Sacro, quero dormir um pouco, depois, vamos até a base dos mercenários, Mercer quer falar comigo.