Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 1

Capítulo 40: 4 Contra 1

No meio da tarde e o sol alto no céu, San caminhava a passos pesados, murmurando:

— Vai vendo, depois se ferra e vem pedir ajuda.

Distraído em seus pensamentos, não notou que enquanto andava pela calçada, a rua era deserta, sem crianças brincando ou pedestres.

Chutando uma lata no chão, só percebeu algo errado ao escutar um som de pneu derrapando, freando fortemente no meio-fio ao seu lado.

Nessa hora, seus instintos gritavam problema, sua nuca ficou arrepiada, sentia ter cinco mutantes na van branca antes da porta ser aberta.

Eram três homens e uma mulher: um alto, um gordo, um baixinho e uma garota fina, como se mal comesse fazia tempo. Vestiam roupas pretas e detalhes dourados, combinando camisetas, calças e botas.

Ficando à sua frente, o gordo e o alto deram risadas, supondo terem um trabalho fácil. O maior falou:

— Nem resiste, vem pacificamente e sairá apenas com uns machucados.

— Quem são vocês?

— Há, ouviu, Charle? — o gordo riu do alto. — Foi muito gentil.

— Cala a boca, Tere, eu resolvo. Garoto, tamo tentando ser legal, então entra no carro de boas.

San observou cada um. Charle, o alto e cabelo curto estilo militar e rosto liso. Tere, gordo, alguns pelos crescendo no rosto e espinhas. O baixo, havia quinze anos ou mais, cabelo longo, desarrumado, e, no fim, a garota onde dava pra ver estar claramente assustada, virando o rosto, temendo gente aparecer.

“Tiraram todo mundo daqui, queriam privacidade. Tem um bom carro que é raro e estão confiantes. Será por estarem em maior número ou uma coisa diferente?”

Num momento, San pensou em fugir, correr desesperado e afastando dos problemas. Mas sabia que se o acharam uma vez, iriam novamente; talvez na próxima, estivesse com pessoas indefesas ao seu redor.

Erguendo as mãos, fez um velho truque aprendido na juventude.

— T-tudo bem, só não me machuquem.

— Há, eu disse. Esse garoto é um fracote, dinheiro fácil. — Tere comemorou. — Viu, Clarisse? Se amedrontou por nada.

— Podemos terminar logo? — Ela suplicou.

— Concordo, quero ganhar o dinheiro. — Charle suspirou. — Jeffrey, o prende.

— Manda o gordo, é o inútil entre nós.

— Que brigar, moleque?

— Pode vir.

Os dois se encararam, ambas as mãos nas cinturas, preparados.

“Caramba, qual é dessa demora? São os piores sequestradores que já conheci.” Cansado e prestes a esquecer o que ia fazer e atacar, o motorista da van buzinou.

— Tá, tá, chega, os dois. Tere, anda. — Charle interveio.

Indo protestar, a buzina tocou de novo. Emburrado, aproximou de San.

Esforçando-se ao máximo, deixou a voz fraca e tremendo o corpo.

— Ai, meu Deus, por favor. O que farão comigo?

— Vai logo, põe as mãos pra frente.

Tremendo, fez o ordenado. Charle, vendo o estado do jovem, acalmava-o, afinal de contas, só receberam ordens de o levar vivo.

— O nosso chefe está querendo falar com você, só coopere.

— Chefe? Sou inocente, nem me envolvo nisso.

— Deu de falar, vamos logo.

Tirando um par de algemas do bolso de trás e indo colocá-las nas mãos tremendo, subitamente, ficaram normais, e olhando nos olhos de Tere, deu um sorriso.

Sem entender, ia se afastar inconscientemente, mas o chute veio ágil demais e acertou nas partes baixas, em toda força possível.

Perdendo o fôlego, curvou as costas em um rosto abatido. Ajoelhando-se, recuperava o fôlego. Seus parceiros surpreenderam na mudança.

— Que merda é essa? — Charle gritou vindo no seu caminho.

— M-me desculpe, fiquei assustado e fiz assustado.

San, de mãos abertas, esperou. A uns passos de distância, uma força invisível soltou, acertando o homem, jogando-o para trás e batendo de cabeça no chão.

Independente de não entender como controlar perfeitamente sua telecinese, podia deixá-la soltar e jogar tudo em uma certa área longe.

Aproveitando estarem surpresos, correu até Charle para finalizar o trabalho. Passou Jeffrey em alta velocidade e chegando na sua cabeça, uma barreira transparente o incapacitou de avançar.

Virando-se a Clarisse, as mãos levantadas e apavorada. Ia avançar nela, porém, foi barrado por Jeffrey, que tentou cortá-lo com uma das suas adagas.

Ultrapassando centímetros do seu braço, se afastou. “Parece ter experiência e ia me cortar, preciso derrotá-lo rápido, os outros já vão se recuperar.”

Sendo um dia quente, não usava suas botas, onde sempre guardava a faca. É comum supor que dois mutantes andando juntos ficariam bem.

Em posição de combate, avançou ao ataque. Deu socos em todas as direções, ágeis e mudando o local de impacto. Baixos, ganchos, fintas, chutes. San variava muito enquanto lutava.

A batalha era estranha; o normal seria a pessoa das facas pressionar o desarmado, contudo, se mantinha ao contrário, o de mãos livres e chutes acertando golpes e desviando da maioria.

San o acertou na barriga, fazendo-o se abaixar e quase vomitar, pegou uma das suas facas e apontou diretamente a sua perna. A pouco de o acertar, uma barreira fez em sua volta, impedindo a faca de alcançar à pele. Ficando com raiva de Clarisse e querendo partir pra cima, uma rajada forte de vento veio, o jogando distante.

— Também sei jogar esse jogo. — Charle falou irritado.

San sabia que enquanto estivesse no chão, seria facilmente subjugado, então ao cair, levantou, ainda com a faca na mão, preparado para qualquer um vir.

— Merda!

Xingou alto enquanto via a cena à sua frente. De pé, em posição de luta, Tere num olhar mortal, a mão coberta de um soco-inglês, Jeffrey assegurando apenas uma das suas facas, Charle de mãos nuas, igual a Clarisse.

“Fui lento, hesitei, devia ter dado um fim.” Já que estavam prontos, usaria suas habilidades sabiamente. Primeiro Tere deu um passo em frente, irritado, e ninguém o parou.

San esperou pacientemente, prevendo o ataque. Ao abaixar o braço, mirando na cabeça, desviou, já cortando levemente a pele. Em seguida, conseguiu aproximar e apunhalou sua barriga.

Tere era um cara lento; nem teve velocidade de atacar, mesmo estando tão perto. San tirou a faca e afastou.

No entanto, na frente dos seus olhos, os ferimentos começaram a regenerar. Percebendo bem, todos eram mutantes. San tava confiante de derrotar pelo menos um no mano a mano; porém, contra quatro seria problemático.

Em um único pensamento, virou-se e correu em uma velocidade assustadora. Nada envolvendo uso de habilidades, só o puro treinamento e desespero para viver.

Compreendendo ser arriscado pra depois, preferiu os achar um a um e dar um fim nisso.

Correndo cinco metros, chocou contra uma parede invisível. Se virando, mostravam confiança, afinal de contas, tinham uma presa enjaulada.

Sabendo o culpado de incapacitar a sua fuga, apontou o dedo imediatamente e deu um tiro de energia em Clarisse. Os passou, a centímetros dos seus corpos.

Imaginando já ter ganho, ia comemorar, entretanto, refletiram o tiro por outra barreira, e dessa vez, ficou repleta de rachaduras.

Charle partiu pra cima, utilizando o vento para dar velocidade e chegar perto. Sem poder desviar, foi acertado precisamente na barriga e jogado contra a parede invisível.

Antes que pudesse levantar, uma mão grande e de soco-inglês ia esmagar sua cabeça, e desviou, rolando de lado. Deitado, apontou o dedo e atirou na cabeça de Tere, que só saiu fumaça e parou.

A luta tava ruim, desviando de um, outro o acertava. Um dos piores era Jeffrey, o garoto das facas; a cada corte que realizava, deixava San lento.

Correndo ao gordo, desviou de um soco vindo e derrapou no chão, passando embaixo das pernas.

Gastando bastante da essência, deu um tiro poderoso, acertando a parte de trás da cabeça de e o derrubando no asfalto. Abrindo um sorriso, os ataques de Charle e Jeffrey voltaram.

San desviava, e ao revidar, uma barreira atrapalhava. Lutou com unhas e dentes, desviando e atacando na mínima oportunidade. Gastava sua essência usando seus poderes, tentando derrubar um.

No fim, por conta da habilidade misteriosa de Jeffrey, tava tão lento que Charle usou sua velocidade, agarrando-o de trás e imobilizando. Havia um restante de essência, mas atingiu o limite.

O certo, conforme o médico, seria descansar uns dias até voltar a batalhas de vida ou morte.

Escolhendo relaxar, Charle e Jeffrey o prenderam com algemas mutantes, fortes e melhores que o comum. Levaram-no de volta pra van e o jogaram sem dó.

Entrando, tavam exaustos, só pra piorar seus estados, tiveram de carregar Tere dentro. San encostou contra a parede do carro. Vendo o mínimo movimento seu, ficaram em alerta.

Vendo que só estava sentando, acalmaram um pouco. Mesmo assim, o encaravam, preparados para partir a qualquer momento.

“Tá legal, quem é o cara que consegue pagar quatro mutantes pra me sequestrar? Se for ruim, vou dar um jeito de fugir.” Quando a ideia de fuga surgiu, sabia ser praticamente impossível no seu estado atual.

Fechando os olhos, concentrou na velocidade de recuperação da essência; para recuperar completamente, demoraria horas.

Enquanto esperava, ficou imóvel, balançando toda hora do carro virar. Aproveitando a viagem demorada, pôs em ordem um pensamento que o deixava curioso desde o começo do dia a ganhar sua habilidade:

“Sempre que to perto de uma pessoa, consigo sentir se é um mutante, até quantos são. Já experimentei, a questão é, quanta distância consigo o sexto sentido confuso?”

Esse pensamento veio a sua cabeça e deu uma pequena risada. “Realmente, meu poder é feito pra caçar mutantes.” O carro percorreu meia hora.

— Ufa, odeio essa van. — Comemorou Clarisse.

Charle, com cuidado, segurava na sua mão esquerda um pedaço de pano branco. Tentando soar tranquilo, falou:

— Vou colocar no seu rosto, sem resistir, ok?

— Tenho Opções?

Prendendo o pano envolta dos olhos, o tiraram ao ar livre. O cheiro continuava o da cidade, o piso era duro e liso, significando ser um lugar decente pelo menos.

O grupo andou por um tempo, Tere inconsciente, então ficou pra trás. Enquanto andavam, de ouvidos tampados, ouvia a conversa fracamente.

— Sabe a hora que te empurrou? Era vento?

— Tenho certeza que não, eu sentiria. Foi diferente.

— Ele é estranho. — Clarisse falou. — Lutar contra quatro mutantes e resistir bem.

— Verdade que o cara é bom, e admito, cometemos vários erros. Fomos arrogantes por estarmos em maior número, pegos desprevenidos.

— Viu como lutou comigo? Duas facas apontadas, e partiu pra cima, quase me derrotou. E aquele estilo de luta, mudando os ataques, visando acertar nas piores áreas e me distraindo nos falsos.

— É uma aberração, — a voz de Clarisse trêmula. — Durante a luta, tentava encontrar uma oportunidade, principalmente em mim, o golpe energizado. E os olhos, puro vermelho, vou ter pesadelos.

Pararam na frente a uma porta de madeira cara e desenhos detalhados de uma árvore dourada.

Entrando em uma sala luxuosa, dois sofás eram separados por uma mesa de vidro, café, chá e suco. Nas paredes, cabeças de animais espalhadas.

O forçando contra um dos sofás, o fizeram se sentar. “Mais confortável do que eu esperava.” Tirando a venda, revelou quem orquestrou tudo.

— Ei! Garoto, sinceramente, esperava que tivesse machucados piores.

Com o rosto desanimado, falou:

— Eugene, eae, de boas?



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