Volume 1
Capítulo 34: O Começo da Missão
O alvo era um homem, quase nos cinquenta anos de idade, sua barba já grisalha, bem cuidada. O cabelo era tão curto que beirava a se tornar careca. Tinha um corpo bem treinado e media dois metros de altura.
Afastando o olhar, disse:
— Olá, sou San.
Todos o analisaram de cima a baixo, definindo se valia a pena. San fez o mesmo. Havia outros dois desconhecidos além do alvo: um jovem pequeno, vestindo roupas finas e escuras, e uma mulher com um arco encostado na sua cadeira e nas costas uma aljava de flechas. Samanta foi em frente e apresentou os companheiros:
— Esse é Clay, nosso batedor. — apontou a um garoto pouco mais velho que San. — A outra é Gina, nossa arqueira. Por fim, temos o nosso bom velhinho Gus, o Tanker do grupo.
— Ei, estou muito bem para minha idade. — Se virando a San. — Soube que é um bom lutador.
— Bem, eu tento.
Os dois se encararam, só para Samanta falar de novo:
— Ache um lugar, vamos discutir o plano.
Pegando uma cadeira, sentou ao lado do Clay. Samanta explicou ser uma missão de explorar uma caverna recém-descoberta; se os monstros fossem fracos, devem ser eliminados.
Demoraria duas horas de caminhada, sairiam de manhã cedo e se juntariam na frente dos portões da cidade. Concordaram e logo discutiram sobre formações.
San se distraiu e ficou cuidando Gus. Por fora, era um homem legal, que pagava as bebidas dos companheiros e festejava alegremente. Mas numa investigação profunda, descobriu uns podres.
Um é que se aproveitava do seu tamanho e força abusando dos mercenários de classes inferiores. O segundo é um rumor raramente falado, difícil de encontrar e caro.
Há uns anos, Gus frequentava vários cabarés, um dia, uma das mulheres engravidou. Ao conversar com o pai, mandou matar o bebê, que ter um filho era um fardo.
A mulher se recusou, disse que iria cuidar da criança sozinha. Porém, Gus não gostou disso, e permaneceu quieto. Um dia depois, ela tava morta em um beco, o rosto desfigurado de tantas pancadas.
Quando San soube da história, achou ter o alvo perfeito. O problema era o cara ser bastante respeitado por outros mercenários; em questão de semanas, subirá seu rank a classe B.
E a cereja do bolo, um dos seus poderes é forte, beirando a classe épica. Ossos de ferro, a habilidade que torna praticamente indestrutíveis os ossos.
“Talvez eu tenha uma oportunidade de matá-lo nessa missão. O problema são os companheiros.” Perdido em pensamentos, ignorou ao chamarem seu nome; na segunda vez, descobriu ser o próprio Gus.
— Tá aí, garoto?
Se recompondo, disse:
— Desculpe, me perdi em pensamentos.
— Me fale da sua especialidade.
Vendo todos prestando atenção, falou confiante:
— Me viro no combate corpo a corpo, e ataques a distância.
— Distância? — Gina perguntou procurando uma arma.
— Tenho uma habilidade que me permite soltar energia; infelizmente, posso usar poucas vezes.
— E essa espada. Por que é desse jeito? — Clay falou, observando a lâmina.
— Qual o problema?
— É estranha, tá torta.
— Bem, o que importa é se corta.
— Certo, pessoal. — Samanta atraiu a atenção. — Clay vai explorar e atrair de pouco as bestas. Gus vai as conter até eu, San e Clay a matarmos. Gina vai nos ajudar de trás no arco. Objeções?
San levantou a mão; Samanta fez o gesto de falar.
— Não acha melhor que alguém proteja Gina? Deixar o arqueiro sozinho é perigoso.
— Pode até ser, mas é só derrotarmos os monstros na nossa frente. — Gus falou revelando um sorriso confiante.
— E se um esgueirar-se por trás e a pegar desprevenida?
— Garoto, é uma caverna, e eu criei a estratégia; acredito que dará certo. Só devem seguir o plano.
“Interessante, não gosta de ser questionado; o irrita. Posso usar isso.”
— Certo, é a minha primeira vez em um grupo.
Começaram a conversar. San escutou tudo; o que chamou atenção: a forma de dividir o dinheiro. No fim, receberiam igualmente.
Gus tentou protestar, contudo, Samanta deu um ponto final, dizendo ser o justo. Ele se irritou, onde logo escondeu sorrindo. Algo legal foi a parte de quem matasse o monstro tinha o direito do cadáver.
Se fosse com a ajuda de todos, iriam dividir. San achou isso bom, mesmo desconhecendo o que cada parte de monstro seria útil, ainda queria.
Decidido, se despediram, prometendo se ver cedo na manhã seguinte. Andando a passos calmos e confirmando estar sozinho, falou baixo.
— Me diz a sua opinião, Sacro.
— É uma oportunidade boa, o problema será o matar.
— O poder só melhora os ossos; a pele continua normal, cortando a sua garganta já servirá.
— Sim, Entretanto, esqueceu de um detalhe. Com os ossos tão duros, um soco seria bem forte, superando várias vezes os já enfrentados. Também tem o seu segundo poder, deve o descobrir.
— Eu sei, tá ficando complicado. Ao menos, se eu não o matar durante a missão, vou descobrir as suas fraquezas.
Voltando em casa, as garotas faziam um pão. Emile, feliz como sempre, falando toda hora sobre escola e professores chatos. Emma estava bem, sem marca de agressão, e perguntando do trabalho, respondeu em um sorriso verdadeiro.
Sentando-se à mesa e fazendo um pão, falou que sairia em uma missão e passaria um tempo longe. Ficaram tristes, pelo menos sabiam poderem ligar ao irmão a qualquer hora.
Quanto a Leo, evitava San, visitando as irmãs quando ficavam sozinhas. Irritado, prometeu a si que ao acabar a missão, nem que tivesse de o caçar, o acharia e conversariam.
No restante do dia, arrumou os equipamentos. Uma armadura simples de couro e uma boa mochila. Limpou cuidadosamente a cimitarra e a última faca de arremesso, guardando dentro da bota esquerda.
Na mochila, guardou bandagens, um spray antisséptico, comida simples e coisas básicas que poderiam ser úteis. Indo até o mapa na sua parede, procurou a localização da missão.
Era em uma parte onde as árvores diminuíam e pedras se espalhavam; tinha só rabiscos, já que San ia raramente. Poucos animais ficam ali, então era inútil.
Acertado, passou uns minutos junto as garotas, tendo de ouvir o que uma aprendeu na escola e o que a outra bolava ao futuro. Mais tarde, comeu uma refeição simples e tirou um cochilo.
Dormiu sereno e acordou demorando uma hora até o sol nascer. Tudo tava silencioso, os raros sons ouvidos eram barulhos aleatórios da noite. Se ajeitando e parando na porta, deparou-se com Garmir o esperando.
Havia um olhar corajoso e o peito estufado. Pensando no que fazer com o companheiro, San deu a desculpa:
— Foi mal, amigão, vai ter que ficar. As garotas necessitam de proteção, sei que dá conta.
Ficou desanimado, San sentia isso, confortando-o, falou:
— Juro que na minha próxima missão, te levo.
Ficando animado de novo, deu um pulo e latiu baixo. Saindo do apartamento, andou pelas ruas, de olho no horizonte, esperando.
Demorando minutos até o local marcado, a luz do sol nascia, iluminando as ruas e prédios, dando o sinal aos trabalhadores se prepararem.
Antes dos portões, o grupo estava ali, pronto ao perigo. Todos usavam um tipo de armadura e prendiam suas armas. Dando uma olhada em Gus, viu ele usando uma armadura de metal o cobrindo, nas suas costas, um escudo enorme e na cintura um machado.
Quando o viram, cumprimentaram-se brevemente. Passando os guardas, seguiram o caminho de terra até a floresta, e tiveram de andar por muito tempo.
Já que mutantes são melhores que os humanos, mal precisaram parar, seus corpos aguentam a constante caminhada. Infelizmente, faltava em San essa vantagem, ficava ao fundo, tentando esconder o suor e a cara de cansaço.
O número das árvores diminuiu e o de pedras aumentou, Samanta mandou darem um descanso. Gus e Clay protestaram, o que fez San quase pular com a espada em mão para ensiná-los uma lição.
Por sorte, Samanta disse ser melhor estarem no melhor estado possível, já que os perigos eram desconhecidos. Resmungando, concordaram.
San achou uma pedra na sombra, sentou-se, bebeu um bom gole de água e descansou. Gina se aproximou e disse:
— Você parece cansado, tá bem?
— Tô ótimo, é só sono, dormi meio tarde ontem de ansiedade.
— Legal, tá animado; muitas vezes ficam bem assustados.
— Sério? Faz tempo que tá no grupo?
— Uns meses, o pessoal é legal, não vejo motivo pra sair.
— Tendi, boa sorte hoje.
Ela se afastou, conversando com os companheiros. Após vinte minutos, continuaram o caminho, a visão das pedras grandes sendo normal.
Pulando em cima de uma rocha, Clay falou:
— Chegamos.
Todos foram ao seu lado e viram uma caverna grande, espaçosa o suficiente para, se quisessem, irem um ao lado do outro. Considerando, Samanta falou:
— Clay vai à frente e vê se tem rastro de monstro, evita se aprofundar, só quero ter certeza.
Concordando, foi. O restante, o observando até a visão permitia. Aproveitando a oportunidade, San sentou em uma pedra e olhou ao redor.
Tudo era rocha, grande, pequena e de formatos variados. Por enquanto, a situação tava tranquila; nem um animal visto ou besta. O problema era Gus o encarando. Cansando, falou em voz alta:
— Algum problema?
O pessoal virou para ver o que acontecia.
— Nada, só tô curioso.
— Sobre?
— Onde arrumou a etiqueta de identificação? — apontou ao colar no pescoço guardado na roupa.
— Presente. — Respondeu hesitante, se perguntado como o homem sabia o que era.
— Sério?
Samanta, ficando curiosa, se meteu e perguntou:
— Dá pra explicar melhor?
— Certo. Somente militares usam isso; tem três cores que definem a posição: Bronze, os de patente baixa, prata, os na média, e o melhor, o preto, somente os grandes têm.
Todos se viraram e avistaram a corrente em volta do pescoço, era completamente preto; o resto se escondia debaixo da armadura.
— Por que achou ser uma identificação militar? Inúmeros colares têm a corrente preta. — San perguntou curioso.
— Simples, esse tipo é feito de Duranium. Um metal extremamente difícil de quebrar e fácil de reconhecer. A questão é, por que um garoto ganhou isso de presente? Será que roubou?
Levantando tão rápido que mal tiveram tempo de reagir, San parou a centímetros do rosto do Gus, o encarando sem medo.
— Eu disse ser um presente, então foi. Não devo explicação, principalmente pra ti.
Os dois, olho a olho; San sabia que se acontecesse uma briga, perderia, principalmente se os companheiros interferissem, escolheu voltar a pedra.
Ficou um clima pesado; ninguém tentou conversar ou falar. Após um tempo, Clay voltou e deu um relatório:
— Achei rastros de monstros, pelas pegadas, caminham sobre duas pernas e têm cerca de seis pelo que vi. Na parede, marcas de sangue seco. A princípio, chutei ser de animal, mas, abandonado na terra, tinha isso.
Estendendo a mão, mostrou uma espada quebrada ao meio. Era velha e repleta de terra, no entanto, ainda era uma espada; por isso, um humano esteve ali.
— Formação! — Samanta falou determinada. — Conseguimos dar conta, derrotamos todos e voltamos pra casa, galera.
Prontos, Gus assumiu a frente, o escudo em uma mão e o machado na outra; Samanta a poucos passos atrás, San desembainhando a cimitarra, Clay as adagas e Gina com uma flecha no arco.