Volume 1
Capítulo 33: Um Convite
Tudo que San sabia sobre a Família Blackscar era que havia descoberto na internet depois de receber a carta do pai. E as informações eram vagas, furos na história dando pouco sentido. Quando Floki disse conhecer o passado, o interessou bastante. “Posso confiar?” Duvidoso da verdade, escolheu ouvir.
— Tá legal, conta aí.
Em um sorriso animado, sentou-se ao lado de Garmir, começou:
— A família Blackscar era conhecida por ser a mais poderosa e estranha. O motivo é que não forçavam seus membros a casamentos arranjados ou recusavam o par do outro devido ao passado.
— Isso eu já sei.
— Tá legal, eram diferentes do que muitos dizem, não assassinos sangue-frio. Trabalhavam diretamente ao governo, caçando criminosos.
— Espera, o próprio governo? Era permitido isso? E se quisessem tomar o poder?
— Os detalhes são nebulosos. Mas um dia, por algum motivo, as outras famílias os atacaram, sei lá, seja inveja ou medo; o que sei é: todos morreram, e somente um fugiu.
— Pera aí, se for verdade isso, por que meu pai esperou tanto para ter sua vingança?
— Tenho teorias. Talvez fosse fraco na época, se feriu, o luto. Tem inúmeros motivos. Lembra das suas últimas vítimas?
— O casal de repórteres, né?
— Isso. Tava estranho, então fiz uma pesquisa. A empresa deles noticiou o fim dos Blackscar, criticaram e colocaram toda a mídia contra. Falando o quão ruins eram.
San ficou quieto, pensando. Podia ser falso, entretanto, achou ser verdadeiro, quais motivos Floki mentiria?
— Esse é o fim?
— Até onde sei. Aposto que tá faltando. Eae, entende melhor do seu pai agora? O perdoa?
— Floki, obrigado por contar, no entanto, tô nem aí, ele é um canalha pra mim.
— Ah, tá legal.
Sua expressão mudou de animado a triste. Tentando mudar de assunto, San falou:
— Vou confirmar se o que me disse de você é real. Se for, amanhã te mando o método de cultivar as flores, junto de um contrato.
Seu rosto iluminou, esquecendo de qualquer tristeza, levantou-se e fez menção de um abraço, e foi recusado sem piedade. Tudo certo, saiu.
San sozinho de novo, falou em voz alta:
— Acha que é verdade a história?
— Estou pesquisando, porém, acredito ser verídico. — Sacro falou em voz alta.
Sentando no chão, pensou no que ouviu e escolheu deixar pra depois, no fim as coisas continuavam as mesmas. Nada a fazer, pensou em levar Garmir dar uma volta na floreta; o filhote queria sair também, sentia isso. O problema eram suas armas estarem escassas.
Não tinha espada, e só uma faca de arremesso sobrevivente. Ainda poderia usar a sua habilidade, só que alguma hora a essência acabaria.
Por enquanto, teria de esperar até arrumar uma melhor. Pelo menos já teve uma ideia de como conseguir uma arma adequada.
Tendo descansado o suficiente, vestiu uma roupa aleatória e abriu a porta. Ao fazer, uma mulher de rosto sério levantava punho, preparada para bater na porta.
Usava uma calça jeans, um tênis, camiseta vermelha e um boné cobrindo a cabeça. Era Íris, a parceira de Ramon e agente dos caçadores de mutantes. Quando ela o viu, se irritou e partiu pra cima, o empurrando contra a parede, pressionando.
— Entende o que fez? — O ar ao seu redor aquecendo.
“Merda, merda, merda. Tenho que a acalmar, senão minha casa pega fogo!” Com a voz simpática, falou:
— O que aconteceu?
— Sabe bem, desde que espalhou o vídeo, a reputação do meu chefe despencou.
— Bem, só mostrei o real lado do seu chefe. Qual o problema?
Quanto mais San falava, o ar esquentava.
— Pedi pra manter segredo, iria resolver internamente.
Se estressando, San não aguentou e falou:
— Seu chefe é um maluco que torturou meu amigo. Acredito que eu deixaria passar isso?
Seu olhar ficando nervoso, sabia estar errada, no entanto, a teimosia a impedia de admitir.
— Podia ter me dado um tempo.
Distraída, Íris nem notou Garmir esgueirando atrás. Vendo uma oportunidade, pulou e mordeu o tornozelo. Assustada, deixou as chamas saírem do seu corpo, acertando diretamente o filhote e San.
Íris se assustou ao ver um humano na sua frente pegando fogo e conseguindo aguentar. San, debatia no chão, a dor era baixa, mesmo assim, sentia tudo nele aquecer e piorar nos segundos seguintes.
Quando as chamas se foram, por ordem da dona. Permaneceu agachado no chão, com as roupas um trapo e fumaça emanando.
Surpresa por aquilo, Íris se afastou. Enquanto o encarava, nem lembrava do cachorro nas suas costas pegando fogo. Garmir, sem importar naquilo, foi de volta nos seus pés e a mordeu, dessa vez numa pitada de fogo. Aproveitando a distração, San se aproximou rapidamente e a derrubou no chão. Forçando seu braço nas costas, falou:
— Você é uma boa pessoa, não deixe aquele homem te manipular para ser algo ruim.
Ela se soltou facilmente, era um mutante e recebeu o treinamento de um agente.
Os dois se afastaram, San deu uma olhada a Garmir, onde contemplava as patas admirado, “O nome da raça é Cão do inferno, se apenas esse fogo o queimasse, eu ia ficar preocupado.”
Iris o olhou uma última vez e saiu a passos apressados. Dando um suspiro alto, pensou: “Tá se tornando complicado.”
Após isso, examinou a si próprio; a maior parte só ardia, semelhante a uma insolação. Já as roupas, era outra história. Garmir se animou, com as chamas nos pelos e pulando animado.
Arriscando, pegou o filhote de mãos livres, de novo sentindo uma queimação, e o levou até o banheiro, colocou em baixo do chuveiro e ligou forte a água.
Os dois recebendo água fria na cabeça, San falou a Sacro:
— Tenho certeza que não tenho um poder de fogo, por que tô bem?
— Alguns familiares têm a capacidade de dar certos benefícios aos seus parceiros, a do seu cão, é resistência ao fogo.
Desligando o chuveiro, pegou uma roupa nova e saiu do apartamento.
Tendo certeza de que ninguém o esperava na rua, andou até alcançar a base dos mercenários.
Repleto de clientes, bebiam, escolhiam suas missões, procuravam grupos, comiam, etc.
San foi até uma das mesas isoladas e sentou, por servirem comida, pediu um refrigerante e batatas fritas para agir igual um cliente.
Sozinho, observava; já fazia isso durante uma semana inteira, procurando a futura vítima que faria. Por enquanto, achou quatro pessoas ruins, de poderes interessantes.
O primeiro conseguia criar lâminas no corpo, útil para deixar de comprar tantas armas e forte no ataque. O segundo é ossos de ferro, um poder focado na defesa.
O terceiro é criar campos de força, e o quarto é invisibilidade. Tentadores; os dois primeiros são raros, os outros estão no incomum.
O problema era a dificuldade, são mercenários que já estão no rumo há um tempo, tem uma certa experiência e a confiança dos parceiros.
San ficou ali, ouvindo, torcendo ver mais alguém e, infelizmente, só isso. Voltando pra casa, se ajeitou e voltou as lutas clandestinas; tinha um objetivo de ganhar muito dinheiro.
Passou quatro dias. As técnicas melhorando; no início, perdeu várias vezes, já que nunca usava sua habilidade, a pedido de Sacro. Perguntando o porquê, recebeu a resposta de:
— Os humanos só aprendem errando. Se sempre ao perder, utilizar seus poderes, vai demorar para melhorar.
— Concordo em parte, mas e se eu usar só quando minha derrota for certeira, o dinheiro é útil.
— Pense; às vezes que perdeu até agora, nunca cometeu o erro repetido, melhorando.
Aceitando, continuou; infelizmente, só copiou duas habilidades: grito supersônico e um de crescer as plantas. A maioria dos competidores só continha habilidades físicas; isso complicou um pouco.
Juntando uma boa quantia de dinheiro, foi a uma loja famosa pelas suas armas. Por dentro, todo tipo de espada, arco e machado era exibido; ao fundo, dava para ouvir sons de marteladas.
Procurando, se queixou de não achar o que queria. Indo até o intendente, um homem de barba grande e braços grossos, perguntou:
— To procurando uma espada, essas são todas que cês tem?
— Temos umas lá atrás; são as menos vendidas, então, deixamos por isso.
— Posso dar uma olhada?
O homem estava claramente cansado; seus ombros eram curvados para baixo, e seu olhar vagueava aleatoriamente; independente, concordou. Fazendo menção que o siga, foram até os fundos.
O ar dentro era abafado; homens musculosos martelavam incessantemente em metais quentes, logo para os afundar em água. San admirou tudo, curioso das armas feitas.
Passando, abriram uma porta a uma sala isolada, juntando poeira e teias de aranhas, caixas cheias de armas e armaduras que San nunca havia visto.
— Procurar por aí. Te espero aqui. — Terminou sentando em uma caixa.
Animado, abriu uma a uma e vasculhou; se surpreendendo facilmente; em condições ótimas, só tirar a poeira e ficaria perfeito. Demorou uma hora procurando; por causa disso, descobriu muita coisa: armaduras, martelos enormes, foices do tamanho de um ser humano e outras peculiaridades.
Ao menos chegou no seu objetivo, uma espada curvada para o lado, chamada cimitarra. Era grande, poeira e teia de aranha a cobria.
Balançando no ar, gostou do equilíbrio; mesmo suja, dava pra ver que o metal era bom. Se decidindo, voltou ao homem sentado na caixa, tirando um cochilo tranquilo.
Dando uns cutucões, acordou assustado. Olhando os lados, lembrou de onde tava.
— Já pegou?
— Sim. — estendeu a espada. — Quanto custa?
Os dois voltaram à loja; o seu guia recebeu uma bronca por ter sumido sem avisar. Depois, San se desculpou e decidiram o valor.
— Quatrocentos créditos.
— Eita! Olha o estado, poeira e o tempo guardada.
— É verdade, já tá ali um ano, contudo, o próprio chefe a fez.
— Aham, não caio nessa.
— Juro. Há quase dois anos atrás, nem tínhamos esse tipo de espada aqui; uma garota apareceu pedindo para a construirmos, o chefe se impressionou com o formato curvado da lâmina e os métodos necessários na formação.
— Tendi, pouca gente compra isso, né?
— Somente vocês dois. A conhece por acaso?
— Nem sei quem é. Deve ser só uma coincidência.
— Aham. O meu máximo é trezentos e setenta.
— E a bainha?
— Nossa! Foi mal, esqueci.
De volta aos fundos, voltou em minutos, uma bainha feita de couro marrom escuro.
— Agora tá bom, feito.
Sem arrependimento, transferiu o dinheiro e foi embora. Dando passos apressados, tava em casa e pegou um pano úmido.
Com ânimo, limpou dando o seu melhor. Acabando, achou incrível a espada. A lâmina era de um prata puro, lindo de ver. O cabo era feito de couro bom de se assegurar. Pra finalizar, no início da lâmina, havia uma assinatura do criador. “Folers.”
Admirado, balançou a espada de novo. Era diferente da sua última, estranho, mas divertido. Abrindo o livro, deixou marcado nos golpes que tinha de aprender.
A cimitarra é uma espada que raramente usam. Na dança da serpente, seu uso é desviar a lâmina do inimigo usando a parte curvada. E para complementar, engar o oponente.
Treinando os golpes, aprendeu todos; Sacro o corrigindo ao cometer um erro. Reconhecendo ainda precisar de treinamento, decidiu ganhar experiência com a arma.
Então, nos próximos dias, levou Garmir para caçar. Adorou; era rápido e pegava a presa fácil. San deu dicas e ajudou.
Depois das constantes pesquisas, descobriu que Floki disse era real. Reportagens passadas em sites diziam de uma criança se jogando de um penhasco e morrendo.
Tudo certo, enviou o método de cultivo das flores estelares, que descobriu por pura sorte. Nos dias passados na clareira, viu a Mavara as plantando e, de bom grado, o ensinou.
Na mesma noite, descobriu o porquê de ninguém descobrir a forma de as plantar. Ao invés de sol, necessitam de um céu repleto de estrelas; e a lua influencia consideravelmente.
Sabendo o básico de como usar a cimitarra, voltou à base dos mercenários. Indo pegar uma missão simples para testar, uma mulher se aproximou.
— Licença, San né?
Se virando, deparou com uma mulher bonita. Usava uma armadura de metal, assegurava uma lança na mão direita, cabelo castanho preso em um rabo de cavalo e sardas na bochecha, bem abaixo dos olhos azuis.
— Sim, por quê?
— Sou Samanta, soube que é um lutador bom; quer entrar no meu grupo em uma missão?
Considerou seriamente; continuar sozinho podia ganhar a maioria dos lucros, entretanto, se limitava. Havia coisas que até pra ele era impossível.
— Qual a missão?
— Reconhecimento; encontraram um lugar que talvez tenha monstros, devemos ver se é verdade.
— Paga bem? — Perguntou o que mais o interessava.
— Bastante. — Deu um sorriso animado.
— Voltamos antes do anoitecer?
— Claro, seria suicídio se não.
— Tem detalhes adicionais importantes?
— Os monstros são fracos e damos conta. Também temos um rank C no grupo.
— Legal, bem, podemos discutir a missão? Só pra eu ter certeza?
— Certo, me segue, vou te apresentar pro pessoal e discutimos.
Indo junto, chegaram a uma mesa com outros três mercenários. Olhando pra cada um, gostou. Mas, seja sorte ou azar, um dos marcados de presa, estava no grupo.